Capítulo 17

— Sary!!! — Grito quando minha amiga atende à ligação, em meio ao desespero por essa ser a décima chamada da minha parte e a primeira vez que ela responde, como se estivesse muito ocupada na sua lua de mel. — Você precisa me ajudar, cometi uma loucura. — É claro o desespero em minha voz, mesmo assim consegui ouvir uns risinhos de Sary do outro lado da linha pedindo para parar. — Hei! Preciso de atenção aqui. — Indaguei furiosa por estar sendo esquecida.

— Calma! Pronto, pode falar. — Ouvi a porta batendo assim que ela acaba de falar, suponho.

— Entre eu e Mark, acho que aconteceu? — Articulei receosamente, ainda mais pela minha suposta burrice.

— Explique... — Ouço um som da descarga após a sua resposta.

Poxa, Sary. Não acredito que ela está falando comigo no viva voz.

— Tire essa porcaria do viva voz, quantas vezes tenho que falar. — Expressei receosa e estressada, imaginando o quanto o marido dela deve ter ouvido da minha fala.

— Certo, calma. Você nem parece que teve uma noite de amor estressada desse jeito, fez tudo que te ensinei certinho? Cuidado, o seu ex te largou, porque...

— Sary!!! Calada. — A cortei antes que falasse algo mais constrangedor. — Apenas sei que tivemos uma relação na noite passada, fato! — Afirmei, assertiva em minha fala.

— Você tem que ficar tranquila, não estou gritando. Bom, então como você sabe que tiveram algo? Já que não lembra de nada da noite anterior.

— Simples, acordei na cama completamente nua — proferir o obvio.

— Querida, acordar nua não é sinal que fez sexo. — Riu escandalosamente, comprovando a sua personalidade extravagante sem um pingo de compostura. — Eu mesmo acordo nua todos os dias, e nem por isso tive uma relação sexual. — Tentou se acalmar ao final da frase, antes que tivesse um ataque de riso.

— Me poupe dos detalhes Sary, mas no meu caso é diferente, você não entende... — No meio da minha conversar absurdamente séria, ouço a porta ser aberta e um ser passar por ela sem nenhuma reserva.

Constatando a minha afirmação Mark entrou no quarto, deu um sorriso modesto e seguiu para o banheiro, nesse momento tive a plena certeza de que estou certa.

— Não acredito! Fizemos sim. Tenho que desligar... — Encerrei a ligação sem deixá-la ao menos proferir uma palavra.

Enquanto tento acalmar a minha euforia pela recente descoberta, lembro que ainda estou nua na cama, comprovando quão retardada eu sou por ainda não ter tomado um banho nem me vestido, apenas enrolo o lençol junto ao meu corpo.

Dou um suspiro exacerbado e sigo em direção ao banheiro, notando o perfil de Mark no grande espelho, lavando o rosto. Mesmo com a decoração moderna do banheiro completamente azulejado, diferenciando de toda a casa que tem um toque mais clássico e monárquico. Esse aposento traz uma referência a modernidade e elegância.

— O que foi? Vai ficar aí me encarando? — Mirou o meu perfil do espelho, apresentando uma seriedade estranha em seu olhar, bem diferente do sorriso estonteante de minutos atrás. — Isso não importa, preciso que você vá hoje comigo ao médico — soou essa frase sem me dá o tempo para responder as suas perguntas anteriores.

— Aconteceu algo? — Me assustei, o examinando com o olhar de cima a abaixo, constando que não há nada de diferente nele.

— Não, não se preocupe. É apenas de rotina, e aproveitando você também fará o seu. Como terei que viajar amanhã a trabalho e você voltará para casa, quis resolver logo esse problema — comentou simplesmente e saiu.

Assenti com a cabeça e após a sua saída, tranquei a porta. Ainda paira na minha mente a lembrança do seu beijo repentino de ontem a noite, ou melhor, do meu beijo, já que partiu de mim a inciativa. Ainda consigo lembrar das emoções que senti no meu ser quando os seus lábios tocaram os meus. Mesmo assim é como se uma nuvem pairasse sobre a minha mente, impedindo-me de ter uma visão clara dos acontecimentos da noite passada. Acho que não foi uma boa ideia beber além do normal, tendo em vista o meu atual estado de amnésia.

