Capítulo 9


Avistei a pacata rua do lar sem nenhuma mudança desde a minha partida. As casas em estilo americano totalmente organizadas em fileiras, todas com belos jardins, tendo um pequeno parque no meio da vizinhança, para diversão dos moradores.

— Rosa. — Minha irmã Gardênia veio abraçar-me. — Margarida está namorando, ela desobedeceu à regra do pai em não namorar alguém antes dos dezoito — pronunciou parecendo estar indignada.

— Não faça fofoca. — Margarida chegou cortando qualquer fala minha.

— Às vezes descubro as coisas, é diferente, ou ouço algo e passo a informação adiante. Sabe, estou aprendendo com as senhoras da rua. — Pareceu falar a coisa mais normal do mundo.

— Tenho certeza de que essa informação, é digna do jornal. — Rir com o seu comentário.

— Rosa, chegou. — Olhei para frente, encarando o rosto cansado da Dona Fiona, ela está praticamente irreconhecível. Para falar a verdade, nunca vi a mamãe nesse estado lamentável, ela emagreceu bastante, parece que não come a dias e as olheiras negras nas suas pálpebras inferiores, parecem palpáveis.

O seu cabelo loiro médio parece ter perdido o brilho, a sua pele se encontra pálida, causando-me uma angústia no coração, seus olhos azuis — algo que gostaria de ter herdado — parecem opacos e sem vida, resumindo, ela está a cara da desgraça.

Conquanto, para a minha surpresa recebi um abraço dela assim que me aproximei, algo muito difícil de acontecer, deixando-me verdadeiramente surpresa.

Enquanto isso, ouço um estrondo vindo do chão, como se uma mala de cinco quilos tivesse caído na intenção em fazer uma cratera na terra.

— Desculpe. — Claro que deveria ser.

Após essa demonstração de afeto, ela tira sua atenção de mim, direcionando a outra pessoa.

— Por que não avisou da visita? — perguntou parecendo intrigada.

— Prazer sou Mark Ortega, marido da Rosa — disse levantando a mala preta do chão.

— Marido? Mas você saiu de casa há apenas alguns dias. — Pareceu perdida em pensamentos.

Não sei explicar, mas algo na expressão dela mudou drasticamente. As suas feições ficaram mais severas como se estivesse lembrando de algo dolorido assim que encarou Mark.

Ele apenas sorriu, mas não inquiriu nenhuma palavra. Senti um alívio no peito ao menos essa vergonha não passarei, em ser consagrada a solteirona da família. Como se fosse um ditado popular subjugado a nós mulheres, você vai ficar para titia, por qual motivo não falam isso para os homens? — Balbuciei em pensamentos.

— Precisamos conversar, mas antes disso preciso visitar Camélia. — Não foi minha intenção em entrar nesse assunto agora, afinal de contas, não faz nem uma semana que a minha irmã morreu.

Mas preciso tirar esse peso urgentemente do meu peito. Não posso mais atrasar o que foi traçado.

— Vou levá-la até ela. — Nunca vi Dona Fiona tão triste como está agora, isso chega a ser deprimente, observei o seu rosto melancólico enquanto ela fala em um tom sério e pragmático.

Ela fez questão que fôssemos apenas nós duas, a agradeço por isso, necessito desse momento.

Enquanto estou no único cemitério da cidade, que fica na saída, minha mãe por incrível que pareça me deixa sozinha.

O túmulo em concreto pintado de branco todo decorado com flores, que parecem frescas, as mesmas flores que levava seu nome, camélia sua favorita. Bem no centro, está um retrato seu e do marido, ao que parece eles foram enterrados juntos, assim como ele pediu em vida.

A imagem retrata o casal no dia do casamento, ela parecia feliz, me lembro como se fosse hoje. Na época fiquei com um certo ciúme, não sei o motivo, penso que o porquê foi pela nossa aproximação, ainda mais por eu não ter sido a primeira a saber sobre o pedido de casamento. Contudo, isso não vem ao caso.

Ainda consigo me lembrar do seu sorriso, em pura felicidade, era uma tarde de verão onde a paisagem estava propícia para um casamento abençoado pelo sol.

No momento estávamos aprontando minha irmã para o casório, só existia minha mãe, eu e Camélia no quarto, tendo está uma euforia tamanha nos seus 22 anos.

— Não acredito que estou me casando! — Camélia falou animada como se a sua vida dependesse disso.

— Também não, ainda mais para uma pessoa que tinha aversão ao casamento, resolveu se casar em plena formatura da faculdade. — comentei como se não quisesse nada.

— Em vez de ficar sonhando com o príncipe encantado, sua irmã conquistou um homem real e rico. — Minha mãe resolveu jogar a sua opinião na minha cara, mais uma vez.

Estamos arrumando Camélia para o casamento, já que a noiva está atrasadíssima, enquanto sou fuzilada pelos comentários ofensivos de mamãe.

Minha irmã está linda e simplesmente radiante, mesmo o seu vestido sendo simples em um rendado branco tomara que caia com uma fita na cintura azul, combinando com os seus olhos da mesma cor.

Deixei-as com seus comentários e saí do local, já que o casamento está acontecendo na varanda da casa, algo muito simples. Me encostei na porta, com a famosa frase da Bela e a Fera o meu segundo conto de fada preferido, já que pareço uma criança. — Imaginei.

