NEGAÇÃO
(SEM REVISÃO)
DIEGO
Cheguei em casa exausto psicologicamente, tudo aquilo não para de se repetir em minha mente, quase bati a moto a caminho de casa porque estava distraído. Não se preocupem, não foi nada de mais, só preciso tomar uma ducha e descansar um pouco. Esse sábado já começou bem complicado.
Minha mente estava um turbilhão, Erick quase me beijou, uma parte de mim queria que ele me beijasse e isso me assusta muito. Afinal, é Erick, o babaca, egocêntrico, sarcástico, idiota e sem noção que me perseguiu a vida toda, quer dizer, pelo menos desde que nos conhecemos. Que fez da minha vida um inferno pelo tempo em que eu estudo no Atlas. Por que isso agora? O que mudou? Será isso um jogo? Erick estaria jogando comigo? Não me surpreenderia se estivesse. Ai que droga! Esses pensamentos conflitantes estão me matando e ainda têm esses sonhos que me perseguem. Qual é, eu nem acho ele tããão gostoso assim ao ponto de sonhar com aquele idiota, okay, talvez eu ache Erick isso sim. Não vou repetir a palavra, nem tentem.
Eu acho que Erick descobriu sobre o que eu fiz para eles perderem o jogo e agora está fazendo esse jogo para se vingar de mim. Deve ser isso, na verdade, só pode ser isso. Afinal, ninguém muda da água pro vinho de uma hora para outra. Eu não nasci ontem, aquele cretino deve está fazendo tudo isso para me "castigar".
Que puta bosta, como ele descobriu? Será que alguém contou? Pera, somente Nathy e eu sabíamos do plano, será que... Não, ela não faria isso comigo, ou faria??
- Você vai ficar parado aí feito um idiota olhando para o nada por muito tempo?
Saio dos meus pensamentos conflitantes ao ouvir a voz da minha irmã a poucos metros de mim, quando ela chegou ali? Pera, estou literalmente parado em frente a porta de entrada da sala de estar, segurando o capacete, encarando o nada e com expressão de quem estava totalmente pedido, mas, de fato, isso eu estava mesmo.
Letícia me olha com a sobrancelha erguida em questionamento, limpo a garganta e caminho para as escadas com intenção de ir ao meu quarto.
- Você acha mesmo que vai fugir de mim? - Leh pergunta atraindo de volta minha atenção para si. - O que aconteceu? E nem tente negar porque conheço você. Sei que aconteceu alguma coisa. - Falou vindo até mim, me pegando pelo braço e me puxando em direção ao sofá. Eu nem tentei resistir, sabia que ela me encheria o saco de todo o jeito, mas claro que não falaria nada para essa intrometida, se tem uma coisa que Letícia não sabe guardar, é segredo. Principalmente quando me envolve nele. Foi através dela que meus pais souberam que perdi a virgindade em uma balada e isso foi uma loucura porque meus pais achavam que foi abuso já que estava bêbado, por pouco alguém, seja quem for, iria levar um puta processo. Meus pais são meio cuidadosos demais.
Me deixei ser jogado no sofá, coloquei o capacete ao meu lado e olhei para a curiosa da minha irmã. Ela cruzou os braços me olhando de cima na espera de que eu fosse falar alguma coisa para ela.
- Vamos de uma vez Diego, eu sei que tem algo. - Falou meio impaciente, o que não é uma surpresa, afinal é a Letícia.
- Não aconteceu nada Letícia, só estou cansado. - Falei para distraí-la, mas não deu muito certo, porque a projeto de capiroto sorriu em escárnio e suspirou em seguida.
- Irmãozinho, irmãozinho, irmãozinho você acha que eu sou idiota? - Perguntou negando com a cabeça, olhei para ela como quem quer dizer: eu preciso realmente responder. - Guilherme me contou o que aconteceu. Bem instigante, devo dizer. - Minha irmã falou com o seu típico tom venenoso enquanto batia o dedo indicador no queixo de forma pensativa. Senti minha barriga congelar, arregalei os olhos levemente e senti vontade de correr para longe dela.
