10| Capítulo Dez
Nas segundas-feiras a lanchonete costumava ser bem frequentada, era ponto de encontro da maioria dos jovens do colégio. Itan e seus amigos estavam aqui, todos reunidos em uma mesa no canto da lanchonete. Alice e Olivia estavam sentadas uma ao lado da outra, Oliver, Itan e mais dois rapazes de sua turma estavam presentes.
Peguei meu bloquinho de pedidos e segui até a mesa deles. Diferente das outras vezes, não me senti invisível por eles, eu normalmente os cumprimentava mas eles estavam entretidos demais conversando para me responder, Oliver sempre fazia o pedido e eu saia rapidamente, mas dessa vez, quando me aproximei, Olivia não deixou de me olhar quando Itan percebeu minha presença e sorriu, Alice também sorriu ao me ver, eu sorri levemente para todos e respirei fundo para desempenhar meu papel.
— Boa tarde! Já escolherem seus pedidos? — falo com o sorriso gentil ainda no rosto.
— O de sempre — Oliver me responde. — Uma porção grande de batata frita com bacon e um refrigerante cola de um litro.
Anoto rapidamente no meu bloco o pedido e o número da mesa.
— Tudo bem, daqui a pouco trago para vocês — sorri mais uma vez antes de sair.
— Uma porção grande de batata frita com bacon — falo para Frida, nossa cozinheira, através da pequena abertura da cozinha para a recepção.
— O que foi Sarah? Parece inquieta — David percebe meu estado.
Eu não estava gostando nada de receber olhares de desdém da Olivia Miller, isso me incomodava. Mas não podia deixar isso interferir no meu trabalho, iria fingir que não estava vendo e agir normalmente. Ou ao menos tentar.
— Nada amigo — minto. — Na verdade é uma novidade que tenho para te contar — digo, me lembrando sobre o dinheiro que papai havia me dado para comprar a moto. — Quando formos embora te conto.
— Ah, não acredito Sarah Jenkis, que você vai me fazer esperar — rio da sua indignação.
O pedido da mesa seis havia ficado pronto, segui cautelosa até lá depositando sobre a mesa a porção de batata com bacon, levei também os copos e busquei o refrigerante que haviam pedido.
— Pode deixar que eu sirvo — Oliver diz em um sorriso. — Obrigado!
— De nada! — respondo.
Alice conversava sobre alguma coisa com Olivia, que pareceu não se importar mais com minha presença, os outros garotos também estavam entretidos conversando, Oliver já servia os copos com o refrigerante. Ousei olhar para Itan que estava a me observar, eu sempre evitava contato visual, mas dessa vez me permiti olhá-lo, lembrando do sorriso que havia me lançado antes quando fui atendê-los. Sorri tímida para ele antes de sair dali.
Meu coração batia estranhamente acelerado no peito. Bebi o copo de água de David que estava ao seu lado.
— Ei, isso era meu — meu amigo diz indignado.
— Falou certo, era seu — rio dele.
Continuei atendendo aos clientes, anotando pedidos, caminhando com as bandejas, limpando as mesas. Eu estava praticamente no automático, cheguei novamente a recepção ao lado do meu amigo, tirando com o dorso da mão suor que teimava escorrer da minha testa, limpei a mão com um guardanapo e fiquei parada em frente a máquina registradora. O calor estava me matando, eu ansiava por um banho, olhei para David que mexia ao celular escondido, ele parecia não se incomodar.
— O senhor Darius está vindo aí — minto para meu amigo, que com um movimento rápido esconde o celular no bolso.
— Onde? — ele indaga olhando para os lados, vendo que nosso patrão não havia aparecido.
Gargalho de David, e o mesmo me lança um olhar fatal.
— Sua perversa!
— Estava conversando com quem? — pergunto.
