6. Os Mortos se Levantam (p.4)

Assim que Arthur teve certeza de que Narcisa havia saído de fato, virou-se para Zac com os braços cruzados:

— Você não tem ideia de tudo o que eu passei enquanto você aproveitava suas férias com fadas — ele disse.

— Eu não tive culpa, eu não quis isso! Quantas vezes vou ter que repetir? — disse Zac, exasperado. — Por que não me conta o que aconteceu com você nesse tempo?

Arthur mudou o peso do corpo de um pé para o outro. Pela primeira vez, estava se sentindo desconfortável perto de Zac, como se depois de todo esse tempo, eles tivessem se tornado desconhecidos. Porém ele queria contar sobre Diana e seu pai, queria poder desabafar isso para alguém, e se alguém iria ouvir e entender, essa pessoa estava de pé em sua frente, o observando com mais preocupação do que raiva.

Sentou no sofá de Narcisa, e Zac, ainda que cauteloso, sentou próximo a ele, que não demorou a iniciar uma hesitante narrativa dos acontecimentos enquanto ele estava longe.

— Você sempre teve uma quedinha pela Diana — ele falou, afinal —, mas parece bizarro demais acreditar que ela tenha sido amante do seu pai.

— Ela confessou, ela me disse tudo. E o pior é que eu nem consigo me conformar que nunca vou poder confiar nela, nem consigo ficar longe. Isso está me matando.

Zac esticou o braço e puxou Arthur em direção ao seu peito, em um abraço um pouco desajeitado pela posição no sofá. Ele deu um sorriso torto.

— Vocês moram na mesma casa, e é uma casa bem pequena. Parece realmente difícil aumentar o raio de distância entre os dois.

— Não é disso que eu tô falando. — Arthur riu da brincadeira, e ficou sério novamente em seguida. — Diana e eu... Nós... — algum barulho soou do lado de fora, mas nenhum dos dois deu atenção. — Você sabe... transamos na praia... hum, acidentalmente.

— Acidentalmente? — Zac estava rindo, enquanto Arthur se desvencilhava dele para se sentar direito. Seu rosto estava um pouco corado. — Ninguém transa por acidente, não é tipo tropeçar...

Batidas fortes o interromperam enquanto ele falava. Arthur olhou para a janela com o cenho franzido e aproximou-se para abri-la. Ele girou a tranca e puxou ambas as abas para dentro, e seu rosto exibiu surpresa ao olhar lá fora.

— Quem é você? — ele perguntou, e Zac saltou de pé, parando atrás de Arthur em dois passos largos.

Trepado em um galho de árvore, estava Delwen. Seu rosto atordoado, as pequenas folhagens que cobriam sua cabeça pendendo sobre a testa, onde pequenas gotas de suor se acumulavam na pele morena.

— Isac — Delwen disse, ignorando Arthur como se ele nem estivesse ali. — Tem feiticeiros aqui, cerca de cinco deles. Pelo que entendi, estão atrás dos seus amigos. — Ele falava um pouco afobado, o que não parecia típico dele. — Estou tentando falar com você há horas, mas tem magia forte em torno da casa onde você estava. Também não consegui entrar nessa, por isso subi na árvore, sabia que...

Sua fala foi interrompida quando algo atingiu sua cabeça com força. Zac gritou e se lançou em direção ao peitoril da janela, a tempo de ver Aine, a autora da agressão, saltar do galho com graciosidade em direção ao corpo desfalecido de Delwen no chão.

Ele correu para as escadas, saltando vários degraus em sua descida. Arthur vinha atrás aturdido, sem ter ideia do que estava acontecendo.

La embaixo, ele correu para fora apressado. Aine arrastava sua capa pelo chão coberto de folhas secas, enquanto as raízes da grande árvore que havia ali criavam vida, e enrolavam-se no ao corpo de Delwen, como se o abraçassem.

