Capítulo 11
— É hora de acordar bela adormecida. — Senti alguém me balançar levemente.
— Ainda estou cansada. — Tentei me enrolar na coberta, mas não obtive sucesso já que essa foi arrancada dos meus braços.
— Sua mãe já esmurrou a porta do quarto mais cedo, fazendo questão em nos expulsar, sendo que seu sobrinho já se encontra lá embaixo nos aguardando.
Em tranquilidade suspirei, enquanto isso Mark pegou as coisas do chão onde ele dormiu e jogou na cama, saindo logo em seguida.
Com muita luta me levantei da cama e caminho em direção ao banheiro para fazer as higienes. Depois disso me aprontei com uma calça jeans de cintura alta, sobrepondo a peça uma blusa comprida de cetim sem nenhum adereço. Calcei uma sapatilha bege na intenção em sair do quarto, mas a tempo recordo que preciso pegar algumas recordações minhas que esqueci nesse quarto desde a minha infância. Dessa forma, ousei mexer em todos os armários e caixas do local, logo encontrar escondida em cima de um armário de bugigangas uma caixa com o nome meu e de Camélia descrito. E com essa visualização, subo em uma cadeira na intenção em alcançar o topo do objeto, dessa forma consigo pegar, porém uma pequena caixa cai junto para o meu desespero, devido ao fato da mãe detestar bagunça e será um grande problema para mim caso ela descubra. Por causa desse pensamento tento recolher tudo rapidamente. Em meio ao desespero pego os objetos espalhados pelo chão encontrando algumas fotos e desenhos meus e de Camélia, algo que apanho às pressas colocando em minha bolsa de mão.
Com muita dificuldade tento arrumar todo o local colocando os utensílios em seus devidos espaços, porém, em meio a minha arrumação, encontro algo que não deveria. Escrito a mão estar uma carta destinada a Fiona com o remetente Hermes, ao que parece é uma carta de amor, mas não tenho tempo para lê-la, porque perdi muito tempo procurando e guardando esses objetos, por isso coloco a carta dentro da minha bolsa. Com pressa término de organizar tudo e saio do quarto, já que Mark deve estar no térreo com as malas.
Quando coloquei meus pés na sala, preferi mil vezes não ter vivido para ver a bela recepção que tive, apenas Mark e um Oliver com o rosto fechado estão me aguardando. Optei em não comentar nada, afinal de contas, onde está a despedida? Tenho certeza de que todos preferem obedecer mamãe a se despedir da sua irmã mais velha.
— Então, vamos! — Dei um sorriso tentando colocar um pouco de animação na voz, pois não quero que a minha vida vire uma novela mexicana.
Tentei pegar na mão de Oliver para saímos, no entanto, fui rechaçada por este.
Finalmente estamos a caminho do aeroporto, Mark está ao lado do motorista enquanto estou com meu sobrinho no banco de trás.
Uma coisa aprendi nesses últimos dias... A vida é feita de desajuste, logo, nem tudo aquilo que desejamos acontecerá. O destino tem formas inconclusivas de ensinar lições, ainda mais quando pensamos que nada mais poderá dar errado, é aí que ele entra em cena para provar o contrário, logo, a lei de Murphy tem seus preferidos.
No momento estou no impasse se consigo ou não fazer Oliver jantar, já que o menino insiste em ficar amuado com uma baita birra.
Em toda a minha vida sempre sonhei em ter filhos, casar e construir uma família, mas nesse instante estou querendo repensar esses desejos. Mark saiu desde a nossa chegada a 2 dias, enquanto encontro-me aqui em mais uma luta com Oliver por persistir na greve de forme, segundo a sua última frase na noite passada.
O que adianta viver em uma casa chique se um pirralho insiste em fazer greve de fome? Nem a mesa da sala em madeira maciça aumentou o meu ânimo. Dado que, todo o lugar tem um acabamento detalhado.
— Meu filho, se você não quer ficar doente precisa comer. — Tentei colocar o mingau de maisena em sua boca.
— Você não é a minha mãe. — Virou o rosto empurrando a colher e consequentemente me fazendo derrubar um pouco no chão.
Suspirei, não vou perder a calma, afinal, ele perdeu a mãe tem poucos dias, é comum para uma criança com 8 anos.
— Sim, sou a sua tia, sua mãe não pode estar mais com você, mas eu estou aqui — tentei soar a mais compreensível possível.
Ele me encarou franzindo a sobrancelha, tenho certeza de que está tramando algo, é o mesmo olhar que seu pai tinha quando pensava em aprontar.
— Por que você não dorme no mesmo quarto do seu marido? — Encostou-se no sofá.
— Isso não é assunto de criança. — Joguei a colher no prato, em fracasso.
— Você sabe que não é uma boa arma de sedução. — Olhou para o teto como se a sua frase fosse a mais normal do mundo.
O que uma criança de 8 anos está falando? O que ele entende sobre sedução? Eu sou a mestra nisso, só para avisar.
— Para a sua informação, isso não te interessa — falei pausadamente com todas as letras.
— Posso ir ao banheiro? — disse fingindo uma cara de anjo extremamente falsa, quero afirmar.
