1. Aquilo que Reluz (p.4)
Ao retornar para encontrar com Diana, Chloé não esperava deparar-se com a feiticeira acompanhada, muito menos por tal criatura aparentemente histérica.
— O que está acontecendo? — perguntou a garota, ganhando a atenção das ocupantes da sala.
— Essa é sua amiga? — perguntou a criatura.
Ainda que apresentasse traços élficos na forma ossuda de seu rosto e em suas orelhas pontudas, que erguiam-se na diagonal em direção ao topo da cabeça, possuía asas, que não condiziam com a genética da espécie.
— Chloé, nós vamos para o País das Fadas — disse Diana, e disfarçadamente piscou apenas um dos olhos. — Nossa nova amiga vai nos levar a uma festa.
— O quê? — perguntou Chloé surpresa, entretanto, antes que pudesse obter uma explicação sobre o que estava acontecendo, as chamas da lareira precipitaram-se para o meio da sala, e embora seu primeiro instinto tenha sido saltar para longe, seu pulso foi agarrado pela criatura, que possuía uma força desproporcional ao seu corpo. Chloé e Diana foram arrastadas para o fogo antes que tivessem a oportunidade de raciocinar sobre o que estava acontecendo.
A garota esperou sentir o ardor das queimaduras, entretanto, ainda que pudesse sentir as labaredas, elas não feriram sua pela. Ao invés disso, Chloé, Diana e a criatura atravessaram as chamas e saíram em outro lugar, bem em frente a uma fogueira.
Girando a cabeça para olhar ao redor, ela reparou que haviam mais criaturas por ali, as quais ela havia chegado a conclusão de que tratavam-se de fadas. Arrumavam comidas e bebidas no chão, enfeitavam o local com flores, conversavam animadamente e ignoravam completamente a presença delas ali.
— Venham conhecer a Rainha — chamou a fada que havia trazido as duas até aquele lugar, segurando o pulso de cada uma delas e puxando, praticamente obrigando que Chloé e Diana a seguissem.
— Ah, eu preferia não incomodar — disse Diana, tentando resistir.
— Não incomoda!
Foram puxadas com ainda mais força, obrigadas a apressar o passo para serem capazes de acompanhar o ritmo da fada, que não parou até que tivessem chegado ao pé de um carvalho.
Um vão entre suas grandes raízes dava passagem para um túnel. A fada contornou-as e empurrou as costas de Chloé, a obrigando a deslizar o corpo para dentro do buraco. Sentiu-se escorregar sobre a terra fria e úmida até que seus pés encontrassem um chão firme para colocar-se de pé outra vez.
Teve o cuidado de dar alguns passos para frente, a fim de evitar que a próxima a descer não acabasse caindo em cima dela. Distribuiu alguns tapinhas nos braços e na parte de trás de seu jeans, em uma vã tentativa de afastar a poeira, enquanto voltava sua atenção para o lugar onde estava. Tochas iluminavam ao longo do que parecia ser um túnel, cujas paredes cintilavam em diversos pontos, a luz do fogo sendo refletida pedras coloridas e brilhantes.
Chloé sentiu a sutil vibração do solo e o leve som de impacto dos pés descalços de Diana se chocando contra a terra. Havia abandonado os saltos — que eram um belo par de scarpins com saltos enormes — e agora os carregava na mão. Logo atrás dela veio a fada, que não perdeu tempo, tornando a puxa-las outra vez.
O túnel pelo qual seguiram, arrastadas pela fada, terminava ao chegar a uma grande câmara, inteira feita de pedras brilhantes, esculpidas para formarem a cúpula do local. Era luminoso e incrivelmente colorido, tão bonito que impressionou Chloé por tempo o suficiente para que ela já estivesse quase no centro quando percebeu o que se passava no chão.
Havia um homem fada deitado na terra, cujos chifres riscavam o solo a qualquer mínimo movimento. Sobre ele estava uma mulher de cabelos dourados. E ambos estavam nús.
Chloé desviou o olhar para Diana, que não parecia sequer minimamente espantada com a cena.
— Aine — disse a feiticeira, e se curvou em uma reverência.
Com os olhos fechados, Chloé pôs-se de frente para as duas fadas no chão e repetiu o gesto de respeito feito por Diana. Então essa era a Rainha das Fadas?
— Por que se recusa a me olhar? — perguntou uma voz doce e feminina.
Chloé enrubesceu. Ela abriu lentamente os olhos à contragosto, tendo o cuidado de fixar sua visão no rosto da Rainha e não em seu corpo despido, que erguia-se em sua frente. Era uma mulher pequena, com uma face de traços marcantes e olhos cinzentos.
— Que gracinha — disse ela, com um meio sorriso. — Bochechas coradas. — Seus olhos abandonam a o rosto de Chloé para que se direcionasse a Diana. — É bom ter você aqui... Por qual nome te chamam agora?
— Diana Branwen — respondeu a feiticeira.
Chloé permanecia um pouco rígida em seu lugar, tentando não olhar muito atentamente para nada. Embora não pudesse deixar de notar, por meio de sua visão periférica, que o rapaz que acompanhava a Rainha havia se sentado, mas permanecia sem demonstrar qualquer pudor.
— Diana — repetiu a Rainha. — É um bom nome.
— Obrigada — respondeu Diana, mas Chloé não pode deixar de notar uma leve tensão no seu tom de voz. Alguma coisa estava errada.
— Nisi, por que não leva essa menina bonita para um passeio? — a Rainha perguntou à fada que havia as levado até ali.
— Não — interrompeu Diana. — Ela está sob minha proteção e deve permanecer perto de mim.
— Não se preocupe, vai ser só pelo tempo de nossa conversa — esclareceu a Rainha. — Tenho certeza de que Nisi pode mantê-la em segurança até que ela possa retornar aos seus cuidados.
A fada chamada Nisi assentiu com entusiasmo e a tomou pela mão, porém, antes que Chloé fosse arrastada para longe outra vez pela criatura, foi detida pelo aperto firme de Diana em seu braço.
— Não coma nem beba nada — orientou a feiticeira. — E não se deixe enganar por ilusões. Sabe a frase “nem tudo o que reluz é ouro”? É totalmente válida aqui. Tenha cuidado.
Chloé consentiu com a cabeça, e quando seu braço se desprendeu do aperto dos dedos de Diana, Nisi a levou rapidamente para longe dali.
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