O ESTANDE DA MORTE - com Allan Lock

Texto de Fernando Raposo


Sinopse: Fim da década de 1930. A cidade de Nova York se tornou palco de crimes em série. O notório Allan Lock depara-se com a mais intrigante ocorrência de sua alvoroçada carreira investigativa. Quem estaria por trás de tamanho barbarismo?

*

Allan Lock parecia hipnotizado. Seus olhos permaneciam fixos na parede, carregada com as imperfeições de sua tintura. Lascas da primeira camada de tinta pendiam, enquanto a superfície exibia seus incontáveis poros, fruto das memórias investigativas pregressas.

Sobre este pretérito, agrilhoava-se um retalho de informações desconexas do recente caso que intrigava o mais notório investigador de Nova York. As páginas dos jornais tiveram que ajustar seu edital, deixando de cobrir integralmente o flagelo que assolava o Velho Continente, para acompanhar o desenrolar de uma investigação que comprometia a reputação dos agentes policiais da Grande Metrópole.

Oculto por um dos periódicos, o comissário atualizava sua irritação com a imprensa. Com o advento deste caso e sua dificuldade em desvendar a gênese de todos os homicídios, recebia constantemente ligações do prefeito, cobrando uma atitude mais enérgica por parte do delegado. As eleições se aproximavam, e o mandatário exigia celeridade, uma vez que ansiava usar os resultados desta apuração como manobra para convencer os eleitores à reeleição.

Allan Lock tornou-se o detetive mais famoso de Nova York, sendo chamado de herói por alguns tabloides. Nem ele sabia como tudo aconteceu, mas o certo é que com tamanho fardo, lhe sobreveio a responsabilidade de concluir o caso. Deixando sua inércia, despertou a atenção de todos, incluindo a do comissário, que pendendo o noticioso impresso, mirou suas atenções para o investigador.

— Você vem comigo? — Perguntou Lock.

— Precisamos, não é mesmo? — Disse o Comissário, com pesar em suas palavras.

— Onde eu deixo isso comissário? — Disse um dos agentes, que acabara de chegar com café e um par de bolos em forma de rosca.

— Deixe sobre a minha mesa. — Indicou pegando uma das rosquinhas.

Do outro lado de cidade, o veículo aproximava-se do tradicional cemitério de Green Wood, acompanhando de longe o cortejo de mais uma vítima, engrossando a lista do mais intrigante caso de assassinatos em série registrado em Nova York. Deixando o interior do Ford preto, o comissário e Allan Lock dirigiram-se ao encontro da fúnebre procissão.

— Precisamos descobrir o mais rápido possível o paradeiro deste assassino. — Disse o comissário enquanto caminhava ressabiado por entre as lápides.

— Por isso estamos aqui. — Disse Allan Lock acendendo um cigarro.

— O prefeito está na minha cola, e a imprensa também!

— A imprensa consegue ser chata quando quer. — Respondeu Lock com humor.

O caixão era conduzido para o seu destino perpétuo, enquanto os olhos atentos do investigar tentavam colher alguma pista que pudesse contribuir para a solução do caso. Uma série de pessoas lamentavam a morte do finado, enquanto outras cantavam hinos religiosos.

— Até que são afinados... — Cochichou o comissário, arrancando de Lock um meio sorriso.

Uma leve garoa descia das nuvens, formando um véu translúcido. O sacerdote entoava os dizeres, preparando a alma do defunto para sua vida eterna. Com ouvidos atentos, Lock virou-se, vislumbrando a chegada de mais um carro. Não era um carro qualquer, mas um veículo a serviço da Igreja. O carro ficou parado, aguardando o fim do ritual fúnebre. Assim que o caixão foi deposto em seu mausoléu, o padre, após breves despedidas, adiantou-se, adentrando o veículo que deixou o local às pressas.

Pensativo, o investigar manteve seus olhos no veículo.

— Algum problema detetive? — Inquiriu o comissário.

— Não... — Respondeu pensativo.

Os investigadores aproximaram-se do aglomerado que se dispersava aos poucos. O núcleo familiar do finado conservou-se ao redor da lápide e aos prantos, percebeu a aproximação da dupla.

— Com licença, sei que o momento é difícil, mas podemos conversar? — Disse o comissário, apresentando, com certa pose, o distintivo.

