55| Capítulo Cinquenta e Cinco - Itan
Estar no velório do pai de Sarah foi uma espécie de djavu para mim, era um gatilho para me lembrar da partida da minha mãe. Mas eu precisava estar com Sarah nesse momento, eu sabia perfeitamente como era perder alguém que se ama, e o quanto é importante ter alguém que te ampare em um momento como esse. Eu precisava estar lá, por ela.
Depois que o enterro se encerrou voltamos com o carro de David, me despedi de Sarah e David e peguei minha moto que tinha estacionado ali por perto e dirigi para casa.
Quando cheguei não tinha nenhum sinal do meu pai, provavelmente ele estava na casa de Kiara, somente encontrei Sônia ali, passando pano na sala.
- Como foi lá? - ela ja tratou de perguntar.
- Funerais sempre são melancólicos, foi inevitável não lembrar o da minha mãe, mas a Sarah precisava de mim com ela - digo soltando um meio sorriso ao final.
- É tão difícil ver partir quem amamos - Sônia fala exatamente o que eu pensava. - Mas tenho certeza que eles estão bem, descansando em paz.
Concordo com a cabeça, seguindo para a cozinha.
- Ei, Itan, tenho uma coisa para te falar.
- Sim? - me viro para Sônia esperando que disesse o que queria.
- Lembra que me pediu sobre uma casa para ficar, meu vizinho colocou a casa para alugar, falei de você para ele, se quiser posso te passar o contato dele para você conversar.
A notícia de Sônia me atinge em cheio.
- Seria ótimo, Sônia, muito obrigado!
- Vou pegar o celular para passar o número para você - ela sai me deixando sozinho. Fico ali parado esperando ela voltar. Estava contente com a notícia de Sônia, eu mal podia esperar para morar sozinho, e ela realmente tinha se preoucupado em achar uma casa para mim. Peguei o número com ela e o quanto antes iria entrar em contato com o tal vizinho. Agora com o emprego estável da Darius consegueria pagar um aluguel, no próximo ano que não pretendia estudar, poderia trabalhar em período integral e ir comprando as coisas que precisasse aos poucos.
Tinha acabado de mandar uma mensagem para o senhor que Sônia havia me falado quando recebi a mensagem de Sarah.
Sarah
O lugar onde vc fez sua tatuagem é aberto a noite?
Itan
Acho que sim
Sarah
Me leva lá?
Itan
Vc quer fazer uma tatuagem?
Sarah
Sim, igual a sua
Itan
O quê?
Sarah
Em homenagem ao meu pai
Sarah
Vem logo me buscar, por favor
Troquei rápido de roupa e fui atrás de Sarah, ela parecia determinada, então conversei com o rapaz que era um amigo distante que havia feito minha primeira e única tatuagem. Ele iria nos atender. Sarah, ao se sentar na cadeira parecia nervosa, então segurei sua mão para lhe passar confiança, era uma tatuagem pequena, quando menos esperasse estaria finalizada. E foi o que aconteceu, em poucos minutos a tatuagem de Sarah estava pronta. Vi a satisfação estampada em seus olhos, nossas estrelas eram iguais, só mudava o pulso, as duas haviam sido em homenagem a quem tanto amamos. E isso era o mais especial de tudo.
Levei Sarah de volta para casa, ela me segurava firme pela cintura, eu adorava ter Sarah comigo na garupa, me abraçando por trás, seu corpo próximo ao meu. Eu ainda me lembrava da primeira vez que havia lhe dado carona, e em como ela estava nervosa, mas no momento, eu só sentia o quão confortável ela estava perto de mim e isso aquecia meu coração.
Eu queria que nossa relação tomasse um passo diferente, depois que tudo foi esclarecido e eu e Sarah voltamos a estar perto um do outro, percebi o quanto a queria comigo. Eu estava tentando criar coragem em falar com ela, dizer que o que eu sentia por ela era único e que eu queria gritar para os quatro cantos do mundo. Eu queria pedi-la em namoro, mas tinha medo dela não querer embarcar em um novo compromisso, mesmo não tendo dúvidas que ela gostasse de mim também. Mas aí veio a notícia de seu pai, e achei melhor adiar essa ideia que permeava minha mente.
