Capítulo 5 - Escola das fadas

Após o café da manhã, Kangoroo e Dália me levaram a Escola das Fadas. Eu imaginei muitos cenários para este lugar em minha cabeça, mas nenhum deles foi parecido minimamente, com o lugar em que pousamos.

As fadas não eram divididas por cores como pensei que seria, os professores eram fadas em um tom de cor de um cinza-escuro, eles pareciam dispostos a matar qualquer aluno que não se comportasse devidamente, os alunos por sua vez, estavam sentados no chão em um semicírculo, não havia divisão para as salas ou carteiras.

Crianças e adolescentes partilhavam o mesmo espaço. Um dos professores explicava algo sobre defesa e ataque aos demais alunos, eu estava tão admirada com a beleza do lugar, observando as árvores imensas, os pilares de madeira que sustentavam um telhado feito de algum material que eu não reconheci, o lago com os peixes mais estranhos que pulavam pela superfície, eu podia jurar que vi alguns deles com asas, as borboletas e beija-flores que circundavam o lugar, parando vez ou outra numa rosa.

E animais pequenos e estranhos que eu não soube o que eram. Havia um pequeno animal de duas patas que era tão peludo quanto um coelho e completamente branco, tinha orelhas pequenas como as de um hamster, os olhos de um violeta lindo e o focinho de um rato. Quando m pegou espiando o pequeno roedor abriu suas asas que pareciam inexistentes momentos antes e voou para longe.

Havia uma ave empoleirada num dos galhos que tinha as penas que mudavam de cor a cada movimento, o bico dele parecia dourado, os olhos enormes e percebi que suas asas eram grandes demais para o corpo do pequeno animal, quando a criatura finalmente levantou voo.

- Bella? – Kangoroo me chamou e senti meu rosto esquentar ao ver que todos os olhos estavam voltados para mim e que eles falavam comigo há algum tempo.

- Sim? – Respondi encarando o chão.

- Este é Beidral. Sua aula será com ele hoje. – Encarei o homem que assentiu me encarando de um jeito intimidador. Comecei a esfregar o antebraço.

Encarei Dália que estava com um sorriso no rosto enquanto observava Kangoroo falar. A cada momento que passava com os dois eu tinha mais certeza dos sentimentos que tinham um pelo outro ou (eu não queria dar ouvidos a essa teoria) Dália me parecia mais suspeita. A margem do lago uma batalha começava entre uma fada azul e um garoto vermelho.

Os demais alunos se afastaram e ficaram todos atrás dos professores de cinza. Encarei os movimentos dos dois, a garota tinha um sorriso sarcástico no rosto e o garoto mantinha o rosto inexpressivo. Tudo começou rápido, o garoto disparou chamas pelos dedos direcionando-as a garota que ergueu uma barreira de água com a do lago abaixo de si, as chamas chiavam contra o escudo dela.

O vermelho voou sobre a barreira, disparando chamas em todas as direções, algumas vieram em nossa direção e um grito me escapou, antes da chama ser parada por uma barreira invisível que estava a frente dos professores, todos os olhos se voltaram para mim e vi um garoto de verde rir da minha reação.

Kangoroo e Dália pareciam tranquilos enquanto observavam a luta, eu engoli em seco enquanto tudo ficava mais rápido, o rapaz de vermelho tinha as roupas molhadas e já não conseguia lançar chamas como antes, a garota estava com o vestido chamuscado e o seu braço estava vermelho, o ambiente ao redor era desastroso. As chamas não se apagavam, mesmo sobre a água, continuavam queimando, os arbustos ao redor estavam em chamas.

Um assovio ensurdecedor foi ouvido e os dois pararam a luta, a garota caminhou até o rapaz e secou as roupas dele. Ele extinguiu o fogo ao redor e os dois caminharam em direção aos professores, uma fada rosa voou até eles e começou a verificar os ferimentos no braço da azul.

Observei a tudo em silêncio, treinar para me fortalecer seria bom, mas ao mesmo tempo como eu enfrentaria àquilo? Perguntei-me. Não havia sequer uma gota de magia no meu corpo.

- As fadas cinzas, tem o poder de criar escudos protetores, capaz de suportar qualquer magia sem ser comprometido. – Dália me explicou.

- Quase qualquer magia. – Disse o professor voltando seu olhar para mim.

- Não se subestimem, Beidral. – Kangoroo pediu com um sorriso.

Kangoroo e Dália despediram-se de mim e foram embora, tomei um lugar afastado de todos, não queria chamar atenção para mim. Beidral falou sobre a importância da velocidade em uma luta, o que tivesse maior velocidade, tinha mais chances de escapar ilesos de uma batalha.