Fiquei surpresa, espera, não sou burra, esse menino já ficou bastante tempo sem comer.
— Você acha que sou o quê? — Esse truque é velho, para a informação dele sou inteligente o suficiente para contrariá-lo.
— Uma mulher carente de atenção. — Tenho certeza de que a minha reação depois da sua fala foi surpreendente, pois as suas feições demonstraram felicidade.
Moleque atrevido, como ousa desrespeitar a tia?
— Como? — Tenho que ter a certeza, ainda mais que esse presente do destino não tem devolução, porque se eu fizer isso ficará provado para todos que sou tão incompetente como mamãe diz.
— A senhora tem baixa autoestima, não se cuida, tem medo de dormir no escuro, não gosta de ficar sozinha, sonha com o príncipe encantado, não consegue se estabilizar em nenhuma área da sua vida e tem um grande, imenso problema de inferioridade egoísta, ou seja, você não se ama e quer que os outros te ame. — Sorriu e saiu me deixando sentada na cadeira a sua frente com a cara de taxo, enquanto ele dirige-se ao sofá.
— Espera, seu... — tentei soar com mansidão — O que é inferioridade egoísta? — Não acredito que estou perguntando isso a uma criança.
— Simples, a senhora tem uma imagem de coitadinha de si, enquanto os outros são perfeitos e não passam por problemas. A tornando uma egoísta por apenas enxergar os próprios problemas, não entendendo que todos, absolutamente todos, tem dificuldades na vida — disse calmamente como se fosse um mestre.
— Como esse menino aprendeu tudo isso? — Me joguei no sofá já que levantei para fazer a pergunta a ele.
— Minha mãe falava que não tem herança melhor do que o conhecimento. — Saiu me deixando completamente confusa.
Após a sua saída comecei a refletir, não poderia estar mais perdida. Estou em um falso casamento, tenho que criar um mini gênio com o acréscimo de perder a guarda da criança quando alguém descobrir que forjei o matrimónio, ainda mais que não tenho o conhecimento do plano de Mark, ou seja, posso estar metida em uma grande enrascada. Estou morando em um apartamento da área nobre — essa é a única parte boa —, colocando a vida do meu sobrinho em risco, pois dividimos o teto com um estranho. Não tenho dinheiro e estou prestes a perder o emprego porque não avisei a Colin sobre a minha chegada, droga! Esqueci.
Corri rapidamente em direção a bancada no canto da sala para pegar o telefone e ligar rapidamente.
— Colin, desculpa esqueci completamente, estou de volta e por favor não me demita, juro que não menti em nada para você — mentira, minha mente respondeu por mim —, preciso do emprego. — Tenho certeza de que a minha voz soou chorosa, pois estou fazendo tanto drama que até eu mesma estou me enganando, pensei após falar rapidamente.
— Calma, seu esposo — sua voz soou um pouco esganiçada na última palavra —, me informou sobre o ocorrido, não se preocupe, semana que vem você pode voltar ao trabalho, acredito que precise desse período de adaptação — soou seriamente.
Não acredito, tive a sorte em encontrar o patrão dos sonhos — pensei animada. Ainda mais por no final de semana seguinte ser o casamento de Sary, ela avisou que séria em uma semana, mas possivelmente será no final de semana, poxa!
— Não preciso do resto da semana de folga, porém podemos transferir para o próximo final de semana, que tal? — Tentei soar convincente na ligação, afinal de contas, não quero abusar.
Nunca vi uma pessoa para ser tão cara de pau quanto você, com toda a certeza, esse tipo de gente não da para ter chefes gentis e amistosos. Algo que faria bem a sua vida é uma chefe igual ao Diabo Veste Prada. — Não acredito, devo ser a única pessoa da face da terra que ouve a mente falar e ainda sendo desagradável com você. Sou realmente um caso a ser estudado.
Conversamos mais um pouco e desliguei a chamada, eufórica. Amanhã já estou de volta ao trabalho, para a minha alegria e desespero, já que terei que conversar com o chefe sobre Oliver.
Bendito destino que quer ver a desgraça na minha vida, me deseje sorte! Vou precisar.
***
Para angústia minha mais um dia árduo do trabalho chegou, para o terror dessa pobre coitada que não sabe mentir. — Rimou. Desculpa, tinha que expor essa opinião.
Pela manhã bem cedo acordei pontualmente às seis da manhã para despertar Oliver. Algo que nem estou me reconhecendo, já que pontualidade não combina com a minha fama.
— Vamos, hora de acordar — chamei-o enquanto este se remexe na cama.
Para a minha felicidade esse apartamento tem três quartos algo que contribui muito com a minha vida, já que não preciso dormi com um estranho.
Não vou me estressar com essa criança, andei até a cozinha enchi um copo com água, coloquei no micro-ondas para mornar já que sou educada, voltei ao quarto e joguei a água em um garoto dorminhoco.
— Por que fez isso? — Deu um pulo da cama, enxugando o seu rosto molhado.
— Não sou sua mãe, por isso não preciso agir como ela. Levante e se arrume. — Saí do lugar.
