Capítulo único


Encarei meu reflexo no velho espelho do metrô, meus olhos estão inchados e meus fios negros bagunçados. Quem me visse neste momento diria que eu fugi de alguma clínica psiquiátrica, mas antes fosse este o motivo pelo qual me encontro nessa situação deplorável, diga-se de passagem.

As palavras de Choi Yeon-jun ainda ecoam em minha mente atormentando-me, tudo que desejo neste momento é gritar, apenas gritar como uma louca, como alguém que foi chutada do modo mais dolorido que alguém possa imaginar.

Me jogo no banco gelado, batendo minhas costas no apoio machucando-as, enquanto deslizo meu dedo polegar pela tela de meu aparelho telefônico, observando a tela com nossa última foto, estávamos tão felizes naquele dia.

- Yeonjun, por favor amor - o vento joga meu chapéu para trás, enquanto tento não desequilibrar e cair.

- Pedale, pedale querida - sua voz ordena-me para não desistir, estávamos numa pequena curva. - Vamos cair!

Eu tentei ao máximo pedalar e não desequilibrar, mas foi em vão, lá estávamos nós, caídos sobre a grama verde enquanto as pessoas passavam nos observando, Yeonjun ria descontroladamente enquanto levava seu braço esquerdo sobre os olhos.

- Você não pedalou como ordenei, olha para nós agora - seus olhos estão juntos aos meus, posso ver toda a pureza de sua alma neste momento.

- Me desculpe - choramingo sentindo as lágrimas nascendo em meus olhos.

- Sua boba - seu indicador toca a ponta de meu nariz fazendo-me rir com o toque.

- Ui, está gelado - reclamo por seu dedo estar frio ao me tocar. - Amor, por favor pare! - imploro quando ele leva suas mãos geladas em contato com minha derme acalorada.

Yeonjun é perverso com suas mãos gélidas que insistem em causar-me cócegas, eu implorei por uma trégua e o mesmo apenas as ignorou por alguns segundos a mais.

Era fim de tarde, a brisa fresca da primavera soprava em nossa direção com sua doçura espalhando nossos fios negros, o sorriso no rosto dele enchiam meu coração de ternura.

- Vamos registrar esse momento - me sento rapidamente arrumando meu cabelo e ajeitando a gola de minha camisa. Enquanto ele permanece ali parado observando o céu de fim de tarde. - Venha logo, eu quero uma lembrança nossa.

- Melhor não - retruco ainda ao observar o céu, já com sua pincelada alaranjada.

- Yeon, por favor, raposinha - ele me olha por breves segundos, faz um biquinho tão lindo quanto ele quando finalmente senta-se ao meu lado.

- Apenas uma, okay?! - ele ajeitou sua regata branca e os fios rebeldes que teimam em cair em seus olhos.

- Diga, I love.- ele faz uma careta.

As lágrimas agora tocam a tela do aparelho, manchando o meu sorriso naquela imagem. Sua careta ainda me faz sorrir em meio às lágrimas.

- Por que? Como você foi capaz de partir assim? - as palavras estão ali ainda, elas gritam em minha mente com toda a sua amargura.

Seu doce amargo ainda está em meu paladar, posso recordar-me com clareza do gosto de seu último beijo.

Minhas mãos agarram seu rosto em total desespero, eu precisava daquele toque. Precisava daquilo mais que do ar que respiro. sua feição era dura, mas seus olhos não eram capazes de negar toda a dor que aquele momento lhe causava.

Como espelhos da alma, seus olhos eram capazes de revelar que tal decisão estava o destruindo como a mim.

- Amor, o quê? Por quê? - eram tantas perguntas sem respostas. -

Me diga, eu imploro em meio as lágrimas que banha-me com sua dor.

Como fui tola, eu permitir ele me ver chorar daquele jeito, "-

Idiota" como pude me permitir a tamanha humilhação.

- Você sabe, eu nunca fui muito disso - certamente ele se refere as minhas cobranças. - Eu só não sou assim, você precisa entender.

- Eu, eu só.... - As lágrimas e soluços me impedem de continuar.

- Você só queria um namorodo como os de filmes clichês que você adora assistir - suas palavras atingem-me como lanças. - Me desculpe, pequena, mas não consigo ser esse cara para você.

Sua mão ainda presa à minha, fazem um leve carinho nos nós em meus dedos. Seu toque me traz tantas recordações boas, sinto-me confiante, protegida e o tendo por perto.

