Capítulo 5 (rascunho)
"A tristeza de uma despedida é necessária para que haja a alegria de um reencontro."
Edmundo Dragon Heart.
Arthur voltou ao presente, suspirou fundo e levantou-se da mesa, saindo quase sem comer e subindo para o seu quarto. Fez as malas e desceu, fechando a conta do hotel. Pegou um táxi para o aeroporto de Nice e comprou uma passagem para Seul no primeiro avião disponível. Entrou no aparelho sem olhar para trás e sentou-se na sua poltrona da primeira classe, tentando relaxar e esquecer a Laura, tarefa quase impossível pois a mulher não lhe saía da cabeça. Ela era como uma nova Anna, uma nova chance de ser feliz com alguém que parecia ser muito especial, tanto quanto foi a primeira namorada ou a falecida esposa. Era para ser um recomeço, mas tornou-se mais um vazio na sua vida já tão solitária. Ele teve de confessar que não entendia esse sentimento tão forte e repentino que sentiu em menos de um dia, mas, tirando a tristeza de não a ter ao seu lado, foi uma sensação boa e muito bem-vinda para preencher a sua vida vazia. Fazia pouco menos de cinco anos que perdera a esposa e desde então não se envolvera com nenhuma mulher, isso por opção sua, pois era um homem atraente que chamava a atenção das mulheres e sabia disso.
A realidade nua e crua era que a Laura lhe despertou um sentimento tão forte quanto foi o que teve com a Anna, o seu grande amor de verão. Mesmo tendo amado a Luana, o sentimento que despertara era muito, muito mais intenso. Abanou a cabeça como que a afugentar os pensamentos, suspirou e recostou-se. Aproveitando que tinha conexão de internet no avião, usou-a para conversar com a Lana, sua Inteligência Artificial.
A viajem era bastante longa e cansativa, mas o cientista estava bastante curioso para conhecer aquela região do mundo, uma que desconhecia por completo e, pelo que lera, guardava belezas naturais de vários tipos, sem falar na gastronomia e hábitos do povo.
Quando se cansou de conversar com a IA e por ter facilidade com idiomas, pegou o tradutor do telefone e começou a memorizar palavras e frases chaves do coreano. Isso ajudou a passar o tempo e, quando se deu conta, já pousava. No hotel, descansou algumas horas, aproveitando que era noite e, de manhã cedo, levantou-se descansado e decidido a passear bastante.
Ficou duas semanas na Coreia do Sul e conheceu outros lugares além da capital, tal como a famosa cidade costeira de Busan e a ilha de Jeju. Seguindo o planejamento inicial, pegou um barco para o Japão e continuou o seu passeio, descendo por Taiwan e seguindo para as Filipinas para depois conhecer a Tailândia.
― ☼ ―
Nessa peregrinação, Arthur passou dois meses e meio e visitou seis países asiáticos, aproveitando para conhecer coisas novas. Alimentou a sua AI com bastantes informações relevantes, em especial de comportamentos humanos diferentes do seu padrão. Por muitas vezes imaginou-se passeando com a Laura ao seu lado e começou a arquitetar um plano de a procurar em São Francisco, uma vez que não deveriam haver muitas editoras de moda por lá. A verdade era que a mulher que encontrou em Cannes apareceu para ficar e ele desejava-a muito.
Ao retornar para a Europa, desceu na Turquia porque desejava conhecer um pouco daquele país cheio de história, em especial a capital Istambul, a cidade que em um passado não tão remoto já foi Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente. Só a Catedral de Santa Sofia já valia a visita, mas, na manhã seguinte, Arthur escolheu passear de balão na Capadócia, algo de uma beleza peculiar e famoso em todo o mundo.
O dia estava perfeito e sem nuvens, o que facilitaria a vista das coisas do alto. Além disso, um vento suave era garantia de que o passeio seria muito bom, uma vez que não ficariam parados à deriva.
Como a meteorologia havia dito que o tempo estaria ótimo, havia bastante gente, a maioria absoluta de turistas, aguardando para embarcarem nos balões. Nesse momento, ele viu alguém de costas, alguém familiar e que tirava fotografias dos balões ainda no solo; alguns inflando e outros já quase prontos para saírem. Foi uma sensação tão forte que o coração acelerou, mesmo sem ter visto o rosto da mulher. Ela transmitia uma grande familiaridade e o cheiro que o vento carregava e que vinha da sua direção era o mesmo da sua querida Laura. Cheio de esperança, aproximou-se dela e reconheceu-a, sentindo uma felicidade verdadeira pela primeira vez em mais de dois meses. Só então deu-se conta da sorte que teve em encontrá-la ali, tão longe do país dela e sem qualquer tipo de combinação. Em outros tempos, Arthur diria que era assim porque "estava escrito", mas a sua fé foi muito abalada quando a Anna desaparecera no nada. Ofegante e quase gaguejando, aproximou-se:
– Oi, Laura! – disse ele e a voz até tremeu um pouco –. estava com muitas saudades tuas. Na verdade, estava morrendo de saudades. Tu nem imaginas quantas vezes eu desejei te encontrar...