Mas como Guilherme poderia saber o que havia acontecido? Ele nem estava perto, ou estava e se fingiu de desentendido? Que merda, eu pensei que ele não tinha visto nada, que pestinha sem vergonha e traiçoeiro de uma figa. Se meu irmão viu o que aconteceu no canil da irmã de Erick e contou para a Letícia, eu estou muito ferrado, porque a essa altura a família inteira já sabe, mas que saco! Mas parecia que Guilherme não havia visto nada, mas vai que o nojentinho é um bom ator. Aaaaah que, puta merda!
Fiquei olhando para a minha irmã por alguns segundos enquanto refazia toda a cena na minha cabeça para ver se Guilherme realmente teria como ter visto algo e têm vários pontos que indicam que sim, ele poderia ter visto.
Eu estou muito, muito fodido.
- Não vai falar nada Diego? - Perguntou, me olhando com aquele olhar estudioso, onde ela faz uma leitura completa do meu comportamento e reação. Respirei fundo para não xingar aquele moleque de Araque. Letícia estava com os olhos vidrados em mim, então o melhor a se fazer nesse momento é, nada, isso mesmo não faça nada, apenas finja demência.
- Eu não faço a mínima ideia do que você está falando Letícia. - Falei tranquilamente, por fora, porque por dentro eu estava surtando. Ela sorriu cínica para mim e negou com a cabeça.
- Você realmente vai fazer isso? É sério que você vai jogar esse jogo? - Perguntou com a expressão travessa, mas me contive, bastante, para não demonstrar nenhuma expressão que me denunciasse.
- Que jogo? Não tem jogo nenhum, eu realmente não sei do que você está falando garota. - Disse meio impaciente, mas isso seria um sinal de que estou entrando na defensiva e logo não passaria despercebido por aquele projetinho de... alguma coisa. - Vá direto ao ponto Letícia. - Falei com a expressão relaxada como se não tivesse nada a esconder. Minha irmã suspirou profundamente.
- Okay então, já que você quer assim. - Falou sentando ao meu lado, me olhou curiosamente e devolvi o olhar em espera. Minha expressão estava calma, mas eu não estava assim tão tranquilo pois por dentro estava temeroso demais. Nervoso por meu irmão ter visto aquela cena, que nem eu mesmo sei denominar. Letícia fez uma expressão de travessa e nesse momento prendi a respiração disfarçadamente. - Você acha mesmo que o nosso irmão não me contaria sobre você está... tendo sonhos eróticos com o Erick? - Falou exatamente dessa forma, fazendo um suspense bem em meio a frase, o que me deixou ainda mais apreensivo. No fim, soltei a respiração em alívio. Caraca, as mãos até soaram agora.
Letícia me olhou com um misto de curiosidade e expectativa, meu coração ainda está acelerado, de certa forma sabia que Guilherme iria contar sobre o ocorrido de manhã, mas pensei mesmo que ele havia visto Erick e eu no corredor da loja da minha do moreno. Meus irmãos saberem disso seria um verdadeiro inferno, porque eles não me deixariam em paz e pediriam explicação sobre algo que nem EU sei explicar. Limpei as mãos suadas na calça jeans e tentei olhar para minha irmã com a expressão mais sarcástica possível, mesmo sentindo meu rosto levemente quente. Afinal, o pestinha contou algo particular meu e também pelo nervosismo de ela já saber sobre... Aquilo. Chamarei de "aquilo" porque não sei de outra forma de expressar.
- Você acredita em tudo que o Guilherme fala? Bem tola, não acha? - Perguntei com o sorriso de escárnio nos lábios e a sobrancelha erguida. Leh me fulminou com os olhos e logo depois me deu um tapa no ombro que senti a ardência na região atingida. - Ai! Está maluca garota?? - Falei pondo a mão onde minha irmã bateu e a olhei incrédulo.
- Não queira me fazer de tola seu idiota, você acha mesmo que eu não acredito? Talvez vocês não percebam, mas quando estão juntos vocês dois são um mar de tensão sexual, além disso têm aquelas olhadas nada sutis que o Erick dá para você e você fica parecendo um bobo toda vez que ele se aproxima como se estivesse esperando que ele fizesse algo, algo não ruim, mas como se esperasse que Erick beijasse você ou algo do tipo. Além disso, tem toda aquela coisa entre vocês ficarem o tempo todo se provocando com olhadas e gestos suspeitos e...
