A CASA AO LADO - com Andrei Walsh
Texto de Michele Bran
Sinopse: Após um período cansativo, o detetive Andrei Walsh é forçado pela chefe a tirar férias, porém não imaginava que o trabalho continuaria a persegui-lo.
Enquanto coloca a vida em ordem, ele testemunha o assassinato de uma vizinha pela própria filha, mas logo percebe que há algo estranho no ar, que desafia a lógica. Para piorar, ele pode ser o único capaz de resolver o caso, desde que aceite se confrontar verdades indesejadas sobre si mesmo.
Estará ele preparado para aceitar que é mais que um humano comum antes responder ao chamado do dever?
*
Pela janela, Andrei observava a cidade ao longe, onde a vida acelerada acontecia em contraste ao seu novo cotidiano.
Após ser intimado por Barbara Donoghue, sua chefe, a se afastar temporariamente de suas funções como detetive depois de o estresse afetar sua saúde; resolvera retornar para a casa da família. Sua rotina há quase quinze dias era sair apenas para sua corrida matinal.
Quanto tempo havia se passado desde que saíra dali para a faculdade? Vivian, sua única irmã, não era mais a mesma menina irritante, embora a mãe, Louise, continuasse tão interessada por livros quanto sempre fora, e a família estava um pouco maior.
O membro mais novo dos Walsh, também em suas férias, mal tirava a atenção do videogame que tentava zerar há alguns dias.
Sorrindo, Andrei pegou o jornal deixado em cima da bancada e caminhou até a varanda dos fundos. Antes, seu lugar preferido era a mesa de trabalho, coberta de casos criminais para resolver; mas ali via-se absorto pelo quintal coberto de verde, árvores frondosas e um vento agradável que refrescava o início da manhã.
Precisava admitir que, por mais que não quisesse aquilo no começo, o descanso estava lhe fazendo bem. Sentira os pensamentos desacelerando, uma tranquilidade até então desconhecida o invadira e as dores de cabeça — que ele gostava de atribuir à tensão — desapareceram até quase sumir por completo.
Sob os cuidados da mãe e da irmã, ausentes naquele momento para as compras do dia, passara a dormir e comer melhor. As olheiras tinham diminuído e se tornara mais fácil manter o foco, a concentração e o bom humor.
Enquanto percorria as linhas com os olhos, vez por outra ouvia os pássaros e a vizinhança: música, um ou outro rádio ou televisão transmitindo algum programa matutino qualquer, carros e motos passando na rua, conversas e... um grito.
Levantou a cabeça ao captar o som incomum. Franziu o cenho. Fechou o jornal.
Estava começando a questionar de não estava delirando quando ouviu de novo, ainda mais perto. Na casa ao lado.
— Socorro!
Como se acionado por um mecanismo, ele levantou-se e voltou para dentro, passando por Josh, indo em direção ao quarto.
— O que foi, tio?
Em silêncio, pegou a pistola na primeira gaveta do criado-mudo ao lado da cama — sempre a mantinha próxima, por precaução — e respondeu:
— Está tudo bem. Mantenha a calma, fique aqui e tranque a porta assim que eu sair, ok?
Atônito, o menino assentiu e Andrei se precipitou para a porta de entrada, ganhando a rua. Identificou-se, afastando os curiosos que já começavam a se reunir, e gritou por cima do ombro para alguém chamar a polícia, uma vez que precisaria de reforços de quem estivesse em serviço e pudesse, de fato, agir.
A dona da casa, Rosamund, gritou mais uma vez e depois o silêncio voltou ao reinar. Porém não foi isso que o fez parar no meio do caminho.
Por uma das janelas laterais, viu Rosamund caída e acima dela uma figura de moletom cinza desferindo mais uma facada em seu abdome, já coberto de sangue. Não teve tempo de tomar qualquer providência, pois, para seu terror, a assassina levantou os olhos.
Encararam-se por não mais que um segundo ou dois antes que ela desse meia volta e saísse correndo pelos fundos.
Por reflexo, começou a persegui-la logo após gritar para chamarem também uma ambulância. Sabia que ali atrás havia apenas um pequeno bosque e um declive acentuado, no qual um desavisado poderia encontrar a morte; então não seria muito difícil alcançá-la.
Contudo, a tarefa se mostrou impossível. Ainda que tivesse certeza de ter seguido o mesmo caminho que a jovem, não conseguira encontrá-la. Frustrado, voltou à casa, onde poderia ser útil de outra forma.
