Capítulo 3 parte 1 (rascunho)
"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
William Shakespeare.
Arthur estava na terceira passagem quando avistou Anna sentada na areia, sorrindo. Ele acenou e continuou a corrida, acelerando bastante o passo para acabar mais rápido, terminando quinze minutos depois. Ofegante, aproximou-se dela e sentou-se ao seu lado. Virou o rosto e disse, sorridente:
– Oi, esperaste muito?
– Não. De qualquer forma não tenho nada para fazer e estava no maior tédio. Estou sozinha em casa porque meus pais estão no exterior e só voltam dia vinte e dois.
– Caramba! – exclamou Arthur, alarmado. – Tu ficas sozinha nesse baita casarão? Deve ser um pouco intimidador. Queres jantar com a gente? Meu pai e meu tio vão fazer churrasco e olha que o deles é maravilhoso, eu te garanto.
– Não me sinto bem porque sempre fui um tanto quanto grosseira com a tua prima.
– Mas tu és um doce de pessoa, Anna; por que fizeste isso?
– Eu evito fazer amizades porque acabo sofrendo depois. Foi sempre assim, a minha vida; completamente vazia!
Arthur viu uma lágrima caindo dos seus olhos e pegou a sua face, secando com a ponta do dedo. Suave, acrescentou, olhando direto nos seus olhos:
– Mas pelo menos tu terias feito amizades e sido feliz por esse tempo, mesmo sendo curto. Depois vem a saudade, mas, hoje em dia temos a internet que ajuda a manter contato, meu anjinho. Vamos, vem comigo que a Mariana não guarda rancor de nada nem de ninguém e vai te receber muito bem.
A garota olhou nos olhos de Arthur e, em um impulso repentino, beijou-o com carinho. Quando se afastou, o amigo disse, sorridente:
– Acho que o meu coração nunca mais vai voltar a bater devagar.
A moça levantou-se, rindo, e Arthur acompanhou-a. Voltaram a se beijar e ele pegou a sua mão, puxando-a para casa. Ao entrar, disse:
– Tio, trouxe mais uma convidada para o jantar, então tratem de caprichar. Esta é a Anna.
– Oi, Anna – disseram os pais e tios do jovem. Otávio continuou –, que bom que finalmente nos conhecemos melhor. Senta aí e fica à vontade.
Mariana apareceu e Arthur chamou-a com um sinal.
– Priminha, fazes companhia para a Anna que eu vou tomar banho para tirar o suor da corrida?
– Claro, gato – respondeu, sorridente. Virou-se para a moça e continuou. – Oi, Anna, queres beber alguma coisa?
– Obrigada. Suco ou refrigerante.
– Então, tá. Vou tomar o meu banho e já volto – disse Arthur, piscando o olho para a garota.
Quando o jovem retornou de banho tomado, as duas moças estavam descontraídas, conversando e rindo, sentadas em uma mesa junto à piscina e perto da churrasqueira. Ele olhou para ambas, estasiado e feliz. Sentou-se no meio delas e disse, pegando a mão de cada uma, risonho.
– Bah, tchê, eu devo ser o cara mais sortudo do mundo com as duas gatas mais lindas e perfeitas de Niterói.
– Pois é – ripostou Mariana. – Você tem sorte, mas nós somos duas e você é um, então nós estamos discutindo a divisão. Segundas, quartas e sextas você fica com uma, terças quintas e sábados com a outra. Domingo você recupera a energia.
– Tenho uma ideia melhor – arrematou Arthur, pegando a cerveja da prima e dando um gole –, fazemos ao padrão dom Flor e suas duas esposas. As duas juntas, que tal?
– Mas que cara de pau mais tarado – comentou Anna, rindo muito.
Divertiram-se bastante e comeram bem. Depois, Arthur ofereceu-se para levar a garota para casa e ficaram bem quinze minutos aos beijos.
– Obrigada, meu amor – disse a moça. – Por tua causa, eu comecei a sentir alguma felicidade. Foi muito gostoso ter participado da tua família e eles são todos muito legais.
– Sabes, eu tenho uma intuição que o nosso destino está ligado. Quando eu for, tenho a certeza que voltaremos a nos encontrar. Tenho uma fé inabalável nisso. Eu nunca senti algo tão forte!
– Nem eu, Arthur – beijou-o de novo e acrescentou. – Está tarde, é melhor tu ires. Adeus, meu amor.
– Adeus, coração.
Arthur deu meia volta e retornou para casa. Os pais e tios bebiam juto à churrasqueira. Quando o viram, a mãe disse:
– Que gata, hein, filho? Nossa senhora!
– E você tinha razão, Arthur – disse o tio. – Ela é mesmo um doce de pessoa.