Mesmo assim, fazendo amor ou não foi maravilhoso, como em um sonho. — Novamente você está fantasiando, quando você vai mudar Rosa Vermelha. Acredito que um dia você será uma mulher de 30 anos madura de verdade, mesmo que essa não seja a sua realidade atual.

O que acontece se a vida passa diante dos seus olhos? Será mesmo que você foi determinantemente feliz ou esteve aqui de passagem sem ter feito algo realmente significativo? Essas são as respostas que procuro saber nesse momento, enquanto tento não me deprimir ao assistir pela milésima vez o final feliz da Bela e a Fera, em desenho. Não sei vocês, mas toda vez que chego nessa parte choro, quando ele se transformar em príncipe e a beija apaixonadamente, fazendo-me desejar ser transportada para esse mundo fantástico.

— Você é normal? — Oliver indagou, ao ver o meu desespero e emoção na última cena do desenho.

— Sou uma pessoa absolutamente normal. — Fungo tentando engolir o choro —, não me diga que você nunca chorou assistindo o Rei Leão, Bambi ou Irmão Urso? Esses são os master da tristeza, faz derreter o meu coração. — Mais lágrimas rolaram pelo meu rosto, ao lembrar dessas cenas melancólicas.

O olhar de Oliver foi abismado e, ao mesmo tempo, com um leve ar de descrença, mesmo tendo passado o filme todo sorrindo que nem uma boba nas partes românticas, ele não desvendou por completo a minha personalidade.

Em meio a sala bagunçada, com travesseiros e lençóis espalhados pelo chão, além de pipocas, contribuindo para a nossa seção de cinema em casa, após Mark sair de viagem e a Dona Fiona se trancar no quarto.

— Chorando outra vez Rosa? Qual é o seu problema com esses filmes toscos? — Mamãe indagou ao parar do lado da TV, me encarando.

— Normal, seres humanos se emocionam com filmes. — Acrescentei não suportando mais os seus julgamentos, e ainda mais, a sua presença na minha própria casa.

— Não, seres humanos se emocionam com coisas que fazem sentindo. Não há cada sinal de melodrama em filmes ou livros. A vida é muito mais do que esse mundinho de faz de conta que você acredita, me diga, o que recebeu todos esses anos sendo assim? Não tem uma carreira de sucesso e duvido muito que esse marido seja algo real, até porque sei das suas manias de atenção. Você não é e nem se compara a Camélia, ela sim, era uma filha abençoada, pena que foi cedo demais, e pior ainda, por que você não trocou de lugar com ela? Até hoje não compreendo, era para ter sido você. Tem que concordar comigo Oliver, sua mãe era realmente uma mulher divina, por isso ela conseguiu conquistar seu pai, em vez dessa aí que apenas caia de amores por ele, mas não teve a garra de correr atrás — disse como se essa fosse a única verdade, mais uma vez tentando me inferiorizar, desde que eu e Camélia éramos crianças.

Mamãe só esqueceu um detalhe, fiquei meses ajudando o amor da minha vida a conquistar a minha irmã, porque eu entendia que amar alguém é deixá-la partir, não tela o tempo todo subjugada a você sem a deixar tomar as suas próprias decisões. Com o tempo soube que Caleb sabia dos meus sentimentos por ele, mesmo assim preferiu Camélia. Então, ele fez a sua escolha e nunca o odiei por isso. Pelo contrário, aprendi da melhor forma possível que quem ama deixa partir, mesmo tendo o seu coração despedaçado por completo.

Nesse momento a sala emudeceu, demonstrando que nenhum dos ouvintes estavam preparados para esse teatro da mamãe, mostrando que os anos não a fizeram mudar, apenas a tornaram mais dura e difícil de lidar.

