3. Apenas Uma Chance (p.3)

Quando Chloé acordou, deu de cara com Zac no sofá, sentado próximo a ela.

- Fiz chá pra você - disse ele. - Camomila. Está lá na cozinha.

Ela apenas assentiu, embora o desânimo estivesse explícito em seu rosto.

- Obrigada.

- Como está se sentindo?

Chloé deu de ombros, puxando uma das almofadas de Diana para seu colo.

- Eles foram junto com Narcisa. - disse ele, se sentindo no dever de explicar o que ele sabia sobre os planos de Arthur. - Ela ia cuidar deles.

- Diana me disse. - Chloé deixou a cabeça cair pra trás, apoiando-a nas costas do sofá. - O que significa que além de você, Arthur e Miguel, Narcisa também mentiu pra mim.

- Como assim?

A garota virou a cabeça em sua direção.

- Eu queria ter contado pro Arthur primeiro, mas agora tanto faz. Narcisa e eu estamos namorando.

Zac engasgou com a própria respiração.

- Oi?

- Eu sou lésbica, Zac, não se faça de idiota.

Ele riu.

- Se é a hora de sair do armário... - Zac hesitou. - Bom, eu acho que eu sou... bissexual? - Soou como uma pergunta, embora ele soubesse a resposta. Costumava ficar repetindo mentalmente algumas vezes, tentando se acostumar com a realidade, mas tudo o que conseguia era fazer a palavra perder o sentido por alguns instantes.

Ela riu suavemente.

- Você acha? Eu tenho certeza. E imaginei, né, quando descobri que você tem um noivo.

Zac fez uma careta.

- Não estamos mais juntos.

Chloé ergueu as sobrancelhas, surpresa.

- Mas vocês estavam juntos, tipo, anteontem! - Ela balançou a cabeça negativamente. - Quando duas pessoas ficam noivas, supõe-se que elas já tem uma ligação forte o suficiente pra se disporem a viverem juntas se não pelo resto da vida, pelo menos por um bom tempo.

- Ele tentou matar Bernardo.

- Ah! - Ela assentiu. - Essa sim é uma boa justificativa. Mas por que ele fez isso?

Zac abaixou a cabeça.

- Porque Bernardo tentou me matar.

Ela permaneceu alguns instantes em silêncio antes de falar:

- Eu acho que você não está me contando a história toda.

Zac suspirou, e então contou o que havia acontecido, desde o princípio. Como conheceu Delwen, sobre a chantagem, o solstício, o acordo com a Rainha, sobre a invasão à reunião, os minutos com Bernardo e, por último, sobre a fuga.

- Aquela coisa com a Rainha lá no País das Fadas, a história de trato entre vocês agora faz sentido. - Chloé abanou a cabeça, negativamente. - Minha opinião a respeito é que você é um idiota, além de uma pessoa extremamente precipitada. Como faz um acordo assim por causa de uma pessoa que acabou de conhecer?

- Eu sei que eu fui burro.

- Que bom que sabe! - Chloé apoiou o cotovelo no sofá e enfiou os dedos entre os cabelos. - E o que pretende fazer agora?

- A primeira coisa que eu quero é saber o que aconteceu com Arthur, Dean e Miguel, depois descobrir se Bernardo está bem. Eu nunca vou perdoar Delwen se ele morrer.

- E se ele estiver bem?

Zac engoliu em seco.

- Eu não sei.

***

Gerald já estava há mais de vinte minutos sobre um palco montado no centro do jardim falando abobrinhas.

- Precisamos retomar as velhas funções, voltar à época de ouro dos feiticeiros. - dizia ele, com a voz amplificada por um feitiço. Diana revirou os olhos pela trigésima vez. - É o nosso ano com um líder como Grão-mestre e três meses já se passaram, não há mais tempo à perder. Estamos com a faca e o queijo na mão, tudo o que precisam é me eleger como o representante de vocês no conselho.

- Essa conversa fiada dele me entedia - murmurou Sebastian.