— Estava marcando o horário para fazer minha prova de direção — ele diz simplismente. — Tenho que ir ao banheiro — David fala rápido olhando para frente, sigo seu olhar. — Atende aí! — Itan caminhava tranquilamente em nossa direção.
— David — exclamo seu nome, mas ele já estava alcançado a porta do banheiro, apenas virou para mim com um sorriso diabólico nos lábios.
Suspiro antes de me virar para frente com um sorriso forçado no rosto. Itan parou e me olhou nos olhos.
— Oi, Sarah! — ouvir sua voz novamente fez com que meus sentidos se animassem outra vez.
— Oi, Itan!
— Vim acertar minha parte, pode dividir por seis — concordo com a cabeça, pegando um calculadora e o papel que havia anotado o valor do pedido da mesa seis.
— Você foi embora cedo da festa, não é? — Itan me pergunta enquanto divida o valor.
— Eu acabei pegando uma carona — respondo. — Deu oito reais e vinte centavos.
— Entendi, com quem? — a sobrancelha de Itan se levanta levemente. Ele tira o dinheiro da carteira e me entrega.
Pego as cédulas de sua mão, e noto algo que não havia visto antes, uma pequena tatuagem de estrela em seu pulso, ela era simples e bela.
Conto o troco de Itan e na sequência respondo sua pergunta.
— Com a mãe da Alice — aponto com a cabeça a menina de cabelos negros sentada na mesa que estava antes. — Aqui está seu troco — estendo a nota com um sorriso habitual. Itan a pega colocando na carteira.
— Obrigado! — ele me sorri gentil.
Itan coça a nuca e ficamos ali nos olhando, esperava que se despedisse, mas ele se mantinha imóvel, parecia que queria dizer algo, mas lhe faltava coragem.
Comecei a mexer impaciente nas mãos, nervosa com a situação, seus olhos jabuticabas piscavam várias vezes antes de eu ouvir novamente sua voz.
— Sabe, Sarah, eu estava pensando se você, claro se quiser e puder, — engoli em seco, na expectiva do que ia dizer — me ajudar na recuperação de linguaguem? Você disse que as provas sempre são fácies, pensei que pudesse me dar umas dicas...
Suspiro ao notar do que se tratava, de alguma forma eu pensei que ele fosse me convidar para mais alguma coisa, mas ele só precisava de ajuda.
— Linguagem? Hm, é claro — falo sorrindo sem jeito.
— Legal, a professora Michelle não vai me perdoar, tenho certeza que ela vai ficar no meu pé para ver se eu tento colar — ele sorri brincalhão.
— Eu vou te ajudar, não vai precisar correr o risco de se pego de novo e parar na detenção — dessa vez eu sorrio.
— Você pode me passar seu número para gente conversar? — ele indaga me olhando profundamente.
— Meu número? — Itan estava pedindo meu número, estava me sentindo tão nervosa que os números começaram a se embaralhar em minha mente. Saquei meu bloquinho de pedidos e em uma folha em branco anotei todos os dígitos assinando meu nome logo em baixo, arranquei o papel e passei para Itan com um sorriso no rosto.
— Valeu! Te mando mensagem mais tarde — ele diz com seu sorriso charmoso de canto, guardando o papel que havia dado no bolso.
Assinto. Itan se afasta seguindo para porta principal. Observo ele sair e pelas janelas de vidro vejo ele indo até sua moto estacionada em frente a Darius.
Estava tão absorta que nem percebi Olivia parada próximo ao balcão, ela me olhava com os braços cruzados esperando que percebesse sua presença. Alice também se aproxima, mas diferente da Olivia ela parecia mais amigável.
— O que você deu a ele? — a voz de Olivia alcança meus ouvidos. A pergunta saiu rápido, ela me olhava intensamente a espera de uma resposta.
— An — engoli em seco, pensando no que dizer — um papel — revelei o óbvio.
Estava nervosa, meu coração batia acelerado no peito.