Não perdi tempo e sair daquele lugar que tanto me sufoca, precisava respirar, ou a qualquer momento poderia ter um ataque. Camélia, por que você me fez isso? Era apenas para deixar Oliver com ela, por que você insistiu dizendo que eu seria a melhor pessoa? Olhe para mim, nem consigo controlar a minha vida, imaginar instruir outra vida. Onde estava com a cabeça em um dia sonhar em casar num castelo medieval, ter três filhos: Impolitra, Azula e Benjamim. E ter um gato Sphynx, por causa da minha alergia a pelos. Agora tenho certeza, esses planos nunca iram se concretizar — pensei com pesar no coração, me segurando para não ter um colapso em meio a dor, enquanto dirijo o carro de Mark em direção a saída da cidade. Como Mark falou, o que sei fazer de melhor na vida é fugir, sempre fiz isso, e agora não será diferente.

Ainda inerte em pensamentos volto ao passado, algo que realmente me conforta, pois, acredito que era uma época em que eu tinha um vislumbre de felicidade.

— Quando você vai parar de fantasiar Rosa? Ainda continua sonhando acordada com o príncipe encantado. Esqueça, homens não foram feitos para serem bons, mas se nós mulheres queremos ser realmente felizes devemos desfrutar dessa característica deles sem nos ferir. — Camélia se sentou ao meu lado na cama, quando me visitou na cidade que atualmente moro.

E em meio a mais uma loucura, encontro-me aqui, deitada... sozinha. A quem quero enganar? Não sou uma comediante, pareço uma melodramática. Concordam?

E estou aqui, continuando a minha conversa com Camélia.

— O que você quer dizer com isso? Por que não posso ser feliz no amor já que você é? É meio contraditório, não entendo. — Suspirei mais uma vez naquela conversa.

O que estou realmente fazendo com o meu futuro? Aqui estou na décima segunda desilusão amorosa e a última da minha vida, espero. Ah, como o amava, ainda consigo me lembrar dos seus abraços, dos beijos. Ontem seria o nosso aniversário de duas semanas de namoro, mas ele me deixou afirmando que sou extremamente grudenta e não tem como namorar uma pessoa assim. Aaaaah! Talarico, por que me abandonou? O chamei por seu apelido carinhoso mesmo chorando em pensamentos, pois Camélia não poderia ver a minha desolação.

— Rosa, não acredito que você está chorando em pensamentos novamente? — Ela exasperou. — Qual foi o apelido que você deu a esse? — perguntou um pouco impaciente.

— Talarico, ele não entendeu o meu amor. — Nesse momento tive que abrir um berreiro, a dor era demais para eu suportar.

— Que porcaria de apelido é esse? Você sabe o que significa talarico? Pelo visto não, Rosa pare de dengo, você o conhece há um mês e tinham duas semanas que namoravam. Nesse tempo ninguém se apaixona. — Deu uma tapinha em minha cabeça e se dirigiu a saída.

— Mas o amor vem quando menos esperamos — falei em desgosto por suas palavras ofensivas a minha pessoa em vez de me consolar como qualquer irmã faria.

— Não Rosa, o amor vem com o tempo. Quando me casei com Caleb não o amava. Estou de saída, a chave está embaixo do tapete. — Saiu esfregando mais uma vez na minha cara que não amava o marido, mas eu sim.

Uma súbita tristeza me abateu. O que estou tentando ser e demonstrar? Já que a minha família nunca conseguiu me entender. A melhor solução é sumir. Imagina se um dia eu tivesse a oportunidade em começar tudo novamente? Tenho certeza de que seria um sonho.

Angustiei-me mais uma vez, tinha a certeza de que a qualquer momento a dor que tanto guardei uma hora reapareceria como um furacão em uma tempestade. E não foram apenas pelas palavras ofensivas e sem apoio transmitida por Camélia no passado ou pelas ofensas sem motivos plausíveis dirigidos a mim pela mamãe no presente, mas sim, pela vida angustiante que tenho.

Como posso ser um desastre em todas as áreas da minha vida? Nem um relacionamento verdadeiro com meu príncipe encantado consigo ter. Desse jeito terminarei para titia, pois quando uma mulher chega aos trinta o tempo não se torna mais seu aliado, mas sim, o vilão da sua vida.

Sinceramente, se não consegui me estabilizar nesse relacionamento, não sei se terei outro para contar história. — Qual relacionamento mulher? Não imagine coisas Rosa, até as pedras clamam por distância de você. — E novamente sou bombardeada pelo meu subconsciente. Ô céus, o que há na minha vida que até a minha mente despreza-me? — perguntei olhando para cima, um pouco ressentida com o ocorrido.

