36| Capítulo Trinta e Seis - Itan

Na manhã de sábado acordei um pouco tarde, quando desci para cozinha meu pai estava a mesa conversando ao celular. Me sentei, percebi que era com meu tio, logo meu pai desligou.

— Que história é essa que você bateu no seu primo? — ele me olha em reprovação. Vejo seu olhar se demorar no meu olho roxo.

— Eu apenas me defendi, ele que me atacou primeiro — respondo calmo me servindo de um pouco de café.

— Você não tem vergonha de está saindo com a namorada dele, cadê seu respeito pelo Derek? — meu pai fala, é claro que ele iria defendê-lo.

— Primeiro que a Sarah não é mais namorada dele, e pelo visto vejo que ele distorceu todos os fatos e foi chorar para o papai pelo que aconteceu — digo firme olhando para meu pai.

— Não importa se era ex, atual, Derek é seu primo...

— Olha, eu estou com minha consciência limpa, nunca fomos tão próximos para eu me preocupar com isso, será que dá pra deixar tudo isso para lá? — falo, não queria discutir por causa disso.

— Tá legal, você sabe o que faz, mas Sebastian está bem bravo por você ter batido em Derek, só estou avisando — como se eu me importasse, pensei.

— Eu vou sair — digo me levantando da mesa, pego uma maçã para comer e subo para meu quarto pegar a chave da minha moto, eu havia colocado o chaveiro de astronauta nela, que Sarah me presenteou no dia do festival, eu iria dirigir até a casa dela, hoje era o dia do seu vestibular, queria lhe desejar boa sorte pessoalmente.

Quando retornei para casa meu pai novamente veio falar comigo, dizendo que Kiara a mulher que ele estava envolvido iria jantar aqui em casa, eu não a conhecia, era a primeira vez que ela estaria vindo aqui. Apenas concordei para meu pai, querendo já subir para meu quarto.

— Temos um assunto para conversar com você quando ela estiver aqui — meu pai fala quando eu já tinha virado as costas para ele.

— Ok — falo dando de ombros e subindo as escadas, não quis demonstrar interesse, por que no fundo não tinha, provavelmente ele diria que Kiara iria se mudar para cá, ou na pior das hipóteses iriam se casar, mas eu não me importava desde que eu estivesse longe daqui em breve.

Eu tinha acabado de me trocar quando ouvi alguém bater na porta.

— Sou eu — ouço a voz inconfundível de Sônia.

— Pode entrar — digo passando a toalha em meus cabelos molhados para melhor secar.

— Trouxe suas roupas limpas — ela diz vindo com um cesto, elas estavam dobradas dentro dele.

— Obrigado, Sônia, você é demais! — falo pegando o cesto de suas mãos.

— Como está seu olho? — ela pergunta olhando para meu rosto, ele ainda estava roxo, e um pouco dolorido, mas logo iria melhorar por completo.

— Melhor, acho que até segunda o roxo já sumiu — falo soltando um sorriso amarelo.

— Você e seu primo brigaram por causa da Sarah? — Sônia indaga.

— Ele me atacou, eu apenas revidei, sei que a Sarah é a ex-namorada dele, mas... — suspiro. — Eu gosto dela, Sônia, e isso é novo para mim, mas eu não quero desistir dela.

— Tudo bem, Itan, não escolhemos quem vamos amar — ela sorri. — E eu percebo o quanto se importa com essa garota, só não se meta em mais brigas — ela finge um tom de repreensão.

Sorrio sem jeito.

— Sim, senhora! — falo convicto com um sorriso ao final. — Viu, Sônia... — a chamo antes que saia.

— Sim? — ela me olha.

— Sabe, se você souber de uma casa para alugar pode me avisar?

— Você pretende ir mesmo embora daqui? — ela me analisa.

Concordo com a cabeça.

— Hoje a Kiara vai vir aqui, meu pai disse que eles têm que conversar comigo, acho que o que eles têm é sério e que ela vai se mudar para cá... — digo em reflexão.

— Se eu souber de algo, te aviso sim, querido! — ela sorri.

— Valeu, Sônia — a agradeço e ela enfim sai.

Kiara era legal, ela foi gentil comigo e muito simpática, mas era estranho pensar que eu poderia ter uma madrasta. Ela era elegante, tinha um sorriso encantador e lindos cabelos negros brilhantes que lembravam os da minha mãe. O jantar entre a gente foi tranquilo, meu pai parecia ficar bem a vontade ao lado dela, também era estranho vê-lo com outra mulher depois da minha mãe. Mesmo que ele na época não tenha demonstrado a dor quando mamãe se foi, eu sabia que ele sofria, assim como eu, ele também esteve ao lado dela durante todo o processo, mas agora ele parecia querer seguir em frente.

— Itan — meu pai me chama, eu tinha terminado de jantar, tinha sido o último, ainda estávamos todos a mesa. O olho esperando o que ele tinha pra dizer, seja lá o que fosse parecia importante. — Eu e Kiara — ele pega a mão dela por sobre a mesa. — Temos uma ótima notícia para compartilhar, nós vamos ter um filho — ele sorri. — A Kiara está grávida.

A informação me atinge em cheio, eu não esperava essa revelação. Um filho? Olho para seu rosto, ele parecia extremamente feliz, mas uma lembrança do passado que me assombrava as vezes se faz presente. "Eu nunca quis ter um filho", sua voz grossa e dura é clara em minha mente.

— E você está feliz? — o indago engolindo em seco.

— É claro que estou, por que não estaria? — ele me olha franzindo o cenho.

— Pensei que não quisesse ter filhos — falo.

— Dá onde você tirou isso, Itan? — ele olha preocupado para Kiara, que limpa sua boca em um guardanapo. 

— Eu acho melhor vocês conversarem as sós — ela diz olhando intenso para meu pai. Ela faz menção de se levantar, mas papai a detém com o braço.

— Não vá, ainda está cedo, e pode deixar isso aí — meu pai olha para o prato que Kiara estava em mãos.

Minha cabeça gira enquanto vejo meu pai levar Kiara até a porta, eu iria ter um irmão ou irmã? 

— Por que você disse aquilo na frente dela? — meu pai fala com a voz ríspida.

— Que você não queria ter filhos? Apenas disse a verdade — falo seco. O ressentimento toma meu coração. — Eu vou sair — levanto da mesa, me sentia sufocado, queria sair dali, correr para longe.

— Não vai não, não terminamos de conversar, você acha que sempre fugir vai resolver as coisas?

— Eu não sei, não tive um melhor exemplo de você, que preferiu fugir de ser pai para viver mergulhado no trabalho, e eu sei que tudo era uma desculpa, você nunca se esforçou para estar presente — cuspo as palavras cheias de mágoa. 

— Eu sempre te dei tudo do melhor Itan, e você ainda reclama — ele exclama.

— Mas você não me deu o principal, a sua presença, quando era a apresentação do dia dos pais era a mamãe que sempre estava lá, eu queria que você me notasse, era o que eu precisava, até eu ouvir de você que se quer queria ser pai... — reprimo meus lábios com força sentindo lágrimas se aproximarem.

A expressão do meu pai era de surpresa, ele parecia medir tudo aquilo que eu acabara de falar.

— Itan, filho, eu...

— Não me chame assim... — falo com amargor. Eu tinha guardado todo aquele ressentimento para mim, fingindo não se importar, mas vê-lo feliz por que teria outro filho, me deixava irritado. Ele era um hipócrita. Passo por ele, seguindo para meu quarto em busca das chaves da minha moto. Não aguentava mais dividir o mesmo teto que esse homem.

...

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