Capítulo II - O livro e a maré
Lilly acordou com o sol do fim da tarde banhando seu rosto, aquecendo-a de forma sutil, os primeiros vestígios do vibrante crepúsculo que nascia no horizonte começavam a surgir bravamente, dominando a pureza do azul com suas tonalidades alaranjadas para, então, mais tarde, perderem-se no brilho das estrelas. Ela dormira por quanto tempo? A garota ergueu o rosto do travesseiro frio de lágrimas, alguns fios de seu cabelo grudados na bochecha. O que seu pai estava pensando? Como poderia deseja-la tão...infeliz? A privara de ler. A privara de escolher seu destino. Casar-se? Aquilo não era o que ela queria...ao menos não sem o amor que ela vira em tantas páginas dos contos que lia. Bom, provável que fosse esse o motivo dele tanto querer afastá-la da literatura.
Os livros libertam aqueles aprisionados pela realidade que vivem.
A garota se espreguiçou, erguendo-se enquanto as molas da cama rangiam, apoiando o peso de seu corpo com os cotovelos e respirando fundo. Ouviu a movimentação no exterior diminuir. Talvez já fosse cinco e meia, não saberia dizer. Mas as sombras em seu quarto já haviam crescido, isso era um fato. Finalmente, andou até a porta de madeira de seu quarto, passando sobre o tapete avermelhado, vendo seu reflexo na penteadeira de madeira de carvalho que ficava no lado oposto à sua cama, decorado com seda e lençóis beges. Lilly encostou seu rosto sob a madeira da porta, tentando ouvir alguma coisa, seus dedos hesitantes a respeito de tocar ou não a maçaneta.
Se a garota abrisse a porta, talvez tivesse de enfrentar seu pai novamente. Se ficasse ali, passaria fome e nunca seria quem realmente desejava. Tomando forças com um inspirar profundo, ela optou pela primeira opção. Demorou alguns segundos para que Lilly finalmente abrisse os olhos, mas quando o fez se surpreendeu de não ter visto nada, apenas o breu do corredor com todas as velas apagadas.
- Mamãe? – Ela chamou, hesitante, enquanto permitia que as sombras contornassem seu corpo, descendo os degraus da escadaria principal de sua casa, que ficava colada ao lado da parede, um corrimão gorducho feito de madeira velha servia de apoio para suas mãos delicadas. – Papai? Alga?
Por que estava tudo tão escuro?
Ela caminhou até a cozinha; sabia que a mãe guardava velas no armário superior, apanhando uma delas e uma caixa de fósforo, riscando-o e observando o fogo aquecer a cabeça do palito enquanto tentava acender a parafina. Com um estalo sublime, a vela acendeu e a escuridão sentiu-se ferida. As janelas estavam tampadas pelas cortinas no instante em que Lilly se virou, a vela em um suporte metálico que impedia que a cera quente tombasse sob a pele delicada da garota. Colocando a única fonte de luz sobre a mesa, ela empurrou os tecidos que tapavam a janela para os lados e, agora, somente os tons do crepúsculo ali haviam. Anoitecia rápido, ela notou.
Ao tornar a virar-se, seus olhos focaram num bilhete sobre a mesa, em sua outra extremidade, afastada da vela.
Querida Lilly,
Fomos ao teatro e voltaremos após o cair da noite, mas não precisa esperar-nos acordada. Espero que, até amanhã de manhã, já tenha se acalmado e esteja disposta a conversar
Mamãe.
Ah, sim. Aquela era noite de teatro. Com tudo o que acontecera pela manhã, Lilly se esquecera por completo de que, todas as terças-feiras, os pais iam assistir a uma das novas peças que o teatro municipal exibia. Ela olhou para cima, para a sombra que se formava, fugindo da luz. Seu estômago roncou nesse momento, dolorido, avisando-a de que precisava ser alimentado.
