Pelo Menos Não Sou Eu
O grande salão estava agitado, a maioria dos alunos conversava animadamente e alto enquanto mostravam suas fantasias trazidas pelas corujas, eufóricos. Desde a queda de Voldemort todos do mundo bruxo pareciam mais leves, ainda haviam problemas, mágoas, mas estavam vivos, prontos para superar e prestigiar tudo que viesse.
Inclusive as comemorações.
A festa de halloween seria na sexta-feira, e todos os estudantes se encontravam enérgicos por um pouco de diversão antes dos testes. Era o último ano de Harry na escola de magia e Hermione estava lhe causando cabelos brancos com sua preocupação quanto aos exames, estava evitando categoricamente o assunto e fazendo treinos extras de quadribol. Pior do que Potter, apenas Rony, que literalmente estava fugindo da namorada.
Era engraçado vê-los quase brincar de pega-pega por Hogwarts.
Harry não se encontrava honestamente preocupado com seu futuro, há poucos meses nem poderia cogitar um, então, com um estendido de bandeja, ele só conseguia sorrir aliviado. Queria viver um dia de cada vez e, hoje, sua maior preocupação era escolher uma fantasia.
Afinal, a que tinha escolhido foi tirada de cogitação com um pouquinho de raciocínio.
Havia pensado em um porco espinho, mas era basicamente dar aval para Draco Malfoy o infernizar pelo resto do semestre, do ano, de sua vida, o quanto o sonserino achasse conveniente. Então descartou a ideia, mesmo que ele andasse mais "leve" nas provocações - elas estavam quase ficando divertidas -, não queria também incentivar.
Havia uma linha tênue entre revidar e achar levemente engraçadas as tiradas ácidas do loiro e dar a ele o que provocar. A diversão estava ali, na criatividade térrea e infantil de, ambos em si, xingarem.
Para Harry, aquele velho hábito era mais importante do que gostava de admitir. Ele e Draco poderiam ser inimigos de guerra ou aliados, não importava, iriam se alfinetar até um deles querer partir para a violência.
Desde que Hermione o disse para devolver na mesma moeda, Potter tinha notado que era mil vezes mais efetivo argumentar com Draco do que o azarar. Estava se tornando prazeroso retrucar qualquer mísera coisa que ele dizia e, o que no início era quase um fogo cruzado verbal, havia diminuído para leves provocações com piadas tolas. Nenhum dos dois parecia realmente querer ofender, mas também não pareciam dispostos a perder as poses construídas.
Mesmo que toda Hogwarts já tivesse notado a mudança de ambos, era engraçado para os alunos verem as brigas infantis, e agora, inofensivas deles.
— Olha quem temos aqui, o cicatriz. — Draco Malfoy parou, acompanhado de sua corte. Bem em frente tinham seus escudeiros Pansy e Zabini, e atrás do trio, a dupla de brutamontes Vicente e Gregório. A única reação de Harry foi torcer o nariz.
— Olha se não é a doninha mor e agregados. — respondeu, cruzando os braços. Potter podia ver nos olhos flamejantes de Malfoy como odiava o apelido, e por isso era seu favorito.
— Preparado para o halloween, testa rachada? Vai se fantasiar de quê? Hashi? Porco-espinho? Ou melhor, desastre natural. — Ele ia enumerando as opções nos dedos compridos. Possuía, junto a pose, um sorriso sarcástico nos lábios, quase como a mera menção do jeito atrapalhado de Harry o fizesse gargalhar, e talvez fizesse mesmo.
— E você, cadáver? Sanguessuga? Ou algo mais simples, uma doninha, por exemplo. — Harry debochou cálido, tentando forçar uma naturalidade que não era sua, e voltou a falar soando quase inocente.— Perdão, para isso você não precisa de fantasia.
— Então você curte a ideia de me ver sugando. — a sobrancelha quase transparente foi arqueada, e o semblante se transformando em malicioso. Harry desmanchou a pose de vitória um pouco, mas retornando rápido.
— Combina com sua aura de parasita. — sorriu travesso, e esperou uma reação raivosa do outro, que não recebeu. Draco apenas arqueou as sobrancelhas em uma expressão duvidosa.
— Interessante, Potter. — Ele possuía uma expressão quase demoníaca. — Te vejo no Halloween, garoto que sobreviveu.
E assim ele se foi, dando de encontro no ombro de Harry, em sua típica saída dramática. Potter cruzou os braços, fitando o homem e seu bando sumirem no corredor, a conversa amena o deixava com vários receios. Malfoy não era do tipo que saía de uma discussão com comentários vagos. Ultimamente, seu prazer pessoal era provocar até Harry querer soca-lo, então ele sorria cínico e virava as costas.