- Letícia pera! - Falei alto para interrompê-la porque aquilo estava me deixando ainda mais paranoico tudo aquilo que ela estava falando, se fosse realmente verdade, eu... Então pode realmente existir uma tensão sexual entre nós? Minha irmã parou e buscou fôlego para seus pulmões. - Isso não aconteceu em nenhum momento. Entre Erick e eu só existe uma coisa e tensão sexual não é essa COISA. Você está vendo coisas onde não existem e pare de ficar enchendo o meu saco em relação a isso porque não, isso não acontece entre Erick e eu. Além disso, sim eu tive um sonho erótico com aquele babaca, mas isso não quer dizer nada, absolutamente nada entendeu? Eu estou cansado, sentindo início de uma dor de cabeça e não estou com paciência para essas merdas de suposições, que são mentira, sobre mim e aquele idiota. Então para e não me enche o saco! - Falei tudo com irritação, falei com tanta frustração que não me dei conta que levantei do sofá e encarava minha irmã com os olhos ferozes. Minha respiração estava ofegante e minha voz se sobressaiu mais alto do que parecia na minha cabeça.
Letícia me olhava assustada, com os olhos levemente arregalados e uma postura de medo e surpresa. Me dei conta do que estava acontecendo, suspirei pesadamente em surpresa, sim surpresa, porque nunca agi dessa forma com minha irmã. Tudo bem que vez ou outra nós fazemos umas birras um com o outro, mas nada a esse ponto.
- Tá tudo bem aqui pessoal? - Guilherme fala atraindo nossa atenção para si, de onde ele saiu? Não faço ideia, sua expressão estava franzida em desentendimento. Ajeitei a postura e limpei a garganta.
- Está sim. Vou para o meu quarto. - Falei para eles, olhei mais uma vez para Letícia que ainda me olhava meio receosa e saí dali apressado.
Ao meio do caminho escutei meu irmão perguntar para Letícia a seguinte pergunta:
- O que você fez para ele?
- Eu não fiz nada! - Ouvi minha irmã responder com a voz um pouco alterada, depois disso não ouvi mais nada pois entrei no meu quarto, encostei as costas na porta e suspirei.
E foi nesse momento que tudo voltou à minha mente como uma bala de fuzil, desde o início até esse momento. Estava procurando a todo custo onde isso entre Erick e eu deixou de se tornar ódio para se tornar essa nova coisa. Mas tudo o que eu via em minha própria mente não me levavam a nada, porque para mim nunca dei sequer algum sinal de que essa tensão sexual entre nós existe. Mesmo todos afirmando que ela está ali sempre que estamos juntos. Porém, eu não consigo ver isso, talvez porque eu esteja de fora, digo, dentro disso. Sinceramente não faço ideia do que estou falando.
Minha mente trazia a tona memórias de tudo, exatamente tudo o que Erick havia feito comigo esses anos todos, todas as "brincadeiras" de mal gosto, todos os apelidos, todas as humilhações que ele me fez passar, todos os traumas que me fez adquirir, todos os medos que tive quando me tornei alvo dele, todas as inseguranças que tive em relação a mim mesmo e todos os fatos que nos levaram até aquele momento.
Em que momento Erick deixou de ser aquele babaca para se tornar o que me monstra desde algumas semanas atrás? Bem, essa eu sei responder, desde quando sabotei o uniforme dele e eles perderam o jogo. O que me faz pensar com certeza que ele está armando para mim, que está fazendo tudo isso para se vingar porque ele descobriu tudo e agora quer me fazer pagar. Mas em nenhum momento Erick demonstrou gostar de meninos, o cara tem até namorada, mas se bem que isso não quer dizer nada. Mas não muda o fato, Erick nunca, NUNCA demonstrou interesse por ninguém do mesmo sexo.
Por que caralhos agora ele está demonstrando? Por que comigo? Será que isso é realmente um joguinho dele? Será que aquele babaca sempre esteve no armário por isso a implicância todos esses anos comigo? Mas não faz sentindo na minha cabeça. Se Erick estivesse no armário, a ainda tem uma pergunta para isso, na verdade eu já fiz ela, por que comigo?
E para me ajudar ainda mais têm aqueles sonhos que não me deixam em paz. Se fosse apenas uma vez tudo bem, seria algo normal, mas foi mais de uma vez. É como se meu corpo quisesse aquilo. Ou meu inconsciente que me faz desejar tê-lo daquela forma.