Os familiares entreolharam-se com mudez, aguardando aquele que romperia o silêncio para falar com os agentes.

Allan Lock distanciou-se, observando o movimento das demais pessoas que acompanharam o aglomerado. Percebeu a permanência de uma mulher, que se ocultou atrás de uma árvore. Ela chorava copiosamente.

— Deseja um lenço?

A mulher foi surpreendida com a abordagem, e com relutância, aceitou o favor, limpando o nariz.

— Pode ficar com ele. — Disse Lock.

— Obrigada. — Balbuciou.

— Uma perda e tanto, não?

— Sim...

A mulher respondeu com a voz embargada, tentando conter um pranto que se mostrava incontrolável.

— Pode usar o meu ombro se quiser... — Sugeriu o investigador.

A mulher entregou-se ao lamento. Chorando copiosamente, deixava sair toda a tristeza pela grande perda. O comissário permanecia com os familiares do defunto, enquanto seus olhos registravam Allan Lock consolando a desconhecida mulher.

— Pelo seu choro, você teve fortes motivos para estar aqui.

— Precisava me despedir. — Disse, soluçando.

— Ser velado por tantos amigos é um motivo de alegria. — Insinuou Lock.

— Ele era mais do que um amigo. — Revelou a mulher, sem conter as palavras.

— Mais do que um amigo?

— Ele foi o meu grande amor... — Revelou sem jeito.

— Amor?

— Trabalhávamos no mesmo departamento e passamos a sair juntos. — Disse, deixando o amparo do ombro do investigador.

— Ele era casado, não?

— Sim, mas isso nunca foi um problema para o nosso amor... ele me prometeu que se divorciaria...

A mulher interrompeu seu relato, percebendo que seu estado emocional a desnorteou a ponto de desabafar com um estranho algo que era um segredo dos mais invioláveis.

— Me desculpe... não posso permanecer aqui. — Disse afastando-se.

O detetive ateve-se ao relato, encontrando um ponto de partida para sua investigação.

O comissário aproximou-se.

— Quem era a chorona? — Perguntou de maneira burlesca.

— A amante do falecido.

— Amante, e você a deixou ir? — Inquiriu o comissário.

— O que conseguiu? — Perguntou Lock, ignorando a preocupação de seu superior.

— A família está consternada pela morte precoce de seu patriarca, mas estão felizes, porque sua alma descansa junto de Deus. — Relatou com derrotismo.

— Um adúltero não entraria tão facilmente no Céu...

— O que disse?

— Apenas um devoluto pensamento... — Disse, tentando disfarçar suas conclusões.

A dupla de investigadores deixou o Cemitério de Green Wood, cruzando o grande pórtico em estilo neogótico, marco da cidade de Nova York. Assim que o Ford se adiantou para além dos limites da Necrópole, Allan Lock percebeu que seu deslocamento foi acompanhado por um dos funcionários do local. A figura tinha uma expressão carrancuda, usava uma farda surrada e ostentava uma grande pá em suas mãos. Seus olhares se cruzaram intrigando o investigador.

Lock não perdeu tempo. Assim que adentrou a repartição, colocou-se à frente da desfigurada parede, acrescentando novos elementos às informações já existentes. Os olhos do investigador voltaram a fitar o que tinha conseguido até o momento, retornando ao estado de contemplação, tentando juntar as peças do quebra-cabeça que insistiam em permanecer isoladas.

— Santo Deus! Estou pagando meus pecados! — Bradou o Comissário ao perceber que a rosquinha que o esperava foi surrupiada.

Allan Lock aproximou-se com curiosidade.

— Não basta ter que lidar com os larápios de Nova York, precisarei abrir um inquérito dentro de minha própria repartição? — Urrou à porta de sua sala.

— O que você exclamou? — Perguntou o investigador.

— Pegaram minha última rosquinha!

— O que disse antes.

— Que estou pagando os meus pecados?

— Exatamente... — Disse, pensativo, retornando à frente do mural.

— Estou mesmo! Quero o ladrãozinho na minha sala em cinco minutos! — Exclamou, enquanto seus subordinados fingiam que nada havia acontecido.

