7. Convite Irrecusável (p.1)
Após três horas, Arthur permanecia desacordado. A cabeça pendia para o lado no travesseiro, o cabelo colava na testa e os cílios escuros lançavam sobras sobre as bochechas coradas. Respirava tranquilamente, e fazia parecer que estava apenas dormindo.
A princípio, pensaram que estivesse morto. Assim que desviaram a atenção da feiticeira que os atacara, já sem vida no chão, preocuparam-se com Diana e Arthur. Enquanto ela parecia estar apenas desacordada, sem nenhum dano visível, a parte frontal da camisa de Arthur havia sido incinerada, e seu tórax exibia uma grande mancha negra. Chloé e Zac tentaram fazer o máximo que podiam para curá-lo, mas tudo o que conseguiram foi melhorar o aspecto da pele e fazê-lo respirar melhor. Agora, sentados lado a lado em cadeiras próximas a cama que Jack havia designado para o garoto, sequer conseguiam dizer nada um para o outro.
A porta do quarto se abriu com um rangido e a cabeça de Marina espiou antes de entrar definitivamente.
- Alguma novidade? - ela perguntou.
- Ele nem se mexeu - respondeu Zac.
Ela cruzou os braços de maneira protetora sobre o próprio corpo e encolheu os ombros.
- Aquele cara, o Jack disse que o feitiço era pra ter matado Arthur.
- Mas não matou - afirmou Chloé. - E Diana?
- Ainda na mesma - respondeu Marina, se balançando de frente pra trás. Estava nervosa. - Jack disse que ela tá legal, só vai precisar dormir por alguns tempo para conseguir repor as energias que gastou. O maior problema é Arthur. Ele disse que apesar de ser meio feiticeiro, não tem experiência nesse tipo de coisa, então vai chamar alguém que possa ajudar.
Chloé assentiu e olhou pra Arthur e sua expressão plácida, e em seguida para Zac.
- Qualquer coisa, me chama - ela disse, e saiu do quarto assim que Zac assentiu concordando.
Marina a seguiu até a sala, onde Miguel parecia estar em uma discussão acalorada com Jack.
- Sou líder dos híbridos, não posso abrigar um Anjo de Terra na minha casa, ainda mais filho de quem é - debatia um deles.
- Se eu sair daqui, levo todos eles comigo! - rebateu Miguel, parecendo furioso. - Não ao lado do meu pai que estou lutando agora, a feiticeira que nos seguiu podia ter me matado também.
- Ou Miguel fica - sentenciou Marina, chegando -, ou vamos todos embora, mesmo se for pra morrer na mão de feiticeiros.
Jack não pareceu satisfeito, certamente não era um homem acostumado a ser contrariado.
- Certo, certo - disse com irritação. - Como desejar.
- Vai chamar um feiticeiro pra ver Arthur? - Chloé perguntou, ignorando completamente a discussão.
- Ia fazer isso agora mesmo! - Jack disse, mas mais parecia que havia se esquecido e acabava de se lembrar.
- Eu conheço uma feiticeira de confiança - disse Chloé. - Que nos ajudou antes, e que não vai abrir a boca.
Jack estreitou os olhos por um instante, e em seguida os revirou nas órbitas.
- Se continuarem ditando tudo o que querem, nossa relação não vai dar certo - ele suspirou dramaticamente. - Tudo bem, fale com sua feiticeira.
- Na verdade - adicionou Chloé - eu preciso do celular de Arthur, que tem o número dela. Zac disse que você usou pra entrar em contato conosco. E de um outro celular pra fazer a ligação.
***
Zac permanecia no quarto com Arthur, apesar de não ser nele em quem estava pensando naquele momento. Delwen tomava conta de sua consciência, e sentia a angústia inundar seu peito, em uma pressão aterradora.
Apertava os dedos sobre o colo sempre que a sensação piorava, e quase não conseguia segurar o choro agora que Chloé não estava ali ao seu lado. Estar sozinho piorava.
- Ele é um garoto admirável - disse alguém as suas costas, tocando seu ombro gentilmente. - Tão belo quanto uma pintura. Eu poderia admira-lo por uma era inteira, sem me cansar.
Zac se virou assustado para ver Aine, que brincava com seu cabelo como se tivessem alguma intimidade para isso.
- Pena que vocês humanos apodrecem tão rápido - completou ela.
Zac se esquivou dela, pondo se de pé rapidamente, entre ela e Arthur, de forma protetora.
- Como entrou aqui?
- Foi mais fácil do que você pode imaginar, mas essa não é a questão. - A Rainha das Fadas jogou uma mecha de seu cabelo dourado que caia sobre seu ombro de volta para as costas. - Pensei que você fosse querer saber o que eu vim fazer aqui.
- Claro - ele falou com ironia. - E o que você veio fazer aqui?
- Te convidar pra uma festa - ela falou simplesmente, e olhando naqueles olhos cinzentos, Zac soube que dizia a verdade. Era somente isso que ela fora fazer ali.
- Por que eu iria a uma de suas festas?
- Porque eu quero você como acompanhante. - Ela deu de ombros. - Te entrego Delwen, se isso fizer você aceitar minha proposta.
Zac espiou Arthur por cima do ombro. Ele nunca o perdoaria se sumisse outra vez.
- O que me garante que não vou ficar preso lá?
- Eu garanto - ela disse -, e você não tem o direito de contestar a palavra da Rainha das Fadas.
- Por que eu?
- Gosto de você - ela respondeu, fazendo Zac erguer as sobrancelhas. - Porém esse não é o único motivo, apesar de minhas razões não lhe desrespeitarem.
Ele não respondeu.
- Bom, eu já dei o meu recado. - Ela se aproximou da janela, e a abriu com um clique. - Me encontre ao por do sol, debaixo de qualquer árvore se quiser Delwen de volta. Caso contrário, ele pode ser inútil pra mim também, já que é um traidor.
E sem mais nenhuma palavra, ela se sentou no parapeito e deixou o corpo cair para trás. E mesmo sem espiar, Zac sabia que Aine tinha desaparecido.
Ele ainda estava olhando abobado para a janela quando a porta se abriu e uma moça bonita, de cabelos loiros até os ombros e olhos azuis vibrantes entrou pela porta.
- O que está fazendo aí parado como um dois de paus?
Zac se lembrava dela, era a dona da casa abandonada que por dentro era arrumada por magia. A feiticeira chamada Narcisa.
- Me dá licença! - ela disse com impaciência. - Preciso ficar sozinha com Arthur, vai brincar com seus amiguinhos.
***
- Chloé - Zac chamou, e recebeu um olhar torto de Miguel, sentado no sofá ao lado dela. - Posso falar com você?
- Tá - ela respondeu e se levantou.
Ele a levou até onde se lembrava ser a adega de Jack, entrando lá com ela e fechando a porta.
- O que aconteceu? - ela perguntou, mas ele não viu seu rosto. Estava escuro ali e ele não sabia onde ficava o interruptor.
- Eu... Preciso te dizer algo...
- Certo, eu saquei que você queria dizer alguma coisa quando pediu pra falar comigo, então pula essa parte e diz logo o que é.
- Aconteceu uma coisa...
- E?
Zac vacilou, mudando o peso de um pé pro outro.
- Eu só queria dizer que gosto muito de todos vocês - ele engoliu em seco. - E que às vezes a gente faz coisas que não quer, mas precisa...
- O que quer dizer com isso?
Ele balançou a cabeça.
- Nada. Deixa pra lá.
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