— Isac Miller — ela disse sorrindo. Nunca a tinha visto sob a luz do sol, e a luminosidade fazia com que parece quase como uma adolescente. Sua pele parecia ainda mais pálida, e seus olhos e cabelos mais brilhantes. — Bom te ver, temos sentido muito a sua falta.

— Solta ele, por favor — Zac pediu, observando enquanto as raízes começavam a arrastar o corpo de Delwen sobre a terra, deixando um rastro pelo caminho. Ele estava sendo levado em direção ao tronco. — Por que está fazendo isso?

— Ele é meu, posso fazer o que eu quiser, e ele traiu a própria Rainha — ela respondeu, altiva.

Um raio de luz vermelho intenso atravessou o espaço que os separava e atingiu as raízes que amarravam o garoto fada. Elas, por sua vez, afrouxaram e pararam de se movimentar.

— Deixe o garoto — disse Diana, surgindo por detrás deles, andando em passos largos. Seu cabelo solto chicoteada com força por culpa do vento que vinha do mar, e suas mãos brilhavam com o fogo escarlate de sua magia.

Aine virou seu rosto para identificar de onde veio a interferência, e suas sobrancelhas finas se ergueram em surpresa, enrugando de leve a pele de sua testa.

— Ah, duquesa! É bom revê-la. — Ela sorriu. — Não se envolva nisso, feiticeira. Não é um garoto, é uma fada, e um traidor. Mantenha-se fora do meu caminho, e na hora certa, poderemos ser aliadas.

Diana não respondeu, nem fez nada além de manter-se de pé, estática, apenas assistindo enquanto as raízes voltavam a envolver o corpo do garoto caído, e arrasta-lo em direção à brecha recém surgida ao pé da árvore.

Zac queria correr e agarrar Delwen, desprender a fada das amarras e mantê-lo longe, mas sabia que não tinha poder para isso, então apenas assistiu quando ele desapareceu no buraco, seguido por Aine, que saltou para dentro, enquanto sua capa ondulava no ar e desaparecia atrás dela.

Uma onda de raiva tomou seu peito, fazendo com que o sangue corresse mais rápido em suas veias.

— POR QUE NÃO FEZ NADA? — ele gritou para Diana.

E ela o olhou com os olhos semicerrados.

— Não vou me colocar contra a Rainha das Fadas — sibilou Diana. — Se o garoto é fada, ela tem razão. Pertence a ela.

— Zac — Arthur disse —, quem é ele?

Ele congelou. Ainda não tinha tido coragem de contar isso para Arthur.

— Ele me ajudou a sair do País das Fadas. — Zac suspirou, não adiantava ficar mentindo. Ele baixou a cabeça. — Delwen é meu... namorado, eu acho.

— Seu o quê? — perguntou Arthur em choque.

Zac assumiu uma expressão séria e olhou para Diana.

— Delwen veio dar um aviso. Tem feiticeiros por aqui por perto, atrás de vocês.

— Acho que nos encontraram! — Arthur apontava com veemência em direção a algum ponto da rua onde um pequeno grupo avançava com passos largos. Não havia como ter certeza de que não era apenas um grupo de humanos, mas parecia ser uma quantidade coerente com a que Delwen havia descrito.

Diana praguejou e agarrou ambos os garotos pelo braço. As unhas compridas dela se fincaram na pele de Zac, ao mesmo tempo em que uma estranha sensação de compressão invadia seu peito e desaparecia quase instantaneamente.

Ele piscou e, quando se deu por conta, percebeu que estava em frente ao portão de casa.

— Entrem — ordenou Diana, e eles obedeceram, sendo seguidos por ela.

Com o canto do olho, Zac viu uma rápida movimentação na entrada da estradinha que dava acesso a casa, e então algo explodiu no ar, um clarão verde esmeralda, como fogos de artifício perto demais. Depois desse, vieram outros, brilhando em diferentes cores, as ondas sonoras das explosões atingindo seu corpo e agitando a terra sob seus pés.

— Não podem nos atingir, eu coloquei uma barreira — disse Diana. — Mas não vai durar para sempre. Vamos!

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