— Aconteceu alguma coisa, Harry? — Potter deu um pequeno pulo para trás quando ouviu a voz de Hermione. Nem havia notado a garota chegar.
— Malfoy. — disse amargo para amiga, que franziu a expressão dando de ombros, já acostumada com as desavenças.
— Brigaram? Faz meses que só trocam farpas. Pensei que finalmente estavam amadurecendo…
— Mas só trocamos farpas, — suspirou quase frustrado, e o cenho de Hermione franziu. — A questão é, ele sempre me provoca até que eu queira atravessar minha varinha em sua garganta mas, dessa vez, ele saiu bem antes de me fazer perder a paciência e completou "Interessante, Potter". — o bruxo dizia afetado, finalizando o discurso ao parafrasear o loiro com uma voz esganiçada, enquanto gesticulava de forma forçada.
— Você não fez sentido nenhum. — ela falou, risonha. — E, sua imitação dele fica cada vez mais distante da verdade.
— Minha imitação dele fica cada vez mais próxima de como eu o escuto. — Hermione apenas riu, uma risada composta mais de ar do que som. — E não mude de assunto! Ele vai fazer algo no Halloween!
— Harry, você errou de amigo, a pessoa que compra suas loucuras e acredita que o Malfoy tem um quadro de planos malignos é o Rony. — a mulher falou brincalhona, guiando a caminhada para o salão comunal de grifinória.
— Eu precisava de uma visão lógica dos fatos, não "um vamos invadir a sonserina e descobrir o que ele tá tramando". — apontou, entrando na brincadeira.
— Ronald consegue ser bem simplista quando quer. — ela rodou as íris.
— Ele sempre quer.
Ambos sorriram entre si com a lembrança do amigo, Hermione sussurrou a senha para o quadro da mulher gorda que, sorridente, abriu passagem para a dupla.
— Eu acho que você deveria deixar de ser tão paranóico. Deve ser, no máximo, alguma pegadinha. — ela disse, se sentando no sofá da sala comunal.
— Veremos quem está certo, no fim. — tentou soar sério mas a voz saiu quase uma risada.
Harry Potter realmente sentia um mal pressentimento sobre a conversa com Malfoy, porém torcia para Hermione estar certa, afinal ela sempre estava.
[...]
A grande noite havia chegado. O castelo de Hogwarts era uma explosão de falatórios avulsos e decorações animadas, desde abóboras falantes a origamis de morcegos voadores, tudo dando uma aura divertidamente sombria para o local.
Harry descia para o grande salão de forma quase furtiva, com um sorriso que dançava entre convencido e brincalhão. O rapaz usava um macacão maior que o corpo. O traje imitava um leão, possuía até um rabo. Se sentia hilário, e seus cabelos bagunçados nunca lhe foram tão úteis.
As pessoas passavam por ele rindo, elogiando a fantasia, e os mais engraçadinho, rugiam ao passar pelo integrante de grifinória. Ele havia feito uma ótima escolha, no fim.
— Grraurrr — rugiu tentando soar sério assim que viu Hermione e Rony. Eles estavam próximo a entrada, conversando entre si, e mesmo com Harry pulando entre eles e rugindo, eles não se assustaram
Pelo contrário, os três começaram a rir. Não conseguindo levar a sério nem por segundo a fantasia de Harry.
— Você realmente veio usando isso, cara. — o amigo falou entre os risos, tentando parar de rir.
— Algo de errado? — Harry rodou o rabo de pano no ar, brincando, fazendo o amigo rir ainda mais e perder o pouco de compostura anteriormente adquirido.
— Ai, meu deus, você realmente tá usando algo com um rabo! — o ruivo praticamente limpava as lágrimas dos canto dos olhos, tamanho seu riso.
— Você não tem moral, está fantasiado de você! — Harry falou passando a ponta felpuda do rabo no nariz dele.
— Não, não, — ele estalou a língua no céu da boca. — Eu estou de Jorge! — falou apontando para a faixa na cabeça, que tampava uma das orelhas.
— Você tem sorte dos gêmeos terem saído da escola… — comentou Hermione girando o canudo do ponche.
Ela estava fantasiada de fada, com um vestido rodado azul e uma asa holográfica, porém, na maquiagem, haviam cicatrizes feitas com glitter. Potter achou curioso, mas não sabia o que comentar. Fadas tinham cicatrizes brilhosas? Era outra coisa do mundo mágico que não sabia? Preferiu não verbalizar a dúvida.
— Que nada, eles amariam! — Ronald argumentou, dando uma voltinha. — Mesmo que eu seja uma versão mais bonita deles.
— Teriam, mas você estaria sobre alguma azaração e não poderia rir junto. — Harry sorriu, quase cínico.
— O quê não tira a genialidade da fantasia. — piscou, com um ar de vencedor.
— Ou a gemialidade. — completou Hermione brincando junto.
