2. Tudo Tem Seu Preço (p.2)

Chloé prendeu os braços ao redor das pernas. Estava sentada na grama ao lado de Diana, longe o suficiente da fogueira para não ser atropelada por fadas dançantes, mas perto o bastante para ainda sentir seu calor, e estava quente até demais.

Ela observou as fadas, que saltitavam tanto de um lado para o outro que chegavam a causar-lhe vertigens.

Fixou o olhar no chão, pensando que isso amenizaria o mal-estar, entretanto, a própria terra parecia se mover em círculos.

— Eu estou um pouco tonta — queixou-se a garota.

Diana olhou-a de lado, analisando sua expressão.

— Você comeu alguma coisa?

— Não exatamente...

— Não exatamente?

Chloé sentiu o rosto arder ao se lembrar do que havia feito.

— Eu só provei.

— Ah, você provou? — A feiticeira sorriu com deboche. —  Eu disse pra não comer nem beber nada. Se ficar chapada aqui, não vou mover um dedo, só deixar você fazer toda loucura que te der vontade.

— Desculpa.

Diana não respondeu, apenas desviou seus olhos para a movimentação de fadas à frente outra vez. Foi então que Chloé percebeu algo que não havia notado até o momento.

— Seus olhos estão castanhos — disse ela. — Como sua magia voltou? Jack roubou seu colar.

— Ele não é tão esperto quanto pensa ser — respondeu Diana. — Eu não seria idiota de colocar meu ponto fraco pendurado no pescoço. O rubi verdadeiro, o que me permite canalizar a energia, eu implantei em mim.

— Então o que era aquele colar?

— Mesmo quando os feiticeiros implantam suas pedras, continuam utilizando uma semelhante em alguma joia. Meramente uma questão de tradição, embora aquele que Jack roubou tenha sido um presente que recebi. — Ela exibiu um leve sorriso, cheio de autoconfiança. — Vou pegá-lo de volta, e ele vai se arrepender da brincadeira.

— Narcisa também implantou a dela?

Seu sorriso se alargou, transformando-se em algo mais ardiloso.

— Sua namorada? Por que não pergunta a ela?

Chloé tornou a ruborescer, dessa vez chegando a suar frio ao ouvir a indagação da feiticeira.

— Como você...?

— Eu vi como ela trata você, e acredite, conheço Narcisa muito bem — respondeu Diana. — Sei também que Miguel nunca foi seu namorado. Ele nem se sentia confortável em chamar você de namorada. Sempre tinha um certo incômodo quando ele falava, soava forçado. Diferente da vez que ele se referiu a você como melhor amiga, na minha casa, quando você e Arthur estavam presos. — Diana balançou a cabeça com convicção enquanto falava. — Daquela vez sim, soou realmente sincero.

Chloé permaneceu em silêncio por um momento.

— Então você sempre soube sobre mim?

— Eu desconfiava, como um palpite — disse ela. — Só tive certeza quando vi Cissa falando com você no dia em que Arthur acordou.

— E você disse algo a ele? — Chloé engoliu em seco.

— Não — respondeu. — Não é da minha conta.

— Temos que tirar Arthur, Miguel e Marina da casa de Jack — disse Chloé. — E eu vou contar. Chega de segredos.

Diana pigarreou, parecendo incomodada.

— Er... então, sobre Arthur e Miguel... — Diana deu uma pausa em sua fala para respirar. — Tem algo que você precisa saber.

***

Zac havia se deitado sobre a grama assim que os outros deixaram o local. Ele cobriu os olhos com os braços e chorou até adormecer. Estivera demasiadamente cansado nos últimos dias, embora preocupado demais para dormir. Agora, que tudo parecia ter desabado definitivamente sobre sua cabeça, o sono parecia ser a bandeira branca anunciando sua desistência. Estava se rendendo às circunstâncias.

Quando acordou, a primeira coisa que viu foi Delwen, sentado próximo a ele, distraído em arrancar folhas da grama para esmigalha-las entre os dedos.

— Pensei que ia estar com fome — disse ele, então puxou para perto o que parecia ser uma trouxa feita com um pano de prato. — Consegui um pouco de comida normal pra você.

Zac sentou-se e aceitou o que era oferecido a ele.

— Obrigado — disse, enquanto os dedos trabalhavam em desatar o nó apertado no pano.

Dentro não havia muita coisa, mas parecia o suficiente: uma garrafa de água, dois pães e uma maçã.

— Onde conseguiu? — perguntou Zac,  então mordeu o pão e arrancou um pedaço.

— Eu saí do País das Fadas pra buscar — respondeu Delwen. — A maioria das coisas que colhemos aqui não é adequada pra você comer.

Zac abocanhou outro pedaço de pão e observou as migalhas que se espalhavam sobre o pano distraidamente.

— Eu gostaria de saber o que eu preciso fazer pra você me perdoar.

Zac mordeu o interior da bochecha e balançou a cabeça negativamente.

— Não tem o que fazer. — Ele engoliu em seco. — Eu vou fugir, vou embora. Você vai esquecer, eu vou esquecer, e vai ficar tudo bem.

— Você realmente acredita nisso ou só está falando o que quer que aconteça?

Zac ergueu a cabeça para encontrar seu olhar com o de Delwen. As íris amarelas fixavam seu rosto com tristeza.

— E faz diferença?

— Se você fugir, Aine vai te encontrar — disse o garoto fada. — Ela pode te aprisionar... ou pior.

— Eu já estou preso — lamentou-se Zac. — Não posso mais ficar aqui.

Delwen fechou os olhos e suspirou.

— Você não me respondeu: o que eu preciso fazer pra você me perdoar? — ele voltou a questiona-lo.

— Nada, eu não tenho que te perdoar. O mal que você fez não foi pra mim, foi pra Bernardo, mas eu não aceito ficar com alguém que seja capaz de machucar os outros dessa maneira, como se fosse nada.

Delwen apenas comprimiu os lábios e franziu a sobrancelha, enquanto começava a se levantar.

— Eu sinto muito — complementou Zac, pensando que talvez tivesse ido longe demais.

Entretanto, nada recebeu como resposta, pois o garoto fada apenas deu-lhe as costas e caminhou em direção ao túnel de saída dos aposentos da Rainha, desaparecendo por entre as sombras.

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