– Onde está a Mariana?
– Foi deitar.
– Eu também vou dormir. Até amanhã.
– Boa noite.
Arthur subiu para o quarto e fechou a porta, despindo-se. Sentou-se na cama e foi abraçado pela prima que estava tão nua quanto ele e puxou-o para se deitar.
– Bah, guria, assim complica.
– Hoje é sábado, você é meu – brincou ela, rindo. – Só quero ficar com você e dormir junto que nem a gente sempre fez. Quero conversar um pouco.
– O problema é que a carne é fraca e você tá peladinha, Nanica – disse, abraçando a garota e fazendo um carinho suave no seu corpo, passando devagar nos seios.
– Isso é gostoso – disse ela, acariciando-o, também devagar. – Então, tá namorando com ela?
– Bem, é o que parece.
– Ela se desculpou por ter sido grosseira e disse exatamente o que você comentou. Já notou onde a sua mãozinha anda, meu amor, isso tá me deixando muito ligada.
– É o mesmo lugar equivalente onde a tua mãozinha anda. – respondeu ele, dando um selinho nela e um beijo no seio exposto.
– Assim, vou ter que comer você – disse ela, rindo.
Meia hora depois, ele disse:
– A partir de agora só dormes comigo se estiveres vestida. Afinal, se eu estivesse namorando contigo e fizesse isso com a Anna, tenho a certeza que não ias gostar nada.
– Desde que fôssemos nós três juntos eu não ia ter nada contra – comentou a prima, rindo.
– Tu não tem jeito, guria.
– No amor vale tudo, meu gato – disse, debochada.
Os dois adormeceram logo a seguir e o jovem sonhou bastante, mas teve muitos sonhos estranhos, onde às vezes passeava com Anna em uma harmonia muito grande para, depois, ser jogado em uma solidão e tristeza enormes. Quanto parecia que ia acordar, o sonho mudava para uma cena de forte conteúdo erótico, onde ele Anna e a prima divertiam-se bastante. Depois, do nada, ele parecia andar em um país estranho e foi envolvido em um ataque terrorista, sendo baleado. Com um estremecimento, acordou e deu-se conta que se tratava apenas de sonhos. Viu a hora e levantou-se para tomar banho.
Os dias passaram e os três meio que ficaram inseparáveis. Anna estava sempre feliz e, se ela antes era bela, passou a ser resplandescente. Certa vez, por sugestão da Mariana, os três pegaram um uber e foram para um bar no centro de Niterói. Estavam se divertindo bastante quando Arthur, que nunca perdia nada de vista, notou o olhar de quatro sujeitos enormes e cada qual mais mal-encarado que o outro. Eles não tiravam os olhos das meninas e o jovem previu problemas potenciais, uma vez que pareciam drogados. Chamou o garçom e pediu a conta. Depois, disse para a prima.
– Gatinha, tu precisas de ficar atenta para proteger a Anninha e a ti, caso passem por mim. Infelizmente, não há como escaparmos disso sem violência. Te prepara para chamar a polícia e o SAMU.
– O que foi? – perguntou Anna, preocupada.
– Aqueles quatro que estão levantando vêm pra cá arrumar confusão. Não temos como evitar sem lutar.
Como previsto, foram direto para o trio e Arthur levantou-se rápido, enquanto Mariana pegou o telefone e discou para a polícia.
– Podem parar, tchê – disse Arthur, fazendo sinal com a mão. – Vocês não são bem-vindos aqui.
– Vasa, gaúcho nanico, que as mina vão com a gente.
– Alô, é da polícia? – disse Mariana, ao telefone. – Precisamos de uma viatura urgente. Trata-se de agressão e possível sequestro com fins de estupro. São quatro agressores, mas tragam o SAMU que eles vão precisar de socorro médico urgente pois escolheram o alvo errado. O endereço é...
– Último aviso, camarada, depois tu vais acordar no hospital ou necrotério. A escolha é tua.
Rindo muito, um deles aproximou-se com a intenção de agredir Arthur e dois outros prepararam-se para dar a volta e segurar as garotas que não tinham por onde fugir, uma vez que estavam em um canto, fechadas por duas paredes. O agressor não contava com a agilidade do jovem que desviou e, com uma mão, deu uma pancada violentíssima no peito dele. Foi tão violenta que se ouviu algumas costelas quebrando. O grandalhão voou para trás e caiu sobre uma mesa, assustando os ocupantes. Levantaram às pressas e se afastaram, enquanto o sujeito rolou para o chão inanimado. No bar, formou-se silêncio total.
– Mais alguém? – perguntou Arthur, desafiador. – Querem mesmo acabar no hospital. Eu não vou ter pena de vocês nem vou perder o sono, não mesmo!
