9. Anjo da Guarda (p.2)

— Então você tem estado aqui comigo desde que nos chegamos e eu me acidentei? — perguntou Arthur para Narcisa.

— Sim, sempre de olho. — Ela baixou a voz, como se contasse um segredo. — Jack White é conhecido por ser sovina, mas está me pagando bem pelo meu trabalho.

— E Diana? — perguntou Chloé.

— Tenho dado umas olhadas nela de vez em quando, mas ela está bem, não precisa de cuidados especiais. E desconfio que ela talvez acorde ainda hoje, ou, no mais tardar, amanhã.

— Eu quero ver ela — disse Arthur para Narcisa, e ele tinha certeza de que ela sabia o motivo.

Mas ela o olhou com indiferença.

— Não antes de você beber a poção que eu ainda estou cozinhando.

Arthur estava prestes a rebater que podia se levantar e ir ver Diana, ainda que não tivesse certeza se tinha condições disso, porém antes que ele abrisse a boca, a porta se escancarou e Marina se jogou em cima dele, quase o sufocando com seus cabelos ruivos.

Ela logo percebeu o que estava fazendo e se afastou. Parecia muito feliz por ele estar acordado.

Arthur olhou para quem estava de pé atrás dela, com as mãos nos bolsos de um moletom azul. Miguel o olhava e parecia ao menos satisfeito.

E foi então que Arthur percebeu o que era aquela sensação que o estava incomodando desde que ele acordou, aquele sentimento de que estava esquecendo de alguma coisa.

As memórias de seu sonho invadiram sua cabeça. A proposta de Morselk, as masmorras e Dean preso em uma delas, parecendo muito pequeno e frágil naquele momento.

Arthur deve ter feito uma expressão estranha com seu rosto, pois Marina olhou-o preocupada e perguntou:

— Está tudo bem?

— Está — ele mentiu e forçou um sorriso. Não queria contar aquilo na frente de Marina, nem de Chloé. Não sabia como elas reagiriam. Da última vez que ele sonhou com Dean preso, ninguém acreditou nele, mas dessa vez não era só um sonho, ele tinha certeza disso.

E só havia uma pessoa neutra naquele lugar, na qual confiaria para falar.

— Zac — disse Arthur, e ele se descolou da porta para se aproximar —, queria falar com você. — Arthur olhou rapidamente para os outros. — Em particular.

Narcisa atravessou o quarto sem pestanejar, como se estivesse ansiosa para deixar aquele lugar. Miguel e Marina a seguiram, um pouco relutantes, mas Chloé não arredou o pé do lugar.

— Já entendi — disse Chloé impaciente, revirando os olhos. Ela se dirigiu a Zac em seguida, e disse em tom acusatório: — Foi só você voltar e recomeçaram os segredinhos entre vocês.

— Por favor — pediu Arthur.

Ela o fuzilou com os olhos antes de sair batendo a porta. Podia compreende-la, já que desde que conheceu Zac, aos treze anos, até o dia em que ele sumiu, Arthur parou de dar atenção a ela, e Zac passara a ser seu companheiro em tudo.

E ali estava ele, de pé na sua frente, depois de ter desaparecido por tanto tempo.

— Eu preciso te contar uma coisa, mas você precisa acreditar em mim — disse Arthur.

Ele assentiu e se sentou na beira do colchão, próximo aos pés da cama.

— Eu acredito — ele afirmou. — Seja o que for, eu confio em você.

Arthur fez sinal pra ele chegar perto e sussurrou:

— Veja se não tem ninguém escutando atrás da porta.

Zac ergueu o polegar em sinal positivo e fez o que Arthur mandava, mas como não tinha ninguém, ele fechou a porta novamente e voltou ao seu lugar na cama.

— O que aconteceu? — perguntou Zac.

— Eu tive um sonho — disse Arthur. — Bom, na verdade não foi exatamente um sonho — corrigiu-se —, mas foi enquanto eu estava dormindo.

— E com o que você “sonhou”? — Zac fez sinal de aspas com os dedos.

— Com Dean — Arthur sussurrou, inclinando o corpo para frente e ignorando as dores que sentiu ao fazer isso. — Há alguns dias, eu sonhei que ele estava preso e chorando em uma cela, mas ninguém acreditou em mim, e eu mesmo depois me convenci que havia sido, de fato, só um sonho. Mas não foi! — Arthur falou mais alto inconscientemente, mas pigarreou e voltou a sussurrar outra vez enquanto Zac ouvia com atenção. — Eu sonhei outra vez, e dessa vez eu tenho certeza de que foi de verdade.

— E o que aconteceu no sonho? — perguntou Zac, com um certo tom de preocupação que fez com que Arthur quisesse abraçá-lo. Zac sempre acreditava nele, e era bom saber que isso não havia mudado depois de sua temporada no País das Fadas. Zac não havia mudado.

— Eu encontrei com Morselk. Não sei se você sabe, mas ele é o pai de Miguel e há algum tempo torturou a mim e Chloé tentando descobrir onde estava Marina...

— Você já me contou isso, Arthur — interrompeu Zac. — Foi pouco antes de ser atingido pelo feitiço, então deve ter se esquecido. Prossiga.

Arthur assentiu. Devia mesmo ter se esquecido.

— Morselk conversou comigo no sonho. Nós estávamos na sala da casa dele e ele me pediu uma troca. Disse que se eu quisesse meu irmão de volta, teria que entregar Miguel. — Arthur respirou fundo. — Depois ele me mostrou onde Dean estava preso, e ameaçou mata-lo caso eu não entregasse Miguel até a próxima lua nova.

— Lua nova? — Zac parecia incrédulo. — Isso é um absurdo! É daqui à cinco dias.

Arthur voltou a se recostar nos travesseiros. Levou a mão até os cabelos e os segurou com força.

— E eu nem consigo ter certeza se foi real ou um sonho.

— Tem algo que você precisa saber. — Zac pareceu incomodado enquanto falava. — Tainá Forten me contou que seus pais foram tirados de Alexandria e estão escondidos, mas Dean, por ainda estar estudando, foi mantido. Acharam que estaria seguro dentro da Biblioteca...

— Bem debaixo do nariz de Morselk. — Arthur praguejou baixinho. — O que eu faço agora? — perguntou desolado.

— Precisa contar essas coisas pra Miguel — respondeu Zac. — Sei que vocês não são melhores amigos, mas ele é o único que pode fazer alguma coisa de fato.

Alguém bateu duas vezes na porta e não esperou resposta para abri-la e por a cabeça para dentro. Uma Chloé mal humorada surgiu com sua cabeleira loira e cacheada espalhando-se como uma juba sobre os ombros.

— Achei que gostaria de saber que Diana também acordou — disse ela diretamente para Arthur.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top