A mulher virou-se e o seu sorriso aumentou ainda mais, mas ela reagiu de forma bem fria:
– Bom dia, Arthur – disse, sem ao menos um sorriso. O seu rosto estava impassível. – Veio passear de balão?
Era nítido que a garota estava muito aborrecida e nada receptiva, deixando Arthur sem entender os motivos, apesar de achar que podia ser o fato de não lhe ter ligado. A moça apenas não sabia o porquê disso e ele queria contar logo o que acontecera.
– Sim – respondeu, perdendo o sorriso aos poucos. – Laura, eu fiz algo de errado? Queria tanto te encontrar; estava cheio de saudades e não conseguia parar de pensar em ti, mas, infelizmente...
– Que eu saiba – interrompeu ela, mais zangada e usando um tom de voz bem seco, quase que de desprezo –, lembro-me com toda a clareza de ter deixado uma mensagem com o meu telefone e o motivo da minha saída de Cannes às pressas, então não entendo por que não me procurou, se queria tanto falar comigo.
Uma rajada de vento um pouco mais forte fez o cabelo da mulher voar sobre o rosto e Laura ajeitou com a mão, puxando-o para trás da orelha. Arthur ficou estasiado, olhando aquele gesto simples, mas que desnudara o pescoço que ele adoraria beijar naquele momento. Parando de pensar naquilo e voltando ao foco do problema, ele pegou a carteira do bolso de dentro do paletó e ensaiou um pequeno sorriso:
– Eu queria, minha linda – respondeu o cientista, tirando um envelope de dentro da carteira. Estendeu-lhe e continuou. – Tanto que ando sempre com a tua mensagem. O problema é que a recebi assim e foi impossível conseguir decifrar o teu número.
Quando a mulher viu o estado do recado, arregalou os olhos, ficou boquiaberta e Arthur complementou:
– Infelizmente, por questões de segurança e privacidade, o hotel não fornece o telefone dos clientes e foi assim que fiquei morrendo de saudades e sem saber mais nada de ti! Não imaginas como estou feliz de te ver de novo.
Ela olhou mais uma vez para o papel e encarou Arthur, aproximando-se. Segurou a mão dele.
– Acho que te devo desculpas – começou Laura, meio sem jeito e dando um sorriso tímido. – É que também fiquei muito frustrada porque não conseguia deixar de pensar em ti e achei que tu querias apenas uma diversão...
– Então esqueçamos isso – disse ele, estendendo os braços –, mas só perdoo se me deres um abraço porque admito que fiquei demasiado carente com a tua ausência por este período. Desde aquele dia, em Cannes, eu não consigo parar de pensar em ti. Acho que foi o tal de amor à primeira vista! Tudo o que eu mais desejo é sentir o teu corpo colado a mim em um abraço bem gostoso.
Não foi necessário outro convite e a moça saltou para os braços dele, onde terminaram em um grande beijo cheio de saudades.
– Senhora Evans – disse um balonista, interrompendo. – Só falta a senhora para embarcar. Cavalheiro, infelizmente não há espaço para o senhor, se estão juntos.
– Ela vai comigo, mas pode ficar com o pagamento – disse Arthur, dispensando o sujeito e puxando-a para o seu balão, que já estava quase pronto para sair. – Eu comprei uma passagem particular, então seremos apenas nós e o piloto. Afinal, o que aconteceu em Cannes?
– A minha avó materna faleceu de repente e tive que voar para Nova York às pressas – explicou a moça. – No final, acabei aceitando aquele emprego e vim aqui entrevistar um escritor turco. Agora estou muito feliz por isso, já que te reencontrei. Nunca fui muito de acreditar em destino, mas admito que pode ser exatamente isso! Infelizmente, amanhã preciso de retornar para os Estados Unidos. Me dá o teu telefone.
Arthur entregou o aparelho e ela escreveu o seu número, gravando na agenda e ligando para si de modo a pegar o dele. Feliz, devolveu o celular e disse:
– Pronto, agora não tem mais perigo de dar problema. Tenho o teu número e tu o meu.
Arthur riu e beijou-a. A seguir, perguntou:
– Não podes ficar por alguns dias mais? – voltou a beijá-la. – Estou com excesso de saudades e carente. Já que andas para cima e para baixo por este mundo, uns dias não fariam diferença.
