VIII

Não poderia explicar o quão o ar da Escócia era puro e revigorante. Scarlett estava feliz por finalmente ter chegado ao país que muito amava, depois da Inglaterra. Ter aceitado aquele convite da irmã foi a melhor coisa que tinha feito, precisava daquele tempo para pensar melhor.

Adorou a recepção com as gaitas de fole, era uma forte identidade do país. O rei não aparentava o que diziam sobre ele, parecia bem, seus olhos estavam com um brilho de felicidade. Poderia ser a presença do primo que estivesse fazendo ele ficar feliz, a família tinha esse efeito de felicidade muitas vezes.

Scarlett ficou encantada com os filhos do rei escocês, principalmente o mais novo, que se apresentou como Arthur. Entraram no palácio depois de uma longa apresentação, burocracias, deixando-a levemente irritada, pois queria deitar-se em uma cama e descansar da viagem.

— Srta. Harrison, está gostando da recepção? — o pequeno príncipe Arthur aproximou-se dela.

— Sim, Alteza. — sorriu.

— Parece estar aborrecida.

— Estou apenas cansada da viagem.

— Como é a Inglaterra? — os olhos do menino se iluminaram.

— Um pouco poluída e chuvosa, mas não deixa de ser bonita e um bom lugar para morar.

— Gosta de Edimburgo?

— Sim, já vim aqui diversas vezes com minha família. Minha irmã mora aqui.

— Meu neto está incomodando a senhorita? — uma senhora aproximou-se e pegou na mão de Arthur com certa violência.

— Não. — cruzou os braços, não tinha simpatizado com ela.

— Crianças aborrecem sempre.

— Diga isso pela senhora, para mim elas são adoráveis. — abaixou-se para ficar do tamanho de Arthur. — Podemos nos ver depois, certo? Meu sobrinho, Edward, gosta de brincar muito, podem ser bons amigos. Quem sabe seu pai não permite que venha passear comigo?

— Acho que ele deixaria! — respondeu empolgado.

— Ótimo. Falarei com meu cunhado para falar com seu pai. — levantou-se. — Com sua licença. — fez uma vênia para a mulher e uma reverência para Arthur, que riu.

Kate estava logo atrás dela com Edward no colo adormecido. Seu pequeno sobrinho deveria estar muito cansado para estar dormindo tão cedo. Amava tanto aquela criança, como se ele fosse seu filho. Como se tivesse gerado ele por nove meses no lugar da sua irmã.

— Como está se sentindo, Srta. Scarlett? — Kate perguntou.

— Completamente agoniada para descansar.

— Sei como se sente.

— Quer que eu segure Edward para descansar seus braços?

— Não é necessário.

— Claro que sim.

— Não. Ficarei com a criança.

— Teimosia deveria ser sobrenome. — disse aborrecida.

— O seu também!

Edward acabou abrindo os olhos com a discussão das duas, mas voltou a dormir novamente. Desejou ser uma criança naquele momento para ser carregada por alguma pessoa.

— Srta. Harrison? — uma empregada aproximou-se.

— Sim?

— Levarei a senhorita até seu quarto.

— Que notícia maravilhosa! — Scarlett beijou as costas do sobrinho e olhou para Kate. — Procure descansar logo.

— Quando Suas Majestades me ordenarem, farei isso, Scarlett.

Assentiu e acompanhou a empregada.

Não demorou muito para chegar em seu quarto, apenas dois corredores. A porta foi aberta pela mulher, Scarlett entrou e observou todo o local. As cortinas estavam abertas, a lareira estava acesa, e suas valises estavam organizadas perto da cama. O papel de parede era azul céu com flores em dourado, achou encantador e meigo.

Soltou os cabelos do penteado apertado, depois os sapatos que incomodavam seus dedos e jogou-se na cama.

— A senhorita deseja algo?

— Um chá com biscoitos, estou faminta.

— Pediram para avisar para a senhorita que haverá um jantar mais tarde.

— Não acredito, terei que socializar. — revirou os olhos e passou a mão pelo rosto. — Pensei que eu estaria longe disso.

— Creio que terá muitos eventos com a chegada de Sua Majestade, George.

— Claro.

— Volto em breve trazendo seu chá com biscoitos.

Quando Scarlett se ergueu da cama, a empregada já tinha saído e fechado a porta. Deitou-se na cama novamente, passando a mão pelos lençóis. Ia esperar ela voltar com seu chá com biscoitos para dormir até a hora do jantar, ou não aguentaria ficar nem dez minutos.

A empregada voltou mais rápido que ela havia previsto, tomou um susto quando ela colocou a bandeja com o chá e biscoitos em uma mesa perto da sua cama. Pegou um biscoito e comeu com o maior desejo do mundo.