Lembrei-me das aulas de educação física, nas quais eu tropeçava em mim mesma, chegava em último em corridas e sempre passava a bola para o time errado. Até que comecei a fugir delas. Ótimo, tenho grandes chances de sair ilesa de uma batalha.

- Annabella. – Chamou Beidral, o encarei sentindo todos os olhos sobre mim.

- Sim.

- Vamos ver o quão rápida você consegue ser. – Ordenou. Engoli em seco.

Havia olhos demais sobre mim para que eu contestasse a ordem. Meus pés descalços eram levemente furados por pedrinhas, enquanto eu caminhei com as mãos para trás em direção ao professor.

- No que você é boa? – Perguntou ele e eu permaneci encarando o chão.

- Com relação a esportes, nada.

- Vamos começar com algo simples então.

Ele chamou um garoto vestido de azul e mandou que este jogasse água em mim, eu deveria me esforçar para desviar de todos os ataques. Encarei o rapaz a minha frente e ele sorriu, então uma espécie de esfera de água surgiu em sua mão e ele a arremessou em minha direção, saí do caminho, mas não rápido o bastante a esfera atingiu meu ombro e uma dor leve se espalhou, junto com a água que encharcou meu vestido.

Ele acertou mais duas esferas, uma em minha barriga, outra em meu rosto, antes do professor interromper aquilo, porém eu já estava como corpo e o vestido completamente molhados.

O vestido pesava e eu precisei espremer as saias enquanto voltava a meu lugar atrás de todos, alguns riam de mim e Beidral me olhava com pena, eu quase podia ver o que ele pensava, que estavam perdidos, eu era um desastre, como poderia quebrar as maldições?

Beidral não se preocupou em pedir para o garoto tirar a água das minhas roupas, o garoto não se preocupou em fazê-lo e eu não queria me deixar afetar por isso.

Não o culpava por me odiar, assim como todos aqui. Ignorando o que ele continuava a dizer eu caminhei sem rumo para longe daquela droga toda e segui em direção ao único lugar que faria com que eu me obrigasse a manter a calma.

Sentei-me a poucos centímetros da margem do rio de dor e observei aquele maldito sofrimento. A vida inteira eu me perguntei o que havia feito para merecer passar o inferno em qualquer lugar que ia, no entanto nenhuma resposta me foi dada. Apanhei uma pedra e joguei dentro das águas que simplesmente engoliram a pedra e a superfície negra não se alterou.

- O que eu fiz? – Questionei quase gritando.

Não queria pensar no sangue daquelas pessoas que estava em minhas mãos, às fadas que tiraram a própria vida por causa da minha tristeza. Quem criou este rio não tinha nenhum senso de humor.

- Encontrei você. – Kangoroo disse atrás de mim, não me die o trabalho de virar-me.

- Devo voltar a passar vergonha? – Inquiri.

- Onde você esteve passando vergonha?

- Não sei, talvez naquela escola. – Ele não falou nada apenas sentou-se ao meu lado e me olhou, com olhos de pena. – Isso é ridículo Kangoroo, eu não tenho magia, não faz sentido ir àquelas aulas, eu apenas passo vergonha.

- É só o primeiro dia...

- Ótimo, haverá mais dias para minha humilhação atingir níveis alarmantes.

- Você vai desistir?

- Vamos encarar a realidade, alteza. Eu nunca estarei pronta para isso. Jamais conseguirei quebrar as maldições. – Afirmei e o olhar de Kangoroo tronou-se insuportavelmente pesaroso. Eu suspirei. – Não vou desistir.

- Vou levar você de volta, precisa comer. – O príncipe sorriu.

Fiquei de pé e pus as mãos em volta do pescoço dele. Nós voamos até a casa da monarquia, fui direto para o quarto que me deram, fechei a porta atrás de mim e recostei-me a ela. Tirei o vestido encharcado e sujo de terra antes de ir ao banheiro.

A banheira estava cheia e eu não hesitei antes de entrar nela, demorei mais do que deveria, pois Celósia veio me chamar para comer. Ela me ajudou a vestir o ridículo e inútil vestido preto.

- Como foi o seu dia? – Ela inquiriu.

- Pior do que você poderia imaginar.

- Vai melhorar. – Eu quis dar uma resposta ácida, mas resolvi segurar minha língua, essas pessoas haviam me acolhido e me tratavam melhor do que jamais fui tratada.

Então fomos até a sala de jantar onde todos já estavam, Kangoroo provavelmente avisara sobre meu mau humor com relação às aulas, pois ninguém tocou no assunto.

