51| Capítulo Cinquenta e Um

Quando cheguei em casa após o trabalho, a casa estava fechada, chequei meu celular, tinha duas ligações da minha mãe, mas não ouvi pois tinha deixado ele no silencioso. Uma mensagem dela dizia que ela e papai estavam no hospital, meu coração errou a batida no peito, ela mandou eu não me preocupar, que ele só tinha passado mal e achou melhor levá-lo.

Abri a casa com a chave reserva que tinha na bolsa em casos de emergência. Entrei me arrumei rapidamente e dirigi até o Hospital Municipal de Paradise. Logo que cheguei já encontrei minha mãe sentada em uma das cadeira da sala de espera.

— Como está o papai? — falei sentindo meu coração palpitante, eu mal conseguia respirar.

— Calma, querida, o Dr. Wilson está o examinando — mamãe fala com uma falsa calma, eu sabia que ela também estava preocupada, me lembro do dia que a peguei chorando na cozinha, ela sabia da doença de papai, e também tinha medo de predê-lo.

Ficamos juntas na sala de espera até que a moça da recepção permitisse que fossemos falar com o médico responsável por meu pai.

— Senhora Jenkins — D.r Wilson dá a mão em cumprimento quando entramos e nos aproximamos de sua mesa, ele se reclina sobre ela. — Senhorita — ele estende na sequência para mim.

— Como meu pai está? Eu posso vê-lo? — faço as perguntas antes que alguém falasse alguma coisa. D.r Wilson, faz sinal para que pudéssemos sentar.

— O senhor Jenkis, infelizmente, vai ter que ficar internado, no momento ele está em repouso, acho melhor deixar as visitas para amanhã — ele sorri condescendente ao final. Tudo que eu queria era ver meu pai.

— Mas qual o estado dele doutor? — ele dá uma olhada para minha mãe e em minha direção. Mamãe olha para mim e assente para que ele pudesse falar. Sua mão toca a minha firmemente.

— O câncer infelizmente acabou se alastramento para órgãos vizinhos, é uma situação delicada, o que recomendo nesse momento é uma cirurgia — sinto o aperto de mão de minha mãe. A situação não era nada boa, o tumor tinha se espalhado, e papai já estava bem fraco, não sei se aguentaria uma cirurgia. Meu peito se fecha, sinto dificuldade de respirar, pontos brancos aparecem em minha vista.

— Filha — ouço a voz de mamãe ao meu lado, me trazendo a realidade gritante.

— Eu acho que preciso sair — falo ofegante. Mamãe afrouxa o aperto.

— Vai ficar bem? — assinto.

— Te espero na recepção — digo me levantando e deixando os dois sozinhos. Caminho a passos largos até a sala de espera e me sirvo de um pouco de água de um dos bebedouros que tinha visto. Depois saio para fora e inspiro profundamente ar para meus pulmões. Meu coração trabalhava acelerado no peito, me encostei na parede do prédio do hospital, em busca de algo que mantesse meu equilíbrio. Fico ali por alguns minutos, não sabia quantos, até mamãe parecer. Ela me pega nos braços como quando tinha pesadelos quando criança, me trazendo um breve conforto. Mas meu peito ainda ardia. Senti lágrimas quentes escorrem dos meus olhos embaçando minha visão.

— Vai dar tudo certo, querida, vai dar... — mamãe repetia suavemente em meus ouvidos como um mantra. Porém, meus pensamentos pessimistas estavam sempre ali para me fazerem sofrer, mesmo quando queria evitar.

Nos afastamos.

— A cirurgia, como vamos pagar? Não temos dinheiro — falo, sentindo mais uma vez o desespero me inundar.

— Vamos dar uma jeito, vou começar com a família do seu pai e a minha, e tudo dará certo, seu pai vai sair dessa — mamãe sorri, eu sabia que ela estava falando aquilo para ela também acreditar. Mamãe era forte, mais forte do que eu. Sinto meu lábio tremer, eu queria chorar mais.

— Eu vou ficar aqui, vá para casa, chame David para ficar com você, amanhã você vem vê-lo — mamãe diz docemente. Eu assinto para ela, pressionando os lábios um contra o outro em um sorriso leve.

Ligo para David me buscar no hospital, não conseguia voltar caminhando como havia vindo. Eu estava abalada demais, dentro do carro lhe contei a situação. Meu amigo me ouviu durante todo o caminho, e me disse palavras confortantes. David era meu melhor amigo, agradecia por tê-lo em um momento como esse.

