Capítulo 2

"Ei espertinho, sim você mesmo, que lê e nem comenta. Não precisa ficar preocupado estou aceitando até carinhas, então pare de drama. OI! Gente, espero que tenham visto meu recado. Ps: isso não foi um pedido, pelo contrário, é uma bênção na sua vida!!!"


Pela manhã bem cedinho, acordei apressada, tropeçando em alguns brinquedos da minha irmã caçula que estão espalhados pela casa, a última das doze princesas bailarinas.

— Clematite! — gritei estressada — Será que nem na minha saída vou conseguir um pouco de paz nessa casa? — Esbanjei descontentamento enquanto recolho os brinquedos pelo chão de madeira.

Pouco tempo depois finalmente estou pronta e calma, contemplando a minha estonteante aparência no espelho. Como estou linda, maravilhosa, impecável! Quem me ver assim nem imagina que sou um umbu chupando manga.

Estou vestida com um vestido quadriculado de mangas, com dois dedos abaixo do joelho. Minhas sapatilhas são vermelhas combinando com a cor da roupa, tendo um lacinho no meio delas. Aproveitei para utilizar um dos meus óculos mais estilosos. Enquanto estou me arrumando Clematite entra no quarto.

— Rosa, por que vai embora? — perguntou manhosa.

— Consegui um emprego — dei uma resposta sem muitos detalhes.

Ela tem 10 anos, resumindo, tem idade para ser minha filha. Não temos uma intimidade tão grande, já que saí de casa quando ela estava prestes a nascer. Por esse motivo a menina é a mais acanhada das irmãs comigo, algo muito diferente da relação dela com Camélia. Já que ela possui um filho com a idade muito parecida com a de Clematite, pretexto para a minha irmã mais velha levar a caçula para passar os finais de semanas com o seu filho.

— A mamãe falou que você não vai durar dois meses, pois logo te darão um chute na bunda. Irmã, você já levou muito chute? Doeu? — perguntou fazendo cara de inocente.

Pirralha insolente — pensei abismada. Joguei uma escova de cabelo nela e está saiu chorando. Dei um tempo e desci, tendo apenas duas malas pequenas em mãos, já que não tenho muitos pertences.

— Filha qual é o motivo do galo da sua irmã? — Mamãe perguntou.

— Não sei, quem sabe ela foi atingida por um de seus brinquedos. — Depois de um pequeno pigarro continuei a conversa. — Onde está todo mundo? — Olhei para os lados, sem conseguir encontrar ninguém no local.

— As pessoas nesta casa têm o que fazer, se você não sabe.

Claro que ela diria isso. A ignorei, e andei para a minha partida suprema, contemplando o esplendor da grandeza que me aguarda. Imagino que para essa jornada serão muitas aventuras, tendo como o seu melhor entrelace, o meu príncipe encantado. Gritei em animação.

Maluca! — meu subconsciente retrucou.

— Rosa, ainda estou olhando para você, por isso não é o momento de fantasiar. — Entrou Dona Fiona na cena, para completar a minha desilusão.

— Mãe a senhora não entende — tentei soar calma — o meu sonho sempre foi me casar com um príncipe encantado, como na história de Cinderela, imagina alguém se apaixonar por mim? — Rodei sorrindo a cada palavra, parando em frente de mamãe.

Não sei vocês, mas tem hora que não resisto e ajo como uma eterna criança, às vezes é bom ter isso na vida. Porque você não desanima em meio as dificuldades e enxerga um arco-íris no final do túnel até mesmo nos dias mais sombrios.

— Rosa, minha Rosa. — Colocou suas mãos no meu rosto. — Você não precisa de um homem para ser feliz — Sorriu ao falar.

— A senhora está certa, preciso do príncipe encantado — respondi delirando em fantasias.

Fiona saiu de perto de mim horrorizada pela minha fala. Desde nova mamãe deixou a sua opinião referente ao sexo masculino e outras coisas bem clara para as suas filhas. Sendo cinco principais, as mais instruídas nessa casa:

1. Homens não são feitos para você se apaixonar, se isso acontecer você estará determinantemente perdida.

2. Casamento é um jogo de convivência onde existe a rainha e o rei, e você terá que aprender a mover as peças adequadamente no tabuleiro, para assim assumir o controle.

3. Nunca sonhe acordada, em hipótese alguma, sonhos são para fracos os que não tem a determinação de alcançar o que querem.

4. A vida tem muitas oscilações um dia você estará em baixo, outro estará no meio, e por fim ficará em cima. Mas não esqueça, às vezes para conseguir o feito de passar a maior parte o tempo em cima será necessário quebrar alguns princípios, porém tome cuidado para não ser pega no flagra.