— Isso eu vi, né, garota — a voz de Olivia sai rude —, quero saber o que tinha nele?
A loira em minha frente se mostrava inquieta, respirei fundo voltando em si, a respondendo com tranquilidade.
— Ele me pediu o número da lanchonete, escrevi no papel e dei a ele — falei com convicção, eu não iria dizer que havia passado meu número a ele, isso não seria uma boa ideia, sem contar que eu não devia satisfações a Olivia.
— Entendi — ela fala empinando o nariz, agora relaxando os ombros e descruzando os braços. — Quero acertar minha parte — Olivia agora fala abrindo a bolsa bege de alças de correntes douradas que carregava.
— São oito reais e vinte centavos — falo.
David aparece ao meu lado, tranquilo e sereno. Olivia me estende o dinheiro e eu lhe devolvo o troco, ela pega rápido as cédulas as guardando e sai sem se despedir e nem ao menos espera a amiga que estava parada observando tudo que acabara de acontecer. Vejo Olivia parar ao lado de fora novamente com os braços cruzados.
— Desculpe pela Olivia, ela tem o gênio forte — Alice me fala se aproximando do balcão, logo a minha frente — E quando se trata do Itan ela tem muito ciúmes — ela me confidencia.
Olho para a garota a minha frente.
— Eles namoram? — a pergunta saiu involuntária da minha boca.
— Não, claro que não — Alice me responde. — Ela só é muito afim dele, eles já ficaram, mas não foi nada sério — a garota sorri para mim, suas bochechas rosadas ficam em evidência.
— Entendi — falo forçando um sorriso.
— Oito e vinte, né? — ela me indaga e eu assinto a ela. A mesma já me passa o dinheiro trocado.
— Obrigada — sorrio gentil para ela.
— De nada, eu que tenho que agradecer — Alice sorri largamente — na festa, por ter me ajudado e por ter dito aquelas palavras bonitas.
Alice esboçava uma personalidade radiante, alegre. Não entendia como Olivia podia ter sido tão cruel com ela, e em como Alice ainda permanecia ao seu lado, mas estava feliz em saber que minhas palavras tinham surtido efeito e mais ainda em ver a gratidão estampada nos olhos castanhos claros miúdos da menina ainda a minha frente.
— Não precisa me agradecer, sei que faria o mesmo por mim — sorrio para ela. Alice me acena antes de ir e eu observo ela se juntar com Olivia ao lado de fora e caminharem juntas.
Olho para David.
— Você caiu no vaso? — questino David, cruzando os braços sobre o peito.
— Estava ocupado, tive que esperar um pouco e também estava com dor de barriga — David sorri sem vergonha.
Faço uma carreta para ele.
— E aí como foi atender o Itan? — ele pergunta.
Conto a ele o que havia acontecido minutos atrás, que Itan havia pedido minha ajuda e meu número também, meu amigo vibra e eu apenas reviro os olhos para ele, falo do meu momento com Olivia também e David reclama por não ter vindo antes para ver a cena.
— Pelo menos você agora já sabe que eles não namoram — David fala.
— Mas já tiveram algo — digo me lembrando do que Alice revelara. — E pelo jeito a Olivia ainda gosta dele.
— Mas isso não significa que ele gosta dela — David me retruca.
Olho para meu amigo.
— Eu não me importo, ele só pediu minha ajuda para a prova, não me chamou para sair — falo em um murmúrio.
— Aham, não se importa, não é isso que seus olhos dizem — David fala.
— Agora deu para ler os olhares das pessoas? — brinco com ele. David ri do meu comentário.
— Me dá licença, que agora eu atendo — David fala de repente me empurrando levemente com o quadril. Olho na direção do seu olhar, e vejo Oliver se aproximando do balcão com sua jaqueta college preta e branca de sempre com a letra O bordada no peito esquerdo. Reviro os olhos para meu amigo mesmo que ele não estivesse mais concentrado em minha presença.
...
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