Allan Lock retomou a contemplação. Sabia que o recente finado era religioso, mas também entendia, por força do acaso, que tinha uma amante, ou seja, um desvio moral grave. Para um religioso, um desvio moral é um pecado e o adultério é uma afronta ao decálogo, mais precisamente ao sexto mandamento.

O comissário, recluso em sua sala acompanhou a inquietação de seu investigador. Allan Lock foi impelido por algum lampejo investigativo. O detetive começou a dedilhar as pastas, com os perfis das vítimas, enquanto realizava suas anotações.

Movido pela curiosidade, o Comissário deixou sua sala, abeirando-se à mesa de trabalho de Allan Lock.

— O que descobriu? — Perguntou o Comissário.

— Veja. — Exibiu as pastas abertas sobre a mesa. — Todas as vítimas têm algo em comum.

— O que seria? — Perguntou o Comissário.

— Todos eles moram no mesmo bairro. — Revelou, abrindo o mapa de Nova York.

O investigador começou a marcar o local onde as vítimas moravam.

— Consegue perceber a relação entre elas? — Perguntou.

— Todos moram próximos, isso eu entendi, mas qual a relação com o crime?

— Não posso afirmar, mas olhe com atenção comissário, veja o que seus olhos podem deduzir.

— Está me dizendo que existe um ponto de convergência que une todas essas pessoas ao assassino?

— De alguma forma sim.

— Agora você me pegou... — Disse o comissário coçando a cabeça.

— Fechando todos os círculos com uma linha, teremos um espaço fechado entre elas. Consegue ver o que se encontra no centro deste espaço?

— Meu Deus... uma igreja?

— Exatamente, uma igreja. Este é o ponto de convergência. — Disse fechando o mapa com resolução.

— O que você vai fazer Lock?

— Assistir uma Missa! — Respondeu, deixando a repartição.

A igreja de Santo Agostinho estava lotada e para o detetive Allan Lock, o assassino poderia estar entre os fiéis. Tentando não despertar atenção, observou o rebanho, procurando encontrar sob o epíteto da simplicidade, um lobo feroz.

Não havia nada suspeito que pudesse indicar um perigo imediato. Não se dando por vencido, sentou-se em um dos bancos, acompanhando a liturgia. A Missa terminou e os fiéis percorreram o grande corredor central, deixando o interior do santuário. Contrariando o movimento de egresso, caminhou em direção ao altar, abaixo da grande nave. Lock percebeu que o padre havia deixado o local da celebração e ligeiramente, distinguiu olhares curiosos. Zeladores, que faziam a manutenção das áreas comuns, observavam o detetive.

— Posso ajudá-lo?

Allan Lock virou-se, e um dos zeladores achava-se ante sua presença.

— Estou contemplando a arquitetura do local.

— Conheço você. — Disse o zelador.

— Conhece?

— Sim, você é o famoso detetive, não é mesmo?

— Famoso é por sua conta. Sim, sou detetive.

— O que investiga? — Perguntou, enquanto varria o piso.

— Um detetive sempre está à procura de evidências, e elas podem vir de onde menos se espera. — Disse Lock.

O zelador interrompeu a faxina, encarando o agente.

— Espero que não esteja desconfiando de um mero zelador, que passa a maior parte de seu tempo limpando o santuário de Deus. — Disse passando a mão ligeiramente em seu cabelo.

O movimento revelou uma marca em seu punho. Lock tentou registrar, mas apesar de sua celeridade no olhar, não conseguiu distinguir o símbolo.

Subitamente, o padre retornou, adentrando o confessionário. Sem dar muito crédito a presença de Lock, o sacerdote permaneceu no interior do fechado estande.

— Se me permite, preciso continuar meu trabalho.

— Sem problemas. — Disse Lock, observando os fiéis que aguardavam para se confessar com o padre.

O agente permaneceu na Igreja por mais um tempo, acompanhando as idas e vindas dos fiéis que recorriam ao padre para o Sacramento da Confissão.

O investigador deixou a Igreja e a noite se fazia presente.

— Mais que merda... — Disse ao ver os pneus do carro furados. — O que significa isso? — Perguntou a si mesmo, enquanto observava a Igreja e sua imponência.

Com o carro comprometido, precisou caminhar. Não demorou muito para perceber que não estava só. Passos ligeiros o seguiam. Olhou discretamente acima dos ombros e antes que pudesse reagir, sentiu o peso de um golpe. Com o arremate, foi jogado ao chão, cercado e agredido.