- Droga, droga, droga e droga! - Murmurei em frustração com esses pensamentos conflitantes que me faz pensar em mil e umas possibilidades e muitas delas não são boas.
Minha cabeça está a ponto de explodir, preciso de um banho para descansar a mente, se é que um banho vai resolver isso. Eu me conheço, sei que não vou tirar isso da cabeça assim tão fácil.
Vou em direção ao banheiro, tiro minhas roupas, entro embaixo do chuveiro ligando o objeto logo em seguida e alguns segundos depois sinto a água fria em contato com o meu corpo. Enquanto a água passava por todo o meu corpo tentei relaxar o corpo o máximo que podia, fechei os olhos para me focar somente na sensação da água passando pela minha cabeça, depois pescoço, ombros, peito, tórax e pernas.
Por um momento eu realmente consegui me desligar de tudo ao meu redor, consegui focar minha mente em algo que não fosse tudo o que vem acontecendo, mas minha atenção foi entregue a uma pequena parte teimosa do meu cérebro que insistia em me trazer para tudo aquilo novamente. De repente, uma onda de pensamentos tomou conta de toda a minha mente.
E ali estava eu novamente perdido em todos aqueles mesmos pensamentos.
Minha mente foi tomada por memórias nenhum pouco agradáveis. Lembranças essas que tranquei bem no fundo do meu cérebro, as quais achei que nunca mais iria enfrenta-las.
Lembrei quando Erick me humilhou pelo meu corpo, pelo fato de ser estudioso demais, os apelidos desagradáveis e todo o resto. Porém, também lembrei das últimas semanas em como o moreno agiu diferente comigo. Lembrei o quanto ele estava gentil e generoso. Até mesmo fez um jogo psicológico para me ajudar a fazer aquela audição.
Mas tudo o que Erick está fazendo agora não muda o fato de tudo o que ele já fez no passado e o passado pesa mais que o presente, principalmente para quem foi atingindo tantas vezes como eu.
Eu preciso realmente descansar a mente ou eu vou explodir. Vesti uma muda de roupa qualquer, nem isso eu consegui me focar e hoje ainda tem aquela maldita festa. Sinceramente, minha vontade é de não ir a essa festa, mas não vou dá esse gostinho de vitória para Amanda, não mesmo.
Me olhei no espelho do meu guarda roupa, suspirei e olhando o meu reflexo decidi simplesmente ignorar tudo isso. Ignorar Erick, tudo o que está acontecendo e me focar somente na "iniciação" de hoje. Pensar demais nisso só me traria dor de cabeça então eu não pensarei. Consertei a postura e passei os dedos entre os fios úmidos do meu cabelo.
- Foque somente nessa iniciação, o resto, é somente isso... resto. - Digo para o meu reflexo, bloqueando qualquer pensamento que envolva aquele ser, vou para minha cama, pego o celular e fico assistindo alguns vídeos engraçados na internet. Isso ajuda bastante a você esquecer coisas incomodas.
XX...XX
Exatamente uma hora depois escuto batidas na minha porta, sei de quem se trata, na verdade demorou até mais que da última vez, porém mesmo assim resolvi perguntar.
- Quem é? - Falei com a voz rouca devido ao tempo que estava sem falar, limpei a garganta logo em seguida. Cinco segundos depois, tempo esse que tenho certeza que ela soltou um suspiro profundo.
- Sou eu. - Disse Letícia, simplista. Suspirei pesadamente para que ela ouvisse.
- O que você quer Letícia? - Perguntei sem interesse.
- Você quer abrir essa porta, por favor! - Falou sem nenhum um pingo de gentileza em sua voz.
Sei que minha irmã não iria sair dali até eu abrisse a porta, mas sinceramente não estou muito afim de olhar para o rosto dela nesse momento.
- Não quero olhar para você nesse momento, agradeceria muito se me deixasse em paz. - Falei preguiçosamente e não demorou muito para eu ouvir uma batida forte na porta.
- Ai, seu filho da... Abre essa porta agora Diego, senão eu mesmo vou abrir! - Disse de forma ameaçadora, o que me fez soltar um som em desdém.