Agora, com a vela acesa e as cortinas abertas, a garota vasculhava os armários. Um saco de biscoitos e um peixe velho enfurnado em sal. Era tudo o que havia ali e a ausência de Alga ainda era um mistério. Talvez mamãe a tenha dispensado mais cedo, ela pensou.
Lilly respirou fundo, apanhando a vela e subindo as escadas novamente apenas para, em seguida, caçar algumas moedas que tinha guardado em seu quarto, num canto escondido de sua penteadeira. Aproveitando que já estava ali, ela trocou de roupas, sentindo o alívio do corselete desgrudando de seu corpo e permitindo que seus seios tivessem o caimento natural, o frescor repentino do ar tocando o suor da pele enquanto ela colocava sobre seu corpo um vestido rosa com arabescos brancos em suas mangas. A garota se olhou no espelho por alguns instantes, observando a palidez de seu pescoço enquanto jogava suas madeixas castanhas por cima dos ombros.
Lilly desceu os degraus da escada, apagou a vela e saiu em direção à rua, algumas moedas numa bolsinha feita a mão e um falso sorriso de donzela estampado em seus lábios finos como folhas no inverno.
No caminho à boulangerie, Lilly ainda tentava decidir o que comeria. Talvez comprasse um pão, mesmo este já estando envelhecido. Sua ideia foi destruída ao ver uma placa de fechado estampando a fachada da padaria mais próxima à sua casa. Sua segunda opção fora mexilhões fritos, que um homem gordinho e baixinho passou oferecendo aos berros, mas eles não lhe agradavam, então ela decidiu apenas voltar para casa. Uma viagem perdida, ela pensou..., mas algo cintilou em seu olhar, o reflexo do mar chamando por ela para um detalhe inesperado naquela figura sempre tão nova. A garota olhou para os dois lados e atravessou a rua, estreitando seus olhos na direção da maré e ela viu uma figura estranha nas ondas salgadas.
Lilly acelerou o passo em direção à grade que separava as rochas da praia de um canteiro de flores e a calçada. Ela abriu o portão, apressada e, logo em seguida, sentiu o pisar duro contra o cimento batido e cascalhos ser substituído pelas pequenas pedras que formavam a praia, sentindo a brisa salgada tomando seu corpo, refrescando o colo de seus seios e seu pescoço, tornando-o esguio conforme lançava os cabelos para trás e as ondas levemente batiam contra seus sapatos brancos, próximos à orla, onde a figura ainda misteriosa pareceu se aproximar dela. Lilly não se importou com o sal que impregnara seu calçado. Ela apenas queria apanhar aquilo que boiava na superfície, que lutava para não se perder na vastidão azul do mar. Um livro. Ela avistou um livro sobre as ondas calmas.
Como se o objeto quisesse ser salvo, ele flutuou até a garota, encaixando em seus dedos como uma luva rendada que ela guardava no armário de casa, próximo à penteadeira.
Ela riu. O que acabara de fazer? Estava ali, sozinha, no meio do anoitecer, agarrada a um livro encharcado que ela nunca vira antes. A ideia fez sua mente descansar e gargalhar. Um sorriso abriu em seu rosto ao dedilhar a capa, sentindo sua maciez úmida e tão frágil. Lilly virou o livro, procurando por seu título, mas nada havia ali. Ela sorriu novamente e deixou escapar uma risada, não acreditando que quase entrara na água por um livro.
Lilly passou a mão esquerda por sobre a barra de seu vestido, alinhando-o enquanto se levantava, a saia arredondada cobrindo seus pés encharcados conforme voltava a tocar as rochas.
- Ei! – Um homem a chamou, fazendo-a arregalar seus olhos num súbito, o coração acelerando.
Não, não podia ser seu pai. Teria ele já saído do teatro? Não... sua voz não era tão aveludada quanto aquela...
– Coloque esse livro de volta no lugar dele, sua ladra! – A voz a acusou.