– Infelizmente não, pois sou nova no trabalho, mas tu podes me visitar em Nova York.
– Combinado – disse Arthur, alegre. – Daqui a uma semana eu vou ver a minha filha e, depois, vou a Nova York te encontrar antes que morra de saudades.
Laura riu e abraçou-o, feliz. Arthur notou que ela sempre foi muito bela, mas, agora que estava nos seus braços, parecia deslumbrante; parecia brilhar e exalar felicidade. Após mais um beijo doce, a garota virou-se para a paisagem, maravilhada. Os dois adoraram o passeio de balão e tiraram centenas de fotografias, mas não se soltavam mais. Novamente, Arthur descobriu que estavam no mesmo hotel e jantaram juntos, só que acabaram mesmo é no quarto dele onde dormiram muito bem após uma longa diversão por grande parte da noite.
De manhã cedo, Laura preparou-se e pegou a sua mala no quarto dela. Arthur decidiu acompanhá-la ao aeroporto e já estavam no táxi quando o telefone da moça tocou. Arthur viu a imagem de um jovem simpático.
– Oi, William, meu filho – disse a mulher –, estou a caminho do aeroporto. A gente se fala quando eu chegar.
– "Ok, mom. Love you."
– Teu filho? – engraçado, mas achei a foto dele meio parecida comigo, quando era mais jovem!
– A minha mãe diz que ele puxou ao pai, só que tem muito de mim, como os cabelos castanhos e olhos âmbar. Formou-se muito jovem e hoje é professor em Harvard.
– E o pai?
– Nunca mais o vi. Naquela época eu o amava muito, mas o destino não quis isso e acabamos separados.
– Sinto muito. De qualquer forma, agora tens a mim.
– O engraçado é que também te acho parecido com o pai dele e vocês até têm o mesmo nome. Mas passaram tantos anos que provavelmente é apenas uma ilusão da minha cabeça, sem falar que ele não é inglês. Eu fiquei sem nenhuma recordação dele, então meio que não consigo lembrar de fato a sua aparência. Acho que a minha imaginação foi recriando as lacunas e hoje acredito que nem o reconheceria. Mas o nome dele não esqueci e era Arthur.
– Bem, minha princesa, com eu disse antes, agora tens a mim – disse ele, já no portão de embarque. – A gente se vê em um ou dois meses, mas eu te ligo todos os dias, prometo.
– Vou cobrar – disse a moça, despedindo-se com um longo beijo. – Eu acho que vou morrer de saudades.
– Também vou, Laurinha, mas será por pouco tempo. Depois, quando nos reencontrarmos, podemos falar sobre o nosso futuro, juntos, se tu quiseres.
– Tá, combinado.
Com mais um beijo ela entrou na sala de embarque e o namorado retornou.
― ☼ ―
Arthur sentia-se feliz como não acontecia há muitos anos. Laura era tudo para ele, muito mais do que esperava ou imaginou encontrar depois de tanto tempo. Além disso, o jeito dela lhe trazia muito da Anna, coisa que o deixava ainda mais apaixonado, como um renascimento. Já estava na Turquia há cinco dias e, como prometera, ligava para ela diariamente onde conversavam por um longo tempo, apesar do fuso horário.
Naquela manhã, Arthur saiu a caminhar pelas ruas com a máquina fotográfica na mão. Estava um dia lindo, ensolarado, mas não muito quente e uma brisa leve tornava-o ainda mais agradável, não só para ele, mas também para os pássaros que chilreavam por todos os lados. Vestia um terno leve, sem gravata e de forma mais esportiva, caminhando sem destino pela cidade e fotografando de tudo, como sempre fazia desde jovem. Fotografar assim já lhe rendeu uns bons flagrantes de coisas que não viu na hora e ele divertia-se bastante com isso. Gastou quase todo o dia nesse passeio, almoçando em um restaurante que encontrou ao virar uma esquina. Essa era outra coisa que ele gostava de experimentar: comidas exóticas de outros países. O lugar tinha aspecto muito limpo e ele entrou, comendo bem. Depois, continuou o seu "Safári Fotográfico".
A tarde estava a meio e ainda ainda andava ao acaso quando notou que passava em frente à embaixada dos Estados Unidos, logo pensando na Laura e que, em breve, a veria de novo.
Ali não havia nada de especial para ser fotografado e ele virou-se para pegar uma rua transversal, até porque já estava ficando tarde e desejava ligar para a namorada.
Nesse momento, um carro com batedores aproximou-se. Tinha a bandeira de Israel e devia ser alguma visita oficial para o governo americano. Não demorou muito e Arthur lembrou-se de que havia uma reunião dos países da ONU em Istambul. Não se lembrava exatamente o que era nem lhe interessava muito, motivo pelo qual não deu a menor importância ao fato.
