9. Anjo da Guarda (p.4)

— Sobre o que deveríamos conversar? — perguntou Diana.

— Narcisa disse que foi só por sua causa que eu não morri quando fui atingido pelo feitiço — disse Arthur.

Ela pareceu sutilmente incomodada, mas disfarçou tão bem que Arthur pensou que havia sido apenas impressão.

— E o que ela contou? — questionou ela, endireitando sua postura e cruzando as pernas. Parecia um pouco mais rígida. Algo estava errado.

— Que você era meu anjo da guarda — Arthur respondeu com um certo desdém, enquanto empurrava as cobertas para fora da cama. Estava com calor, e não sabia se era algum efeito da poção ou se estava nervoso. Provavelmente um pouco dos dois. — Ela falou que você fez algo por mim, algo que me protegeu, mas que não protegeria Marina da mesma maneira. Isso é verdade?

— Foi tudo o que ela disse? — perguntou Diana. Ele assentiu. — Sim, é verdade.

— O que você fez? — Arthur quis saber. Algo na feiticeira parecia estranho.

Ela balançou a cabeça e passou as mãos nos cabelos escuros, mas não respondeu.

— Algo me diz que você fez algo de errado para conseguir essa tal “proteção” — Arthur fez aspas com os dedos.

Ela sorriu para ele, e era difícil não se encantar com aquele sorriso malicioso.

— Você me conhece melhor do que deveria.

— Eu tô sentindo também que não foi simplesmente algo errado, mas algo terrível.

— E você também tem uma ótima intuição — ela deu um sorriso triste e desviou os olhos para um espelho no canto do quarto. Estava analisando a si mesma. — Mas algumas coisas...

— Eu não quero saber — interrompeu ele. — Eu já percebi que se eu quiser ficar com você, eu nunca vou saber de tudo. E eu não consigo ficar longe, nem mesmo quando eu tento.

— Está me perdoando? — Diana parecia surpresa.

— Estou tentando te entender — ele respondeu, mantendo o tom de voz firme. — Estou tentando me por no seu lugar, mas ainda tenho muito medo dos seus segredos. Você parece guardar muitas sombras.

— E o que pretende fazer afinal?

Arthur sorriu de leve e abriu os braços de maneira acolhedora.

— Ser um completo idiota, fingir que nada aconteceu e tentar ser alguma luz em toda essa sua escuridão.

Diana sorriu enquanto se inclinava sobre ele. Parecia uma menina, ao invés de uma feiticeira com séculos de idade. Ela era agora um peso a menos em seu peito, porém, ainda havia outra coisa.
Precisava tirar Dean das mãos de Morselk.

Mas antes que pudesse pensar um pouco mais sobre como faria isso, alguém abriu a porta do quarto e entrou sem pedir licença. Um homem moreno, cujos cabelos escuros e compridos estavam amarrados por um elástico.

— Diana — disse ele. — É maravilhoso vê-la de pé. Devo dizer que os anos permanecem não a afetando de maneira nenhuma.

— Eu sou imortal, Jack, você já sabe — respondeu ela, destacando o óbvio.

— Claro! — Ele olhou para Arthur e deu um sorriso torto. — Olá, Arthur, também é um prazer vê-lo assim consciente. Se parece ainda mais com seu pai, ainda que não tenhamos nos visto tantas vezes na vida. Mas sou grato por tudo o que ele fez pelos meus.

— Sobre o que quer conversar? — perguntou Diana, interrompendo o relato inconveniente sobre o pai de Arthur.

— Aqui não, no meu escritório — respondeu ele. — Me acompanhe, por favor.

***

Marina estava sentada à mesa do bar/café de Jack. Batia as unhas sobre o tampo de maneira ritmada enquanto observava Bárbara. Ela estava sobre o balcão, com os ouvidos tampados por um par de fones de ouvido e os olhos fixos na tela de seu celular. Ela era uma menina de uma beleza tão... singular. Era difícil de desviar o olhar, Marina tinha a vontade de registar cada detalhe.
Deveria ser isso que Arthur queria dizer quando lhe disse que os anjos eram “desconcertantemente lindos”. Mas por que não ela não tinha essa sensação quando olhava para Miguel também? Afinal, se Bárbara, que era apenas metade Anjo de Ar, já tinha herdado isso, Não deveria ser pior com Miguel, que era totalmente Anjo de Terra?

Estava tão distraída que sobressaltou-se quando alguém tocou seu ombro. Era Jack, com uma expressão séria estampada em seu rosto. Tinha os cabelos presos em um rabo-de-cavalo e exibia suas orelhas repletas de brincos, que eram pequenas argolas de prata ao longo de toda sua extensão.

— Agora que Diana acordou, acho que podemos ter aquela nossa conversa — disse ele. — Venha comigo, por favor.

Marina assentiu e se levantou. Um pressentimento ruim lhe dizia que isso poderia não ser boa coisa.

Eles saíram do bar/café, deixando Bárbara sozinha, ainda que ela nem sequer tenha notado a movimentação ao seu redor. Marina seguia Jack novamente até o seu escritório, no andar de cima da casa. Ele abriu a porta e indicou que ela entrasse primeiro.

Diana já estava lá, sentada sobre a mesa amarela de Jack e balançando os pés, que não alcançavam o chão. Em suas mãos haviam papéis que ela lia com o cenho franzido. Jack atravessou o escritório à passos largos e tomou os documentos da mão dela com um sorriso falso.

— Isso é meu — ele disse, guardando as folhas em uma gaveta da mesa.

— Liderar híbridos paga bem — afirmou ela. Marina se aproximou e sentou em uma das cadeiras disponíveis.

— Não tanto quanto liderar anjos, tenho certeza — ironizou ele, sentando-se em seu lugar. Parecia não se importar com Diana sobre sua mesa. — Vamos ao que interessa. — Ele ajeitou sua postura na cadeira e olhou para Marina. — Você me disse que gostaria de conversar comigo quando Diana estivesse presente. Agora que ela está aqui, acho que esse é o momento. — Seus olhos pareceram ameaçadores naquele momento. — De que lado você está?

— Desde quando você se tornou tão ranzinza? — perguntou Diana ainda sobre a mesa, cruzando as pernas e olhando para ele por cima do ombro.

— Eu não sou ranzinza, apenas estou tratando de negócios — ele respondeu para ela e voltou a encarar Marina. — E então?

A garota olhou para Diana procurando algum apoio, e notou um sutil aceno de cabeça. Marina respirou fundo e olhou com uma expressão séria para Jack.

— Eu estou com os híbridos.

Jack deu um largo sorriso e levou ambas as mãos à sua nuca.

— Excelente — disse ele. — Marcarei uma reunião com outros líderes híbridos. Você será apresentada a eles. Aviso quando a hora chegar.

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