Lilly estreitou seu olhar por entre a noite anil, tentando olhar pela luz da lua que acabava de se fixar no alto do céu enegrecido. Era um rapaz alto e de cabelos escuros, com uma palidez estranhamente bela... suas bochechas ficaram vermelhas e seu sangue ferveu ao reconhecê-lo... era ele... Lucian... o rapaz que a abordara no café mais cedo e distraíra sua leitura.
- Ladra? – Foi a única coisa que ela pôde indagar ao vê-lo se aproximando dela numa velocidade indelicada demais, com sua blusa branca aberta, sem o botão que a manteria fechada, grudando em seu peito e um par de calças esburacadas e um cinto de couro ao redor da cintura fina.
- Por acaso esse livro é seu? – Ele indagou e, como um reflexo, ela colocou o livro atrás da saia de seu vestido.
- Não. – Respondeu de queixo erguido, as bochechas ardidas de calor como se o desafiasse, como se quisesse saber como ele poderia estar envolvido com aquele livro.
- E você o pegou mesmo assim? Não vejo argumentos muito favoráveis a você, senhorita. – Lucian retrucou, o olhar fixo nos dela enquanto o pé direito chutava uma rocha na direção do mar. Havia algo em sua voz... uma segurança petulante que quebrava o escudo que Lilly tentava criar, e isso fazia seu sangue acelerar em suas veias, tornando sua respiração ofegante. Mais ofegante do que ela gostaria de admitir.
- Ele estava boiando sobre as ondas... – A garota tentou dizer de forma firme, mas sua voz saiu num tom mais baixo do que o esperado. Ela estava hesitante? Por quê? Lilly não sabia o que estava acontecendo com seu corpo.
- E só por isso não tem dono? – Retorquiu, andando até ela, sua respiração colada ao seu rosto enquanto o rapaz se debruçava contra o corpo da garota, deixando-a perplexa, um cheiro de alcatrão e hortelã inundando suas narinas. Lilly ficou paralisada, observando as pequenas gotas de suor que escorriam pela nuca queimada do rapaz. Num movimento rápido, Lucian apanhou o livro das mãos dela, colocando-o contra seu peito numa posição protetora e defensiva.
Lilly franziu o cenho e o observou folheando o livro, os olhos fixos nas páginas ainda molhadas e tão facilmente desmancháveis, a rapidez e indelicadeza de seu ser pareciam corrosivas a um livro tão delicado.
- Se tiver um dono, então ele é um imbecil... – Suas palavras voaram diretamente para a garganta dele.
Lucian ergueu uma sobrancelha.
- E por que diz isso? – Ele bateu a capa do livro, fechando-o num baque surdo e molhado, erguendo uma de suas sobrancelhas despenteadas.
- Que tipo de monstro deixaria um livro à beira do mar? – Como uma resposta, uma marola tentou alcançá-los, passando por algumas rochas, mas perdendo suas forças antes que tocasse a barra do vestido dela, desfazendo-se em pequenas faixas de sal.
- Ele pode ter caído... – Lucian justificou.
- Então o dono é desastrado.
Ele sorriu com o canto dos lábios. Seria ele tão presunçoso e cínico? Ela sentia uma chama crescente em seu peito, uma inquietação que o rapaz provocava sobre ela.
- Você é a garota do café, não é?
Lilly deixou uma lufada de ar escapar e, com a voz seca e cética, respondeu:
- Que bom que lembra de mim, senhor Campbell. – Ela se virou, esticando o braço direito e apanhando o livro das mãos dele e começando a se distanciar, a barra do vestido sendo molhada por uma onda insistente, que a minutos atrás não alcançara o tecido macio e caro.
- Então você lembra o meu nome! – Lucian parecia satisfeito consigo mesmo enquanto enfurnava as mãos nos bolsos gastos, os cabelos loiros escuros despenteados num topete improvisado pelo suor do trabalho.