Em meio ao flagelo, bloqueou um dos chutes com a sola de seu sapato. O movimento deu algum respiro ao detetive, que aplicou uma rasteira no agressor. O indivíduo caiu, sendo chutado por Lock. O estalo indicou que seu nariz havia quebrado. Rolando para o flanco, desviou das demais agressões, dando o tempo necessário para se colocar de pé. Allan Lock tentou ver os rostos de seus agressores, mais a debilidade da iluminação pública dificultava o seu entendimento, além do ligeiro atordoamento causado pelos sopapos que acabara de levar.

Sem intimidação, os agressores avançaram sobre o detetive. Suas aulas de boxe na academia foram bastante úteis, promovendo desvios rápidos e arremates precisos. Avançando contra os seus agressores, desferia cruzados e ganchos, o que causou apreensão aos incautos. Com o equilíbrio da peleja, os agressores tentaram fugir, mas por sorte, Lock conteve um deles, pressionando-o contra o posto. Debilitado pela surra que levou, o salteador manteve-se passivo.

— Por que me agrediram? Quem os enviou? Que marca é esta? — Inquiriu, exibindo o signo que estava no punho do infeliz.

— Os pecadores merecem ser banidos deste mundo, e se continuar sua cruzada, receberá o mesmo quinhão! — Proferiu, cuspindo no investigador uma borra de saliva e sangue.

Allan Lock passou as costas de sua mão sobre a área afetada e desferiu dois socos no abdómen do infausto. Recuperando-se, exibiu um sorriso trêmulo.

— Do que está rindo? — Inquiriu, sem perceber o indivíduo que se aproximava.

Deixando a clandestinidade das sombras, Lock foi surpreendido por um golpe em sua retaguarda, desfalecendo me seguida. O salteador voltou a cuspir sobre o detetive.

— O que faremos? Matamos ele? — Perguntou o salteador.

— Não... matar não. Faremos o que nos foi ordenado... — Disse o indivíduo, com uma grande pá em suas mãos.

Allan Lock abriu levemente seus olhos. A luz artificial do iluminador do teto o incomodou.

— Onde estou? — Balbuciou.

— Você está no hospital. — Disse o comissário.

— Onde eles estão?

— Pela pergunta, imagino que a Missa foi bem agitada. — Deduziu o Comissário.

— A Missa foi tranquila, mas fui abordado fora da Igreja.

— Pelas marcas em seu corpo, imaginamos que poderia ter sofrido algo do gênero, e não me refiro apenas as marcas de agressão. — Disse o comissário, indicando uma marca em particular.

Lock contemplou em sua pele um sinal, disposto com algum tipo de ferrete.

— Essa marca se assemelha as que encontrei nos punhos de alguns funcionários da igreja...

— O que significa? Não há similaridade com as vítimas... Lembra-se de algo?

— Minha última lembrança foi de ter levado um golpe pelas costas... onde me encontraram? — Perguntou ainda zonzo.

— O encontramos na sarjeta.

— Me desculpe...

— Não precisa se desculpar. Veja, você me deve quatro pneus novos. — Brincou o comissário.

— Cobre de quem os furou... — Respondeu Lock de forma jocosa.

— A propósito, enquanto você estava apagado, mais uma vítima foi encontrada. — Disse o comissário exibindo uma foto do corpo. — Seguimos o seu silogismo e bateu com os demais finados, este também vivia próximo à igreja.

Allan Lock pegou a foto e esfregando levemente os olhos, assustou-se.

— Eu vi este homem...

— Tem certeza?

— Sim, absoluta. Permaneci na igreja após a Missa, procurando evidências e este indivíduo havia ingressado no templo para... — Interrompeu o raciocínio, arrebatado por uma epifania.

— O que foi agora?

— Algo me ocorreu, mas preciso deixar o hospital para comprovar...

— Vou chamar o médico.

A porta da repartição foi aberta enquanto os agentes aguardavam a chegada do comissário e do recuperado Allan Lock.

— O que foi?

— Senhor, infelizmente o assassino fez mais uma vítima.

— O corpo ainda está no local. — Disse o agente entregando as coordenadas do crime.