Espero sinceramente que ele entenda o recado e resolva se aprontar, senão terá que ir de pijama me acompanhar no trabalho.
Sinceramente já estou estressada, passei esses dias sendo ignorada pela criança, querendo ou não, já estou decidida que a vida não é um conto de fadas como mamãe falou quando eu era criança, cansei de ser uma mocinha esperando o príncipe encantado que nunca vai chegar. Assim como diz o ditado: a esperança é a última que morre, é uma tremenda mentira, porque na minha vida ela foi a primeira a falecer. Claro, esse pensamento combina com meu estado de espírito atual, amanhã será outro dia e quem sabe posso mudar de ideia.
Caminho sossegada até a sala de estar esperando o meu amado sobrinho. Agora entendi o motivo por eu nunca ter visitado a criança, nem no seu nascimento.
Enquanto estou em devaneios observo um Oliver entrar na sala ainda de pijama e completamente vermelho, suponho que seja pela raiva. Ele cruzou os braços na minha frente e disse:
— Não vejo necessidade em me acordar cedo — falou com altivez.
— Expliquei isso ontem enquanto estava sendo ignorada — retruquei.
— Quero ficar em casa. — Adotou uma postura firme.
— Hoje ela é sua casa? Ontem você disse ser o covil da minha carência. — Por um segundo consegui deixá-lo sem palavras, mas...
— Não seja dramática, não sou eu que tem um marido sumido a três dias. — Sorriu minimamente, quase imperceptível, com seu comentário.
Misericórdia, isso não é uma criança, é um mini adulto. Tenho que trabalhar, não vou perder o meu tempo com ele, já vai dar sete horas da manhã e ainda estou aqui.
Calcei o sapato, peguei a bolsa puxando a criança junta a mim e bati a porta de madeira, seguindo em direção ao elevador. Assim, quando a porta do mesmo abriu, entrei e esperei a descida. Quando finalmente cheguei ao saguão luxuoso, acenei para o porteiro e andei em direção ao centro da cidade, já que não tenho dinheiro e não tenho a cara de pau em pedir a Mark, algo bem difícil dado seu sumiço a três dias, contando com hoje.
— Quanto tempo ainda vamos andar, já deveríamos ter pegado um táxi — proclamou indignado enquanto caminha ao meu lado.
— Se você não percebeu, estou dura — respondi sem detalhes.
Ele fez um muxoxo, mas continuou me acompanhando, pelo menos a mãe dele o ensinou a ser homem, já que é a primeira vez que ele reclamou desde o começo do percurso.
Enquanto caminhamos, observo as ruas sempre movimentadas, com todo o tipo de vista, de prédios médios a pequenas casas, tendo grandes estabelecimentos imobiliários a pequenos comércios, se assemelhando muito com uma cidade do interior em desenvolvimento, trazendo a minha vida uma visão familiar.
Para a minha surpresa, observo o livro em uma das vitrines das lojas que passamos, algo que tenho o desejo de comprar a bastante tempo, até parece um feitiço me atraindo. É um conto de fadas, tendo uma releitura totalmente nova da Bela e a Fera, trazendo uma mistura com Cinderela, mostrando que a meia-noite até mesmo o príncipe pode virar a fera. Suspirei, Rosa, você nunca muda, quando vai parar de sonhar com contos de fadas?
Para não ficar atiçada recordo-me a frase que vi em um livro de autoajuda, aliás não, foi no filme Os Delírios De Consumo De Rebeca Becky Bloom: quando for ao trabalho ignore o canto das sereias que vem das lojas. O seu novo mantra é, "eu preciso disso"? Porém com muita dificuldade continuei a andar, já que não tenho nenhum dinheiro e nem um cartão de crédito.
— A senhora gosta mesmo de livros? — perguntou Oliver por ver a minha luta na vitrine da biblioteca.
— É como se todos meus sonhos fossem realizados em um passe de mágica. Entende? — Esbanjei um sorriso radiante pelo meu comentário.
— A senhora parece uma adolescente — disse e saiu andando na minha frente.
Após esse fora, continuamos nossa caminhada sem reclamar, contudo, para a minha felicidade, chegamos a Estori onde trabalho, após várias falhas sobre a sua localização. São 8h50min, então, não estamos atrasados.
Abri a porta me deparando com Colin concentrado em uma folha de papel. Assim que ele me ver abre um sorriso, porém este morre quando enxerga Oliver ao meu lado, totalmente emburrado.
— Ham! — Pareceu confuso.
— Vou ser direta, preciso que deixe trabalhar com meu sobrinho, estou criando-o e não tenho onde deixá-lo, sei que abusei muito da sua boa vontade, mas prometo que será a última vez. — Dei um sorriso aberto esperando uma resposta positiva.
Espero sinceramente que não seja chutada.
Olá gente, espero que gostem do capítulo. Desculpe a demora, mas estou bastante ocupada esses dias. Não esqueçam de dizer o que acharam do capítulo, não esqueçam que a história ainda não foi revisada.
PS: AINDA HOJE POSTO MAIS UM CAPÍTULO.
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