- Ah, eu gosto das ideias dele - disse Narcisa.

- Você nem mora aqui - apontou Sebastian. - Que diferença faz?

Narcisa apenas deu de ombros, e eles voltaram a dar atenção ao discurso de Gerald.

- Estamos há anos oferecendo nossa lealdade aos Anjos, como cachorrinhos - prosseguia ele. - Não vamos mais aceitar suas ordens! Somos mais fortes!

Um considerável grupo de feiticeiros aplaudiu sua fala, e ele estava prestes a deixar o palco para o próximo candidato quando Diana fez uma pergunta bem alto, para que todos pudessem ouvir:

- E a quem vamos oferecer nossa lealdade? - disse ela, enquanto diversos olhos se viravam em sua direção. - Aos híbridos?

- A ninguém - rebateu Gerald, voltando ao centro do palco. - Nossa lealdade deve ser para com nós mesmos, não um bando de vira-latas.

Um murmúrio percorreu as mesas. "vira-lata" tratava-se de um dos mais preconceituosos termos que eram usados para se referir aos híbridos.

- Eu sei o que você quer, Gerald - disse ela. - Voltar ao velho joguinho de se submeter aos dois lados e incitar um conflito. Não importa quanta gente morra, desde que você esteja faturando em cima.

- É como a vida funciona, Didi - murmurou Narcisa ao seu lado, deixando seu posicionamento bem claro, e surpreendendo um total de zero pessoas.

- E qual a sua sugestão? - gritou alguém do outro lado. Era uma mulher de cabelos crespos, trajando um longo vestido dourado, que se espalhava pelo chão ao lado de sua cadeira. Diana não a conhecia.

- Eu sugiro agir em defesa da paz. Usar nossa influência a favor de uma mediação entre Anjos e híbridos. Pode não ser o melhor pra nós, mas é o melhor pra Alexandria, nossa casa - Diana respondeu. - Se eles começaram uma guerra, vão devastar nosso país.

Uma segunda onda de murmúrios atravessou as mesas. As pessoas olhavam para ela, e Diana não conseguia interpretar as expressões em seus rostos.

- Por que não apresenta a sua candidatura? - A pergunta veio novamente daquela mulher, que sorria de maneira desafiadora.

Sons de concordância vieram de todos os lados, entretanto, o feiticeiro sobre o palco protestou.

- O tempo para a candidatura já passou - disse Gerald, mudando o peso de um pé para outro.

É claro que ele não a queria na disputa. Diana era uma feiticeira conhecida em Alexandria, e uma candidata muito mais forte do que seus demais adversários. Eles não ofereciam risco à Gerald, ela sim.

- Se esse for o caso - anunciou um homem, ficando de pé. Ela não o conhecia, mas supôs ser um dos candidatos que Sebastian havia mencionado. -, eu retiro minha candidatura à favor de ter Diana Branwen em meu lugar, se ela aceitar.

Diana congelou. Estavam todos à espera de sua resposta. Tinha ciência do motivo do feiticeiro estar abrindo mão de sua candidatura. Era óbvio que ele sabia que não ia ganhar, mas não aceitava entregar de mão beijada a liderança à Gerald. E agora via uma oportunidade de enfraquecer sua influência.

- É a sua chance - murmurou Sebastian, se inclinando ligeiramente em sua direção.

Diana suspirou. As palavras de Aine ecoavam em sua mente:

"Deveria governar os feiticeiros. Você nasceu para ser rainha."

- Qual o nome dele? - murmurou para Sebastian, que estava muito melhor informado.

- Paul Herig - respondeu ele.

- Dispenso - respondeu ela, falando alto para todos ouvirem, então ergueu a própria taça no ar -, mas ofereço meu apoio a Paul Herig.

Os murmúrios que percorreram as mesas se dividiam em satisfação de uns e protestos de outros, mas Diana não se importou. Preferiu apenas beber do próprio vinho e assistir a confusão acontecer.

Não estava interessada em liderar ninguém, muito menos em colocar um alvo nas próprias costas.

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