Penso enquanto digiro se volto para casa ou não. Tendo em vista, que agora tem duas pessoas para criar Oliver. — Não esqueça que Mark é apenas um estranho. E ele não pode fazer parte da sua vida desse jeito, você já está fantasiando novamente? — Minha consciência perguntou em aflição, com medo da minha próxima loucura.

Ei! Sei que não, mas não custa tentar. Mesmo depois de todas as rebombadas na minha cara, nunca perdi a esperança, até hoje. Ainda mais porque esse seria o momento oportuno para dar um fim a toda essa doideira que minha irmã lançou sobre o meu colo. Não quero criar uma criança, ainda não consigo dirigir a minha vida, imagina conduzir outro ser humano?

Suspirei angustiada, quando vou mudar? Não pareço uma mulher de 30 anos, apenas o meu corpo cresceu, pois, a minha cabeça ainda continua como a de uma menina de 15 anos. Sorrir em tristeza.

Recordo a minha adolescência, tendo em vista que a minha vida não mudou nada até hoje, desde o meu primeiro amor só colecionei fracassos. Com 12 princípios de namoros que nunca duram mais de um mês ou nem existiam no mundo físico. Com doze experiências em pregos, algo nada agradável, já que nem um deles durou mais de um ano. Com uma família que deixa nítido o interesse em me manter fora dos acontecimentos internos.

Não entendo até hoje o motivo do pedido de Camélia, sinceramente não sei. Oliver é uma criança tão responsável, o contrário de mim com o triplo da idade dele.

Só faço besteiras!!! — Penso em angústia. — Dirigir para mim nunca foi um problema, ainda mais para fugir de tudo que me aflige:

De uma mãe egoísta e soberba que nunca se importou comigo, de um pai que é um tremendo mamão, de irmãs que mal conheço... por quê? O motivo não sei, ou nunca fiz questão em desvendar. De um casamento que não é real e não sei o motivo até porque parece que entrei em um jogo sem fim, onde certamente sairei ferida. Sério, não sou assim, amo comédias românticas, gosto de contos de fadas e minha vida está parecendo um drama mexicano ao qual jamais suportei. Detesto melodramas onde a mocinha não enxerga um palmo abaixo do seu nariz.

Ainda angustiada dirijo pela estrada, para enfim sair daquela cidade que em vez de trazer alegria a minha vida angustiada apenas trouxe mais tristeza. Maltratando o meu pobre coração.

Prossigo pela cidade. — Céus o meu coração não para de arder. Maldita dor infeliz que adoece a minha alma. Calma Rosa vai passar, eu tenho certeza que irá. É apenas questão de tempo.

Enquanto dirijo estrada afora, a dor ainda persiste sendo que já foram horas desde a minha saída da cidade.

Não sei onde estou, mas tenho certeza de que é um lugar tão distante. Sei que não é certo fugir assim, mas se eu não lutar por mim quem fará?

As nuvens estão escuras, como se densas mãos a apertassem para tirar todo o líquido, indicando que uma tempestade se aproxima. O meu coração falha uma batida em sinal de aflição, como se fosse algo caótico estivesse perto de acontecer.

É com esse pesar que ligo o rádio ao qual toca uma música de melodia lenta da Céline Dion: It's All Coming Back To Me Now.

Errei por não ser sincera, por fantasiar demais, por tentar esquecer. Desculpe irmã, mas você também falhou comigo. Você sabia de tudo, mas não deu importância. — O que estou pensando? Nem eu mesma me entendo.

Nesse momento vejo a chuva cair, ainda sinto o vento soprar. Ao passo em que o céu escurece e as nuvens se tornam densas, demonstrando as minhas emoções.

— Ô vida! Até a natureza entende como estou me sentindo.

Enquanto devaneio em pensamentos. Sinto algo colidir com o meu corpo, fazendo-me girar várias vezes, enquanto perco a consciência após minha cabeça bater em algo duro.

 

Espero que tenham gostado e até  a próxima. 😘

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