Quando chegamos em casa, tomei um banho rápido e fui para cama, David ficou ao meu lado, fazendo carinho em meus cabelos até adormecer. Eu acordei no meio da noite, sem saber onde estava e se tudo que eu me lembrava não se tratava apenas de um pesadelo. Mas eu estava no meu quarto, com David adormecido do meu lado e com meu pai no hospital. Sentei na cama, e chequei meu celular que tinha deixado na mesinha de cabeceira.

Tinham mensagens de Itan perguntando se eu estava bem, se tinha acontecido alguma coisa por não ter lhe respondido, expliquei para ele por mensagem a situação do meu pai e que iria faltar amanhã na aula para vê-lo, provavelmente Itan já estaria dormindo e só veria a mensagem amanhã. Afinal, eram uma e meia da manhã, deitei de volta na cama, mesmo estando sem sono.

Eu que me preocupava tanto com o futuro, com as coisas que queria conquistar, me sinto agora com tanto medo dele, das coisas que podem vir. Queria ter aproveitado ainda mais o presente, como uma vez me dissera Itan, ele tinha razão, devemos viver intensamente o agora, pois não temos nenhuma certeza do amanhã.

No dia seguinte, acordei ainda primeiro que David, antes mesmo do despertador tocar. Preparei o café da manhã para nós, meu amigo queria me acompanhar no hospital, mas insisti que ele fosse para aula pegar a matéria para gente. Ele me levou até lá, mandei uma mensagem para minha mãe e ela me encontrou na entrada do hospital. Seus olhos denunciavam que mal tinha dormido, seu cansaço era nítido.

— Eu posso ver já meu pai? Sabe quando ele vai ganhar alta?

— Dr. Wilson disse que precisa fazer mais alguns exames, mas que logo ele poderá retornar para casa, ele mandou eu ver com relação a cirurgia, para já fazer um encaminhamento — mamãe fala com uma voz arrastada.

Depois ela conversou com a recepcionista e me levou até a sala na qual papai estava. O hospital era um lugar no que eu me imaginava em vários pensamentos, eu examinando os pacientes e os ajudando, mas eu tinha me esquecido que também há o lado triste de se estar aqui, pessoas com semblantes dolorosos, com a esperança se esvaindo. Eu acreditava na medicina, na bondade de uma divindade maior, eu depositaria todas as minhas esperanças nas duas coisas. Meu pai sairia dessa, como mamãe também acreditava. Eu seria forte, e estaria ao lado dele, em todo o processo.

— Meus girassóis — papai exclama quando nos vê.

— Papai — me permito caminhar rapidamente até ele e o abraçá-lo com cuidado, alguns fios estavam ligados aos seus dedos, não queria me enroscar em nenhum. — Como o senhor está se sentindo?

— Um pouco melhor, com os remédios que me deram — ele força um sorriso. — Já vou poder ir embora, querida? — meu pai pergunta ansioso para mamãe em busca de uma resposta.

— Ainda não, o médico não lhe deu alta, ele ainda vai conversar com você — ao julgar pela frase de minha mãe, papai não sabia a gravidade da sua situação, mas iria saber, e eu não conseguia imaginar qual seria sua reação. Talvez, ele não quisesse fazer a cirurgia, mas isso estava fora de cogitação, ele precisava.

— Eu te amo, pai — a necessidade de dizer isso me invade e deixo que as palavras saiam em voz alta.

— Também te amo, meu amor — meu pai, com um sorriso singelo, em seu rosto cansado diz com doçura. Ouvir aquilo, me desestabiliza, uma vontade de chorar se anuncia, mas me contenho firmemente. Sua mão toca a minha e a aperta.

Meu pai ficou ainda mais um dia internado antes de receber alta, Dr. Wilson conversou com ele sobre sua situação, papai não esboçou nenhuma reação em nossa frente. Era como se ele esperasse e aceitasse o pior. Meu pai não gostou muito da ideia de minha mãe sair pedindo dinheiro para os parentes, ele disse que não queria que gastassem a toa com ele, mamãe e ele discutiram, eu tentei intervir falando para meu pai que ele deveria aceitar toda a ajuda necessária. Ele precisava continuar tentando, lutando contra a doença. Meu pai sabia que eu não desistiria de o convecer a fazer a cirurgia.

Por fim, ele cedeu as palavras minhas e da minha mãe. Eu me sentia mais confiante sabendo que ele estava disposto a fazer a cirurgia. Mamãe e eu nos fizemos fortes para cuidar de papai, uma amparando a outra, estavamos passando por um momento difícil, mas iriamos conseguir vencer todos juntos.

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