Capítulo 10
Agora tenho certeza de que os meus pensamentos devem estar em completa erosão. Não suportando a situação me levanto afoita e turbada, com mil pensamentos ressoando na minha mente como se estivesse acontecendo a Segunda Guerra Mundial.
— Espera, deve haver alguma explicação, isso não pode estar acontecendo, tenho certeza de que jamais Camélia me pediria algo como isso — contestei segura de minhas palavras, enquanto estou em pé olhando para o tabelião.
— Senhorita Rosa não há nenhum engano, antes da sua irmã falecer, ela me procurou como amigo da família e pediu para redigir o testamento, já que sou tabelião e meu filho advogado — olhou para o homem ao seu lado —, ela informou que isso seria uma surpresa para você, mesmo assim ela insistiu que fosse sucedido.
Simplesmente estou sem palavras, não acreditando no ocorrido. Enquanto estou nessa inquisição, todos no local resolveram parar e observar a minha reação, nenhuma alma atreveu-se proferir uma palavra, aumentando a minha indignação.
Minha mãe encontra-se em estado de choque com o ocorrido, ainda mais por ter a certeza de que a guarda da criança seria dela.
— Como ela pôde conceder a guarda de Oliver para essa irresponsável que não consegue se manter em um emprego? Não é possível que uma criança crie outra, ainda mais quando está já tem 30 anos e não tem a maturidade em tomar as rédeas da própria vida. — Olhou-me com um ar de sentença me deixando estática no local.
— Mãe. — Tenho certeza de que nessa hora as lágrimas estão jorrando pelo meu rosto em sinal de aflição.
— Vou contestar isso — falou em afirmação.
— A senhora pode recorrer, mas será uma guerra em vão e perda de dinheiro. Dado que a Dona Rosa Vermelha não possui nenhum tipo de intercorrência ou fraude com a justiça, sendo acrescido pela condição que ela tem em criar a criança, com o acréscimo de ser casada contando como benefício para ela, ou seja, você pode recorrer quantas vezes quiser, mas sua filha ganhará a guarda. Contudo, se ela não quiser a criança, a justiça nesse caso não poderá obrigá-la, como era o desejo da senhora Camélia — falou tudo calmamente, explicando cada detalhe.
— É claro que essa coitada não aceitará isso, ela não envergonhará mais a nossa família — completou destruindo totalmente o meu emocional.
Dessa vez tentei, mas não consigo continuar nesse lugar. Me retirei do local, enquanto Margarida tentava me acompanhar, mas acabou desistindo.
Enquanto estou andando pelas ruas do bairro, quando finalmente acabei de correr, sentindo-me totalmente abatida e estressada pelo ocorrido. Não me recordo a última vez que fui tratada dessa forma "tão amigável" pela minha mãe, mas pensei... ao que parece as coisas não mudaram como imaginei.
— Preciso me trancar em algo como sempre fiz, mas em quê? — Na intenção em pergunta para mim mesmo, acabei falando em voz alta.
— É sempre bom desabafar. — Essa voz.
Tomei um súbito susto e virei-me para encarar o infeliz que me incomodou. Encontrando o meu querido esposo, me observando a esquerda. Dei um pequeno sorriso para dissipar o semblante aflito. O encarei e disse:
— Por que você ama aparecer em um passe de mágica? Até parece um feiticeiro. — Rir com o meu comentário, virando para trás o encarando.
— Se não fosse assim, como chegaria tão perto de ti como estou agora? — Aproximou-se fazendo-me sentir a sua respiração.
— Você não sabe o que está falando, você não me conhece. — Tentei me afastar dele, mas este me segurou pelo braço.
— Ainda bem que estamos em uma rua deserta onde a única visão é a mata e um terreno baldio. — Acariciou o meu rosto fazendo as suas palavras passarem despercebidas por mim.
— Você não estava lá — disse sem perceber.
Sem me dá conta que o meu peito começou a subir de descer lentamente, enquanto meu coração batia em sincronia com minha mente agitada e conturbada. Além de não ter o apoio da minha família, especialmente da minha mãe. Não precisava encarar o olhar de discriminação ou de desdém de Mark. Não é por ser o meu esposo no papel, mas, porque eu precisava de uma pessoa para me apoiar. Para dizer que estaria ali por mim, me transmitindo confiança, algo que com toda a certeza não tenho em mim mesma.
Sei que posso parecer uma doida e insana — não parece, você é. — Contudo, sinto algo não muito agradável em relação a Mark, porém, nesse momento a minha consciência é o ser que não desejo escutar. Entretanto, espero realmente não quebrar a cara lá na frente.
— Engano seu, mas precisei deixar você se virar sozinha, mas agora estou aqui, vou ajudar-te a cuidar do filho da sua irmã. — Colocou no meu rosto às duas mãos.
— O nosso casamento é uma fachada para não sei o quê, já que até isso você insiste em guarda segredos. Então, não me venha com histórias, pois não sou boba a esse ponto.
Algo que há muito tempo não se manifestava em mim aconteceu, um sentimento de fortaleza que pensei que não existia na minha pessoa, mas que infelizmente foi engolido pelo espírito de ingenuidade. Constatando o meu declínio, pois uma hora era confiante em outra possuía todos os sinônimos da covardia e incapacidade, provando a minha total instabilidade.