5. Amores vem e vão, não se prenda ao passado, a vida sempre abençoa aqueles que seguem em frente.

Eu sei o que vocês devem estar pensando: qual é a mãe que ensina uma coisa dessas aos filhos? Pois é, mas a amo mesmo assim, com todos os seus defeitos, imperfeições... e bizarrices, um ponto forte a se lembrar. No entanto, algo bom nessa história toda foi que nenhuma das suas filhas seguiu os seus concelhos, ao menos algo bom é evidente sobre nós: podemos ter a mãe mais doida do mundo, mas de maneira alguma, nos deixamos nos afetar por isso.

— Tchau querida, a vida precisa te ensinar uma grande lição — disse colocando as malas em minha mão e me empurrando para fora de casa.

— Até parece. — Ri com sua fala.

— Filha, nem sempre aquilo que achamos belo é puramente formoso, às vezes é necessário retirar as armaduras para descobrir o seu interior. — Pela primeira vez em anos pude contemplar um sorriso verdadeiro direcionado a mim pela minha mãe e uma frase realmente sabia e com bastante segundas intenções.

A encarei sem entender, principalmente o seu rosto. Ela apenas sorriu mais uma vez e fechou a porta, no seu gesto frio como sempre. Acho que isso foi apenas uma ação para expressar o seu amor maternal.

Depois desse teatro esquisito continuei o meu caminho, com apenas um problema, esqueci de perguntar qual era o nome daquela ruiva na floresta. Ótimo, espero que ela tenha verdadeiramente explicado ao meu contratante sobre mim. Senão como irei comunicar que sou a pessoa indicada a vaga? Se nem ao menos sei o nome da mulher que me indicou, bravo Rosa, mais uma mancada da sua parte.

O caminho da viagem foi longo, cerca de 10 horas. Nunca imaginei que existisse um lugar tão distante como esse, enquanto estou no táxi a caminho da cidade após sair do avião, finalmente, reflito sobre esse lugar.

Observo uma pequena placa na estrada, que indica a entrada da cidade. Com uma frase mais esquisita ainda. — Bem-vindos forasteiros, só não roube os nossos empregos.

Foquei os olhos ao ver essa frase estranha, que cidade maluca. Sou interrompida dos meus pensamentos pelo motorista.

— Bem-vinda, imagino que seja a sua primeira vez aqui, tenho certeza que irá amar, pois esse lugar atrai um pouquinho de cada cultura dos países. Ainda mais por seu um lugar inteiramente turístico, sendo assim contribui muito para a diversidade. — pronunciou sorrindo como se estivesse contando alguma piada ou instrução turística.

Dei um sorriso sem graça e não respondi o seu comentário.

Quando finalmente adentramos em Campos, contemplo a sua majestade. Para uma cidade pequena o seu contingente é bem grande. — Fiquei surpresa ao ver a plenitude do lugar em que irei morar.

Enquanto admiro os imensos arranha-céus, com seus asfaltos minimamente traçados e com várias pessoas caminhando pelo local, pude perceber que não conheço nada do mundo. Enquanto estou admirando a bela paisagem, vejo um casal passar de mãos dadas com um menininho segurando a mão da mãe. Sorri boba, meu sonho sempre foi construir uma família, mas não tenho sorte no amor, assim como o dinheiro também não vem correndo atrás de mim. Contudo, ainda para a minha infelicidade, bebês não gostam de mim, porque assim que me aproximo perto de um este começa a chorar. Lástima! Gosto tanto de crianças.

— Moça, fecha a boca para não entrar mosca. — Olhei de cara feia para ele e este aumentou a risada.

Após essa cena deplorável, continuei a observar a vista, sonhando acordada como sempre.

— Senhorita, chegamos.

Ele fez questão em abrir a porta do carro para mim e logo após pegou as minhas malas no porta-malas do carro. Quando estou com a minha bagagem em frente a biblioteca, que tem por nome Estóri, fico petrificada com o local. Com uma fachada rústica, trazendo um ar medieval contrapondo a sofisticação do bairro.

Paguei o taxista e caminhei em direção ao lugar. Enquanto estou puxando as malas com muito sacrifício, o tempo começa a nublar, ao que parece uma tempestade se aproxima.

Quando adentro o local, os sininhos na porta soam, indicando a visita. Com as mesmas características rústicas da fachada do imóvel, o lugar possui bancos, prateleiras, estantes, pisos, balcões, entre outros adereços todos de madeira, trazendo um ar medieval no local, sendo estampado nas paredes vários retratos dos livros mais vendidos, ao que parece.

Entre eles se encontra a minha comédia romântica favorita, O Chefe Da Megera, não é literalmente um conto de fada, mas conta de forma divertida a vida de Bela, após perder a sua empresa, terminando completamente na miséria. Ela é uma antagonista que vai virar uma protagonista sem perder os seus traços de humor, sendo atormentada por seu terrível azar, companheiro inseparável.

