38| Capítulo Trinta e Oito - Itan
Passei a noite na casa de James, e depois que sai com Sarah no domingo a tarde, voltei para lá. Não pretendia já ir para casa e encarar meu pai, em meu celular havia duas ligações dele, que rejeitei.
- Como foi seu encontro? - James me pergunta enquanto se preparava para uma tacada, estávamos no porão da sua casa, que parecia mais uma sala de jogos, bem no meio dele ficava uma grande mesa de bilhar, na qual ele estava reclinado. Eu me encontrava jogado em um sofá velho de couro, arremeçando para o alto uma bola de tênis, torcendo para que ela não caísse e acertasse meu rosto. Era no porão que o pai de James escondia suas bebidas, e James sabia onde ficava a chave de acesso, e as vezes furtava uma garrafa.
- Foi ótimo, gosto de estar ao lado da Sarah - digo arremaçando a pequena bola.
- Olham, vejam só Itan Smith está mesmo apaixonado - ele solta um risinho em minha direção. Não respondo nada. - Vai ficar aqui de novo? - James indaga depois de um instante.
- Acho que tenho que voltar para casa, encarar os fatos - digo, meu pai estava errado quando disse que eu sempre fugia, eu só não gostava de manter uma conversa com ele, mas eu iria encará-lo com a mesma determinação que encaro meus medos.
- Sabe que pode sempre contar comigo, mano - James diz e eu sorrio para ele me sentando no sofá.
- Digo o mesmo, cara - arremeço a bola para longe antes de me levantar.
- Bora jogar uma partida antes de você ir? - James pergunta.
- Tá afim de perder? - pego um taco que estava encostado na parede se aproximando da mesa. James organiza as bolas de bilhar.
- Estava pensando em convidar a Alice para o baile que vai ter - meu amigo revela me olhando provavelmente esperando minha opinião.
- Você está gostando da Alice, James? - sorrio malicioso.
- Eu não disse isso, apesar de ser isso - James suspira. - Acha que ela vai aceitar?
- E você acha que ela não vai? Quem seria doida de rejeitar James Walker? - Rio ao final.
James cerra os olhos para mim.
- Estou falando sério, mano - falo agora com convicção na voz. - Ela vai aceitar.
- Beleza, vou chamar ela - James parece um pouco mais confiante. - E você vai chamar a Sarah?
Confesso que nem me lembrava desse baile até James comentar sobre ele, mas se fosse chamar alguém com certeza essa pessoa seria Sarah.
- Se eu for, quero que seja com ela - digo.
James começa o jogo.
- Acho que a Olivia iria querer ir com você - meu amigo diz. - Tem conversado com ela?
Já fazia um tempo que não conversava com Olivia, nossas conversas sempre eram rasas e desinteressantes.
- Não, mas como eu disse não tenho nada com ela - falo dando de ombros. James ri do meu gesto enquanto espera que eu fizesse minha jogada.
Fiquei mais alguns minutos na casa de James até que terminássemos nosso jogo e voltei para casa. A noite já se insinuava, guardei a moto na garagem e adentrei a residência. O som de algum programa da televisão preenche meus ouvidos, não demora muito para meu pai aparecer na cozinha onde estava bebendo água.
- Itan - sua voz tinha um tom baixo e cuidadoso. Um pequeno silêncio se instala, até eu resolver deixar o copo de lado no escorredor e encarar seus olhos negros assim como os meus. - Eu sinto muito, por tudo - ele suspira. Permaneço recostado na pia a poucos passos de distância dele, meus olhos ainda em seu rosto e os seus no meu. - Eu estive pensando no que você falou, e você não sabe quanto eu me arrependo por não ter sido o melhor pai para você... Eu... era jovem, não queria ter essa responsabilidade, você tem razão, eu que fugi. Não tiro seus motivos para estar chateado, me desculpe, filho.
Cada palavra proferida por sua boca, ronda em minha cabeça, como zumbidos de abelhas. Olho seu rosto, ele parecia abatido e triste, mas era um pouco tarde de mais para se sentir assim.
- Agora não importa mais - digo, mesmo sabendo que eu me importava sim, só não queria admitir em voz alta.
- Importa sim, você me fez repensar sobre como eu era, em como eu afastei você de mim - ele diz com a voz sofrida. - Eu sei que não fui um bom pai, mas eu quero ser.
Engulo em seco, eu não iria deixar nenhuma lágrima se formar em meus olhos. Desvio meu olhar dele para a garrafa d'água que tinha pego e ainda se encontrava na pia, a recolho para guardar na geladeira, passo por meu pai a fim de ir para meu quarto.
- Itan - o olho. - Espero que você possa me perdoar e me dar uma nova chance para fazer a coisa certa - suas palavras não fazem muito sentido para mim, não consigo enxergar se há sinceridade ou não, a única coisa que me lembro é de Sarah dizendo para lhe dar uma chance para conversar e eu dei, mas desculpas não fariam o tempo voltar. Eu não conseguia dizer que o perdoava, mas poderia tentar com o tempo, falar tudo que estava guardado dentro de mim ontem, foi um alívio, eu precisava daquilo.
- Só me faça um favor - digo com a voz um pouco embargada. - Só seja para esse seu outro filho o que você não foi para mim - o olho nos olhos antes de me afastar.
Subi as escadas até o meu quarto, tomei um banho para afastar qualquer pensamento e depois fui até minha escrivaninha, mas ao invés de fazer algum desenho, risco a folha sulfite a minha frente, linhas grossas e desconexas até a ponta do meu lápis se partir. Eu não queria chorar, mas deixei uma lágrima escapar e cair no papel. Definitivamente nada seria como antes, eu tinha perdido minha mãe para sempre, e meu pai que se diz arrependido pela sua ausência vai tentar uma nova vida ao lado de outra mulher com outro filho. Eu sabia que era para mim também seguir em frente, teria que perdoá-lo e aceitar a partida de minha mãe. Já estava tarde e mesmo assim decidir sair, me dirigindo até o cemitério municipal, antes de ir peguei algumas rosas do nosso jardim para levar. Se minha mãe estivesse aqui, ela diria para mim dar uma nova chance a meu pai, que todos cometemos erros, mas ao nos arrependermos, merecemos perdão. Era como se eu pudesse ouvir a voz dela dizendo isso. Ela nunca desistiu do meu pai, e eu sei que o que ela mais queria era nos ver unidos, uma das únicas vezes quando estivemos próximos foi para cuidar dela, e então ela partiu, nos deixando, mas não sem antes lutar bravamente contra sua doença.
Deixo as flores em seu túmulo com lágrimas inundando meus olhos, tudo estava tão silencioso, a noite já caía, mas eu não me importava. Eu iria continuar tentando por ela, iria me esforçar para melhor conviver com meu pai, iria viver cada momento intensamente como ela havia me ensinando e como sabia que ela tinha vivido, iria continuar sorrindo mesmo com cicatrizes. Queria orgulhá-la por ser quem sou, um reflexo do seu amor.
...
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