Durante a tarde descobri uma biblioteca na imensa casa da corte. Esgueirei-me para dentro e observei os livros perfeitamente arrumados em estantes, apanhei uma cópia e resolvi procurar um lugar isolado lá dentro para ler.

Sentei-me num canto e comecei a ler, era uma história sobre um elfo e uma fada, um romance proibido. O elfo era sempre um grosseiro com ela e a fada sempre tinha uma resposta na ponta da língua para lhe dar, não pude deixar de sorrir em algumas partes.

Ouvi passos entrando no cômodo, engatinhei para ainda mais longe, até que sons de vozes baixas chegaram até mim.

- Você acha que ela vai conseguir? – Era a voz de Celósia.

- Ela estava prestes a desistir hoje.

- Ela não pode desistir, hoje aquela mulher quase caiu sobre as pedras, se ela tivesse caído lá, estaria morta. – Celósia comentou irritada.

- Não podemos obrigá-la a nos ajudar, além disso, Beidral me disse que ela não tem nenhuma velocidade, seria impossível entrar lá e sair com vida.

- Ninguém sabe o que tem nesses lugares de quebra de maldição. – Rebateu a garota.

Afastei-me de costas, cada vez mais para o canto oposto da sala, até que esbarrei em alguém, levei as mãos à boca para me impedir de gritar e virei-me, Oncidium estava sentado no chão e tinha um livro aberto em seu colo. Ele me encarava e permanecemos em silêncio, até que as vozes dos dois saíram da biblioteca.

- Eu sinto muito, vossa alteza. – Pedi. – Eu só estava...

- Ouvindo a conversa. – Disse ele me interrompendo e senti minhas bochechas corarem.

- É só que eles falavam de mim e...

- E você achou que precisava ouvir. – Meu queixo caiu.

- Você lê mentes? – Questionei.

- Sim, mas não li a sua, você só demonstra demais o que pensa.
Sorri desconfortável e apanhei o livro, pronta para me afastar do príncipe que parecia gostar demais da solidão, o olhar de Oncidium recaiu sobre o título.

- O senhor já leu? – Questionei.

- Uma vez, muito tempo atrás. – Disse. – Se você gosta de romances vai gostar desse livro. Por que se escondeu dos meus irmãos?

- O senhor não entenderia. – Afirmei desviando o olhar do rosto dele.
Oncidium fechou o livro, mas não foi embora como imaginei que faria.

- Explique-me então.

- Isso foi uma ordem do príncipe de Sakuraqueen? – Inquiri com um sorriso tentando mudar de assunto, ele ergueu uma sobrancelha, bufei revirando os olhos e sentei-me. – Eu nunca tive uma responsabilidade como esta, gostava de ser invisível, mas aqui, aonde quer que eu vá, tem sempre alguém me olhando. Sou responsável pela morte de muitos do seu povo.

- Você os está atacando enquanto dormem? – O encarei confusa diante da pergunta. – Você quebra as asas deles para que caíam em pleno voo?
- Não. – Respondi quando vi que ele não falaria mais.

- Então como pode ser a responsável por suas mortes?

- Mas só eu posso quebrar as maldições...

- Isso é uma teoria Bella, ninguém tem certeza disso, só por você ser ligada ao rio de dor não quer dizer que consiga quebrar as maldições. – Travei ao ouvir meu apelido.

- Mas o Rio de dor e as pessoas que entraram...

- Ninguém entrou lá sem conhecer os riscos e foram mortos por não suportarem o próprio sofrimento.

- Mas ele está destruindo o seu mundo.

- Tudo acaba. Nada é completamente imortal. – Meu coração martelava em meu peito. – Você é uma garota jovem, a qual coisas terríveis aconteceram. Mas não se culpe por algo que ninguém sabe a razão. Estamos amaldiçoados por um erro nosso e não por culpa sua.

Qual teria sido esse erro? Perguntei-me, todavia não tinha certeza se ele responderia. Desviei os olhos dos dele e apanhei o livro.

- Obrigada pela conversa, alteza. – Levantei-me.

- Não quer ajuda para melhorar sua velocidade? – Perguntou fazendo-me parar.

- Por que você me ajudaria?

- Porque entendo a solidão. – Explicou ficando de pé, precisei erguer a cabeça para olhá-lo. Sem uma resposta minha, Oncidium começou a se afastar.

- Tudo bem, aceito sua ajuda.

- Então faremos isso em segredo. – Avisou.

- Como?

- Me encontre na varanda pela madrugada e eu sugiro que vista o vestido mais confortável que encontrar. – Disse ele. – Esses espartilhos não são úteis.

Assenti.

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