Ao retornar, os paramédicos já retiravam Rosamund da casa e um dos policiais presentes se aproximou após reconhecê-lo. Ainda com as perguntas martelando em sua mente, ele virou os olhos para a fachada da casa, e um calafrio sinistro desceu por sua espinha.
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— Meu Deus, como isso pode acontecer? Com a Rose? — lamentou Louise, com os olhos marejados. Eram amigas e vizinhas há anos. — Eu vi aquela menina crescer...
— Coitada da Amelia — fungou Vivian com os olhos perdidos no tampo da mesa. — Não quero imaginar como ela deve estar se sentindo ao saber que a irmã fez isso.
Em silêncio, Andrei tomava uma caneca de café. A têmpora esquerda latejou de leve e ele coçou a nuca. Já sentia o cérebro fritar só por tentar entender.
Era diferente lidar com um caso quando os envolvidos eram completos estranhos. Lembrar-se de que as tragédias também aconteciam bem perto lhe deu uma sensação estranha, pesada.
As duas famílias sempre haviam sido razoavelmente próximas, embora Louise e Vivian gostassem muito mais do que ele de manter amizades profundas com a vizinhança.
Amelia, a filha mais velha de Rosamund, viera avisar sua morte; mas Andrei nem precisou daquilo para ter certeza. De alguma forma, já sabia que aquele seria o desfecho. Sabia também que havia algo esquisito ali, que vira na hora, mas pela adrenalina não prestara atenção suficiente. Repassava a cena em sua mente em busca do detalhe perdido, sem conseguir captá-lo.
"Droga!", exclamou mentalmente quando o lado direito da cabeça começou a doer também. "De novo, não".
Sempre tivera aquelas dores estranhas, porém tudo piorara na idade adulta e o trabalho estressante que levava não contribuía em nada. Nenhum dos médicos que consultara ao longo dos anos descobrira a causa e ele terminou tendo que conviver com elas.
Depois de tantos interrogatórios — uma vez que era a única testemunha —, tudo o que queria era um bom banho e sua cama; e foi para lá que seguiu após terminar o café e se despedir da família.
A água quente dissipou suas preocupações por um momento e trouxe de volta a agradável sensação de estar em casa, acolhido e seguro.
Pelo menos até terminar de vestir as calças do pijama.
Precisou morder a bochecha para não gritar ante o susto, mas não conseguira refrear a língua:
— Puta que pariu! Não estou interessado em me juntar a você tão cedo, garota.
— Andrei, não é hora para gracinhas. — O tom era severo e urgente. — Você precisa resolver esse caso e eu posso ajudar. Não é um crime comum, e sabe disso.
Ele a ignorou e deixou o banheiro.
— Eu quero que você desapareça. — Vestiu a camisa e fechou as cortinas. — E pensei que estivesse presa àquela merda de prédio, ou agora os fantasmas têm permissão para seguir os outros? Vá embora!
Ignorando a hostilidade, Camila prosseguiu:
— Sei que é difícil desconfiar de seus olhos, mas você sabe o que viu. Sabe que não foi ela.
Ele deu um riso amargo, caminhando em direção à cama.
Havia esbarrado em Camila uma vez, e aquilo fora o suficiente para perder o pouco de sossego que restava. Algumas semanas antes, voltando de uma noitada de bebedeira e diversão com alguns colegas de departamento, trombara com ela no corredor do prédio, enquanto tentava chegar ao elevador.
A princípio, pensara se tratar de uma moça viva e até tomara coragem de flertar com ela. Mas vê-la desaparecer diante de seus olhos após admitir que estava morta fora demais para dele.
Não contara a ninguém, nem mesmo à Felicia, sua parceira de trabalho e melhor amiga — que acreditava no mundo sobrenatural com todas as forças, esotérica demais para seu gosto —, porém fora depois daquele evento que resolvera largar a bebida de vez.
Preferia as dores aos fantasmas.
Nos dias seguintes, Camila aparecera em sua casa ou mesmo em passeios que fazia pelas redondezas, sempre jurando que ele tinha habilidades especiais e deveria desenvolvê-las para seu próprio bem. Dissera que aquilo o ajudaria no trabalho e na vida, e ainda resolveria os incômodos sintomas.
"Você está conscientemente bloqueando seus poderes psíquicos, por isso sua cabeça dói tanto", ela lhe dissera uma vez.
E fora, tal como estava sendo daquela vez, sumariamente ignorada. Nos últimos anos, percebera que tudo ia embora se fingisse não estar vendo; assim enrolou-se em suas cobertas e de lá só saiu ao perceber que a tática, ainda que infantil e ridícula, funcionara mais uma vez.
