8. Solstício de Verão (p.2)

Assim que conseguiu se desvencilhar das rainhas e de César, Zac escorou-se no tronco de uma árvore, sob a sombra da mesma.

Como contaria para Bernardo e Bárbara o que tinha visto? Como contaria para Jack que o pai biológico de seus filhos era o líder dos Anjos de Ar? César certamente moveria céus e terras contra híbridos, ainda que houvessem entre eles alguns dos quais fossem do próprio sangue.

Silenciosa como um fantasma, Aine pôs-se lado dele.

— A essa altura, Imagino que já saiba o porquê de ter lhe trazido como meu acompanhante.

— César e Grian...

— Sim. — Ela uniu suas mãos em frente ao corpo. — Eles são os pais dos três irmãos que estão sob a guarda de Jack White.

— Não dá pra acreditar — disse Zac. Ele tocou a própria testa e balançou a cabeça incrédulo. — Parece tudo uma coincidência absurda.

— O destino é uma entidade bastante espirituosa, que se entretém com a calamidade, e escarnece de nosso desespero. Um deus frio e impiedoso, com um senso de humor ímpar.

— Mas isso não é bom para sua irmã, não é? Ter filhos híbridos é ruim pra qualquer um — falou Zac, desgrudando-se da árvore. Aine tinha um jogo, ele sabia, agora só precisava entrar nele. — Existe um motivo pra você querer que eu saiba que eles são os pais dos meus amigos.

— Certamente — confirmou a Rainha —, no entanto, veja que festa linda temos aqui! — Ela segurou suas duas mãos com as próprias. — A melhor atração da noite está para começar. Deixemos então os assuntos sérios para depois.

Zac assentiu e foi conduzido de volta à luz das chamas bruxuleantes da fogueira. Não haviam mais fadas ou elfos dançando ao seu redor, pois estes agora encontravam se sentados no chão, esperando por alguma coisa.

Assentos de madeira foram rapidamente providenciados para a rainha e seu acompanhante, e quando estes já estavam acomodados, a atração da qual Aine falara iniciou-se.

Do lado direito vinha uma pequena fada, enrolada em peles cinzentas, com os longos cabelos cor de cobre dançando feito as chamas da fogueira. De sua cabeça cresciam um par de chifres, como as galhadas de um cervo, e havia uma pequena flor presa em cada uma das pontas. Do lado esquerdo, um elfo surgiu, vestido em peles escuras. Seus cabelos negros eram trançados e exibiam suas orelhas pontudas na lateral de sua cabeça.

Quando seus mantos de pele foram tirados e jogados na fogueira, como uma oferenda, Zac já havia adivinhando do que se tratava aquela grande atração, e ainda que quisesse desviar o olhar, não conseguia parar de assistir.

Não podia negar o que aquilo lhe causava, ainda que tentasse disfarçar. Ao contrário dos outros presentes, que não escondiam sua empolgação, gritando da mesma forma que faria uma torcida em um jogo de futebol. E não demorou para que eles decidissem participar, transformando a cena inteira no que qualquer um do mundo onde Zac vinha chamaria de “escândalo”, “depravação” ou “indecência”.

Ao seu lado, Aine riu e aplaudiu freneticamente.

— Não é magnífico?! — ela falou empolgada. Estava radiante.

Zac balançou a cabeça.

— É difícil definir.

A rainha revirou os olhos.

— Não fique tão esmorecido. — Ela levantou-se, ajeitando a saia do vestido. — Vamos, vou te levar até Delwen, e voltar para aproveitar minha noite. Você não sabe se divertir.

Ele pôs-se de pé em um salto e seguiu à para o meio das árvores, distanciando-se da clareira e daquela festa estranha.

Zac abaixou-se para passar sob um galho baixo, e olhou para cima. Entre as copas das árvores, o céu era puro negror, sem lua nem estrelas. O que era verão e o que era inverno no País das Fadas?

— Vocês não sentem falta da luz do sol? — Zac perguntou, ainda caminhando atrás dela. A cada passo, ouvia estalar as folhas secas no chão.

— Não sentimos falta de algo que nunca tivemos — ela respondeu e elevou a mão direita para um galho, que se afastou lhe dando passagem, mas que voltou ao seu lugar antes que Zac pudesse segui-la. Ele desviou-se e continuou a acompanhando.

A rainha só parou de andar quando encontraram uma pequena clareira, cujo centro era ocupado por um amontoado de pedras sobrepostas. Era visível que elas formavam uma espécie de caverna, mas a entrada era fechada por uma espessa parede de pequenos ramos entrelaçados, mas bastou que Aine olhasse para eles, e começaram a se afastar, formando um pequeno buraco, que se alargou até que houvesse espaço suficiente para entrar.

Zac olhou para ela, e ela indicou que entrasse. Engolindo em seco, ele adiantou-se e passou pela abertura nos ramos. Ele se sobressaltou quando duas tochas se acenderam nas paredes da direita e esquerda. No fundo, deitado em uma cama de palha, estava Delwen.

— Eu volto em breve — Aine disse, e quando Zac olhou para trás, os ramos já haviam se fechado outra vez.

Estava preso ali também.

— Isac? — ele ouviu a voz de Delwen o chamar às suas costas, e por um instante esqueceu-se de pensar em como se libertaria.

Zac virou-se e caminhou até ele. Delwen estava magro e machucado, e ele deduziu que ainda que em seu mundo menos de um dia tivesse se passado, ali, no País das Fadas, já faziam dias.

— Me diz que você não é outra alucinação — suplicou Delwen se encolhendo, e Zac teve um momento de choque. — Você parece real.

Zac se jogou no chão perto dele e segurou suas mãos com firmeza.

— Eu sou real.

Os olhos amarelos fixaram seu rosto com determinação.

— Então você precisa ir embora.

— Eu não posso — Zac respondeu. — Estamos trancados aqui.

— Não devia ter vindo...

— Mas eu vim. Eu fiz um acordo com a Rainha das Fadas.

— Um acordo? — ele entortou a cabeça, confuso.

— Ela prometeu libertar você para ir embora com comigo se eu...

— Eu não posso ir embora com você — interrompeu Delwen, e se encolheu no canto, abraçando as próprias pernas. — Você cometeu um erro.

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