4. Jack White (p.4)
Marina se concentrou na água do copo descartável em sua mão. Só precisava aumentar um pouquinho a temperatura.
— Pronto — disse Miguel avaliando o termômetro. — Agora mantenha a temperatura por um minuto.
Essa, teoricamente, deveria ser a parte mais fácil agora que tinha atingido sua meta em temperatura. Só que o “porém” era o fato de que não podia deixar a água esfriar, nem fazê-la aquecer demais.
Mas estava pegando o jeito. Concentração. Essa era a palavra chave, esquecer de tudo ao seu redor e ser a água, sentir-se parte dela. Falando assim, parece que se tratava de exercitar a parte de si que era Anjo de Água, mas era o contrário. Marina precisava controlar o Anjo de Fogo em si.
— Conseguiu! — Miguel falou, encarando o termômetro com um sorriso enorme. — Pela primeira vez, conseguiu, Marina!
Ela piscou os olhos. Conseguiu? Sim! Conseguiu!
— Até que enfim! — disse Arthur surgindo na porta. — Parabéns, Marina. E parabéns pra você também, Miguel, ótimo professor. — Ele ergueu o polegar. — Agora comemore com a dancinha do Anjo de Terra.
Arthur mexeu os braços de um jeito esquisito. Era uma brincadeira, certamente, mas Miguel o encarou mal humorado.
— Você não tem mais o que fazer? — ele perguntou.
—Certamente não. — Ele se jogou no banco ali perto, que era meramente uma tabua de madeira fixada com pregos sobre duas estacas que lhe serviam de pés.
Miguel revirou os olhos e o ignorou, voltando a atenção para Marina.
— Quer tentar outra vez?
— Pode ser.
***
Zac seguia Jack de cabeça baixa. Estavam passando por um corredor onde os pisos brancos eram encardidos. Passaram sob uma luz de LED que piscava sem parar, de forma que causava um certo incômodo nos olhos.
Jack entrou por uma porta no fim desse corredor, e Zac quase esbarrou nele quando fez uma pausa para girar a maçaneta. Quando já estavam lá dentro, precisou manter o autocontrole para não levantar o rosto e espiar o ambiente. Jack havia dado a ordem: manter a cabeça baixa. Não tinha ideia da importância disso, no entanto seu subconsciente dizia que não devia desobedecer.
— Aqui está — disse um homem que os esperava lá dentro, entregando um embrulho de papel pardo para Jack. — Quem é o garoto?
— Um novo guarda-costas — Jack justificou, enquanto dava uma espiada dentro do saco de papel.
— Parece muito magricela pra essa função.
Zac respirou fundo e manteve a cabeça baixa.
— Não meta o nariz nos meus assuntos, José — Jack alertou, e Zac ouviu um tom de ameaça em sua voz. — Agora me diga, o que mais tem pra mim?
— Não muita coisa — José respondeu, e havia um certo desconforto em sua maneira de falar. — A polícia investigou, mas não chegou a lugar nenhum. E é claro que não pegariam Morselk, o desgraçado está em Alexandria. A boa notícia é que a polícia está deixando o caso de lado, logo os humanos vão esquecer o caso.
— Melhor assim — disse Jack. — Não queremos conflitos com humanos logo agora. Faça seu trabalho — ele ordenou para José. — Afaste a polícia do caso. Esconda evidências, tudo o que puder. Faça-os acreditar que é um caso sem solução.
José assentiu, e Jack tocou o braço de Zac, conduzindo-o de volta ao corredor.
***
Jack transformou a cafeteria Café com Tequila em um bar em segundos, usando apenas um pouco de mágica. Abriu o estabelecimento e deixou Bernardo responsável por atender os clientes.
Zac foi convidado a entrar na parte de trás, que era onde ficava a casa de Jack. Cuidadosamente, depositou o celular sobre a mesa da sala de jantar, e amassou o embrulho em uma bola de papel, que arremessou para trás sobre o ombro.
