43| Quarenta e Três
- Você sabe guardar segredo? - Oliver me pergunta, sorrindo fraco.
- Pode confiar em mim - digo a ele, mesmo sabendo que não nos conhecíamos o suficiente para um confiar no outro, mas sentia que isso era tudo que Oliver precisava ouvir.
- Eu não consigo mais guardar isso só para mim - ele suspira. - Um dia, a Olivia pediu meu celular emprestado para tirar fotos, por que o dela tinha estragado a câmera, e ela precisava urgente de fotos, eu emprestei - pausa. - Naquele dia eu recebi uma mensagem comprometedora - ele diz me olhando. - E a Olivia viu, ela mexeu nas minhas conversas e descobriu que eu estava me relacionando um garoto escondido - Oliver pausa mais uma vez, passando a língua por entre os lábios. - Ela sempre soube que nosso pai era contra isso, eu a pedi que não falasse para ninguém, ela concordou, mas ela passou a usar isso para sempre conseguir o que quer de mim - vi uma lágrima dos olhos de Oliver escorrer. Eu estava perplexa, ainda mais indignada com Olivia, ela deveria apoiar o irmão, não ameaçar de contar seu segredo em troca de benefícios próprios, não podia acreditar no mal caratismo e falta de empatia de Olivia.
- Nossa, Oliver - afago suas costas. - Eu sinto muito por isso, eu não acredito que a Olivia está fazendo uma coisa dessas, isso é horrível - digo para o garoto.
Ele suspira.
- Obrigado, Sarah, eu nunca falei isso para ninguém, mas eu precisava desabafar - ele diz me olhando com um sorriso mínimo.
- Eu vou te ajudar, Oliver - falo decidida para ele. - Você já pensou em falar com algum profissional sobre o assunto? - ele nega com a cabeça.
- Mas você e o garoto ainda conversam? - pergunto.
- Não deu certo - ele fala inclinado para frente, as mãos entrelaçadas, os braços sobre as pernas.
- Sabe, se você quiser falar com o David, ele já passou por isso, pode te ajudar se quiser, ele é um bom amigo - digo a ele.
- David?! - Oliver parece pensar sobre o que eu disse. - Me passa o número dele, quem sabe eu mande mensagem - ele sorri. Pego o celular dele e passo para Oliver.
- Eu vou ao baile com você - digo decidida por fim. - Não quero que você se sinta pressionado, quando for o momento certo você mesmo vai revelar a seus pais, a Olivia não tem esse direito.
Oliver sorri mais uma vez para mim.
- Obrigado, Sarah! - os braços de Oliver me circulam em um abraço, ele já não se sentia tão tenso como antes.
Me despedi de Oliver e segui para casa. Estacionei minha motoneta na garagem e estranhei meus pais parecerem discutir na cozinha.
- Ela está vindo - ouço a voz de papai.
- Você tem que contar a ela - mamãe fala alto. - O vestibular já passou, chega de desculpas.
Entro na cozinha olhando para os dois.
- O que está acontecendo? - pergunto assustada.
- Nada, querida!
- Chega, Charlie, eu não aguento mais - mamãe desaba sobre a mesa.
- Mamãe - Vou até ela que chorava compulsivamente. - Papai o que está acontecendo? - olho para ele, papai pigarria mais nada sai da sua boca.
- Seu pai - mamãe levanta o rosto limpando as lágrimas. - Não queria contar para você, porque não queria te preocupar, você tinha o vestibular para fazer...
- Me perdoa, querida - Papai fala.
- Falem logo o que está acontecendo - meus olhos também começavam a se encher de lágrimas.
- Eu estou com câncer - ele diz se sentando na cadeira. Meu coração dispara no peito.
- Câncer... - sintia meu ar faltar. Tive que sentar também. Meu pai estava com câncer.
- Peguei os exames a alguns dias, câncer no estômago.
- E você estava evitando de me contar? - indago incrédula, não podia acreditar que eles estavam escondendo isso de mim.