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Não por muito tempo, porém.
Dois dias haviam se passado e se ninguém sabia onde Abigail se metera, por outro lado, Andrei sabia exatamente onde Camila estava porque ela quase não saía do seu lado, estivesse ele acompanhado sozinho
E como se a situação não tivesse como piorar, ela já não era a única: pessoas com quem trocava um cumprimento na rua sumiam diante de seus olhos e os espaços escuros entre os móveis de casa pareciam se mover durante a noite.
Julgava estar enlouquecendo e, sem conseguir parar de pensar nisso, perdera o sono.
Toda a casa já dormia há horas quando ele resolveu levantar. Aproveitou para organizar a cozinha, checar se havia alguma compra a ser feita no dia seguinte, verificar portas e janelas...
Tudo isso sem ser incomodado por nenhuma nova aparição ou abordagem de quem não deveria estar ali, pelo menos até então.
Porém, ao olhar de relance para a porta dos fundos enquanto terminava de lavar a louça do jantar, quase sentiu o coração sair pela boca.
Ali, com os longos cabelos úmidos pela chuva que caía na madrugada e metida em um moletom azul surrado, com os olhos inchados e vermelhos, estava Abigail.
Depois de sumir por dois dias.
Depois de matar a própria mãe.
Como se suas expressões endurecessem ao vê-la, a menina — que mal devia ter completado dezesseis anos — ergueu as mãos, indicando estar desarmada, e assim permaneceu até que ele abrisse a porta.
— O que você quer?
— Andrei, eu sei o que estão dizendo, mas eu não fiz isso.
— Essa é boa!
Não era a coisa mais absurda que ouvira naqueles dias, mas...
— Eu juro, não estava em casa. Posso explicar.
E como se a curiosidade falasse mais alto que a razão, ele afastou-se da porta:
— Essa eu quero ver.
Sentaram-se ao redor da mesa da cozinha e Abigail lhe contara toda a história e, a menos que ela tivesse uma irmã gêmea desconhecida, era impossível ter matado a mãe enquanto estava com a namorada em um parque a quase dois quilômetros de distância.
Havia algo no tom angustiado de sua voz — e no latejar repentino que o assomou — que o fez acreditar nela.
— Certo. Se não foi você, então quem?
— Eu não sei — ela deu um suspiro. — Como é possível alguém usar meu rosto assim? Sei que muitas coisas existem, mas... isso? Como pode?
Eram perguntas para as quais ele também não tinha resposta.
Pelo menos já sabia o que estranhara naquele dia. A sua frente, a despeito da tristeza que parecia tingir seu mundo de cinza, Abigail parecia normal. Movimentos, cores, olhos...
A Abigail que vira pela janela era estranha, diferente. Movia-se com agilidade, mas descoordenada. A pele era mais pálida e ela parecia estar presa em um quadro desbotado com uma moldura escura, como se sombras a rodeassem.
— Por onde você andou?
— Na casa da Samantha, juntando coragem pra pedir ajuda a alguém. Quando lembrei que você estava aqui, resolvi aparecer.
— E como sabia que eu estava acordado?
A menina deu de ombros.
— Não sei, eu só... sabia. Como se alguém tivesse me dito... Sei que vai parecer loucura.
E parecia mesmo.
De relance, ele olhou para o lado da porta dos fundos e lá estava Camila com um sorrisinho satisfeito.
A dor de cabeça aumentou, em uma pontada súbita. Para disfarçar, levantou e se pôs diante da janela. A pressão em seu crânio só era semelhante a um punho gigantesco querendo espremer seus miolos.
Uma visão passou diante de seus olhos.
Uma moça, um medalhão, um livro. Um pentagrama desenhado na página com tinta preta e um pingo de sangue caindo de uma faca ritualística. Uma língua antiga sussurrada, sombras na janela, um borrão visto de relance pelo espelho atrás de uma mulher, mais escuro que o escuro.
O que as paredes da casa ao lado estavam escondendo?
Ele voltou a si com os dedos de Abigail fechados sobre seus punhos e uma expressão de medo e impotência cravada em seus olhos. Só então se deu conta de que estava de joelhos, comprimindo os lados da cabeça com as duas mãos.
Ofegou e conseguiu levantar. Ignorou as perguntas e deu a volta sobre os calcanhares, dando de cara com Camila.
— Eu posso ajudar. Ainda dá tempo.
Fez uma prece silenciosa para que tudo aquilo desaparecesse, tranquilizou Abigail sobre seu estado e abriu os olhos.
