V

Quando Adam entrou no quarto, a única iluminação do local era um candelabro perto da cama em que seu filho estava dormindo. Aproximou-se devagar dele, não queria acordá-lo, pois não sabia o que dizer caso isso acontecesse. Ainda era estranho estar ali.

Arthur não o conhecia muito bem, o que era algo extremamente monstruoso. Reconhecia que suas atitudes eram completamente erradas, mesquinhas e egoístas. Estava fazendo mal a uma pobre criança que não tinha culpa absolutamente nada. Mas toda vez que pensava sobre isso e tentava mudar o que estava acontecendo, sua covardia falava mais alto.

O menino começou a se debater na cama violentamente, Adam assustou-se com aquela reação de Arthur ainda dormindo, e foi correndo até ele para poder acordá-lo de um possível pesadelo. Passou a mão por seu rosto, que estava febril, e sacudiu seus ombros para que acordasse.

No primeiro momento, ele não acordou, deixando Adam preocupado, pensando que havia acontecido o pior. Depois, Arthur abriu seus olhos lentamente, parecia bastante assustado, deveria ter sido realmente algum pesadelo. Quando ele olhou para Adam, levou um susto. Sentiu-se ainda pior ao perceber que seu filho não o reconhecia.

— Quem é o senhor? — perguntou Arthur com a voz embargada, coçando os olhos.

Adam ficou calado por alguns segundos, como dizer que era o pai dele e justificar todos aqueles anos de ausência?

— Sou... — vacilou um pouco. — Seu pai. Isso, sou seu pai.

— Meu pai? — um sorriso brotou em seus pequenos lábios. — Quando o senhor voltou?

Adam arqueou a sobrancelha e colocou as mãos sobre a perna.

— Voltei?

— Sim! — disse completamente empolgado. — Vovó me disse que o senhor estava na guerra ajudando o seu primo.

— Oh. — lembrou-se da guerra de George, que ele não havia participado em momento algum. — Sua avó lhe contou isso?

Ele confirmou com a cabeça, deixando Adam ainda mais desconfortável. Não suportava mentiras. Porém, não podia contar para uma criança de quatro anos a realidade dos fatos que o cercava.

— Estava tendo um sonho ruim?

— Tenho pesadelos todos os dias. — seus ombros caíram. — Eles nunca param, não sei bem...

— O que acontece nesses sonhos?

— Não consigo descrever, é realmente tudo confuso.

— Fique tranquilo. — conseguiu dar um sorriso aliviado. — Reze antes de dormir, sempre ajuda.

— Farei isso, papai. — Arthur sorriu. — Como está se sentindo hoje?

— Bem. — pegou a pequena mão do filho. — Está tão grande meu filho.

— Tenho quatro anos, tenho que estar grande. — disse com orgulho. — Falo bastante bem, notou papai? Vovó disse que isso é um sinal de que serei muito inteligente.

— Lexie está certa.

— Podemos sair pelo palácio amanhã com meus irmãos? — parecia cheio de expectativas.

O peito de Adam se apertou ao ver o quão seu filho era amável, inteligente e alegre. Podia não estar enxergando bem sua fisionomia, mas tinha certeza de que ele era praticamente igual a Catherine. Arrependeu-se tanto por ter se privado de acompanhar o crescimento dele. Estava decidido, seria diferente daquele momento em diante, tentaria ficar mais o próximo do filho.

— Amanhã podemos fazer isso. — passou a mão pelos cabelos dele. — Agora, precisa dormir, está bem?

— Sim, papai.

— Preciso ir. Durma bem, pequeno Arthur.

Arthur abraçou Adam de repente, deixando-o sem reação. Aqueles pequenos braços em torno dele, era como se estivesse revivendo a emoção de ser pai novamente. Beijou o topo da cabeça do filho e retribuiu o abraço.

— Amanhã nós nos veremos. — afastou-se dele e levantou-se da cama.

— Amo você, papai.

Adam paralisou no meio do caminho, não esperava ouvir aquilo tão cedo vindo de Arthur. Uma lágrima desceu por seu rosto, pois ele não conseguia ainda dizer o mesmo.