O que ele pensa que está falando, não temos intimidade para isso. Para Rosa... pare! Você está imaginando coisas, não pense besteira, ele não quis dizer realmente isso. Só pode ser coisa da minha cabeça — pensei angustiada.
Outra vez não, por que sou assim? Ô vida, quando vou deixar de ser tão louca? — Por um rabo de calça...
— Não posso, não consigo. — Nisso já estou chorando.
Sinceramente, não acredito que estou sendo completamente aberta para um estranho. Na verdade, essa não sou eu. Ainda assim, em meio aos meus declínios emocionais, constatei a visão degradante do meu futuro.
— Não posso deixar você fazer isso — pronunciou calmamente enxugando as lágrimas que jorram pelo meu rosto.
— O que faço não depende de você. — Tentei ser sincera nas minhas palavras.
— Isso não importa, desejo apenas que você saiba: o tempo que eu puder estarei aqui. — Comentou, mas não pude ouvir claramente, pois meus sentidos estão confusos.
— Você não entendeu, ninguém me compreende — falei soltando-me do seu aperto —, quando mais preciso não encontro uma alma. Não vou cuidar de uma criança ao qual tem como mãe a pessoa que mais odeio no mundo, graças a ela nunca tive o amor da minha mãe, sempre fiquei em último plano — gritei andando de um lado para o outro, com o peito apertado em angústia.
— Cuidado com o que você fala quando está com raiva, porque depois pode esquecer, mas quem ouve, jamais esquecerá. — Por causa da sua fala fiquei estática no lugar, em completa confusão. — Você não sabe o que é ser incompreendido. — Sussurrou para que eu não o escultasse.
— Qual é o sentido disso? — O encarei.
— Simples, estou oferecendo a minha ajuda e você está fazendo drama por motivos egoístas.
Tenho certeza de que a dor no meu peito foi visível no meu semblante, pois o seu rosto demonstrou arrependimento.
— O mal das pessoas é não compreender o próximo. — Tentei sair, mas Mark me puxou novamente.
— Sei que você está magoada, porém, ofereço o meu apoio, ainda mais, essa será a sua oportunidade em mostrar a sua mãe que você é capaz. — Abraçou-me, colocando minha cabeça em seu peito.
— Mas não poderei trabalhar se aceitar — tentei falar tendo seu cheiro me embriagando.
— Tenho certeza de que não haverá problema em você levar Oliver para a biblioteca. — Levantei meu rosto para encará-lo, tendo um sorriso misterioso em seu semblante.
— Pensei que você iria me oferecer um salário para ser a perfeita dona de casa — comentei, ainda sentido o seu perfume embriaga os meus sentidos.
— Você não precisa sair do seu emprego para se tornar a mulher perfeita. — Pude o ouvir sorrindo enquanto este me abraçava ainda mais forte. — Tenho certeza se fizesse isso, estaria matando-a aos poucos. Os livros são a sua vida, e que tipo de homem eu seria se cometesse assassinato com o amor da minha?... — Em meio a delírios do meu cérebro conturbado e embriagado por palavras belas, tive a impressão de ouvir uma frase encantadora de Mark, em sussurros. Mas esse vestígio foi apagado por dúvidas que enfim surgiam na minha mente.
Como esse homem entrou tão de repente na minha vida? Ainda mais quando tenho o pressentimento que ele veio para ficar, em vez de estar de passagem como acredito. Dissipei esses pensamentos e voltamos a conversar.
— Vamos, acho que precisamos enraivar Dona Fiona com a minha decisão.
Enquanto voltávamos em um completo silêncio, fui decidida que essa será a última noite nesta casa, pois ao amanhecer eu, Mark e Oliver voltaremos para Campos.
Quando finalmente chegamos à casa todos parecem estar dormindo tendo apenas minha mãe na sala, sentada em uma poltrona de couro.
— Então, qual é a sua decisão querida filha. — Soltou a seguinte frase sem ao menos um comprimento.
— Acho que a senhora já sabe a resposta — da porta mesmo falei, e saí em direção ao quarto de hóspede com Mark em minha cola.
— Estou orgulhoso — proferiu estas palavras, quando chegamos ao alojamento.
Fechei a porta e me encostei nela sem acreditar na minha ação anterior, comprovando as minhas atitudes impensadas.
Olhei para o quarto perfeitamente arrumado, com uma decoração simples e fria, tendo apenas a cor das cortinas em vermelho florido como destaque, sendo um quarto completamente decorado no tom cinza com móveis de madeira.
Ao que parece Dona Fiona tem o prazer em ter algo separado para as visitas, já que não temos muitos cômodos na casa e todas as irmãs dividem três quartos.
Deitei-me na cama ainda dura por ser um colchão novo, tendo o sono como aliado nesse momento, por causa do meu dia agitado com fortes emoções. E sem perceber acabei pegando no sono.
Para enfim, ter a certeza de que não terminarei com um coração partido, sem casa e com meu sobrinho nas mãos da mamãe. Espero...
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