Camila ainda estava lá.
Impassível.
Calma.
Esperando.
Quase conseguia ouvi-la dizer "ande logo, seu idiota".
A despeito de suas expectativas, a fantasma prosseguiu:
— Precisa evitar que uma inocente seja presa. Precisa levá-los à verdade, e só há uma maneira.
Camila estendeu à mão.
E uma nova visão tomou seus olhos. O borrão no espelho ficou mais claro. Viu um rosto.
E como se, silenciosamente, resolvesse aceitar a ajuda — também já cansado da perseguição sobrenatural —, virou-se para Abigail enquanto colocava um casaco por cima do pijama e punha o celular no bolso:
— Vamos, tem algo que preciso checar.
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Em suas lembranças, a casa dos Haynes sempre era um lugar cheio de luz e som, povoado por pessoas alegres, embora reservadas. Brincara naquele mesmo jardim com Vivian e Amelia quando eram todos pequenos e Abigail nem existia.
Mas levantar os olhos e encarar aquelas janelas sabendo que algo macabro acontecera ali dentro há poucos dias fora o suficiente para fazer todas as memórias felizes evanescerem.
Andrei subiu os degraus de entrada e Abigail abriu a porta de entrada com sua chave. O clima estranho e pesado ainda cobria todo o lugar, a energia negativa impregnava tudo e se grudava a sua pele.
"Cacete, isso tá parecendo algo que a Felicia diria".
Voltando ao foco, aproximou-se do lugar onde Rosamund fora assassinada mais cedo, esperando ver mais alguma coisa, captar qualquer vestígio de energia ou nova visão que o indicasse que caminho seguir.
— Você viu o que viu — lembrou Camila. — Já sabe o que fazer.
Mal ela terminou a frase e ele viu com o canto do olho uma sombra surgir do canto da parede. Lembrava um grosso fio de fumaça preta, disforme e aterrorizante. Quis alertar Abigail, mas não tinha certeza se ela também era capaz de ver ou aquilo o faria parecer louco.
Não houve tempo para decidir.
Andrei ouviu passos no topo da escada e, antes mesmo que pudesse se virar para ver quem — ou o quê — poderia ser, a sombra voou para o outro lado do cômodo e atravessou Abigail.
A garota se curvou arfando e atônita.
— O que foi isso? — perguntou e, naquele momento, os dois se voltaram para as escadas.
Amelia estava ali, cabelos soltos, usando uma camisola longa e branca e com um brilho estranho nos olhos. O mais assustador era o que ela trazia nas mãos: algo escuro se emaranhava em seus dedos, como uma luva pegajosa e translúcida. Dali, fios se espalhavam como tentáculos controlando a outra sombra que assistia a tudo passivamente.
Como se aquilo acionasse um mecanismo invisível, Abigail gritou — parecendo só então ser capaz de ver o que os cercava — e Andrei levantou suas próprias mãos. A proximidade de Camila fez todo o lado esquerdo do corpo se arrepiar.
— Sei o que fez — rosnou ele. — Como teve coragem?
Amelia riu.
— Só estou indo atrás do que é meu. E o que seria melhor do que isso do que me livrar de dois problemas de uma só vez?
— Matou sua mãe e ia incriminar sua irmã por dinheiro? Usando uma dessas coisas para se passar pela Abigail? E eu achando que te conhecia.
Ela riu mais alto.
— Também vejo que não te conhecia. Conseguiu esconder todas essas habilidades por tanto tempo...
Foi a vez de ele sorrir, após ver um aceno discreto de Camila, como se ela indicasse que já era hora de começar a agir.
— Bom, agora não há mais necessidade alguma disso.
E, sem aviso, ele esticou o braço em direção à sombra na extremidade do cômodo. No início, nada a aconteceu, mas logo fios negros e semitransparentes deixaram seus dedos e se entrelaçaram nela, tentando trazê-la para si.
Abigail cambaleou em direção à porta e ele a ouviu correr até a entrada enquanto Amelia fazia esforço para não deixar escapar seu maior trunfo. Lutava um cabo de guerra sobrenatural, e o resultado era imprevisível.
— Você é bom, um necromante legítimo — elogiou Amelia. — Mas duvido que tenha treinado. Não pode me vencer sozinho.
E sumindo para aparecer diante dela, Camila se mostrou:
— Ele não está sozinho.
O susto da aparição repentina fez Amelia afrouxar a pegada da sombra e deixou Andrei na vantagem.