- Quero ver você conseguir irmã! Boa sorte! - Falei em tom de deboche, sabendo que ela não teria forças para derrubar a porta, Letícia xingou do outro lado da porta.
- Tá bom então, foi você quem pediu. - Disse e logo ficou em silêncio, o que me fez estranhar, mas após uns dez segundos depois ouvi um baque tão forte na minha porta que achei mesmo que iria cair.
Tomei um puta susto com, acredito eu, aquele chute que Letícia deu da porta do meu quarto. Sentei na cama rapidamente, bloqueei o celular e quando estava me levantando para ir até a porta outro chute foi ouvido na coitada da porta que tremeu. Andei mais rápido para aquela maluca não derrubar a porta. Okay, eu subestimei a força da minha irmã, ela é bem mais forte do que imaginei.
Antes que ela desse outro chute, abri a porta e a encarei. Letícia estava pronta para dar outro chute na porta, sua perna estava no ar a caminho do seu alvo e vocês devem imaginar o que veio a seguir, abri a porta no momento errado porque o chute dela acertou minhas pernas o que me fez dar um grito de surpresa, dor e... Dor!
Letícia pôs as mãos na boca em susto e surpresa ao ver que tinha me acertado.
- AI!!! SUA FILHA DA... ÃÃÃÃH! - Disse em meio a dor que o seu chute me causou.
- Desculpa irmão, não foi por querer! Você que foi burro de abrir a porta bem no momento que iria a chutar de novo. - Falou ela em um tom de desespero ao me ver com dor, fuzilei elas com os olhos e desejei muito, muito mesmo pegar ela pelo pescoço. Respirei fundo, bem fundo mesmo para manter o autocontrole e sentei na minha cama massageando minhas pernas onde o chute dela acertou.
- Letícia, é melhor sair daqui antes que eu mate você! - Falei com os dentes trincados, eu duvidei da força dessa escroto que tenho como irmã e mais uma vez estou vendo que subestimei a força dela. Que filha da mãe!!
- Irmão, é sério, não foi por querer. Eu precisava falar com você, mas não iria abrir a porta. - Se explicou exasperada e veio lentamente em minha direção. Lancei um olhar sério à ela.
- Eu deixei bem claro que não queria falar com você minutos antes de agir como uma maluca e chutar minha porta. - Falei em um tom rude, Leh fez um movimento com a mão fazendo pouco caso e logo sentou ao meu lado.
- Então maninho, já que sua raiva já passou, temos que ir até o salão para nos prepararmos para a sua grande noite. - Disse com uma empolgação que não sei de onde ela tirou ainda mais nesse momento, porque eu só quero chutá-la, literalmente, para longe de mim.
Olhei para minha irmã com incredulidade e, por mais que a dor em minhas canelas estivesse passando levemente, rio em ironia e raiva.
- Você acha mesmo que eu, Diego, quero me preparar para aquela porcaria de festa? Aaah, mas vai à merda garota! - Falei com estresse, Letícia pareceu levar um soco no estômago e me olhou com os olhos afiados.
- Meu caro irmão, não faça-me dar-te outro chute porque desta vez vai doer mesmo! - Falou ameaçadora olhando em meus olhos, retribuo com olhar de desinteresse e dei de ombros. - Diego, não me teste, falei até palavras complicadas para você ver que não estou brincando. Como assim você não vai se preparar para a festa? - Perguntou, se pondo de pé e me encarou com os olhos cerrados.
- Letícia, eu estou ótimo do jeito que estou, não preciso me preparar para nada. Vou desta forma mesmo, para mim está ótimo. Ninguém vai reparar em mim mesmo. Já basta as roupas que você me obrigou a comprar.
- Oh meu caro irmão ingênuo, tenho que concordar que você tem alguma beleza, mas deixa eu falar umas verdades que você precisa ouvir. - Falou sem nem um pingo de modéstia e eu sabia que ela iria me detonar. Me levaria ao chão somente com palavras porque Letícia era assim. Suspirei me preparando para os tiros que virão. - Vamos começar pelo básico, o seu cabelo que não favorece você em nada esse corte não destaca a beleza do seu resto, não faz jus aos seus traços fáceis, essas sobrancelhas que você não faz á décadas que parecem, me desculpe a sinceridade irmão, dois poodles pretos na sua testa.
