24| Capítulo Vinte e Quatro
Estávamos nos divertindo muito juntos no festival municipal, o sol já estava se pondo no horizonte e o clima começava a esfriar um pouco. Via as crianças correndo de um lado para o outro, ora com brinquedos nos braços, ora com guloseimas. Tinham também vários adultos na fila de brinquedos como o barco viking e a roda gigante, gritos de alegria e medo preenciam o ar.
Tínhamos acabado de ir na casa de espelhos que fora montada para divertir o público, demos altas risadas com nossos perfis distorcidos.
— Eu não aguento — David fala rindo após sairmos da casa. — Preciso parar de rir, senão vou fazer xixi nas calças.
Ri da sua frase.
— Vamos ao banheiro? — David agarra minha mão. Concordo com ele, Itan nos acompanha até a porta, como estava com vontade de ir também entro no cubículo feminino e David no masculino.
Saio primeiro que David encontrando Itan segurando três palitos de algodão doce rosa.
— Comprei pra gente! — ele sorri largo.
— Obrigada! David vai adorar — quando falo isso meu amigo sai do banheiro com uma feição não muito boa. — O que foi? — pergunto a ele preocupada.
— Só acho que aquele cachorro quente com o monte de ketchup não me fez bem — ele fala em uma careta passando a mão na barriga. — Acho que já vou embora.
— Sério? Tudo bem então — digo indo ao seu lado para irmos.
— Não, não, você pode ficar, ainda tá cedo — David fala.
— Mas como vou voltar para casa se vim de carona com você? — falo para ele o lembrando. David sorri para mim, mas não consigo decifrar o que ele quer dizer.
— Eu te levo, Sarah — Itan pronuncia do mesmo lugar, ele estava engraçado segurando os algodões perto do rosto.
— Isso aí — David pega minha mão e coloca o resto do seus ingressos para os jogos e brinquedos. — Aproveite.
Pego seus ingressos e vejo o mesmo se afastar de mim.
— Um desses era para mim? — David pergunta próximo de Itan. Ele assente. — Obrigado! — meu amigo pega o palito e sai caminhando para longe de nós, pelo ombro de Itan vejo David me acenar com a mão pegando um pedaço de algodão e ponhando na boca.
Não acredito que ele estava de cena para me deixar sozinha com o Itan. Suspiro e olho para o garoto a minha frente que me estende um dos palitos.
— Ele não tava com dor de barriga? — Itan arqueia a sobrancelha e olha de relance para onde David tinha ido.
— Ele gosta tanto de algodão doce que nem com dor de barriga é capaz de rejeitar — digo em um mínimo sorriso pegando o palito de sua mão. Pego um pedaço do algodão e coloco na boca sentindo o desmanchar e o sabor doce se instalar na minha língua.
Eu e Itan continuamos andando pelo parque observando as pessoas se divertirem, era uma sensação boa estar lá, trazia boas vibrações, mesmo sem fazer nada, era possível se sentir animado.
Ao terminarmos de comer o algodão jogamos os palitos em uma lixeira próximo a roda gigante.
— Queria tanto ir na roda gigante — anuncio para Itan. — Tenho mais dois ingressos para jogos e um para ir nos brinquedos.
— Ela parece bem grande, não é? — Itan olha para a roda iluminada que girava em uma velocidade não tão rápida. A fila não estava tão grande.
— Você quer ir comigo? — pergunto a ele olhando em seu rosto. Itan me olha por um instante.
— An, vamos — caminhamos até a fila, que estava formada por pares. Itan ainda permanecia ao meu lado olhando a roda girar. E quanto mais aproximava nossa vez, tive a impressão de Itan ficar nervoso.
— Tudo bem? — indago a ele o olhando.
Ele assente com um mínimo sorriso no rosto que não me convenceu.
— Se você não quiser ir, não precisa — falo a Itan, a sua inquietação era evidente.
— Você deve me achar um idiota — ele olha de relance para mim. Franzo o cenho para ele. — Eu tenho medo de altura, só fui uma vez na minha vida em uma roda gigante e com minha mãe, eu comecei a gritar e o rapaz teve que parar a roda para eu descer. Aquele dia que subimos na Darius, eu fiquei com medo, mas não quis demonstrar, por isso demorei tanto para chegar lá em cima — ele me confessa.
— Ei, não precisa ter vergonha, todos temos medos, eu por exemplo morro de medo de palhaços, nunca confiei neles com aquele nariz redondo vermelho e sorriso exageradamente grande, quando era pequena não ia em uma festa de aniversário se soubesse que tinha um — o confidencio também o meu medo.
Itan sorri para mim.
— Podemos ir em outra brinquedo se quiser — falo para ele.
— Eu sei, mas estou tentando superar meu medo, e só enfrentando de frente que vou conseguir — ele fala agora um pouco determinado. Avançamos mais uns passos, seríamos nós quando a roda parasse outra vez.
— Vou estar com você! — toco de leve sua mão. Itan olha para mim parecendo se surpreender com meu toque, ele retribuiu o aperto. Sinto como se uma pequena onda elétrica corresse por meu corpo ao ter iniciado aquele gesto.
Quando a roda gigante novamente parou, entramos na cabine cautelosamente eu fui primeiro e Itan depois, colocamos os cinto de segurança e o rapaz que cuidava do brinquedo conferiu se estava tudo certo. Ele rodou um pouco a roda para as próximas pessoas entrarem.
— Irônico, não é? — Itan fala ao meu lado observando a pequena estrutura que nos cercava. — O menino que queria ser astronauta ter medo de altura?
A roda gira mais uma vez, e Itan segura rápido na grade ao seu lado e no banco, como se fosse cair, ele dá uma olhada para baixo logo voltando o rosto para cima de olhos fechados.
— Ei, não olha para baixo — repreendo-o. Ele vira o rosto para mim, seus olhos negros me olham intensos, o peito de Itan subia e descia.
— Vou ficar olhando para você então — ele me diz engolindo em seco. Toco novamente sua mão que agora estava por cima do banco e percebo ele relaxar um pouco.
A roda começa a girar e Itan mantém o combinado de ficar me olhando, ele troca a posição de nossas mãos, entrelaçando nossos dedos, isso parecia deixar ele mais controlado com a situação. Ele não estava mais inquieto, ele apenas me observava enquanto a roda girava com um leve balançar da cabine. A noite já tinha adentrado, sentia o vento um pouco gelado me atingir, e balançar meus cabelos, leves arrepios percorriam meu corpo, mas não era ruim.
— Eu poderia ficar assim para sempre — ele sussurra. Nossos rostos estavam virados um para o outro, eu observava seus detalhes, seus traços harmoniosos, seus olhos negros como a noite enquanto ele também me olhava, e eu não estava com tanta vergonha como imaginaria estar, por seus olhos estarem presos em mim. — Te admirando! — ele completa, eu sinto o pulsar do meu coração no peito, minhas bochechas esquentam gradativamente e sinto minha boca secar, passo a língua por entre os lábios afim de umidecê-los, Itan acompanha com os olhos meu movimento, e percebo seu rosto cautelosamente se aproximando. Eu me mantinha estática, apenas observando a pequena distância que nos separava diminuir ainda mais, meu peito subia e descia em expectativa, o frio que sentia a minutos atrás fora substituído por um calor que percorria todo meu corpo. Estava prestes a fechar os olhos quando um solavanco nos fez sair do transe do qual estávamos, Itan apertou firme minha mão, olhamos para os lados para saber o que estava acontecendo. Mas logo notei que era só a cabine que tinha parado de rodar. Estava na hora de decermos.
...
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