8. Solstício de Verão (p.4)

O som dos galhos na entrada da caverna se afastando fizeram com que Delwen e Zac se distanciassem um do outro, afim de ver quando Aine, a Rainha das Fadas, entrou. A luz das tochas na parede ressaltavam o tom vermelho de seu vestido e alaranjavam os fios dourados de seu cabelo, e Zac lembrou-se de como ela ficava diferente sob a luz do sol.

— Chegou a hora de resolvermos nossos assuntos — ela disse, e, de maneira simples e surpreendente, sentou-se no chão frio e sujo da caverna, no mesmo nível em que os dois estavam. — O que eu quero é algo simples: desejo que a notícia sobre minha irmã e o líder dos Anjos de Ar espalhe-se, e é você, Isac Miller, quem vai levá-la.

— Por que quer prejudicar sua irmã? — Zac perguntou, e enquanto falava, viu pelo canto do olho como Delwen parecia intimidado pela presença da Rainha.

— Prejudicar? É claro que não! — respondeu ela. — Grian está cega pela paixão e não consegue ver que essa união é algo terrível. Estou disposta a envolver meu povo com os problemas do seu, Isac, só para conseguir livra-la desse homem.

— Mas ela não deveria decidir isso por conta própria? — Zac voltou a questionar. — Afinal, é a vida dela.

— Eu já esperei que ela percebesse seu erro por tempo demais — disse Aine. — Chegou a hora de tomar providências, e você vai me ajudar... ou desistiu de nosso acordo?

— Por falar nisso — disse Zac —, tenho uma proposta diferente agora.

— Não gosto de rever acordos, ainda mais quando já estão em andamento — alertou ela, estreitando os olhos. — Mas vá em frente, quais são seus novos termos?

Zac olhou para Delwen, esperando uma confirmação, e que viu foi uma expressão esperançosa, e ele não teve dúvidas.

— Ao invés de Delwen ir embora comigo, eu gostaria de viver junto com ele aqui no País das Fadas — disse ele. — Em liberdade, claro — acrescentou, só por via das dúvidas.

Aine achou graça.

— Devo dizer que eu não esperava por isso, ainda que já imaginasse que Delwen não iria querer voltar ao seu mundo...

— Você sabia que ele não iria querer ir? — perguntou Zac, com uma pontinha de irritação por ter sido enganado.

— Como eu disse, eu imaginava — repetiu Aine, em um tom que deixava claro que Zac deveria se calar e escutar o que ela tinha a dizer. — Porém, para sua sorte, o que está me propondo não é de meu total desagrado. Sendo assim, tenho uma contraproposta para você, Isac Miller. Eu permito que você viva entre meu povo, e Delwen será libertado, e apenas exijo duas coisas. A primeira delas é que nenhum dos dois terá liberdade para entrar e sair do país das fadas sem minha autorização. E já aviso que não pretendo conceder visitas mensais, quiçá anuais. Você aceita isso?

— Sim — respondeu Zac, ainda que com uma certa insegurança a respeito do destino que estava traçando para sua vida à partir daquele momento. — E qual a outra condição?

— Que você aceite o cargo de emissário da Rainha das Fadas — ela respondeu com altivez. — O que me diz?

— O que exatamente eu teria que fazer?

— Eu não sei. — Ela deu de ombros. — Qualquer coisa que eu precisar no seu mundo, ou melhor — reformulou ela —, no seu antigo mundo.

— Eu aceito — respondeu Zac, tentando soar o mais firme que conseguia.

— Excelente! Temos um acordo. E eu tenho sua primeira tarefa como meu emissário.

***

Arthur seguiu Morselk, ambos desciam as escadas que os levariam até as masmorras. Ele ainda tinha péssimas lembranças daquele lugar, e era arrepiante estar ali na presença do anjo de terra, ainda que apenas sua mente estivesse alí.

Porém, o pior de tudo era imaginar que Dean estava realmente preso naquele lugar, e que Morselk poderia fazer qualquer coisa com ele, a qualquer momento.

E realmente, quando chegaram em frente à uma das celas, Arthur pode ver seu irmão mais novo preso ali. A cabeça dele estava recostada na parede de pedra, e os caracóis louros de seu cabelo caiam sobra a testa. Ele estava puxando fiapos da barra de sua calça jeans, e não viu quando Arthur e Morselk chegaram.

— Ele não pode nos ver — esclareceu Morselk. — Afinal, não estamos realmente aqui.

— Ele é só uma criança — disse Arthur. — Por que está fazendo isso?

— Já te disse. Tudo o que eu quero é o meu filho de volta, o moleque não faz a menor diferença para mim, mas se não me entregarem Miguel, eu vou mata-lo.

— E se Miguel se recusar a vir?

— Convença-o, traga-o à força, dê seu jeito. — Ele o encarava de um modo ameaçador, e falava com firmeza. — Ou o garotinho pode não estar vivo até a próxima lua nova.

Dito isso, Arthur sentiu quando foi puxado para longe, inundado pela escuridão. Tentou se mover e sentiu dor em seu corpo. Sua garganta estava seca, sua língua áspera como uma lixa. Era tão difícil abrir os olhos, como se alguém os tivesse costurado, porém, assim que conseguiu, percebeu que não estava em casa, e que não tinha a menor ideia de que lugar era aquele.

***

Zac caminhava com Delwen em direção à árvore que o levaria de volta para a casa de Jack. Já tinha em mente o que precisava fazer antes de retornar definitivamente, mas a insegurança o afligia.

Ele estendeu a mão para o namorado — achava que já podia chamá-lo assim —, e Delwen a segurou com firmeza, como se dissesse: “vai ficar tudo bem”. Por um momento eles quase se pareciam com um casal humano comum, e Zac sentiu-se feliz em saber que Delwen um dia já havia sido um garoto normal. A diferença entre a cultura humana e a das fadas erguia-se até então como uma imensa muralha entre os dois, mas as recentes descobertas trouxeram essa barreira ao chão.

Eles pararam ao chegar debaixo do ipê amarelo que era a passagem de volta aos seus amigos. Delwen se aproximou e o beijou, segurando-o pela nuca. Tinha os lábios macios e cálidos ao toque. Podia sentir até mesmo o aroma de sua pele — que apelidara mentalmente de “cheiro de Delwen”.

Estar ali o fazia esquecer de todos os problemas. Era o efeito colateral de estar no País das Fadas, intensificado pela felicidade de estar com alguém de quem gostava de verdade.

Delwen o envolveu em um abraço, e tamanha era a proximidade, que Zac podia sentir o calor de seu corpo. Ele aproximou a boca de seu ouvido e falou:

— Promete voltar para mim?

— Eu sempre vou voltar, Delwen — respondeu Zac, afundando o rosto no pescoço dele.

A resposta fez com que Delwen o afastasse subitamente, segurando-o pelos ombros à distância de um braço.

— Sendo assim... — Ele pigarreou. — Isac Miller, você aceitaria se casar comigo?

Zac o olhou com um misto de surpresa e admiração, dando um sorriso torto antes de responder:

— Sim.

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