Dois dos marginais avançaram com tudo, um de cada lado, só que o último, mais medroso, ficou para trás esperando o resultado uma vez que o jovem era nitidamente superior a eles em tudo. Arthur deu um giro rápido e levantou o pé, acertando o sujeito mais afastado na face com tanta força que ele girou feito um peão antes de cair no chão, todo rebentado. O pé continuou o seu percurso, alcançando o solo e servindo de apoio para um chute frontal ainda mais violento que pegou o terceiro marginal no queixo, fazendo-o voar para trás e cair em cima do primeiro em um estado pior que os dois primeiros somados. Foi tão rápido que só nesse momento as pessoas começaram a assobiar e aplaudir. Arthur, ignorando isso, deu um passo adiante e o quarto marginal saiu correndo, mas foi agarrado por três garçons que o seguraram e obrigaram a pagar a conta.
– Mas que bando de idiotas – comentou o jovem, quando o trio já estava na esquina. Nesse momento ouviram as sirenes da polícia, mas não retornaram.
Abraçado na prima e na namorada, Arthur sugeriu irem a outro bar mais calmo e de melhor categoria. Como tudo se normalizou, nem pensaram mais no incidente, aproveitando a noite.
Os dias iam tranquilos e Anna desejou começar a correr com Arthur. Alegre, ele iniciou devagar, ajudando-a a encontrar o seu ritmo. No início, corriam apenas mil e seiscentos metros. Quando chegaram de volta à casa dela, a moça disse, ofegante e muito sedutora:
– Tá muito calor e quero beber água e tomar um banho refrescante; vens comigo?
– Claro, meu amor, tudo o que tu quiseres.
Depois de beberem, subiram para o quarto dela e a garota ligou o ar condicionado. A seguir, puxou-o para o banheiro, começando a despir o namorado, mostrando uma cara muito sensual que não deixava a menor dúvida das suas intenções. Ele não se fez de rogado e também despiu Anna, meio nervoso e trêmulo.
Abraçados, entraram embaixo do chuveiro e banharam-se meio que às pressas, enquanto se acariciavam muito. Assim que saíram, foram direto para a cama e fizeram amor intenso e apaixonado. Um bom tempo depois, Arthur disse, enquanto acariciava os cabelos da namorada.
– Eu te amo, Anninha, eu te amo muito. Não imaginei que encontraria algo tão maravilhoso quando vim para cá. Acho que tu és a coisa mais especial que jamais me aconteceu.
– Eu também, Arthur. Nunca em todos os meus dezesseis anos de vida eu fui tão feliz. Eu te amo. Jamais te esquecerei!
Felizes, recomeçaram as carícias.
De noite, a Mariana disse, já no quarto:
– Vocês transaram, hoje, não é? – perguntou, à queima-roupa. – Só de olhar para a sua cara dá para ver.
– Sim, por quê?
– Porque eu também ando com vontade.
– Já conversamos...
– Então vou ver se a Anna deixa – disse ela, rindo. – Ou então com nós três. Será que você aguenta?
– Por que não aguentaria?
– Vejamos – desafiou ela, marota.
No dia seguinte, os pais deles foram ao shopping, fazer compras do natal e o trio ficou sozinho em casa. Mariana flagrou Arthur em um beijo intenso com a Anna e riu, dizendo:
– Pô, vocês fazendo isso e eu só na vontade, sacanagem.
– É maldade mesmo – concordou Anna, rindo.
– Nesse caso, posso me aproveitar um pouco, depois? – perguntou, safada.
– Se devolveres ele inteiro eu deixo porque és minha amiga.
Sem jeito Arthur levantou-se e disse:
– Chega disso, vamos correr, anjinho?
O casal saiu e Mariana ficou em casa. Não gostava nada de correr e sempre dava um jeito de enganar o professor nas aulas de educação física, mas enganava-se quem pensasse que a moça era flácida e preguiçosa. Era uma excelente lutadora de Wing Chun e praticava com afinco.
Anna já era capaz de correr duas passagens o que dava três mil e duzentos metros.
Depois dos alongamentos e exercícios, foram tomar banho juntos e aproveitaram para se amarem bastante. Arthur sentia-se nas nuvens. Como os pais e tios jantariam fora, eles chamaram a prima para jantar com eles e pediram comida pela internet, divertindo-se muito na sala de vídeo com os filmes disponíveis, que eram bastantes e variados.
― ☼ ―
"Dona Flor e Seus Dois Maridos", obra de Jorge Amado, lançada em 1966 e de muito sucesso. N. A.
SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – Ambulância do governo. N. A.
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