II

Scarlett acordou cedo no dia seguinte. Vestiu-se com um belo vestido esverdeado com detalhes azulados na manga curta. Penteou seu cabelo loiro em um perfeito penteado, colocando algumas presilhas de pérola. Saiu do quarto assim que estava pronta, apesar de relutar um pouco para ir a Londres, apesar de sentir muita falta da família que lá vivia, Cambridgeshire havia se tornado seu lar novamente, e um ótimo refúgio.

Encontrou o Sr. Houston subindo as escadarias com uma expressão tristonha, o que a deixou triste. Sabia que os empregados haviam se apegado a ela, mas não tinha ideia do quanto. Mas sabia que em determinado momento deveria voltar a Londres, cedo ou tarde, teria que voltar.

— Senhorita, a carruagem está pronta. Deseja fazer o desjejum antes de ir?

— Não, acho melhor eu não me atrasar muito, ou eu desistirei de ir. Tenho que manter a palavra com minha irmã. Querendo ou não, ela é a rainha. — sorriu e colocou as mãos sobre a cintura. — Pediu para todos os empregados me esperarem na sala?

— Como a senhorita pediu. — sorriu. — Todos se encontram na sala esperando pela senhorita.

— Vamos.

Eles desceram as escadas em completo silêncio. Pairava certa tristeza no local, mas ela jurou que não choraria, não ali. Precisava apenas fazer uma viagem, depois retornaria para Cambridge.

Todos estavam na sala esperando por ela, com sorrisos. Scarlett abraçou cada um deles fortemente, agradecendo por tudo que eles fizeram por ela naqueles meses. Pediu para que ninguém a acompanhasse até a carruagem, pois queria fazer aquilo sozinha. Eles acataram o pedido dela, porém, desobedeceram assim que ela entrou na carruagem.

Ela se acomodou na carruagem e acenou para todos quando o cocheiro começou a andar. Lágrimas começaram descer por seu rosto enquanto ela partia de volta para Londres. Ela saberia que viveria as mesmas frustrações de não ter achado um marido, convites para a nova temporada de bailes, e ela negaria a maioria dos convites. Ou iria, e seria chamada de solteirona pelos cantos. O que Scarlett esquecia a todo o momento era que nem ficaria por muito tempo em Londres, pois partiria em seguida para a Escócia com sua irmã e a comitiva real.

Encostou a cabeça na janela da carruagem que estava com a cortininha aberta, e começou a observar a estrada como sempre gostou de fazer. Depois de algum tempo, acabou adormecendo.

♔♔♔♔

Quando Scarlett acordou, estava em frente à porta da sua casa em Londres. Espreguiçou-se, e sem a ajuda do cocheiro, desceu da carruagem. Tudo estava como ela havia deixado, com exceção das novas flores no jardim. Subiu as escadas que davam para porta principal e tocou a campainha. O mordomo abriu a porta e levou um susto.

— Srta. Harrison, não recebi nada de Houston sobre sua volta para Londres.

— Oh, eu pedi para não dizer nada. — ela entrou na casa. — Tudo cheira a rosas. Bem, meu pai se encontra em casa?

Percebeu um certo desconforto nele.

— Sim... — ele ficou pálido.

— Aconteceu alguma coisa com meu pai? — Scarlett o encarou.

— Scarlett! — Jasmine exclamou descendo as escadas. — Não fui comunicada de que chegaria hoje! — puxou Scarlett para um abraço. — Está mais linda do que antes! — afastou-se. — Ficou mais bronzeada, que adorável.

— Jasmine, aconteceu algo ao meu pai?

Jasmine olhou para o Sr. Collins, para depois olhar para ela novamente.

— Scarlett, algumas coisas começaram a mudar desde que você foi passar essa longa temporada em Cambridgeshire.

— O que está querendo dizer com isso? — arqueou a sobrancelha.

Quando Jasmine ia falar novamente, Scarlett ouviu uma gargalhada feminina vindo da direção da sala de visitas. Ela começou a andar rapidamente, ignorando Jasmine completamente. Quando chegou a sala, seu pai ria, enquanto beijava uma mulher completamente desconhecida. De repente, sentiu um embrulho no estômago com aquela cena.

Lembrou-se do dia em que perguntou ao pai o motivo dele nunca ter casado. Ele havia respondido que ainda era apaixonado pela mãe, e que não achava justo ficar ao lado de outra pessoa que não amasse. No fundo, ela sempre agradeceu por seu pai nunca ter se casado novamente, e ter presenciado aquela cena a deixou desconcertada.

