Capítulo 27

Quem não ama pegadinhas? Elas nos fazem sorrir, chorar, ter medo, ou seja, são explosões de sentimentos. O único local que essa atuação não é agradável em nossa vida, é quando o destino resolve brincar com os percalços que denominamos trajetórias. Eu sei, até parece bobo de falar, mas você já se sentiu no meio de um duelo sem fim onde o principal prêmio será a sua cabeça? Se não, esteja pronto para assistir de camarote a guilhotina decapita-me.

— Senhor, mas é realmente necessário passar um final de semana em uma comitiva empresarial? Sou apenas uma secretaria, não tenho capacidade para esses trâmites legais. — E mais uma vez estou aqui discutindo com Mark sobre a nossa suposta viagem, ao qual não faço a mínima questão em comparecer.

Após o turbilhão de pensamentos e acontecimentos que tive na varanda, resolvi retornar ao meu setor de trabalho, porém não muito depois Mark chamou-me a sua sala. Por isso, aqui estou sofrendo mais um martilho, pela sua pose invejada na cadeira de couro preto enquanto este desenha alguma coisa em uma pequena folha de papel ao falar comigo.

Estou ciente que vocês devem estar me considerando uma sem juízo. Como posso recusar uma proposta tão boa como essa? Será a minha oportunidade de fazer conexões, é o momento da minha pessoa decolar na carreira. Contudo, posso ser sonhadora, mas não sou idiota. Essa será a minha oportunidade de passar uma bela vergonha, por quê? Simples, não possuo um segundo idioma e não tenho conhecimento para tal fato, ou seja, sou uma mentira, um terrível engano.

Como posso ter uma língua tão grande? Quem em sã consciência mente em uma entrevista? Como Elisa disse, não tenho capacidade para tal feito.

— Creio que não será um problema, como as principais línguas do negócio internacional é espanhol e inglês, creio que não será um problema para você, tendo em vista que domina um dos idiomas. — Deu um sorriso assertivo, agora, voltando a brincar com a caneta em sua mesa.

Sinceramente, tenho a plena convicção que esse homem tem problemas de bipolaridade. Como um ser pôde mudar da água para o vinho então pouco tempo? Nem parece a pessoa do nosso primeiro encontro.

— Olhe, veja pelo lado positivo. — O encarei inquisitiva com o medo da sua suposta fala. — Será a sua chance em se aproximar do futuro CEO da empresa, então, relaxe e aproveite o momento. A não ser que você queira me contar alguma coisa, como alguém que não sebe nem falar corretamente o seu idioma nativo imagina um estrangeiro — comentou com um sorriso preguiçoso.

O que ele está tentando fazer? Me intimidar? Pena que escolheu a garota errada.

— Para a sua informação, estou cursando logística internacional, por isso não será um problema. — Dei um sorrisinho desdenhoso, enquanto cruzo as mãos na costa, ao mesmo tempo que o encaro de frente a sua mesa.

Droga! Mil vezes droga. Não pode ser verdade, minha boca falou besteira novamente. Como vou conseguir cursar espanhol e logística internacional até o final da semana? Sendo que não tenho nenhum conhecimento básico sobre esses assuntos, sou formada em Biblioteconomia, não em administração.

Repensando, até que não será mal conhecer esses empresários, quem sabe conheço um príncipe árabe entre eles? — Como podemos ser a mesma pessoa? — Tive a impressão de ouvi alguém chorando em minha mente, mas dei de ombros com a suposta suposição.

— Se isso é tudo, pode se retirar, mas não esqueça do nosso jantar daqui a pouco — comentou agora jogando uma bolinha de papel em sua cesta.

Suspirei fundo e me retirei da sala. Ao tempo em que me acomodava no local de trabalho apanhei um dos cappuccinos em minha mesa, provando um pouco do seu sabor na intenção de ter o seu líquido quente e um pouco amargo descendo por minha garganta, mas em vez disso tive uma espécie de repulsa pelo líquido frio, não agradando ao meu paladar. E como consequência larguei os cinco copos de café de lado e voltei ao trabalho.

O meu sossego finalmente acabou e com ele o suposto almoço. Assim que o ponteiro soou 11h20min da manhã, Mark caminhou até o meu local de trabalho.

— Vamos. — E saiu a minha frente já com sua pasta em mãos.

Um pouco incomodada pela situação suspendi o visor do computador e apressei-me para o acompanhá-lo com todos os materiais necessários para a reunião já acoplado em minha bolsa.

Quando adentramos o elevador o Sr. Ortega soltou um sorriso galante na minha direção, daqueles que te faz ficar com as pernas bambas em um único olhar, que até parece que seu coração vai colapsar a qualquer momento pelas batidas desenfreadas. Aí vocês me perguntam, é o que estou sentindo no momento? Claro, o fogo já consumiu as ventanas da minha perereca. Posso ser mais irônica? Mas o meu príncipe encantando ainda vai chegar e não posso, em hipótese alguma acaba me distraindo com a fera, para terminar esquecendo o meu sonhado cavaleiro em armadura dourada. — Que não existe, provavelmente. — Em pouco tempo me recomponho e o ignoro, pois de uma coisa é certa, Mark Ortega não irá tirar o meu foco.

Enquanto descemos em direção ao primeiro subsolo, o elevador para no terceiro andar e um homem de terno entra. Ele não aparenta ter mais de 40 anos, mesmo estando um pouco acima do peso. Ele cumprimenta Mark com cordialidade e fala:

— Seu tio afirmou que na semana seguinte chegará para fazer a vistoria na filial. — Prontificou-se ao lado de Mark ignorando totalmente a minha presença.