- Receio que ter uma boa memória seja um de meus atributos, não que isso seja algo bom, já que o senhor se contradiz a cada segundo...
- Como é? – Ele continuou a acompanha-la mesmo quando Lilly apertou seus passos. – Está tentando fugir? – Ele riu. – Olha, se conseguir fugir nesses saltos que as madames usam, então vou ficar impressionado.
- Você disse que não gostava de ler e, logo em seguida, aparece com um livro. – Ela se virou, ignorando a última fala dele, parando na frente de seu corpo, fazendo-o dar dois passos para trás, surpreso.
- Na verdade, senhorita Talbot, eu disse que era um tanto incomum uma mulher ler... nunca disse que não gostava de fazê-lo... – Ele tentou apanhar a capa do livro, mas a garota desviou de seu golpe, jogando seu corpo para o lado, os ombros indo para trás e as clavículas sendo desenhadas pelo suave luar. Uma onda bateu contra uma rocha, a espuma borbulhando como uma espécie de sinal de que, um dia, uma onda estivera ali. – Talvez sua memória não seja tão boa quanto pensa. – Satirizou.
Lucian tentou outra investida, mas falhou previsivelmente.
- Não... eu me lembro muito bem do seu tipo...
- Meu tipo? – Ele inclinou a cabeça e semicerrou os olhos. Parecia curioso, ou ao menos sarcástico e orgulhoso o bastante para fingir tal. Argh, os nervos dela já o repeliam com toda a força com que a atraíam até ele.
A noite estava calma, serena, com poucas nuvens cinzentas, o que tornava a lua ainda mais presente no céu com poucas estrelas e ondas sutis, quando ela respondeu:
- Perspicaz... debochado... promíscuo.... acha que pode pôr todos aos seus pés...
Ele sorriu. Dentes brancos à mostra.
- Promíscuo!? – Os olhos dele pareceram surpresos. - Para uma dama, seu repertório é muito afiado.
- E para um cavalheiro, está sendo grosseiro.
- Não sou eu que estou dizendo grosserias. – Retrucou ele tão rápido quanto ela lhe respondera, aquele maldito sorriso estampado em seu rosto enquanto a garota engolia em seco, querendo retrucar, mas as palavras travando em sua garganta por saber que ele estava certo. - Não gosto que me rotulem, senhorita Talbot. – Sua voz soou quase provocativa. – Ainda mais por aqueles que me conheceram por um único dia.
Ela sentiu o rosto corar ao vê-lo analisando seus lábios entreabertos, que puxavam o ar em curtas frações de segundo, a falta de palavras deixando-a nervosa. Lilly sentiu o livro queimar em suas mãos, como se desejasse ser aberto.
- Agora, devolva-me o livro. – Ele deu de ombros, agitando os cílios e franzindo os lábios displicentemente.
- Não... – Ela deu um passo para trás ao vê-lo esticar o braço.
- É o meu livro, Talbot. – Sua voz era firme e convicta do que dizia.
Lilly o encarou, duvidosa, uma sobrancelha erguida.
- Sem o senhorita?
- Talvez ladra caiba melhor. – Provocou e os olhos dela arderam. - Se não acredita em mim, olhe a folha de rosto e veja se estou mentindo.
Hesitante e um tanto impulsionada pela ideia e o prazer que seria desmascará-lo, Lilly trouxe o livro para frente de seu corpo, abrindo-o, folheando as primeiras páginas até que seus dedos pararam na folha de rosto, tão fina quanto as páginas de uma bíblia.
- O que eu deveria ver?
Mas nenhuma resposta veio ao seu encontro. Nesse instante, Lucian apanhou o livro das mãos dela, mas Lilly o segurou com força, sendo puxada para frente junto às milhares de palavras escondias por entre páginas banhadas em sal. Ele se desequilibrou, rindo, e deixou uma exclamação grosseira escapar de sua boca enquanto caíam sobre as rochas surpreendentemente confortáveis.