Tirou uma foto do carro e continuou andando, quando um grupo de homens pesadamente armados surgiu "do nada" e começou a atirar no carro e nos batedores, matando-os quase todos. Os poucos que escaparam pegaram em armas e protegeram-se atrás das motos caídas, formando uma pequena barricada e atirando nos terroristas, mas o carro ficou preso, sem chance de poder fugir dali. Arthur, quando viu os criminosos, tratou de se proteger, só que começou a fotografar tudo. Notou que o carro parado era à prova de balas. Nesse momento, um dos terroristas apareceu, correndo com uma bazuca e parando a menos de cinco metros dele.
Arthur nem pensou duas vezes, Colocou a câmera a tiracolo e apressou-se a atacar o homem que perdeu a arma logo no primeiro golpe. A seguir, Arthur estrangulou-o mas viu um dos companheiros virar-se para o abater a tiros de metralhadora. Ele notou o punhal que o terrorista que sufocava ia pegar e arrancou-o do cinto, arremessando e acertando o outro atacante na garganta. Quando a bazuca rolou pelo chão, Arthur quebrou a coluna do terrorista, matando-o, e correu para o lado, pois chamara a atenção dos demais companheiros. Alcançou um terceiro antes que ele erguesse a arma quando uma bala zuniu bem perto do seu rosto. Arthur abaixou-se e pegou outro punhal que aquele sujeito também carregava. Rasgou-lhe a garganta e jogou-se ao chão bem a tempo de escapar de um tiro direto. Virou-se e viu que o homem que o ia alvejar foi morto por um dos militares da escolta; aproveitou e levantou-se, correndo para o penúltimo criminoso, enquanto o último era alvejado. Nesse momento, trinta soldados americanos tomaram o lugar e deram ordem de soltar armas aos berros. Arthur largou a faca e ergueu as mãos, ainda virado para o terrorista. Este último, ergueu a arma e atirou em Arthur, que foi atingido no peito. Quando caiu, ainda ouviu os mais de trinta tiros que deram um fim no último assassino. Depois, foi apenas silêncio e escuridão.
― ☼ ―
Em Nova York, Laura estava muito preocupada pois já tinha passado a hora costumeira do Arthur ligar. Ela estava com a mãe e ia apresentá-la ao namorado. Cansada de esperar, a mãe ligou a televisão e via o noticiário quando apareceu a notícia do atentado contra o primeiro ministro de Israel em Istambul.
– Filha, vem ver isto, rápido. É lá na Turquia. Não é onde o teu namorado está?
O jornal conseguiu imagens de câmeras de tráfego e elas viram o atentado desde o início.
– Esse homem parece muito com alguém conhecido que não lembro quem é! – exclamou a mãe. – Céus, ele é um exército de um homem só!
Quando Laura reconheceu Arthur, as suas pernas começaram a tremer muito, olhando para as imagens e cada vez mais nervosa.
– Ó meu Deus, mãe – disse, com a voz embargada e sentindo lágrimas nos olhos. – Ele é o meu namorado, era ele que devia ter ligado para mim há meia hora.
Quando a mulher o viu cair baleado, despencou sobre o sofá e desandou aos prantos. Preocupada, a mãe abraçou a filha, mas prestava atenção à TV, tentando saber o máximo possível. Foi quando o repórter disse que o herói anônimo que salvou a vida do primeiro ministro de Israel não resistiu e faleceu durante a cirurgia.
Chorando copiosamente e com as mãos a tremer, Laura levantou-se e pegou o seu telefone, tentando ligar para o número dele. Com a vista tolhida pelas lágrimas errava sem parar, até que a mãe pegou o telefone da sua mão e localizou o namorado da filha na agenda, ligando para ele. Tudo o que recebia era a informação de que o aparelho estava desligado ou fora de área.
Desesperada, Laura chorava sem parar e a mãe tentava consolá-la em vão, até que a filha adormeceu ainda com pequenas convulsões. Aproveitou para ligar para o neto, contando-lhe o ocorrido.
Preocupada demais com a filha, foi pesquisar na internet dados sobre o atentado. Após muito procurar soube que o herói desconhecido era um cientista britânico, professor na universidade de Oxford que se demitira pouco tempo antes e tirava férias. Para infelicidade da filha, as informações batiam e ela sentia-se ainda mais apreensiva. Laura já sofrera muito por causa do pai do filho e merecia um pouco de paz, mas, mais uma vez, foi separada de forma brusca da pessoa que amava.
― ☼ ―
Nice – Bela cidade da Riviera Francesa a vinte quilômetros de Cannes, o local com o aeroporto internacional mais próximo da região.
Ok, mom. Love you. — Inglês: "Tá legal, mãe, amo você." T. A.
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