"— E o que mais desejo ter, é alguém para me entender, tenho tanta coisa pra saber."

Acho que estou ficando muito dramática esses dias — enxuguei uma gota de lágrima do meu olho —, devo estar com TPM.

Casamentos não devem ser feitos visando o dinheiro como mamãe pensa, só o amor profundo irá me persuadir a casar e nada mais, é por isso que acabarei como uma velha solteirona. — Rir com pesar, porém, minha alegria durou pouco, pois, sou empurrada em direção ao chão quando minha mãe abre a porta para sair.

— Menina, você ainda está aí? Ande, me ajude a levar sua irmã. — Saiu arrumando o vestido de Camélia enquanto estou segurando o longo véu.

Pouco tempo depois, observo, feliz com o casamento. Vendo Camélia dizer os votos para o seu marido, enquanto eu estou na sacada de casa... sozinha.

Caleb... por quê?

— Eu a odeio. — Me peguei recitando essa frase, que nunca ousou sair da minha boca.

— Eu também — Acácia pronunciou ao meu lado.

— Você não sabe de quem estou falando — falei assustada.

— Solidariedade, irmã. — Levantou sua mão demonstrando a ação de sua fala. — Rosa me responda uma coisa? — pronunciou como quem não quer nada.

— O quê? — respondi sem dá-la muita atenção, já que estou com a atenção focada na cerimônia.

— Como é ver sua irmã casando-se com o homem que você está apaixonada? — Deu um sorriso presunçoso.

— Se você não sair daqui, não respondo por mim. — A encarei séria, não suportando suas gracinhas.

Acácia, tem a aparência física muito parecida comigo, com seus olhos castanhos e cabelo preto, acrescida por sua pele incrivelmente pálida. Ou seja, tenho a irmã número seis como uma cópia física minha, menos no que diz respeito à personalidade, já que ela ama ser extremamente inconveniente chegando a irritar.

Sinceramente preciso esquecer essa conversa, senão isso irá me atormentar pelo resto da vida.

Enquanto tento pensar em algo mais produtivo, a cerimônia acaba, junto com a minha última esperança. Pelo menos, ninguém da minha família sabe sobre a minha paixão secreto pelo, agora, marido da minha irmã mais velha. Fora Acácia com sua observação extrema. Esse é o meu pensamento, até tudo cair na minha face como culpa em meio a solidão...

Conquanto, em vez de seguir a minha vida, empaquei no passado, enquanto os outros seguiam sem mim.

Acho que o destino fez uma trapaça conosco irmã, perdão por nunca ter contado o motivo do meu afastamento, mas foram tantos que fica até difícil escolher o principal causador. — Enxuguei as lágrimas que jorravam e sorri, arrependida verdadeiramente.

Depois dessas emoções a flor da pele voltei para casa, foi quando minha mãe falou que o tabelião e o advogado chegarão essa tarde, por isso preciso estar em casa o mais rápido possível.

Não vejo necessidade nessa besteira de testamento, o que tenho a ver com isso? Até parece que minha irmã irá deixar algo realmente importante para mim.

Quando finalmente chegamos à casa, todos estão acomodados na sala, que se assemelha a um museu pela decoração antiga, desde seu sofá dos anos 70 até a pintura da parede forrada com papel de parede cinza, deixando a sala com uma aparência fria, sendo salva apenas pelos objetos coloridos da Dona Fiona.

Sentei-me ao lado de Margarida, já que procurei Mark pela casa e não o encontrei. Enquanto ouço os pronunciamentos jurídicos do advogado me perco em pensamentos, com dúvidas na mente, porque minha irmã me fez viajar milhares de quilômetros para ler um testamento, por quê?

Com agonia no coração aguardei com muita paciência a pronúncia do advogado — só que não —, tentando a todo momento me manter relaxada.

A quem quero enganar, estou perto de dá a louca aqui... Preciso de respostas!!! Essa espera me angustia.

Após essa turbulência finalmente o tabelião chegou, anunciado as devidas indagações.

— Esse é um pedido do senhor e senhora Verón. Vamos começar pelos bens minoritários aos mais precisos.

Depois dessa frase o tabelião anunciou os pedidos, em relação à quantia de dinheiro, imóveis, entre outras heranças, já que Caleb não tinha família e agora o seu filho Oliver é o único herdeiro. Dando apenas uns bens insignificantes para cada membro da família, por exemplo: o papai que ficou com uma BMW e a mamãe com um colar de esmeralda que foi de Camélia, o seu favorito.

Depois desse lenga-lenga todo, já me encontrava quase dormindo quando ouvir o meu nome ser pronunciado.

— E por último, como pedido mais urgente e sem direito a recusa segundo a anunciante, está a guarda do Herdeiro Oliver Verón na mão da sua tia materna Rosa Vermelha Bloom — falou lendo o testamento.

Olhei abismada, não acreditando no que acabara de suceder, como posso criar uma criança sendo ele filho da minha irmã que tenho como vilã da minha vida? Como isso pode ser possível? Não, não, não aceito isso. Tem que ter uma forma de contestar esse testamento, tenho certeza de que minha mãe ficará feliz em criar Oliver, já que ela ama tanto a criança. O contrário de mim, que nunca passei dois minutos com o menino, tudo por causa da minha relação turbulenta com Camélia.

"Espero que gostem, não esqueça de comentar e votar. Gostaria de saber o que estão achando da história".

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