IV.| O Cemitério

O silêncio reinava no cemitério solitário e triste. Apesar de ligeiramente fria, a noite até estava agradável para um passeio, e evidência disso era a cauda irrequieta de Anúbis.

Isabella acercou-se do túmulo da familiar falecida. Murmurou algumas palavras inteligíveis de pálpebras cerradas e depositou o ramo florido na lápide.

- Isabella! Isabella! - Chamou Diego, subitamente sobressaltado.

Perante a urgência na voz do irmão, a jovem cessou as suas preces. Por instinto, virou a cabeça para onde o rapaz apontava. Um vulto feminino de vestes brancas deambulava ao longe entre as sepulturas. Debruçava-se demoradamente sob as lápides e trazia uma expressão atenta no rosto.

- A mulher de branco! - Sussurrou o adolescente. - Dizem que é um espírito que protege o cemitério e ajuda as almas a atravessarem os mundos no Día de los Muertos.

- Pois. Acho melhor afastarmo-nos. Não queremos perturbar. - Sugeriu a rapariga. - Ei, Anúbis! Volta aqui!

Mas o cãozinho já estava a léguas de distância. Camuflado na vegetação rasteira das imediações, era impossível saber em que canto o canídeo se infiltrara.

Isabella e Diego enveredaram pelo mato com o coração nas mãos. Não era típico de Anúbis fugir assim dos donos. O animal devia ter um bom motivo para ter tomado aquele comportamento pouco usual. Talvez se tivesse assustado com o espírito.

- Anúbis! Anúbis! - Chamava a jovem.

- Anúbis! - Clamava ainda mais alto o miúdo.

Mas os gritos desesperados não surtiam efeito. O bicho continuava fugido e sem dar sinais de reaparecer.

A noite fazia-se escura e a ausência de candeeiros no mato tornava difícil identificar o animal de estatura baixa no meio das ervas daninhas, rainhas absolutistas naquele baldio. Nos peitos dos dois irmãos, palpitavam corações aflitos. O Xoloitzoquintle era bastante querido para os jovens e a mera ideia de regressar a casa sem o cãozito era desoladora.

No vazio impenetrante da densa vegetação, chegou aos olhos de Isabella uma imagem simultaneamente bela e estranha. Em plena noite de breu, centenas de borboletas-monarca reuniam-se em consonância, formando uma espécie de caminho que partia dos pés da rapariga. Parecia que cada inseto emitia uma luminescência laranja, chama tranquilizante na escuridão perturbadora.

- Olha, hermano!

- Mariposas! - Exclamou o rapaz, boquiaberto. - Mas tantas? E a uma hora destas? Bem, a migração delas bate com esta época do ano...

- Vamos segui-las!

- Porquê?

- Não temos nenhum trajeto planeado, pois não? Pelo menos evitamos que andemos em círculos.

(393 palavras)

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