Depois de algumas risadas, Harry rodou os olhos pelo salão. Ele já estava ficando cheio, a música era apenas um instrumental grave, de uma música que nunca tinha ouvido.
As coisas pareciam normais, e era quase bizarro como Potter procurava algo errado, como se nada pudesse estar tão calmo na sua vida por tanto tempo. Quase agradeceu quando a música parou de repente, e ambas as portas do grande salão ficaram escancaradas, e passando pelo meio veio Draco Malfoy, dramaticamente acompanhado dos amigos.
Ele vestia uma fantasia de estilo vitoriano, composta por uma calça preta justa e uma blusa de mangas longas que parecia apenas pairar no corpo, mas Harry julgou que a parte principal do figurino estava na capa. Uma capa mais dramática que toda a entrada junta, de tão grande e esvoaçante, em tom de vinho. Potter demorou para assimilar o que ele vestia, até constatar que ele estava de vampiro, um vampiro estupidamente rico e que deveria estar levemente sufocado pelo Corselet preto que adornava a cintura.
Se Potter havia demorado para assimilar que ele estava fantasiado de vampiro, demorou mais ainda para nota que vinha em sua direção.
— Potter! — ele falou em um entusiasmos fingido.
— Malfoy. — Harry respondeu franzindo o nariz
Quando percebeu que o vampiro o olhava de cima a baixo, com um deboche óbvio no olhar, Potter apenas revirou os olhos e virou de costas, indo em direção às bebidas, na esperança de acertar de primeira a que continha álcool.
— Não é educado dar as costas para as pessoas. — pautou, enquanto acompanhava Harry. A capa batendo nas pessoas praticamente abria caminho, e talvez fosse essa a intenção
— Também não é educado olhar alguém dos pés as cabeça. — falou, observou as bebidas tentando achar qualquer dica de qual tinha álcool. A pessoa responsável por contrabandiar nunca era revelada, mas costumava dar uma dica para os mais velhos.
— É o verde. — Harry o olhou com escárnio dúvida. — Zabini pode ser um sonserino bem orgulhoso.
— Vocês todos são. — se serviu da bebida verde, o tom neon trazia um certo pânico no grifinório, parecia radioativo, mas mesmo assim entornou o copo sentindo o leve ardor.
— Bem, não sou eu que está de rabo.— Draco apontou para o tecido solto, tentando dedilha-lo, mas Harry se afastou rápido.
— O que pensa que tá fazendo?
— Tentando pegar no seu rabo? — ele parecia lutar para segurar o riso. — Você faz o tipo formal, Potter, por obséquio, posso pegar no seu rabo?
— O quê!? — quase gritou ultrajado.
— O rabinho do Leão, Potter. — riu baixo. — Ah não ser que você queira minhas mãos no outro rabo, também.
— Você só pode ter batido a cabeça. — Bufou totalmente irritado perdendo a compostura muito mais rápido do que era normal.
— Olhe como estás vermelho. — o vampiro apontou, em total zombaria.
— De raiva. — Potter completou, estridente, tendo como resposta um sorriso quase aberto do Malfoy. Um que deixava presas a amostra, e Harry fitou aquilo, quase instigado. Não parecia uma dentadura.
— Pensei que fizesse o tipo recatado, mas já está olhando para minha boca sedento. — Draco se aproximou ficando perigosamente perto.
— Eu tava vendo as presas! — Se defendeu, e, quando não gaguejou, quase se parabenizou também.
— Não quer senti-las, também? — Malfoy falou em tom baixo e grave. A frase quase não pôde ser ouvida, por conta da música. — Juro que pego só um pouquinho de sangue. — Fez menção com a cabeça, um movimento pequeno em direção ao pescoço do grifinório.
— Você tem problema! — Harry empurrou o corpo esguio para longe.
— Vamos lá, Potter, você será o Garoto Que Sobreviveu Mais Uma Vez e eu o Garoto Que Chupou. — Se Potter prestasse atenção poderia ver o veneno escorrendo das presas, aquela cobra, praguejou mentalmente.
— Que inferno, Malfoy, vai infernizar outro, seu demônio. — Voltou a andar, tentando se afastar dele.
— Demônio não, vampiro vitoriano! Respeito, seu projeto de gato! — Sua voz vinha ultrajada, como se Harry tivesse cometido com pecado grave.
— Eu sou um leão. — agora quem soava ultrajado era Potter, ele abriu os braços no ar, para o sonserino vislumbrar a roupa por completo. — Leão!
— Que fugaz… — estalou o céu da boca, olhando dos pés a cabeça Harry, pela segunda vez na noite. — Depois eu que sou obcecado pela minha casa.