— Este lugar é longe daqui... — Disse o comissário, encarando Lock.

— Isso muda tudo! — Disse o agente, intrigado.

Allan Lock e o comissário se entreolharam e da mesma forma que entraram na repartição, tiveram que deixá-la, em diligência.

O local estava cercado pela polícia e a imprensa aglutinava-se para cobrir mais um caso de homicídio.

— Comissário, quantos corpos a cidade de Nova York vai enterrar para que o senhor faça o seu trabalho? — Disse o repórter com ousadia.

— Seu desgraçado!

O comissário avançou em direção ao jornalista, que recuou prontamente. Flashs oportunistas registraram a tentativa de agressão por parte do delegado, que foi prontamente contido por Allan Lock e outros agentes que se encontravam no local.

Encolerizado, o Emissário policial não se entregava à ofensa, forçando passagem, enquanto o investigador deixava a contenção para os demais policiais. O detetive observou o local e dentre o aglomerado, conseguiu identificar um estranho indivíduo, que observava o ocorrido de forma bastante singular. Alheio à agitação, observava o corpo, resguardado por um caliginoso plástico. Subitamente, o indivíduo rompeu as fitas que bloqueavam o local, e abrindo o seu capote, retirou uma lâmina, evocando palavras de ordem, investiu contra o corpo, cravando o objeto em seu peito.

Allan Lock, testemunhando o ocorrido, avançou em sua direção. Percebendo a aproximação do investigador, retirou-se. Lock driblou o aglomerado e pôs-se a perseguir o indivíduo, que adentrou um veículo negro, sem placa. O carro riscou o asfalto, deixando as imediações.

Arfante, retornou ao local do assassinato, recolhendo o objeto cravado no peito da vítima.

— Malditos jornalistas! — Disse o comissário encarando o objeto.

— Precisamos analisar esta evidência. — Disse Lock.

— Faremos isso, mas quem era o estranho com capote?

— Então, você viu o ocorrido?

— Claro que sim, consigo brigar com a imprensa e fazer o meu trabalho ao mesmo tempo. — Disse com uma seriedade que deixou Lock surpreso.

Todo o departamento policial acompanhava o investigador Allan Lock em sua quimera. Ante a presença do painel, contemplava as evidências de sua investigação, mas algo lhe deixava confuso. A vítima mais recente não se encaixava ao padrão até o momento estabelecido. O indivíduo que engrossava as estatísticas dos homicídios, vivia longe da Igreja de Santo Agostinho, mas próximo a outro santuário, mas precisamente, próximo a Igreja de São Miguel, também no Brooklin.

— As vítimas são escolhidas através de algum critério e mesmo vivendo em lugares diferentes, esse critério deve se manter. — Disse em voz alta.

— Você presume, que... — Disse o comissário.

— Presumo que não temos um assassino, mas uma sociedade que trabalha na obscuridade, pinçando indivíduos que segundo seus critérios, devem pagar por seus atos ou... — Lock parou, esperando que o comissário pudesse concluir seu raciocínio.

— Culpas? — Deduziu o emissário.

— Exatamente! — Exclamou Lock, arrancando um sorriso convencido de seu superior.

— O que você vai fazer? — Perguntou, enquanto acompanhava o deslocamento de seu mais notório investigar à porta da repartição.

— Vou me confessar! — Respondeu Lock, deixando o local.

A Igreja Católica Romana de Santo Agostinho havia concluído mais uma celebração e como de costume, o sacerdote preparou-se para mais um período de clausura, ouvindo as súplicas de seus fiéis pela reconciliação no Sacramento da Cura.

Allan Lock esperou pacientemente a sua vez de aproximar-se do confessionário. Sob os olhares dos zeladores da igreja, aproximou-se e pondo-se de joelhos sobre o genuflexório, avistando o padre, por entre o aramado.

— O Senhor esteja em teu coração, para que confesses os teus pecados com espírito arrependido. — Disse o sacerdote com a voz plácida.

— São muitos os meus pecados padre... — Balbuciou Lock.

Um breve hiato se fez, enquanto os olhos do sacerdote fitavam os de Allan Lock, por entre as diminutas brechas da grelha. Havia algo de lupino em seu olhar, aguçando as intuições detetivescas do mais notório investigador de Nova York.

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