Capítulo 7

"Você sabe que somos melhores amigas?"

Essa frase ainda continua martelando na minha mente, como se fosse um rompante de algo que nunca aconteceu.

Por que irmã... por que você faz as coisas sem nunca me avisar? Por que você teve que morrer? Essa seria uma ótima chance de me avisar sobre a sua morte, sei parece bobo, mas não é justo. Por que você fez isso? A mãe não sabe viver sem você, Camélia é a preferida, ninguém consegue seguir sem você... todos demonstram essa impotência, por que você fez isso irmã?

Sinto a dor invadir o meu interior, como uma mãe em trabalho de parto que não teve a oportunidade em segurar o filho morto no colo. Por quê? Não consigo compreender, tudo é novo para mim, nunca presenciei a morte de alguém que realmente importasse, já que meu pai é filho único e minha mãe tem contato apenas com a sua irmã. Mas... Camélia me importou? Vivíamos como gato e rato, minhas farpas eram tão palpáveis, enquanto ela soltava as suas ironias em disfarce, me fazendo pensar, se realmente sou a Cinderela? Ou estou me comparando a Anastácia por não ser verdadeiramente compreendida, já que era a irmã feia e invejosa.

Não quero que esse momento vire um drama descabido, não sou assim, mas dói tanto, gerando em mim uma confusão momentânea, pois, entre minhas irmãs ela é a última em que demonstrei algum afeto, por quê? Será que sou uma farsa, ou estou ocupando o lugar da verdadeira mocinha dessa história. Afinal, sou apenas um...?

Não consegui completar o raciocínio, porque as lágrimas jorram como se fossem cachoeiras em uma manhã de inverno. Me encolho na poltrona na intenção em ter algum calor me aquecendo, pois, nitidamente parece que estou sozinha. E agora? A filha favorita da mamãe se foi, o que será de nós?

Deve ser madrugada, pois, posso sentir o frio aumentar, enquanto me encontro nessa biblioteca fria. Apenas quero ficar sozinha, preciso ficar sozinha, com esse pensamento adormeço em sonhos conturbados.

— Rosa... — Ouço alguém pronunciar o meu nome, mas o sono me consome, fazendo-me permanecer embriagada pela circunstância.

Enquanto permaneço serena sinto algo quente tocar o meu rosto. Para então abrir os olhos, encontrando dois pares de esmeraldas me encarando.

Ainda meia aérea, recobro a consciência, levantando-me rapidamente pelo susto em estar nesse estado na frente do meu chefe.

— Senhor Colin, desculpe-me. Devo ter pegado no sono ontem à noite. — Gesticulei exageradamente pelo susto.

— Senhor? — Levantou uma sobrancelha.

Cocei a garganta exageradamente para voltar a compostura, enquanto tento dá um jeito na minha aparência lamentável, pela noite anterior.

— Aconteceu algo? — Confabulou parecendo preocupado.

— Não, desculpe a pergunta, você pode me conceder um dia de folga? — Apertei as mãos pelo nervosismo.

— Posso... — Não aguardei o restante da resposta, apenas me retirei, tendo um vislumbre do seu rosto confuso.

Enquanto caminho pela rua, reflito sobre tudo que aconteceu. Passei a mão pelo rosto, na intenção em impedir qualquer lágrima teimosa em descer, afinal, preciso ser pelo menos uma vez na vida forte, como Camélia.

"— Rosa, a vida não é um conto de fadas, não podemos sonhar todo o dia, também devemos ter um pouco de realidade. — Minha irmã mais velha comentou mais uma de suas frases costumeiras, por mais uma desilusão amorosa que tive, por sonhar demais antes de acontecer um relacionamento, já que o homem que eu estava apaixonada nem me conhecia."

Acho que ela está certa, tem vez que imagino aquilo que nunca vai acontecer, sou uma boba mesmo — pensei frustrada.

— Penso que você está precisando de um marido/amigo mesmo. — Essa voz...

Olhei para Mark que se encontra a minha frente com a mão no bolso da calça jeans, usando um casaco verde na parte superior do corpo. O seu rosto está sério enquanto ele me analisa de cima a baixo, não... — pensei apavorada com a possibilidade desse imbecil abrir a boca para falar mais uma de suas piadas sem graça.

— Para quê? — Tentei ser curta e grossa na tentativa de me esquivar da sua atenção.

— Porque temos o poder de enlouquecer uma mulher, mesmo quando ela está com os sentimentos abalados — comentou o inesperado.

— E você quer me enlouquecer? — Sorri com sua frase sem sentido.

— Veja pelo lado positivo, pelo menos consegui te fazer sorrir. — Chegou perto de mim, trazendo-me sensações estranhas para o inverno.

— Você pode conseguir outra coisa se continuar aproximando-se de mim. — Revidei.

— Calma... — Afastou-se.

Revirei os olhos pela situação, preciso voltar para o hotel, necessito de uma coberta para me aquecer.

Saio na frente sem aguardá-lo na tentativa de despistá-lo, mas para infortúnio meu continuei a ser seguida. Em meio ao frio encolho-me abraçando-me, já que esqueci de pegar um agasalho. Enquanto isso, sinto algo quente me cobrindo, olho para cima e vejo Mark cobrindo-me com seu sobretudo.