- Me desculpa, filha, mas é como sua mãe falou eu não queria te preocupar, você tinha o vestibular para fazer, me desculpa por ter omitido isso - meu pai abaixa a cabeça envergonhado. Mamãe ao meu lado fungava o nariz, lutando contra as lágrimas.
- Você deveria ter me contado, eu sabia que tinha alguma coisa de errado. E agora, qual é o estágio do câncer? Quando vai começar a quimioterapia?
- Não acho que vá ajudar, está no estágio 3, mas pode facilmente evoluir para o estágio 4, o médico alertou - ele diz em um suspiro.
- É claro que vai ajudar - grito, as lágrimas escorrendo dos meus olhos. Mamãe toca minha mão apertando-a. - O senhor vai fazer.
Papai lutava para não deixar suas lágrimas caírem, ele não poderia desistir.
- Promete, pai, promete que vai fazer - ele vem até mim e me abraça.
Eu estava aos prantos, não podia acreditar que isso estava mesmo acontecendo.
Liguei para David chorando, não conseguia conversar direito com meu amigo, então ele veio aqui em casa.
Eu estava deitada na cama enquanto ele afagava meus cabelos.
- Vai dar tudo certo, Sarah! - ele diz suavemente, fazendo carinho em mim, eu tinha explicado a situação para ele.
- Obrigada por vir - digo fungando o nariz.
- É claro que viria somos melhores amigos esqueceu? Sempre vamos ter um ao outro quando precisar - ele sorri solenemente.
- Foi um choque quando ele contou - David continua o carinho, sentado ao meu lado. - Ainda não estou acreditando.
- Ele vai sair dessa, amiga - David sussurra. Olho para ele produzindo um pequeno sorriso. Me remexo na cama, virando de bruços.
- Você contou ao Itan? - meu amigo pergunta.
- Hm, ainda não - murmuro. De repente me lembro da minha conversa mais cedo com Oliver. - Por acaso alguém diferente te mandou mensagem? - indago com a voz falha.
- Não - ele diz franzido o cenho. - Por que? Deveriam?
- Não - balanço a cabeça.
- Está acontecendo mais alguma coisa? - David me olha desconfiado.
Suspiro. Olho para meu amigo e me sento na cama.
- O Oliver veio falar comigo no final do trabalho - digo.
- É, eu vi. O que ele queria? - não sabia se devia falar para David o que estava acontecendo, mas ele era meu amigo, merecia saber e Oliver mais cedo ou mais tarde iria mandar mensagem para ele mesmo.
- Promete que isso vai ficar entre nós? - indago.
- Pra quem mais falaria, Sarah, para o pessoal do Grêmio Estudantil?! Não, né!?
- Está bem - suspirei e comecei a contar a conversa que tive com Oliver afim do meu amigo estar por dentro dos fatos e me ajudar, ele escutava atentamente fazendo caras e bocas conforme despejava as informações em seu colo.
- Calma, a Olivia está ameaçando o Oliver?! - ele indaga incrédulo.
- Tecnicamente - respondo.
- Você não pode rejeitar o Itan. E se você contasse para ele tudo?
- Provavelmente ele não iria querer ir com a Olivia, né? Ou até iria tirar satisfação com ela, o que agravaria ainda mais a situação, aí sim que ela falaria para seus pais sobre o Oliver - falo refletindo.
- Confronta ela - David diz, como se fosse uma boa ideia.
- No que isso iria ajudar? - David torce a boca, não sabendo responder a pergunta.
- O único que poderia parar com isso é o Oliver se ele conseguisse falar com os pais, a Olivia não teria mais como manipular ele, mas o Oliver parece que não está preparado para isso, pensei que se falasse com você ele poderia se sentir mais encorajado - falo.
- Uma hora ou outra isso tem que acabar, a Olivia não tem um pingo de vergonha na cara, como uma irmã pode fazer isso com o irmão?! - David fala indignado. - Mas eu vou falar com o Oliver - meu amigo sorri firme.
- Enquanto isso vamos ter que fazer as coisas como a Olivia quer - falo sentindo uma pontada no coração.
...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top