8. Solstício de Verão (p.1)

Aine enlaçou o próprio braço no de Zac e deixou-se escorregar do galho do ipê, caindo em direção ao chão, e derrubando o garoto consigo.

Ele gritou com o susto, mas ambos aterrissaram sutilmente. Zac sentiu seu coração bater forte no peito e suspeitou de que em qualquer hora dessas ela conseguiria mata-lo.

— Mantenha a postura e nunca abaixe a cabeça — instruiu Aine, virando de frente para ele e ajeitando sua roupa. Seus olhos cinzentos brilhavam  mesmo na escuridão  e estava vestida em algo que se  parecia com cetim vermelho e brilhante, assim como as grandes flores que coroavam sua cabeça. — Você não é um simples convidado dessa festa, você é o acompanhante de uma Rainha. Aja como tal.

Zac confirmou com a cabeça e ela voltou a toma-lo pelo braço, e eles andaram juntos em direção à festa.

Quando saíram da sombra das árvores, foram acolhidos pela luz e pelo calor da fogueira, e Zac pode ver as fadas que gritavam uma música incompreensível enquanto saltitavam loucamente ao redor das chamas. Ainda assim, ele pode sentir sobre o que falava a canção: era sobre fertilidade, luz, amor e felicidade — e enaltecia Aine em cada uma de suas estrofes.

Ele correu os olhos sobre os rostos, na esperança de encontrar Delwen entre eles, mas não encontrou.

— Onde ele está? — Zac sussurrou para a Rainha, que permanecia com o braço enlaçado no seu.

— Delwen está preso — ela respondeu. — E você sabe minha exigência para devolvê-lo a você.

Sim, ele sabia, e por isso decidiu que, a partir daquele momento, não tocaria mais no assunto até o fim da festa, quando já teria cumprido sua parte no acordo.

— Estamos celebrando o solstício de verão — explicou Aine, o guiando agora para a direita, desviando da fogueira e das fadas dançantes. — O dia em que minha irmã, a Rainha dos elfos, passa a regência para mim.

— Mas estamos no fim do verão — disse Zac confuso.

Ele observou que sempre que as fadas passavam por eles, nunca deixavam de ao menos inclinar a cabeça em direção à sua Rainha.

— No seu mundo, podem estar — ela respondeu, e sua mão direita deslizou sobre o braço dele, exibindo suas longas unhas, e um largo bracelete de ouro em seu pulso —, no entanto, o tempo corre diferente no País das Fadas.

— Entendo. Então sempre acontecem em datas diferentes?

— Nem sempre — disse ela. — Às vezes eu permito que aconteçam no mesmo dia, assim posso abençoar as plantações de alguns camponeses ou conhecer alguns de meus devotos, que buscam por mim na colina de Knockaine.

— Eles a adoram como uma deusa? — perguntou Zac, unindo as sobrancelhas e a olhando de lado.

Eles pararam de andar em frente à dois troncos secos de árvores velhas, que pareciam ter moldado a si mesmo como tronos, cobertos por folhas ainda verdes, e Aine indicou que ele se sentasse em um deles, enquanto ela se sentou no outro.

— Sou a deusa daqueles que acreditam, ainda que poucos tenham sobrado desde a chegada dos cristãos. — Seus olhos vasculharam ao redor. — Isac Miller, olhando para esse lugar, o que você consegue ver?

Zac olhou o que acontecia à sua frente. Haviam fadas por todos os lados, e as que dançavam de mãos dadas em torno da fogueira, agora se assemelhavam algumas festividades que Zac já tinha visto entre humanos.

— Fadas — ele respondeu.

— Olhe bem — disse Aine. — Só vê fadas?

Ele olhou com atenção, e tentou analisar rosto por rosto. Então entendeu.

— São fadas e elfos.

— Muito bem. — Ela sorriu satisfeita. — Em sua maioria, são sim fadas e elfos. O que passou despercebido à você foram os humanos, os Anjos...

— Tem humanos aqui? — Zac ficou surpreso, e olhou mais uma vez, procurando por eles. — E Anjos?

— Os humanos são vários, trazemos alguns deles para nos entreter. Não existem criaturas mais fascinantes. — Ela riu com diversão. — O Anjo é apenas um, e acaba de chegar.

Zac viu imediatamente do que ela estava falando. Era um homem não muito alto, de pele clara e cabelos totalmente brancos — um Anjo de Ar.

Andava com um dos braços enlaçados no de uma mulher quase da mesma altura que ele, e exatamente igual a Aine — a não ser pelos trajes, que ao invés de vermelhos, eram totalmente prateados, exalando uma certa frieza.

— Aquela é Grian, minha irmã gêmea, Rainha dos Elfos — Aine sussurrou, inclinando-se para perto dele. Zac permanecia os observando, e o mais estranho é que parecia haver algo de familiar  nos dois. — E aquele é seu amásio, César Veter, líder dos Anjos de Ar.

Zac arregalou os olhos e a olhou boquiaberto.

— Um líder dos Anjos? Que tem relações com uma elfa?

Aine ajeitou sua postura, e só mexeu a boca quando falou.

— Ela não é exatamente uma elfa, assim como eu não sou exatamente uma fada, mas vamos falar sobre isso depois. — Ela se pôs de pé. — Levante-se, eles estão vindo.

Zac obedeceu, e esticou suas roupas para parecer ter uma aparência melhor. Não que fizesse diferença, considerando que ninguém ali estivesse preocupado por ele estar usando uma calça e uma jaqueta jeans, que na verdade eram de Bernardo. Boa parte dos presentes nem se deu ao trabalho de vestir toda a roupa — ou estavam tirando no decorrer da festa, ele não sabia dizer, mas preferia acreditar na primeira opção.

Em poucos instantes o casal recém chegado pôs-se em frente a eles, e, sem qualquer formalidade, as irmãs se cumprimentaram com um beijo na boca. Zac fez uma careta com a estranheza da cena, mas tratou de disfarçar a própria reação imediatamente, torcendo para que também não precisasse beijar César. Felizmente, isso não aconteceu.

Quando elas se afastaram, o Anjo de Ar lhe ofereceu a mão, e Zac a apertou.

— César Veter — apresentou-se ele, ainda segurando sua mão com firmeza. Foi então que ele sorriu, e Zac soube imediatamente porquê ele e a Rainha dos elfos pareceram tão familiares.

Os olhos claríssimos de César tinham o mesmo formato dos olhos de Bárbara, e o sorriso, que criava um pequeno furinho em cada lado do rosto, era também exatamente como os de Bernardo e da pequena Bianca.

Inconscientemente, Zac soltou sua mão, e ainda o olhava, pasmado. Girou a cabeça na direção de Grian, e nela podia ver, além da semelhança com Aine, também alguns traços dos três irmãos White.

— Perdoe-o — disse Aine, intrometendo-se. — Acho que meu acompanhante ainda não está totalmente confortável no País das Fadas. Permitam-me o apresentar, este é Isac Miller.

César e Grian inclinaram as cabeças sutilmente em sua direção, enquanto Zac permanecia estático com sua mais recente constatação.

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