— Por que fez isso? — perguntei o encarando, já que ele está andando ao meu lado.

— Você não precisa ter um sofrimento físico e emocional ao mesmo tempo — comentou como se não fizesse muita questão.

— Como? — Parei de andar pela sua resposta, me pegando de surpresa, já que tentei ao máximo não demonstrar angústia.

Ele não respondeu, apenas continuou a caminhar na minha frente seguindo em direção ao hotel, sem a minha permissão.

Quando finalmente chego em frente à recepção do hotel, indago.

— Então, até. — Mandei-o pastar com a mão.

— Você não é nem um pouco delicada, cuidado, você pode estar desprezando o príncipe encantado e depois não adianta chorar pelo leite derramado — disse como se fosse a maior verdade do mundo.

— Sou delicada sim e você não é o príncipe encantado, senão eu saberia, pois, nesse assunto sou expert — pronunciei com uma grande certeza.

— Não, você só é delicada quando não está fingindo ser forte para enganar a si mesma. — Encarei seu rosto atônita, pelas suas palavras. — Cuidado, porque posso ser a fera para você transformar em príncipe. — Apenas deu um sorriso de lado e se retirou.

Balancei a cabeça um pouco confusa e continuei o meu caminho em direção ao quarto.

Como se essa situação já não fosse o suficiente sinto uma dor no peito como se algo estivesse prestes a acontecer. Com minha mente conturbada balanço a cabeça para dissipar qualquer sentimento tortuoso.

Quando finalmente estou deitada na cama, a súbita realidade caiu sobre a minha face.

Adeus irmã — pensei com pesar.

Suspirei pesadamente, tentando ao menos ter um minuto de alívio nessa tristeza demasiada. Como era de se esperar nem para fazer drama sirvo, qual será o meu luto perante a sua morte Camélia? E a sua família, seu marido, meu sobrinho, o que acontecerá com Oliver? Por que estou me perguntado sobre isso? Certamente mamãe cuidará do menino com todo gosto, como fez com todas as suas filhas.

O teto branco até parece ficar cinza com a sensação do sono se aproximando, porém o celular toca retirando a minha paz.

Acácia — reparei o nome no visor da tela, que lembrei agora de salvar.

— Fale. — Suspirei.

— Rosa, precisamos que você venha o mais rápido possível, o enterro é será hoje pela tarde. Queremos a sua presença — falou pausadamente.

— Claro... — Foi a única palavra que consegui proferir, não consigo dizer que não estou sabendo lidar com essa perda e preciso de ajuda.

Desligou o telefone e continuei aqui, sozinha.

O que minha família tem na cabeça? Não tenho possibilidade em chegar no enterro hoje, já que a cidade onde estou fica 10 horas de viagem da minha terra natal, se for por avião.

A noite chega, e encontro-me deitada ainda em melancolia, sem forças para me levantar. Mais uma vez hoje ouço o toque do aparelho telefônico soar.

— Oi. — Mesmo sem querer minha voz soou fraca.

— Podemos fazer as compras dos móveis para o apartamento amanhã. — Nem foi gentil ao ponto em dá boa noite, já foi logo fazendo suas afirmações.

Como ele tem meu número? — Rosa, a inteligência não é um atributo muito apreciado por você, esqueceu que ele ficou com seus pertences? — Meu consciente fez questão em me lembrar.

— Não posso, vou embora amanhã. — Sem perceber acabei sendo sincera.

— O quê? Por quê? — Pareceu transtornado do outro lado da linha?

— Minha irmã morreu, tenho que estar no enterro. — Decidi parar de enrolação.

— Por isso você estava triste hoje. — Pareceu ter falado alto os seus pensamentos. — Posso ir com você?

Tenho certeza de que minha cara de interrogação foi notada do outro lado da linha, dado ao fato de ficamos um tempo em silêncio sem proferimos nenhuma palavra. Tendo o acréscimo angustiante da minha mente em um turbilhão, agora um estranho, que não é mais tão estranho assim, deseja ir ao enterro da minha irmã mais velha como meu acompanhante. Agora lembrei de algo crucial que vale ser ressaltado, nem a oportunidade em velar a morte da minha irmã terei, já que o enterro será antes da minha chegada, maravilha. Pelo menos terei um desconhecido como companhia.

— Não tenho dinheiro. — Quis rir com meu comentário.

Até porque, tenho certeza de que dessa parte da minha vida ele tem certeza, pois uma coisa é certa algo que não tenho na minha falida vida é... dinheiro.

— Isso não é problema, hoje mesmo compro as passagens, amanhã bem cedo vou te buscar. — Desligou como se eu fosse desistir a qualquer momento.

Só tem um problema, como ele sabe o nome da cidade e as informações dos meus documentos? Na verdade, não pretendo ter essa resposta respondida, ou estou sem paciência para correr atrás de algo que certamente me trará dor de cabeça. Sinceramente, não acredito que estou levando um completo desconhecido para a minha casa.

Deixei esse assunto de lado e preguei os olhos, na intenção em ter um sono dos deuses, engano meu. 

"Olá gente, espero que tenham gostado do capítulo. Estou vendo que vocês não estão comentando e nem votando, não esqueçam que isso me ajuda muito."

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