Bárbara também estava junto com eles, e revirou os olhos, agarrando o smartphone sobre a mesa e o ligando.
— É um telefone, não um monstro — ela disse, ainda encarando a tela, que lançava luzes coloridas sobre seu rosto pálido.
— E então? — Jack questionou, espiando sobre o ombro dela para saber o que a filha estava fazendo.
Zac puxou uma cadeira e se sentou.
— Hard Reset — Ela declarou, e estendeu o celular para Zac. — Né?
Ele o pegou e tentou encontrar alguma coisa, mas o aparelho estava limpo, nenhum arquivo, nada. Parecia um celular novo, recém saído da caixa. Não tinha nenhuma informação ali.
Bárbara gargalhou.
— Foi por isso que Morselk matou o cara! — Ela voltou a rir. — O tio da Loja resetou o celular!
— Então não serve pra nada? — Jack pareceu bastante irritado. — Todo o trabalho pra conseguir essa droga, e não serve pra nada!
— Foi por isso que Morselk não se importou em levar o celular — completou Zac, se sentindo igualmente frustrado. — Não tem nada aqui.
— Vocês são dois burros — Bárbara disse, e Zac reparou que ela olhava de um para o outro incrédula. Ela jogou as mãos para o alto. — Três, na verdade. Morselk é tanto quanto vocês.
— Do que está falando? — Jack perguntou.
— Pai — ela falou com uma certa impaciência —, Você precisa arrumar um bom hacker pra recuperar as informações.
— Como?
— Assim, quando você apaga dados do disco rígido, ainda sobra um fragmento, uma sombra deles. E a partir dessa sombra dá pra recuperar. — Ela falava como se fosse totalmente óbvio.
— Ótimo. — Jack tirou o próprio celular do bolso e começou a discar um número nele. — Vou pedir que me arrumem um desses.
Enquanto ele virava de costas e saia para outro cômodo, conversado com alguém no celular, Bárbara puxou Zac pelo braço, fazendo ele se levantar.
Ela o levou até um quarto nos fundos. O empurrou lá pra dentro e trancou a porta. Uma luz fraca foi acesa, e ele pode ver que se tratava de uma adega. As garrafas de bebidas ficavam organizadas em prateleiras que iam até o teto, e Bárbara puxou uma delas.
Com apenas um movimento da mão da garota, a rolha saltou para fora como se tivesse vontade própria, batendo contra a parede e caindo no chão em seguida.
— Como fez isso? — Zac perguntou, como se fosse a primeira vez que via algo do tipo na vida.
— Sou metade Anjo de Ar — ela disse, e virou a garrafa na boca, engolindo um largo gole e secando a boca com as costas da mão em seguida. — Só preciso aumentar a pressão do ar lá dentro, até a rolha sair para fora.
— Seu pai sabe que você vem até aqui beber?
— Claro que não — ela riu, e chegou para perto dele. Zac tentou dar um passo para trás, porém bateu com as costas na porta. — Eu tenho quinze anos, acha que ele me deixaria beber?
— Bom, eu tenho vinte e um, então seria legal aumentar a distância entre a gente. — Zac pôs as mãos em seus ombros e tentou empurrá-la delicadamente para trás, mas ela não cedeu.
— Eu não ligo — ela ficou nas pontas dos pés para beija-lo, porém Zac virou o rosto.
Ele aproveitou o breve momento de atordoamento dela para de esquivar por sua lateral, tirando a garrafa da mão dela e pondo em uma prateleira alta. O que ele sabia que não significaria nada pra alguém que consegue manipular o ar, mas que demonstrava que ele a reprovava por isso. Não que achasse que Bárbara se importava com sua opinião.
— Vamos voltar — Zac disse, e dessa vez foi ele quem a puxou pelo braço e abriu a porta.
Do outro lado, esperando com os braços cruzados, estava Jack.
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