Contudo, conectar-se com aquele ser era algo novo e desconfortável. A energia fluía de seus dedos como uma descarga elétrica, mas pela própria natureza da criatura que subjugava sentia crescer dentro de si algo pesado e vazio ao mesmo tempo.
A sombra se esticou e se adensou em uma bola opaca; se tentava fugir dele, logo devia ter entendido que era impossível e conformou-se com seu novo destino.
O mesmo não podia ser dito de Amelia.
De alguma forma, Camila conseguira reunir energia suficiente para atacá-la, mesmo que não tivesse mais um corpo físico, e acertou dois golpes com os punhos, que brilhavam em dourado.
Teria sido ela também uma bruxa enquanto viva?
Furiosa por estar sendo vencida e ter seus planos expostos, Amelia contra-atacou. Não com violência, da melhor forma que conseguia.
Começou a recitar em uma língua desconhecida para ele algum encantamento, mas Camila deve tê-lo reconhecido de pronto, pois seus olhos se arregalaram ao ouvir. Deu dois passos para trás, chocando-se contra a parede.
Degraus acima, abrira-se algo semelhante a um portal com bordas negras e arroxeadas. Tentáculos da mesma cor surgiram de dentro da superfície fluída e gelatinosa prendendo seus membros e começando a arrastá-la.
— Andrei, rápido.
Ele reagiu prontamente. Ela já o preparara para o fatídico momento, e só lhe restava torcer para que tivesse aprendido corretamente.
Fechou a mão esquerda com força, fazendo-a vibrar com a energia escura. Repetiu duas palavras em uma língua semelhante à que Amelia recitava sua cantilena e completou:
— Faça-a parar — ordenou à sombra que controlava. — A qualquer custo.
Em um movimento rápido, a pequena bola escura se alongou até parecer uma grossa corda feita de matéria semitransparente, enroscando-se nos tornozelos e pescoço de Amelia.
A pegada a fez desequilibrar e cair, rolando alguns degraus até parar bruscamente quando o nó em seu pescoço a refreou.
O som de algo se quebrando o fez perceber que Amelia estava morta. O sentimento ruim ficara ainda maior ao perceber que matara uma amiga de infância — não importando o que tivesse cometido, mas o grito de Camila o despertou.
Estava presa com a cabeça e parte do tronco para fora do portal. Todo o resto já tinha sido engolido.
— Calma, vou tirar você daí.
— Não dá — retrucou Camila, nervosa. — É um feitiço de banimento. Definitivo. — Seus lábios se curvaram em um sorriso amargo. — Vai conseguir o que queria e ficar livre de mim.
— Logo agora que me acostumei com você?
Ela riu.
— Desculpe por estressá-lo tanto. Era necessário. Agora prometa que vai estudar e desenvolver os seus poderes.
Ele sacudiu a mão lançando a sombra para longe, embora ainda permanecessem conectados. Sem saída, assentiu.
De qualquer forma, estava curioso para ver até onde aquilo o levaria.
— Então até mais um dia, detetive.
Assim, Camila se deixou ir por completo. O portal se fechou com um clique e na sala reinou o silêncio.
Tirou do bolso o celular e apertou o "stop". Na volta para casa, ouviu todo o áudio da ação, com o cuidado de separar a confissão de Amelia e salvar como um novo arquivo.
Dali, só precisava se trocar para ir até a delegacia, entregar as provas e contar o que acontecera — uma versão segura, claro, em que Amelia tentara fugir após ser descoberta e se acidentara.
Mas antes... Digitou uma breve mensagem, anexou o arquivo e enviou antes de entrar em seu quarto.
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Longe dali, Felicia despertou com o vibrar do celular na mesinha de cabeceira. Ao lado, Katterina se aconchegou entre os lençóis e ela só saiu dali ao ver que a filha não acordou.
O trabalho na delegacia estava até calmo nos últimos dias, então estranhou o que pensou ser um chamado de urgência.
Estranhou também o nome que apareceu na tela. Andrei estava de férias com a família e, até então, não fizera contato. O que poderia ter acontecido?
"Resultado de um caso que resolvi mesmo nas férias. Esse é o áudio bruto, o editado vou mandar para o policial encarregado. Assim que terminar, conto o que os registros não mostram".
Então apareceu que ele digitava mais alguma coisa e esperou até que terminasse para pensar no que dizer.
"Está a fim de ser minha coach sobrenatural nas próximas semanas? Acho que vou precisar".
Sorriu e digitou as três palavras da resposta.
"Mas é claro que sim!".
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