— Não entendo o motivo da sua aparição, ele pode muito bem mandar um subordinado fazer a vistoria mensal. Ele sabe que jamais pensaria em superfaturar o lucro da empresa. — Direcionou sua atenção ao homem, já um pouco irritado.

— Ele sabe que isso já ocorreu antes, mas dessa vez quer tomar as devidas providências para não suceder novamente. Afinal de contas, muitas pessoas são capazes de tudo para ficar em seu lugar, concorda? — Seu olhar transpareceu uma certa afirmação direta, ao modo que me inclinava mais para adquirir... certo conhecimento sobre as fofocas da empresa.

Quando estou totalmente à vontade os observando, o homem me encara aparentando certo incomodo pelo meu aparente interesse. Rapidamente recolho-me e volto a posição de antes, com o rosto um pouco ruborizado por ser pega no flagra.

— Desculpe a minha indelicadeza, mas essa minha nova secretaria: Rosa Vermelha — disse Mark agora focando sua atenção em mim.

E por motivo benéfico, agradeci aos céus por não ser ele a perceber toda a situação anterior.

— Outra? Mas é a quarta nesse semestre — o homem falou compartilhando o mesmo problema ao qual me abate: a língua grande.

— Obrigado pela observação, mas aconselho que saia, tendo em vista a parada no seu andar. — No mesmo instante Mark transpareceu uma postura fria ao senhor e indicou o térreo, seu destino final.

— Gostei dele. — Pensei em comentar considerando a fala passada, após a saída do homem.

— Os dois têm muita semelhança, não sabem distinguir o perigo — afirmou me deixando atônita.

Merda! Minha boca falou sozinha.

Em pouco tempo estamos a caminho do restaurante indiano, enquanto estou com a boca fechada para não falar nenhuma besteira.

Rosa se comporte, não pode ser você mesma perto dele, ele ainda é seu chefe mesmo as suas emoções dizendo o contrário.

— Então, qual é o trauma que você adquiriu ontem? — perguntou ao que parece tentando puxar assunto.

Resultou no aumento das minhas dívidas, graças a você que me deixou plantada em uma restaurante e não pagou a conta. — Essa foi a minha suposta resposta, mas foi isso que disse:

— Tenho Filemafobia — confabulei a primeira coisa que veio a minha mente.

Recordei-me de uma reportagem que Nora estava assistindo, ao qual, um médico disse que um de seus pacientes tinha esse tipo de fobia, sei que é algo sério. E em hipótese alguma, brincaria com um assunto tão delicado como esse, mas preciso manter Mark afastado, pois tenho a plena convicção, a nossa aproximação não pode superar a de chefe e empregado. Por isso, não existe uma melhor desculpa para manter um homem afastado de você, cuja melhor opção é o medo por beijos, e consequentemente uma pessoa com a Filemafobia tem aversão em se apaixonar e sexo, algo que manteria qualquer homem a quilômetros de distância.

Ainda assim, ele voltou a falar:

— Hum, o que é isso? — por um momento ele ficou em silêncio, porém retornou ater sua atenção em mim.

— Pessoas que tem medo de beijar. — Encarei a rua para não focar no seu olhar surpreso, ao qual ele dirigiu a mim assim que parou em uma sinaleira.

As suas mãos começaram a se movimentar pelo volante do carro assim que o encarei. Enquanto sua visão se focava em vários pontos da estrada, menos em mim. O nosso percurso continuou totalmente em silêncio como supus.

Pessoal, não comentam essa loucura, mas precisei chegar esse ponto para manter um homem afastado de mim, só não sei por quanto tempo.

E para alívio meu, finalmente chegamos ao restaurante indiano mais requisitado da cidade. Com sua fachada em corres berrantes, sendo acrescentado com rabiscos nas paredes totalmente orientais.

Adentrei o lugar e observei a decoração tradicional. Presumo que é a minha primeira vez em um lugar totalmente ornamentando com a cultura indiana, até os garçons usam roupas típicas, caracterizando a imagem do estabelecimento.

Logo na recepção do restaurante encontrasse exposto uma imagem em tamanho humano de Ganesha, o deus mais famoso da índia. Em meio a essas observações uma moça nos indica uma mesa bem afastada das demais, com uma vista espetacular para o parque da cidade, ao qual é conhecido por sua beleza e natureza.

Ainda encantada acomodo-me no espaço, em uma cadeira confortável de madeira ao lado de Mark que encontrasse no lado esquerdo da mesa média, para oito pessoas.

Enquanto aguardamos a chegada dos empresários, o Sr. Ortega pede o Chai. Provei a bebida me deliciando com o sabor estranho, mas saboroso.

— Conheço uma psicóloga que pode te ajudar no seu problema — comentou enquanto mexia alguma coisa em seu celular.

Voltei a minha atenção para ele estranhando a sua fala.

— Não será um problema, já tenho uma pessoa que me ajuda. — Tentei desconversar, mas aparentemente ele se encontra focado nesse assunto.

— Você sabe, nessas situações o melhor é ser tratado por um especialista. Além do mais, pesquisei que essa síndrome pode levar as pessoas a ter pavor do sexo, e não queremos isso? — Voltou sua atenção a mim quando acabou de ler o que estava escrito em seu celular, certamente relacionado a minha suposta fobia.

Tenho certeza de que nessa hora meu olhar foi de espanto, imaginando qual seria a minha próxima afirmação, tendo em vista que a minha reputação está em jogo nesse momento. Ainda mais quando ele incluiu a palavra "nós" na sua afirmação. 

ESPERO QUE TENHAM GOSTADO. NÃO ESQUEÇAM DE COMENTAR E VOTAR. 

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