Lilly não teve tempo de reação, apenas sentiu seu corpo pressionado pelo dele, seus narizes quase se tocando, os lábios ardendo em brasa como se quisessem ser tocados, a respiração tão próxima que chegava a provocar a pele. Ela observou seus olhos castanhos serenos, tão belos e profundos quando aquele vasto oceano. Lucian engoliu em seco e olhou para a garota, o braço apoiado ao redor dela, uma pequena volta do seio da senhorita Talbot saltando do breve decote, fazendo-o corar. Ela era linda. Seus lábios tom pastel se harmonizavam com seus longos cabelos castanhos. Lilly sentiu-o se movimentando, aproximando seu rosto do dela, o hálito da garota imitando flores na primavera com gracilidade.
- Lilly! – Uma voz familiar soou atrás dela. – O que acha que está fazendo!?
Lucian saltou de cima da garota, apanhando o livro rapidamente, colocando-o no cós das calças e ficando de pé.
- Quem é você? – A mãe da garota começou a indagar aos gritos, ajudando Lilly a se levantar. Usava um vestido amarelo tão feio quanto sua maquiagem, mas tinha brincos de pérolas tão claras quanto as conchas perdidas em meio às ondas, além de um casaquinho preto que em nada lhe favorecia. – O que fez com a minha filha?
De repente, um vulto vestido de preto e de aparência pesada passou no meio delas, agarrando Lucian pelo pescoço e lhe socando o rosto, sem nem ao menos dar-lhe a chance de explicar. Mas, afinal...o que ele diria?
- Papai! – Lilly berrou. – Não o machuque!
O homem gordo e de barba grisalha estava, agora, em cima de Lucian, prendendo-o contra as rochas com um simples segurar de seu pescoço, seu traje social deixando-o mais gordo. Uma fina faixa de saliva escorria pelo rosto do senhor Campbell, misturando-se com os primeiros tons de vermelho do sangue que saia de sua gengiva machucada.
- O que está fazendo aqui tarde da noite, Lilly!? – O pai indagou com a ferocidade de uma besta. – Vá para casa! Conversaremos mais tarde!
- Não... – Ela protestou enquanto sua mãe tentava embalar a garota até em casa. - Largue-o! – Lilly se desvencilhou da mãe e se agachou ao lado do pai, tentando olhar em seu rosto vermelho, apoiando suas mãos sobre os ombros do homem. – Ele não me fez nada...
- E o que foi aquilo que eu vi!?
A mão grosseira de seu pai apertou-se envolto ao pescoço dele e Lucian grunhiu, o cenho franzido e o livro machucando sua lombar.
- Pare, por favor... não vê o que está fazendo!?
De repente, Lilly não se conteve e empurrou seu pai para o lado com todas as forças que tinha em seu corpo, fazendo-o perder o equilíbrio enquanto observava Lucian retomar o fôlego. O velho caiu sentado, estupefato.
- Como ousa me desacatar assim, Lilly!? – Ele esbravejou. – Saia da frente!
- Não! – Lilly se ergueu num salto, protegendo Lucian.
- Lilly... escute seu pai.... – A mãe suplicou.
- Mas ele não me fez nada, mamãe... – A garota fitou os olhos do pai. – Eu caí, papai, foi apenas isso.
- Quer que eu acredite que você caiu e, de repente, ele estava em cima de você?
Lilly engoliu em seco.
- Eu o puxei comigo durante a queda.
- E de onde você o conhece? Como estava aqui com ele? Deveria ter ficado em casa! – O pai a bombardeou com frases ríspidas.
- Eu o encontrei por acidente na praia...
- Por que estava na praia? Por que saiu de casa?
- Não havia nada para comer...