Com minha digital destravo a tela e lá está outra de tantas fotos que tiramos juntos. Nessa Yeonjun está com os fios rosas bagunçados, seu peitoral esta amostra estamos no seu quarto, lembro-me bem desse dia, havíamos chegado de um fim de semana na casa de seus primos e passei a noite em seu apartamento.

Foi nossa primeira vez, e era para ser um momento mágico se ele não tivesse zombado na ocasião das minhas confissões sobre esse momento.

- Você parece viver presa nos contos de fada, meu docinho - seus dedos entrelaçam os fios claros de meu cabelo. - Nem tudo é como nos livros.

- Mas... - Seus dedos tocam meus lábios os calando antes mesmo que eu pudesse protestar.

- Não existem flores ou velas como você sonhou, mas eu estou aqui e isso deveria lhe bastar - seu corpo gira ficando sobre o meu e um selar singelo é depositado em minha nuca, fazendo meus pelos eriçarem.

Mesmo sem tudo que sonhei naquele momento Yeonjun, fez da minha primeira vez a mais perfeita, porque era com ele e como ele me disse na ocasião apenas ele me bastava e tinha razão.

Meus dedos correm aleatoriamente pela galeria de fotos onde está repleto de nossos momentos, nossas primeiras vezes. Lá está nossa foto na roda gigante, era nosso aniversário de um mês de namoro. Eu havia preparado tudo, daria o anel que comprei especialmente para aquela ocasião, mas Yeon não gostou da surpresa.

Fazer o quê, ele era assim, um cara que não gostava de trocar presentes ou levar flores para a namorada. Eu já sabia como ele era, mas insisti em algo com ele que jamais aconteceria.

Yeonjun, não era um homem romântico, não gostava de receber presentes ou surpresas em dias como o aniversário de namoro, dia dos namorados. Eu me iludi achando que mudaria isso nele, em pensar que talvez fosse porque ele nunca havia tido um relacionamento onde coisas desse tipo fosse algo normal.

- Eu sei que você não pediu isso - sua voz falha por um momento, seus fios negros caem sobre seus olhos e por um momento posso ver o verdadeiro Yeonjun. - Você... você merecia um cara legal, que te amasse e cuidasse de você.

- Mas você é este cara, Yeon - minhas mãos procuram as suas. - Você cuida de mim, é legal e eu te amo! - não sou capaz de segurar a emoção, suas palavras são como um presságio ruim.

- Não sou baby, eu nunca serei - suas mãos agora estão sobre seus fios, os jogando para trás, seus olhos estão úmidos e o foco deles está no chão. - Me desculpe amor, mas eu não sou o cara ao qual você sonhou e desejou que eu fosse nesses meses todos.

Sua voz agora ecoa em meus pensamentos, olho para os lados na esperança que ele tenha voltado para me pedir perdão. Mas não, Yeonjun, não está mais aqui.

Outra vez arrasto meu dedo sobre a tela e lá está mais uma foto aleatória, nossos momentos felizes registrados por um amontoado de fotografias que nesse momento só me trazem dor.

- Está tão frio aqui, vamos entrar? - perguntei já sentindo os meus ossos doerem. - Por favor, amorzinho. - estamos no inverno, mas Yeon, resolveu que hoje era um bom dia para fazer bonecos de neve no quintal da casa de seus avôs.

- Você deveria aproveitar mais o momento, não é sempre que me verá fazer bonecos de neve - ele estava realmente animado com aquilo. Parecia uma criança que viu a neve pela primeira vez. - Vamos tire uma foto minha e de bob, o boneco. - seu sorriso era o mais lindo de todos, bob estava agora com um cachecol vermelho e um gorro da mesma cor.

- Mais para a esquerda - digo ao tentar tirar uma selfie, mas Yeon, estava desajeitado, sua posição não favorecia em nada a foto, meus dedos já estavam duros pelo frio e ele não sossegava em um lugar para finalmente bater a foto.

- Amor, seja rápido, estou congelando - ele finalmente confessou o que estava em sua cara.

- Calma bebê, só mais um minuto - me demorei de propósito só para o castigar.

- Está muito frio.

Depois dessa foto ele correu para dentro da velha casa, tomamos uma caneca de chocolate quente e conversamos sobre nossa infância em frente a lareira.

- Eu sinto sua falta, Yeonjun.