— Sério, Malfoy, me deixa em paz. — choramingou quase derrotado, voltando a andar para lugar nenhum. Queria tomar dianteira, antes que fizesse algo que se arrependesse.
— Mas, você que falou! Eu sou um parasita sanguessuga. Vim sugar o sangue de quem parasito. — Ele tinha um sorriso vitorioso nos lábios. — Tá com medo de uma mordidinha? Grifinória não era a casa da coragem?
— Você é a personificação dos meus maiores pesadelos. — franziu o nariz indignado.
— Acho que você não entendeu o conceito de vampiro. — Ele falou lentamente quase didático. — Não demônio, nem dementador, vampiro, Potter, capitche? understood? Compris? — os dedos esguios foram para o pescoço do outro, onde suavemente roçou os dedos, Harry congelou em um leve pânico — Do tipo que chupa pescoços, tem presas e vida eterna.
— Isso soou errado em tantos níveis Malfoy. — Harry sentiu as pernas vacilarem quando Draco avançou mais um passo em sua direção, quase se colando nele.
— A maldade tá na cabeça de quem escuta. — ele sorria, cínico. — Eu só vim em busca de alimento.
Harry olhou ao redor, talvez procurando ajuda, talvez tendo certeza que ninguém prestava atenção no que estava acontecendo, não conseguia se decidir com Draco tão próximo de si. Então tentou dar alguns passos para trás que fora logo acompanhados pelo vampiro, eles estavam se afastando ainda mais das pessoas.
— Eu tô fazendo de tudo para não ter azarar, Malfoy, mas você não ajuda. — Potter brandou o mais sério que conseguiu, enquanto seus olhos não parava em um único lugar, passeando pelo rosto pálido de Draco, o pescoço, atrás dele, tudo.
— Me fantasiei assim, apenas para você, Potter. — o loiro deu um pequeno passo para trás a fim de completar uma volta dramática. — Deveria valorizar o esforço.
— Você que deveria valorizar meu esforço de não te socar. — pautou pousando o olhar nos olhos azuis acinzentados.
— Como se você pudesse acabar com esse rostinho lindo. — a voz de Draco veio banhado de uma malícia quase desconhecida por Harry.
— Não sei onde você quer chegar, mas não vai conseguir. — piscou de forma lenta, em desdém.
— Me fantasiei de vampiro apenas para dar uma mordidinha no seu pescoço, definitivamente vou conseguir. — a mão longa segurou o pescoço do Potter.
— Vai se arrepender de fazer isso. — tentou soar ameaçador, mas percebeu que falou quando Draco subiu o olhar com desdém.
— Veremos. — moveu a cabeça em direção ao pescoço pálido novamente. — Afinal, não vejo você tentando sair. Nem uma mísera reluta.
— Porque não vou. — Harry falou antes mesmo de pensar, sua barriga da formigava em antecipação gostosa.
— E por quê não? — os lábios de Draco roçaram no pescoço alvo.
— Porque você ficou gostoso com esse corselet.
Harry sentiu o vibrar de uma risada contra seu pescoço e se permitiu relaxar os ombros. Em segundos, o arranhar leve das presas de Draco chegaram em sua pele, e com pouca provocação ele chupou a região em cima da clavícula. Potter ofegou baixinho, era estranho e excitante tê-lo ali.
Draco continuou a maltratar de leve a região, às vezes subindo para o pescoço, outras descendo para próximo ao ombro, abrindo espaço no macacão alaranjado, e suas mãos foram para a cintura de Harry, o puxando para si. Potter já sentia a pele maltratada arder de leve e, em um momento de euforia, segurou o pescoço de Draco e o puxou para um beijo quente. Em passos tropeçados, ambos chegaram na parede próxima, usando-a de apoio para o amasso desejoso.
A mão do Malfoy desceu da cintura, deslizando até a bunda de Harry, onde encheu a mão e apertou a região o que fez o grifinório dar um pequeno salto.
— Eu disse que pegaria no seu rabo. — a fala veio sussurrada contra boca, com um ar de vitória tão grande que Harry quis morder aqueles lábios até tirar o sorriso presunçoso.
— Idiota. — conseguiu formular enquanto tinha o corpo de Draco fazendo pressão em si.
— Você também ficou gostoso nessa fantasia, leãozinho.
Harry sorriu cínico e Draco acompanhou, pois para ambos, as provocações eram o lar de uma rotina, um porto seguro que poderia contar. Não importava se seriam inimigos de guerra ou aliados, não era relevante, iriam se alfinetar até um deles querer partir para a violência, ou agora, para os amassos. E bem, Hermione estava certa mais um vez.
— Feliz halloween.
(...)
Cá estou com mais uma fic Drarry de halloween, espero mesmo que tenham gostado pois eu realmente amei escrever essa história!
Escrita para o Especial de Halloween do projeto @dezdrarry 💜
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