♔♔♔♔

Adam perdeu o sono completamente. Andava pelos corredores formulando diversas ideias para o dia seguinte que havia prometido para o filho, não podia falhar em nada no seu recomeço ao lado dele. Ele já tinha feito eles sofrerem demais, teria que recompensá-los dia após dia da melhor maneira possível.

— Majestade. — seu secretário fez uma reverência. — Ainda acordado?

— Estava com meu filho.

— Harold?

— Arthur.

Notou a surpresa no semblante de Edric.

— Como ele reagiu a sua presença?

— Bem. Lexie conseguiu mentir bem para ele.

— Ela é bastante boa em mentiras. — resmungou Edric.

— Como? — aquela frase havia chamado sua atenção.

— Nada importante, Majestade. Preciso voltar ao meu escritório para terminar de organizar a recepção do rei George e sua corte.

— Serão muitas pessoas?

— Não. Ele é bastante simples em suas visitas, somente um nome foi adicionado recentemente, que é a irmã da rainha.

— Eles ficarão por quanto tempo?

— Até notarem que o senhor está realmente bem.

— O que andam falando sobre mim, Edric?

— Quer mesmo saber? — Edric suspirou. — Garanto que não coisas boas.

— Podemos conversar?

Edric parecia relutar em aceitar a conversa oferecida por ele.

— Pedi que servissem um chá no meu escritório, podemos ir para lá agora.

— Fica perto daqui, não é?

— Estamos na porta do meu escritório, Majestade. — ele riu. — Vamos, eu sei o quão não gosta de dormir.

Edric o conhecia bem, eram amigos desde que tinham nascido. O pai dele era o duque de Rothesay, Shamus Farrell, melhor amigo do seus pais. Eles sempre tiveram divergência com duque de Lennox, foram contra seu casamento com Catherine, deixando os Crawford e Farrell conturbados. As coisas somente pioraram com o tempo, mas Adam e Edric nunca se afastaram por causa disso, porém, ele nutria uma enorme antipatia por sua sogra.

Edric abriu a porta, deixando-o entrar, e depois entrou.

— Acho tão estranho você me chamando de majestade.

— Deveria ter se acostumado, Adam. Há quantos anos somos secretário e rei?

— Independente disso, sempre fomos amigos.

— Eu sei. — sentou-se em sua cadeira, diante de uma pilha de papéis em cima da sua mesa.

— Muito trabalho o espera. — pegou um papel com o nome dos convidados e sentou-se em uma poltrona perto da lareira. — Realmente, poucas pessoas.

— Eu lhe disse que ele era simples. Poderia me ajudar a decidir algumas coisas?

— Se eu puder. — colocou o papel sobre a mesa novamente.

— Seria melhor a ala oeste ou sul para hospedá-los?

— Ala oeste é fria demais, não gosto daquela parte do palácio. Melhor a ala sul.

— Que rei competente. — Edric escreveu algo no papel. — Quando vai tirar sua sogra da regência?

— Ainda não sei.

— Espero que breve. — ele levantou os olhos. — Odeio aquela mulher.

— Fala isso...

— Não venha argumentar sobre os problemas da minha família com a dela. Será que não percebe...

Uma empregada entrou no escritório com uma bandeja com chá. Fez uma reverência para ele e colocou a bandeja em uma pequena mesa. Serviu o chá para Edric, parecia que já conhecia seus gostos para chá. Faltava uma xícara para ele, notou o desespero no rosto dela.

— Não se preocupe, senhorita. — Adam disse. — Edric deve ter uma xícara em algum lugar por aqui.

Edric entregou uma xícara para a empregada, que estava em cima da sua mesa.

— Pode colocar leite em meu chá.

A mulher fez o que ele pediu, entregou-lhe a xícara e saiu do local.

— Paramos em que eu não percebo...

— Adam, deixarei que observe as coisas sozinho, sem minha interferência. — bebericou seu chá. — Vamos continuar o que começamos.

— Está bem.

Adam deixou aquele assunto de lado, por hora. Estava bastante intrigado com a maneira que Edric tinha falado dela.

Passaria a observar melhor.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top