Às vezes queria que minha vida fosse igual a dela, afinal, ela conseguiu o seu final feliz. Mas o que ela passou ninguém gostaria de viver.

Enquanto estou entretida em pensamentos, alguém me chama.

— Posso ajudar? — pergunta um homem alto e forte.

— Sim. Sou Rosa Vermelha. Estou aqui para a vaga de bibliotecária. — Apresentei-me com um sorriso.

— Claro, Alda me informou. Por favor, me acompanhe. — Seguiu a minha frente.

Então o nome dela é esse, graças a Deus o homem não percebeu a minha mancada.

Enquanto estou o acompanhando pude observar mais do local, a organização milimétrica me assusta, tudo está em seu devido lugar, algo muito incomum para um local com movimento de pessoas. Logo retiro a minha atenção dos objetos e foco no homem a minha frente. O seu porte alto e forte certamente o diferencia dos demais, não tendo aquela beleza exagerada, mas sim algo simples e recatado, que faz gosto de olhar. Ao que parece ele é bastante gentil e sério, pois em nenhum momento soltou alguma palavra.

Entramos ao que parece ser um pequeno escritório, com uma enorme TV no canto da parede, sendo acompanhada por um mini sofá vermelho e uma poltrona da mesma cor. O chão é de madeira, porém em um modelo diferente do restante do lugar. Sou cortada das minhas observações, por ele pedindo para que eu me acomodasse.

— Então, como Alda explicou-lhe, preciso de alguém urgentemente. Presumo que ela te informou todas as atribuições do cargo, contendo seu salário e benefícios. — Assenti com a cabeça, mesmo não sendo uma pergunta. — Sendo assim, você começará amanhã às 9 horas da manhã encerrando às 19 horas da noite. Por isso fique à vontade para pedir qualquer informação, tendo em vista que, procurei uma pessoa com manejos em bibliotecas porque não tenho tempo. Você ficará o dia todo tomando conta do comércio e se necessário for, pode contratar mais pessoas, desde que a entrevista final passe por mim. — Assenti, novamente com a cabeça.

Enquanto sou orientada tento ao máximo forçar a minha atenção nos seus olhos verdes, enquanto a sua pele branca está fazendo um enorme contraste com as bolsas de olheiras abaixo dos seus olhos.

— Estamos entendidos? — perguntou.

— Sim, claro. — O meu semblante continuou surpreso enquanto do homem se encontra impassível.

— Até você encontrar algum imóvel para alugar, vou hospedá-la em um hotel no final da rua, tudo bem? — falou levantando-se de sua cadeira. Assenti rapidamente com a cabeça.

— Esqueci, preciso dos seus documentos, para regulamentar as burocracias. — Focou sua atenção em mim.

— Ah! — Deu um branco na mente. — Claro, só um momento.

Enquanto estou procurando os documentos na bolsa ele aguarda pacientemente, mas para a minha infelicidade não consigo encontrar a porcaria da minha carteira de trabalho. Como não sou burra nem nada, despejei tudo que tem dentro da bolsa na mesa. Caindo dela, chaves — algo sem utilidade, já que não tenho mais casa e nem carro —, maquiagem, colírios, comprimidos, livro, espelho, moldes e preservativos — masculino e feminino — nessa mesma hora, o senhor, ao qual já devia saber o nome, encarou-me franzindo as sobrancelhas formando pequenas linhas na sua testa e, um pequeno sorriso em seus lábios. Tirei rapidamente aquele utensílio de lá, para descobrir que a carteira de trabalho estava em um bolso escondido da bolsa. Enquanto coloco tudo de volta no seu local de direito uma camisinha caiu no chão.

— Acho que isso te pertence. — Sorriu com a boca fechada.

Peguei rapidamente de sua mão, me comparando a um pica-pau de tão vermelha.

Poxa! Tenho certeza de que isso é culpa de Jasmim — a décima primeira irmã, e gêmea de Cravina — em mais uma de suas travessuras. Não tenho motivo para carregar uma camisinha na bolsa já que na minha esponjinha não pousa nem uma mosca.

— O senhor pode me explicar onde fica o hotel? — perguntei sem graça.

— Claro. — Seu rosto voltou ao tom sério.

Em pouco tempo chegamos ao local modesto, só que não. Em uma arquitetura clássica modernizada, com aparatos tecnológicos e desaine europeu. A recepcionista me informou o quarto e antes que esquecesse, pergunto ao meu chefe o seu nome.

— Ainda não sei o seu nome. — Me virei para ele.

— Colin Mitt, senhorita Rosa. — Sorriu.

Fiquei empacada no lugar, com tal semblante.

Dei apenas um sorriso modesto e segui em direção ao hotel que ele me indicou.

Após esse desajuste nem observei o local chique ao qual estou acomodada. Ainda com a esperança que tudo ocorra bem me deitei com o desejo de sono, almejando sonhar com meu príncipe encantado.

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