A essa altura de tudo isso eu já estava com a pouca autoestima que havia em mim bem baixa, quando essa coisinha quer falar os defeitos de alguém ela vai a fundo e a pessoa fica exatamente igual a mim neste momento ou até pior. Destruidora de autoestima, eu diria.
- Sem contar essa pele, sua pele está igual um pastel de venda de esquina de tão oleosa, e não me olhe assim você sabe que é verdade, essas olheiras embaixo dos olhos que faz você parecer um guaxinim, essa barba por fazer que apesar de não ter quase nada eu consigo ver e se eu consigo outras pessoas também e...
- Tudo bem, tudo bem. Só acho que você está falando tudo isso para eu ir com você. - Disse me levantando da cama e neguei com a cabeça. Letícia negou com a cabeça e me olhou chateada.
- Olha, meu querido irmão do coração, o qual eu amo muito, você acha mesmo que eu colocaria defeitos inexistentes em você só para ir comigo ao salão? - Perguntou de forma cínica, poderia não ser dessa forma, mas para mim pareceu. Olhei para minha irmã de olhos cerrados e a mesma suspirou. - Tá bom, eu faria muito isso, mas esse não é o caso irmão. Você realmente precisa de tudo o que falei, quer dizer, cuidar de tudo o que falei. Enfim, vamos logo! - Letícia completa e me olha suplicante, quem a ver com essa carinha não sabe o demônio que é, nos encaramos por alguns segundos, na verdade não queria ir mesmo com ela, mas minha irmã realmente não mentiu sobre algumas coisas e hoje tem aquela festa que vai ser minha iniciação em uma realidade completamente diferente da que eu estou acostumado. Então, por que não entrar em grande estilo? Suspiro e digo meio a contra gosto, mas só meio mesmo.
- Okay, vamos lá.
Letícia sorriu super feliz, veio até mim e me abraçou com empolgação.
- Te amo irmão! - Disse me dando beijos no rosto.
- Letícia, quer parar?! - Falo empurrando ela para longe de mim e limpo meu rosto onde seus beijos pegaram.
- Deixa de frescura seu idiota. Vamos logo! - Disse pegando meu braço com a intenção de me puxar para a saída, mas a impedi antes mesmo que desse o primeiro passo.
- Espera aí, vou só calçar meus tênis, por que não sei se reparou estou somente de meias nos pés. - Disse indicando meus pés, Leh olhou na direção que apontei e suspirou impaciente.
- E o que você está esperando, vai logo pôr esses tênis. - Falou com o tom impaciente, a olhei incrédulo e a mesma fez um sinal com a cabeça para que eu fosse de uma vez.
- Não sei o porquê de eu ainda aturar você. - Disse indo calçar meus tênis.
- Por que você me ama e sou sua irmã preferida. Vamos logo sua lesma.
Eu ri em escárnio porque essa fala foi deveras engraçada.
- Não se ache tanto criatura. - Disse me levantando, porque eu estava sentado para pôr os tênis, Letícia me puxou assim que teve a chance e juntos fomos em direção a saída.
No meio do caminho até a porta encontramos Guilherme com o filhote em seus braços. Tenho certeza que ele não vai soltar o cãozinho tão cedo.
- Onde vocês estão indo? - Perguntou nos olhando com o cenho franzido em questionamento e fez um carinho no seu cachorro. A pequena bolinha fechou os olhinhos em apreciação.
- Vamos ao salão de beleza. - Leh falou sem nem olhar para o nosso irmão e continuou me puxando pelo braço. Olhei para Gui por cima dos ombros.
- Vamos mesmo, mas vai ser rápido...
- Não, não vai. - Letícia me interrompeu e revirei os olhos. Guilherme nos olhou como se fossemos dois malucos. Obriguei minha irmã a parar e olhei para o meu irmão.
- Tome cuidado viu. Não apronte nada seu pivete. Logo, logo estamos de volta e qualquer coisa liga para a gente. - Disse para ele que me olhou com incredulidade e bufou.
- Tá bom, papai. - Falou com o tom irônico, o olhei com seriedade com a sobrancelha erguida e o mesmo suspirou. - Tá! Agora vai embora daqui, você está mesmo precisando ir ao salão. - Completou me dando as costas seguindo seu caminho fazendo carinho no filhote, olhei para Letícia sem acreditar que ele disse aquilo e ela me olhou como quem diz:
Eu te disse.