Após deixá-la em casa fui direto para minha. Quando cheguei, meu pai já estava lá.
- Boa noite! - o cumprimentei.
- Boa noite, onde estava? - ele já tratou de perguntar.
- Fui levar a Sarah em um lugar - digo.
- Você e ela - ele pigarria. - Estão namorando?
- Não - respondo. - Ainda não.
- Você gosta mesmo dela, não é? - ele pergunta parecendo interessado.
- Sim, bastante - me limito a dizer, nunca tinha tido essa espécie de conversa com ele, era novo e estranho.
- Eu nunca vi você com nenhuma garota, mas naquele dia, que ela esteve aqui, notei a alegria em seu rosto ao tê-la perto de ti - meu pai diz, eu pensei que ele estivesse brincando ao dizer aquilo, mas ele parecia mesmo ter reparado. Eu acho que ele tinha razão, ao ter Sarah comigo tudo parecia se iluminar, eu me sentia mais vivo, não tão vazio, cheio de esperança e amor. Eu me sentia perdidamente apaixonado. Sim, meu pai tinha me visto com a expressão de apaixonado ao lado da garota que eu tanto admirava.
- Ela é como a mais bela obra de arte, eu jamais me cansaria de admirá-la - confesso. Meu pai pareceu admirado com minhas palavras. E aquela era a explicação básica para o que Sarah representava para mim, eu era encantado por quem ela era, a garota destemida que queria alcançar as estrelas, a personificação de tudo que era belo, ela parecia uma pintura projetada para me enfeitiçar e fazer sentir as mais profundas emoções.
Sarah preencheu meu vazio, me fazendo sentir como é amar e ser amado da forma mais genuína.
- E você e a Kiara como estão? - troquei de assunto após um pequeno silêncio se instalar entre nós.
- Passei lá na casa dela mais cedo, está indo tudo muito bem - ele responde sorrindo.
- Eu queria falar sobre uma coisa com você - solto.
- Pois diga.
- A Sônia me passou o contato de um senhor que está com uma casa para alugar, eles são vizinhos, eu vou estar falando com ele, só queria que estivesse a par - falo.
- Você quer se mudar mesmo? - meu pai indaga. - Sabe que essa casa também é sua, não é?!
Eu assinto.
- É o que eu quero - respondo por fim.
Meu pai concorda sorrindo amarelo.
Depois de uma conversa por mensagem com o vizinho de Sônia, eu marquei para conhecer a casa, James foi comigo, pois ele queria me acompanhar, a residência era pequena, o que não era um problema visto que só eu iria me mudar. Tinha uma pequena sala de estar, dois quartos ainda menores, um banheiro um tanto estreito e uma cozinha que tinha uma porta que dava para uma varanda na parte de trás. O terreno era pequeno, tinham uns pés de banana no final do lote.
- O que achou James? - perguntei para meu amigo. Só estávamos nós dois ali, já que o senhor deixou a chave da casa com a Sônia para que pudéssemos entrar e olhar.
- Você que tem que achar alguma coisa, você que vai morar aqui, não eu - olho incrédulo para meu amigo.
- Então porque diabos veio junto? - questiono.
- Estou tirando onda com sua cara, mano - ele ri. - Olha, acho a localidade boa, é perto de casa, ela é pequena, mas você vai morar sozinho, não precisa de tanto espaço assim, a menos que você queira chamar a Sarah para morar aqui com você - ele brinca.
- Ano que vêm ela vai morar no campus da faculdade - respondo me lembrando desse fato.
- E como vocês vão ficar? - meu amigo quis saber.
- Não falamos sobre isso ainda - digo simplesmente. Para mim isso não seria empecilho, ela não iria se mudar completamente, ainda visitaria a mãe nos finais de semana que nem Derek faz, porém com eles não tinha dado certo, mas eu não queria ver essa situação de uma forma pessimista.