Saiu da sala discretamente para o pai não perceber sua presença, mas não adiantou, ele a viu. Scarlett adiantou mais os passos e saiu da casa rapidamente.

— Scarlett! — gritou Jasmine. — Não saia dessa forma!

— Filha! — seu pai gritou logo depois de Jasmine. — Preciso explicar!

Ela não queria ouvir explicações, estava farta de tudo. Pediu ao cocheiro para que a levasse para o palácio de Buckingham o mais rápido possível, precisava ficar perto da irmã e do sobrinho.

Por todo o caminho, não parava de pensar no seu pai com aquela mulher aos beijos. Não sabia explicar, mas sentia-se traída de alguma forma. Tirou as luvas e gritou de frustração. Precisava viajar imediatamente, e não voltar tão cedo para Londres.

Olhou pela janela, o palácio de Buckingham estava ficando cada vez próximo. Colocou suas luvas novamente e tentou arrumar o penteado novamente. Passou a mão por todo vestido, para desamassar algumas partes, e esperou a carruagem receber autorização para entrar.

Dessa vez, por causa das regras da realeza, esperou o cocheiro abrir a porta e ajudá-la a descer. Enquanto ela subia as escadarias, os guardas abriram a porta dupla, revelando Charlotte do outro lado com um enorme sorriso. Não conseguiu manter a compostura e correu para abraçar a irmã.

— Mal acreditei quando Edward disse que havia visto você. — Charlotte apertou a irmã no abraço. — Pensei que só viria me visitar amanhã. — ela se soltou de Scarlett e colocou as mãos em seu rosto. — Belíssima!

— Obrigada, Lottie. — Scarlett sorriu. — Cadê meu sobrinho?

— Vamos até onde ele está. — ofereceu o braço para Scarlett. — Ele está ficando inteligente a cada dia. Surpreende-me a cada dia mais, fico tão feliz. Ed está tão lindo.

— É a mãe mais apaixonada pelo filho que conheço. — riu. — Por onde anda seu marido, sua sogra e sua cunhada?

— George está no Parlamento, minha sogra está em seus aposentos e Millie está tocando piano.

— Sabia que às vezes não a reconheço?

— O que quer dizer com isso? — Charlotte arqueou as sobrancelhas.

— Seu modo de falar, sua postura.

— Sabe que fui obrigada a tudo isso. Tenho que dar exemplo perante a Corte e a todos. Não posso ter mais meu humor ferino com qualquer pessoa, nem falar o que realmente penso em diversas situações. Ser rainha pode parecer ser algo esplendoroso, usar coroas e vestidos mais luxuosos, mas os bastidores somente nós sabemos. — Charlotte passou a mão pela barriga. — Fico pensando que meus filhos não terão tanta liberdade, principalmente Edward que é o herdeiro do trono. Mas não posso reclamar, sabe? Tenho um marido que me ama incondicionalmente, um filho maravilhoso, e uma família totalmente amorosa.

— Nem tudo realmente são flores. — Scarlett murmurou.

Charlotte parou subitamente e colocou Scarlett de frente para ela, com o olhar preocupado.

— Aconteceu algo antes de vir para cá? Não possui o semblante feliz de sempre.

— Charlotte...

Edward abriu a porta e abraçou as pernas da tia. Scarlett se abaixou e o pegou no colo, abraçando-o logo em seguida. Ele realmente havia crescido bastante, e seus olhos azuis estavam mais lindos do que antes.

— Depois conversamos sobre o assunto.

— Claro. — Charlotte apenas assentiu e entrou na sala de onde Edward havia saído.

Scarlett começou a afagar as costas do sobrinho e entrou na sala, fechando a porta com a perna. Havia um piano e vários brinquedos espalhados pelo chão. Alguns sofás estavam com alguns livros, em uma mesa havia um café da manhã completo.

— Está morando aqui?

— Edward gosta mais daqui. — Charlotte deu de ombros.

— Titia, você vai ficar comigo hoje? — Edward puxou uma mecha do seu cabelo.

— Somente se sua mãe mandar preparar um quarto de hóspedes para mim. — ela sorriu beijando a pequena mão de Edward.

— Nunca quis permanecer aqui. — Charlotte a encarou. — Suspeito.

— Depois conversamos.

— Sim, eu sei. Apenas estou comentando. — Charlotte revirou os olhos.

— Toque algo para nós, Vossa Majestade. — Scarlett se sentou no sofá com Edward no colo. — Algo alegre, por favor.

— Como desejar. — Charlotte riu e começou a tocar.

Scarlett começou a esquecer de todas as suas angústias e apenas prestou atenção naquele momento alegre com sua irmã e seu amado sobrinho.

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