- Agora vamos. - Falou quase arrancando meu braço ao me puxar para sairmos.
- Ei, calma! E me solta que eu sei andar sozinho. - Disse puxando meu braço para que ela soltasse.
- Então anda rápido. Você pegou a chave da sua moto? - Perguntou e neguei com a cabeça. Letícia revirou os olhos e bufou impaciente. - Você é lerdo né Diego. Meu Deus, vai pegar essa chave logo criatura. - Ordenou ainda com o tom de impaciência, suspirei para me controlar ou eu chutaria essa garota na frente de um caminhão em movimento na primeira oportunidade que tivesse.
- Já volto sua escrota. - Falei lhe dando as costas e fui pegar as chaves rapidamente. Quando peguei as chaves e voltei, Letícia me esperava de braços cruzados.
- Vaaaaaaaamoooos. - Falou me apressando. A olhei com irritação.
- É melhor você baixar a bola ou eu volto lá para dentro e não vou para lugar nenhum. - Falei pegando meu capacete, que tive que pegar junto com as chaves porque estava lá dentro e entreguei, na verdade joguei, o outro para minha irmã que também tive que pegar lá dentro.
- Ai seu filho da mãe. - Reclamou quando lancei o capacete para ela. - Vamos logo e para de show Diego. - Completou pondo o capacete, coloquei o meu também, subimos na moto e dei partida indo em direção ao salão.
Chegando ao nosso destino, fizemos as devidas apresentações para a mãe de Nathy, sim, a mãe da minha amiga é dona de um salão de beleza, não, não só um, mas uns espalhados pela cidade.
Tânia ficou feliz em nos ver, abraçou a mim e minha irmã com ternura.
- Que saudade de vocês meninos. Como estão? O que vamos fazer hoje? - Perguntou empolgada e com o sorriso radiante em seus lábios. Tânia era a pessoa mais feliz que já vi, parecia que para ela não havia momento ruim.
- Estamos bem Tânia.
Letícia e eu falamos ao mesmo tempo, não foi intencional claro. Abri a boca para falar, mas não tive tempo pois minha querida, só que não, irmã me interrompeu antes mesmo de falar algo.
- Então, trouxe meu irmão aqui para você dar um belo trato nele. Não economize em nada Tânia, sabemos o quanto vai ser difícil para você, mas preciso desse carinha aqui LINDO. - Disse Letícia dando ênfase em lindo, a olhei de canto querendo mata-la, a mãe de Nathy sorriu ainda mais, seus olhos brilharam ao meu olhar e devo dizer que senti um pouquinho de medo.
- Ah, mas isso não vai ser difícil, ele já é lindo naturalmente. Mas vamos ver o que podemos melhorar.
Logo após falar isso, a mãe de Nathy, me virou para frente do espelho e começou o seu processo. Confesso que foi doloroso para mim. Vez ou outra Letícia comentava alguma coisa como:
- Você pode tirar um pouquinho a mais da sombrancelha dele, para ficar com aquela elevação perfeita... Isso!
Ou então era:
- Acho que esse corte combina mais com o perfil dele, não acha?!
- Talvez umas mechas, o que acha Diego?
Essa parte eu neguei, com toda a minha força, meu cabelo já era lindo e não precisava de química alguma.
- Faça aquele milagre que você sabe para tirar essas olheiras dele, por favor. - Leh falou e a outra assentiu com empolgação.
- Pode deixar. Você sairá daqui sendo outra pessoa, meu querido. - Afirmou Tânia.
- Essa é a ideia. - Letícia afirmou juntamente com a profissional e só pude sorrir em concordância.
Minhas irmã também se produziu para aquela noite. Estava fazendo cabelo, unhas e todas as coisas possíveis. Eu só queria que tudo aquilo acabasse logo para que pudesse ir para casa.
Depois de quase uma eternidade, pelo menos para mim, a mãe de Nathy estava finalizando meu cabelo e a sua parceira estava finalizando o da minha irmã. Olhei meu reflexo no espelho e quase me assustei.
- Você está perfeito irmão. - Letícia disse com o tom impressionado.
Sim, eu estava realmente perfeito.
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