- Eai, vai ficar com a casa? - meu amigo me chama a atenção. O aluguel era razoável, conseguiria bancar, e eu tinha me simpatizado com o lugar e com os pés de banana.
- Acho que sim, mano - declaro.
Eu sabia que toda escolha que tomamos em nossa vida tinham consequências. Só não era possível saber se seriam boas ou ruins. Mas eu preferia arriscar, eu estava decidido quanto a me mudar.
Meu quarto estava aos poucos sendo esvaziado, eu levaria todos os meus pertences, James estava aqui para me ajudar na mudança. Meu pai tinha feito questão que eu levasse alguns itens importantes que eu já iria precisar na casa, Sônia separou tudo em caixas. Mas o que mais me surpreendeu foi o que ele me deu na hora de ir embora.
- Quero que leve isso - meu pai me entregou um dos quadros da parede que mamãe havia desenhado, era aquele com um campo sob as estrelas e um casal sentado na grama.
Eu pego o quadro de suas mãos extasiado. Um sorriso despontou dos meus lábios instantaneamente.
- Obrigado, pai! - era um dos quadros da minha mãe que mais admirava, ainda mais por aquele casal me lembrar de mim e Sarah sob as estrelas onde demos nosso primeiro beijo.
- Você é igual a ela, eu nunca devia ter desvalorizado a sua paixão pela pintura, depois que nos casamos sua mãe deixou de pintar, mas não quero que isso aconteça com você. Nunca deixe de acreditar naquilo que você ama, mesmo que os outros não acreditem em você - meu pai fala, seus olhos se enchem levemente de lágrimas. Assim como os meus, era a primeira vez que meu pai me dizia coisas positivas sobre a minha paixão pela arte.
Eu não conseguia dizer nada além de apenas concordar. Meu pai me abraçou de lado e eu deixei uma lágrima solitária dos meus olhos escorrer. Quando nos separamos, sorri para ele uma última vez antes de sair. Estava na metade do caminho quando ele me chamou novamente. Me virei.
- Filho, saiba que você sempre será bem-vindo aqui, essa casa também é sua.
Concordei com um aceno de cabeça, eu sabia daquilo. E eu não estava indo embora para sempre, ainda voltaria lá, em um futuro talvez próximo.
Guardei o quadro nos bancos de trás e sentei no banco ao lado do motorista com James me esperando na direção. Olhei uma última vez para casa na qual cresci, ela era rodeada de lembranças, não todas felizes, mas faria questão de guardar apenas aquelas que valeriam a pena. Agora eu estava dando um novo passo em minha vida e isso era especial para mim, queria que minha mãe estivesse aqui comigo, mas sabia que onde quer que ela estivesse ela estaria sorrindo e torcendo por mim.
A minha nova casa não era tão distante da do meu pai, tanto que Sônia ia de a pé até lá, agora seríamos vizinhos. Eu havia a convidado para ser minha acompanhante na entrada da formatura, visto que a data já estava chegando. Sônia sempre me tratou muito bem e não me via entrando com outra pessoa se não fosse ela, quando a convidei ela ficou muito emocionada e aceitou prontamente. Meu pai também iria comparecer no dia, apesar de tudo eu não podia deixar de chamá-lo, ele estava fazendo de tudo para me apoiar nas minhas decisões, ele estava tentando mudar. Também tive que convidar a família do meu tio, ou seja, Derek também estaria lá. Eu sabia que as coisas entre nós não tinha terminado nada bem depois dos socos que trocamos, mas eu já estava cansado dos nossos desentendimentos, não éramos mais crianças.
Esse era meu último ano no colégio, eu me formaria e entraria em uma nova realidade. Eu tinha planos, não muito ambiciosos, mas que marcariam minha vida. Um deles estava sendo concretizado que se tratava de me mudar e conquistar meu próprio espaço, e os outros estavam encaminhados, eu só esperava que eles dessem certo. Não iria me deixar paralisar por medo, não era do meu feitio, eu me arricaria, me entregaria por inteiro para ter uma chance de ser feliz fazendo o que amo e tendo quem amo ao meu lado.
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