— Isso está realmente bom!

— Sério? — perguntou animada, depois se recompôs.

— Como é seu nome?

— Harper Fisher, senhorita.

— Você que fez os biscoitos, não foi? Estão maravilhosos! Colocou framboesas e amoras, adoro a combinação dessas duas frutas.

— Como soube que fui eu?

— Sua felicidade estampada nos olhos, fora sua empolgação ao saber que eu havia gostado. Parabéns.

— Obrigada. — ficou ruborizada.

— Bem, como costuma ser os jantares daqui?

— Não costuma ter muitos jantares por aqui, e cheguei aqui faz pouco tempo. Nunca vi o rei feliz como está agora, tudo estava sendo mandado pela duquesa Lexie, mas parece que ele tomou as rédeas da mão dela.

— Deve ter sido a mesma que puxou a mão do príncipe Arthur com violência hoje.

— Sim, ela anda meio irritada. Arthur é o que mais sofre com os ataques de fúria dela.

— O rei nunca observou esse comportamento? — perguntou indignada.

— Existem muitas coisas que a senhorita não sabe sobre essa família Crawford, senhorita. Mas, como tratou-me bem, elogiou meus biscoitos, e temos tempo, contarei tudo que sei, ou ouço a respeito das pessoas desse palácio.

— Coisas polêmicas.

— Sim, muitas coisas polêmicas. Principalmente com a família da falecida esposa do rei.

— Meu Deus! — colocou as mãos sobre o rosto.

— Minha mãe trabalhou aqui por muitos anos, agora eu estou no lugar dela. Todos os palácios têm seus segredos, senhorita. Preciso ir, voltarei para ajudá-la a se arrumar para o jantar.

Scarlett ficou intrigada com a fala de Harper, depois ficaria sabendo de tudo. Comeu seus biscoitos, bebeu uma xícara de chá e dormiu.

♔♔♔♔

Harper chegou em seu quarto completamente animada. Abriu uma das valises e escolheu um belo vestido branco para Scarlett. Puxo-a para o banheiro e a ajudou no banho, esfregando suas costas. Depois, colocou suas roupas de baixo, trançou o corset, e abotoou a longa fileira de botões.

— Como prefere seu cabelo?

— Tem algum mal deixá-lo solto?

— Não, acho que ficará incrível seu cabelo solto. — passou a escova pelo cabelo dela. — Farei duas tranças finas, prenderei umas pérolas que achei em sua valise pequena, depois o sapato azul. Ficará deslumbrante.

— Poderia ir me contando os segredos desse palácio? — perguntou curiosa.

Harper deu uma pequena risada diante da curiosidade de Scarlett.

— Alguns boatos dizem que os gêmeos são bastardos.

— Como? — virou-se espantada.

— A rainha Catherine tinha um caso com um guarda do pai, todos sabem disso, inclusive o rei. Mas ele sempre foi apaixonado por ela, cego de paixão. Apesar de dizerem que ela era virgem, existem métodos para fingir um sangue.

— E por que acham que eles não são filhos do rei?

— Ela apareceu grávida rápido demais, e teve os filhos antes do tempo, longe daqui. Não acha suspeito? E também, todos os Crawford possuem uma marca de nascença na base da costela, as crianças não têm. Quero dizer, Arthur possui.

— Isso é muito grave.

— Sim, muito grave. Catherine não valia nada, não entendo esse amor de Adam por essa mulher. Quando ele virava as costas, ela aprontava. Pobre homem, traído tantas vezes. Surpreende-me ele idolatrar aquela mulher, ter deixado de viver a vida pela morte dela, e pior, rejeitar o próprio filho. O legítimo.

— Cuidado com suas palavras, Harper. — a alertou preocupada.

— Acalme-se, isso não é segredo para a criadagem, apenas para o rei.

— Estou muito assustada com isso tudo.

— Edimburgo não é um lugar muito calmo, como todos acham. Mais um aviso: Cuidado com Lexie.

— A duquesa?

— Ela não é confiável.

— Certo. — respondeu confusa.

— Bom, precisamos ir.

— Como vou encarar o rei depois de ouvir tudo isso?

— Encarando. — deu de ombros, como se tivesse contado a coisa mais simples do mundo.

— Como se fosse simples.

— É simples, basta ignorar.

Scarlett ficou assustada com tamanha tranquilidade de Harper diante daquela situação. Eram coisas horríveis sobre uma pessoa, e ela mandou apenas ignorar. Olhar um homem que poderia estar sendo enganado, também traído pela mulher que tanto amava, era terrível.

Respirou fundo.

— Vamos? — perguntou Harper.

— Vamos.

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