Seco uma lágrima que escapou, banhando minha face já quente pelo choro anterior. A cada foto meu coração se aperta mais e mais, nossas lembranças vem a todo momento como grande granadas e explodem em minha mente, causando ainda mais dor em meu peito já ferido.

Eu apenas desejei acordar desse tormento, abrir meus olhos e ele estar ali como sempre esteve, me abraçar, depois beijar-me os lábios enquanto eu sussurrava que o amava.

Mais uma foto, essa foi a nossa última, diferente das outras nesta Yeon está sério, seus fios estão arrumados em um penteado e seu olhar não tem mais o brilho de antes.

Talvez eu devesse ter percebido ali, notado que foi nesse momento que eu o perdi. Mas eu apenas ignorei os sinais, eles estavam todos ali e eu não os vi.

- Yeonjun, você já vai? - pergunto assim que terminei de tirar nossa foto, era um jantar da faculdade e ele parecia irritado com a ocasião. - Mas nem comemos ainda.

- Não aguento mais estar aqui, você pode ficar - suas palavras foram duras, ele parecia estar de mau humor. - Sabe, tanto faz.

Eu o vejo levantar-se e sair, mas desta vez eu não o acompanho.

Ele era assim, não era? Um cara sem muitas raízes e que não gostava de receber carinho em público. Mas sempre foi tão doce comigo, mesmo quando eu não merecia.

Eu só me pergunto se era realmente ele ali ou um personagem ao qual ele criou para me agradar e suportar esse relacionamento até aqui.

- Eu quero apenas saber... saber o por que disso tudo? - refiro-me aquela cena na qual ele acabou de protagonizar. - Eu fiz algo?

- Não é sua culpa, eu já disse - seus olhos estão vermelhos, as primeiras lágrimas caíram -, me desculpe, é tudo que posso pedir.

Seus dedos esfregam seus olhos, sua respiração está ofegante. Era como se ele estivesse sendo torturado por dentro. Desejei apenas o abraçar, mas ele me tirou esse direito quando se afastou de meu toque.

- Não, por favor não - deu dois passos para trás. - Eu não sou um alguém... como posso dizer, romântico, mas acho que você já sabe disso nessa altura do campeonato.

Do que ele estava falando? Okay, ele não era o super namorado, o mais carinhoso, mas era perfeito para mim. Eu o amava do jeito que ele era, mas parece que isso não era suficiente para ele.

- Não, eu não vou deixar você fazer isso que está pensando.

- Eu tomei minha decisão, nada que fizer a mudará - seus dedos tocam meu rosto pela primeira vez desde que ele chegou. - Você é como uma boneca, querida.

Sinto minha face queimar com seu toque, meus dedos formigam e meus lábios desejam tocar os seus.

- Yeonjun, por favor, eu te amo - elevo meu olhar ao seu, meus dedos procuram os seus. - Não destrua nosso amor.

- Meu coração está como brasa, amor - ele enrosca seu indicador no meu apertando-o -, mas eu não consigo, eu sou um anti-romântico querida, e tudo que faria era lhe machucar ainda mais.

- Please.

- Pense que assim é melhor, dói menos - seus lábios estão próximos ao meu. - Foi bom enquanto durou, guarde nossas lembranças - seu selar é dolorido. - Eu as guardarei também. - seu beijo é calmo, mas muito diferente dos outros.

Meus dedos entrelaçam os seus, enquanto sua mão livre puxa minha cintura levando meu corpo junto para o seu, ali estava a nossa despedida.

- Eu te amo - sussurro quando ele sela pela última vez, meu lábio avermelhado pelo beijo.

Eu o vejo partir sem ao menos olhar uma última vez, deixou comigo um coração despedaçado e muitas perguntas sem respostas.

Aquele filho da mãe, como pode ser capaz de destruir-me dessa maneira. Essas malditas lembranças, eu não as quero - NUNCA MAIS AS QUERO!

Abraço minhas pernas e choro baixinho sem me importar com quem esteja por perto. Só quero jogar essa dor para fora e esquecer que eu o amei algum dia.

Seu amor me trouxe dor e lágrimas aos meus olhos, os quais jamais haviam chorado por amor algum.

- Seja feliz, amor - sua voz sussurrou em meu ouvido aquela noite.












Notas do autor:

Capítulo betado por isnandss do blog incredibledesign

Essa fanfic também está sendo postada no spirit na minha conta lá SrtaTaehy

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