2. Tudo Tem Seu Preço (p.1)
Zac seguia Delwen de perto. Os passos do garoto fada mal faziam barulho ao amassar as folhas secas e galhos que se espalhavam pelo chão. A luminosidade da fogueira já estava perto o suficiente para que fosse impossível se perder, ainda assim, ele não ousava tomar a dianteira na caminhada.
Seus olhos vasculharam ao redor, onde a luz iluminava o suficiente para distinguir as formas das fadas no local, arrumando comidas e bebidas, decorando a clareira. Zac e Delwen passaram bem perto do fogo, mas sem fazer qualquer pausa, já que, aparentemente, Aine ainda não estava por ali.
Estavam para desaparecer outra vez entre as árvores, já do outro lado da clareira, quando Zac deparou-se com um rosto familiar. Chloé acabava de provar uma fruta com a ponta da língua, e permanecia segurando-a entre os dedos, com uma expressão duvidosa.
Com alguns passos largos, Zac aproximou-se da garota, e com um tapa, derrubou a pequena fruta no chão.
— Não come isso!
Chloé saltou com o susto, e seu olhar fixou o garoto com uma expressão confusa.
— O que você está fazendo aqui? — Chloé pousava a mão direita sobre o peito, ainda sobressaltada.
Zac coçou a nuca, torcendo a boca em uma careta.
— Longa história. Como você entrou?
Ela usou uma das mãos para indicar a fada que a acompanhava, a qual ele ainda não havia se dado conta da presença até agora.
— Ela nos trouxe.
— Oi, Nisi — cumprimentou Delwen, às suas costas, fazendo com que Zac sentisse um arrepio em sua nuca.
— Oi — respondeu a fada, despreocupadamente jogando uma frutinha em sua boca e estourando-a entre os dentes.
— Marina e Diana estão aqui com você? — Zac retornou a atenção pra Chloé.
— Só Diana. Jack nos prendeu e a única forma como conseguimos sair foi vindo pra cá.
“Péssima escolha” pensou Zac.
— E onde está Diana?
— Conversando com minha Rainha — respondeu Nisi, após cuspir caroços no chão.
Zac virou o rosto em direção a Delwen, e por um momento quase se esqueceu da raiva que há poucos minutos queimava em seu interior, pois somente com aquela troca de olhares, o garoto fada parecia entender o que ele estava pensando.
— Precisamos ir até elas — disse Delwen, e seu olhar se desviou para Chloé. — Devia vir conosco.
— A Rainha Aine me ordenou que tomasse conta dela — intrometeu-se Nisi, dando um passo à frente.
— Então venha junto você também — concluiu Delwen.
A mão esquerda do garoto fada tocou o braço de Zac gentilmente, apenas indicando que deveriam retornar ao seu caminho até a Rainha, mas o contato não persistiu.
Eles o seguiram até o carvalho no qual. Zac se lembrava de ser a entrada para os aposentos de Aine.
— Não vai me dizer o que está fazendo aqui? — Chloé o cutucou, enquanto caminhavam pelo túnel.
Os dois estavam pouco atrás de Delwen e Nisi, que guiavam a caminhada, porém não longe o suficiente para que eles não fossem capazes de ouvir a conversa.
— Ainda não — respondeu. — Daqui a pouco.
Não demoraram a chegar ao destino: a grande câmara de pedras brilhantes, onde a Rainha das Fadas encontrava-se esticada sobre uma grama verde no chão, com Diana logo à sua frente.
— Ai, meu Deus — sussurrou Zac ao perceber que Aine encontrava-se completamente nua.
— Por que está de volta tão rápido? — questionou ela, com seu olhar cinzento direcionado à Nisi e sem mover nenhum músculo para cobrir sua intimidade exposta.
— Perdão! — Nisi baixou a cabeça. — Eles insistiram em trazer a garota, então ao menos os acompanhei.
— Pode ir — disse a Rainha, então virou sua face em direção à Zac. — Olá, Isac, bom ver você outra vez.
Ele apenas anuiu com a cabeça.
— Bela bagunça vocês fizeram naquela reunião — comentou Diana. Sentada de frente para Aine, a feiticeira olhava para trás por cima do ombro, em sua direção, com um sorrisinho satisfeito.
— Isso quer dizer que conseguiu? — questionou Aine, erguendo o corpo do chão para sentar-se ereta, um claro sinal de seu interesse. — Contou sobre as crianças de Jack?
— Ah, o seu garoto fada deu um showzinho espetacular — respondeu Diana à Rainha.
Aine estalou as mãos em duas palmas excitadas, rindo como Zac nunca antes havia visto.
— Isso é excelente! Precisamos comemorar!
— Eu preciso ir embora — interrompeu Zac. — Não quero mais ficar aqui.
A expressão da Rainha escureceu, e ela respondeu com convicção.
— Não.
— Por quê? — Diana questionou.
— Acho que ele mesmo pode responder.
Os olhos cinzentos estavam fixos em seu rosto, esperando que ele confessasse o acordo que havia feito, uma decisão tomada sem que as consequências fossem medidas.
— Fizemos um acordo. — Ele engoliu em seco. — Se me tornasse seu emissário e contasse sobre os filhos de Jack serem filhos de César Veter, Delwen ficaria livre e eu viria morar no País das Fadas.
— O quê?! — Chloé exprimiu seu espanto. — Zac, que tipo de brincadeira é essa?
— E agora você quer simplesmente quebrar o acordo? — perguntou Aine, movimentando-se para ficar de pé e se aproximar dele. Ela era pequena, mal chegava a altura de seus ombros, mas sua postura era ameaçadora. — Acaso pensa que era tudo uma brincadeira?
Zac baixou a cabeça, sem saber o que responder, apenas sentindo a angústia inunda-lo. Xingava-se mentalmente. Como podia ter sido tão burro e impulsivo?
— Por favor — ele pediu, em um tom de voz baixo e rouco.
— Não — voltou a repetir Aine.
— Você não pode prender ele aqui — intrometeu-se Chloé, dando um passo em direção à Rainha, e parecendo realmente brava.
— Você ouviu o que Isac disse — respondeu ela. — Foi um acordo, ele consentiu.
— Qual utilidade ele tem pra você? — perguntou Diana, que ainda não havia se preocupado em levantar do chão.
— É sempre bom ter alguém com contato com a Terra, que se misture e faça tarefas do meu interesse.
— Mas isso não o obriga a morar aqui — argumentou a feiticeira. — Estou certa de que Zac não iria se opor às funções estabelecidas pelo acordo de vocês se estivesse morando na Terra.
Aine estava de costas para a feiticeira, e enquanto pensava a respeito de sua proposta, examinava Zac atenciosamente com o olhar.
— Não — insistiu Aine. — Deveria ter pensado nas consequências antes de aceitar o acordo. Não é mais problema meu.
Zac arfou e baixou a cabeça. Isso não podia estar acontecendo.
— Agora temos uma festa para ir — disse a Rainha. — Tenho muito a comemorar.
— Se me permite — disse Zac, pesaroso. — eu gostaria de não participar.
A expressão direcionada a ele foi de decepção.
— Isso é deprimente, mas faça o que quiser. Pode ficar aqui.
Zac assentiu e ela passou por ele, para falar com alguém às suas costas.
— Delwen, me traga um vestido e meu manto, não há tempo a perder.
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