- Compramos biscoitos, querida, especialmente para você. – A mãe explicou, fazendo os músculos de Lilly tencionarem-se ao se lembrar do saco amassado que encontrara no armário da cozinha.
Lilly teve de mentir:
- Não os encontrei. Senti fome e saí para comprar algo...
- O que esperava encontrar na praia?
Os olhos da garota ficaram marejados ao entender que, para protegê-lo, precisava contar algo a seu pai. Mas... por que ela deveria fazer isso? A garota olhou por sobre o ombro, o rosto confuso de Lucian Campbell atrás dela, os cabelos bagunçados e a gengiva machucada, o colarinho da camisa todo desmantelado e os olhos tentando entender o que ela estava fazendo. Lilly já sabia a resposta. O protegeria porque, simplesmente, ele a fez sentir algo que ninguém jamais fizera.
- A princípio, nada..., estava apenas divagando, pensando no que poderia encontrar para jantar, mas então avistei um livro boiando perto da margem... eu o apanhei e, quando levantei, acabei tropeçando e caí sobre alguém... Lucian... – Ela olhou para ele. – O nome dele é Lucian.
O pai pareceu ainda mais furioso ao ouvir o nome do rapaz, era possível ver as narinas dilatadas e os punhos cerrados, agora que já estava de pé, sua altura descomunal afligiria a qualquer um, mas cada parte do corpo dela estava disposta a lutar.
- Não há porque machucá-lo por um erro que eu cometi, papai. – Ela não saiu da frente do rapaz, pelo contrário, estendeu sua mão para ajudá-lo a levantar, vendo-o grunhir conforme as pernas se esticavam e ele pressionava as costas da mão direita contra o lábio inferior, dolorido.
- Essa sua... essa sua compulsão por leitura... irá morrer por causa disso! – O pai berrou enquanto a mãe caminhava até ele, os cabelos presos num penteado alto nem se moviam com os ventos. – Você começa a ler, cria fantasias... histórias que não irão se realizar!
- Acalme-se, meu marido. – A mãe pediu, apoiando sua mão sobre o peito cansado do homem. – Lembre-se do coração...
- Cale a boca, mulher! – Retorquiu ele conforme os grossos braços gesticulavam por entre as sombras da praia. - Você nunca mais lerá um livro, Lilly Talbot! – Ele ordenou enquanto as lágrimas rolavam pelo rosto da garota, as sobrancelhas formando um arco enquanto o coração adoecia. – Eu a proíbo!
- Meu amor... – A mãe chamou.
- Não comece, Célia! Já tomei minha decisão...
Lucian mantinha a cabeça baixa e as mãos atrás das costas, sem jeito, sem saber o que fazer. Ele queria fazer algo, de fato, mas não sabia se iria apenas piorar as coisas para a garota.
- Ela precisa acordar para a realidade! – Ele esbravejou pela última vez e a agarrou pelo braço, tão forte quanto um alicate que seu polegar fez a pele doer, caminhando para longe de Lucian, arrastando-a sobre as pedras enquanto ela olhava por sobre os ombros uma última vez, os cabelos sendo vítimas da brisa do mar enquanto Lilly o observava até perdê-lo de vista.
*AAAAAAAAAAA FORAM MAIS DE 3500 PALAVRAS NO CAPÍTULO DE HOJE!!!!! Fico tão feliz de estar podendo entregar a vocês algo no qual estou me esforçando tanto!!!! E aí, o que acharam das cenas de hoje? Preparem-se que tem muito mais por vir!!!
*ATENÇÃO: Muitos casos de PLÁGIO estão ocorrendo no Wattpad, então, por favor, se virem algo de minha autoria em algum outro perfil DENUNCIEM e ME AVISEM!!!! Plágio é um crime que repudio ao máximo e que se, infelizmente, ocorrer, deixarei a plataforma, o que me partiria o coração, pois amo a interação que tenho com vocês. Por hora, é só. Até o próximo capítulo!!!!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top