3. Rumo aos Céus (p.2)
Chloé ligou o rádio e girou os botões, em busca de alguma estação que funcionasse, e, de preferência, que estivesse tocando alguma coisa interessante.
Arthur estava sentado no canto da cama dela, puxando bolinhas do cobertor como uma espécie de terapia. Passou o dia inteiro assim, sentindo-se pior do que nos dias anteriores.
Finalmente, Chloé pareceu encontrar algo no rádio, e aumentou o volume do aparelho. A música animada era cantada por uma mulher.
“Havana, ooh na-na (ay)
Half of my heart is in Havana, ooh-na-na (ay, ay)
He took me back to East Atlanta, na-na-na
Oh, but my heart is in Havana (ay)
There's somethin' 'bout his manners (uh huh)
Havana, ooh na-na (uh)”
— Isso definitivamente parece o seu tipo de música — comentou Chloé.
Arthur deu de ombros.
— Pode ser.
— O que você tem? — ela perguntou, e veio se sentar ao lado dele.
— As coisas estão indo de mal a pior — ele disse, enquanto esfregava os dedos no tecido macio do cobertor. — Você não vê?
Ela segurou uma de suas mãos.
— Ninguém tá realmente legal aqui, Arthur — disse —, mas ninguém tá reagindo tão mal a isso como você.
— Acha que estou exagerando? — perguntou ele.
— Não, não acho. Isso que a gente tá passando é uma droga, mas precisa levantar a cabeça e enfrentar o mundo. Você já passou por coisas piores antes.
— Eu estou acumulando “coisas piores” na minha vida — disse Arthur. — Uma atrás da outra. Primeiro foram meus pais, depois Zac. Agora... — ele hesitou, impedindo a si mesmo de confessar o que tinha acontecido entre ele e Diana. — E agora toda essa droga pela qual a gente está passando.
— Você ainda sente muita falta de Zac, não é? — ela apertou sua mão, os dedos quentes contra os seus. — Por mais que eu achasse que ele era meio retardado, me lembro de que ele era muito bom em te animar.
— Eu quase desejo que ele estivesse aqui, mas está melhor do que nós. Morto.
— Não, não está — disse Chloé. — Por pior que estejam as coisas, nada é tão ruim quanto a morte. — Ela suspirou. — Gostaria que você não pensasse nesse tipo de coisa.
— Eu também gostaria.
— Também queria que não fizesse mais o que fez hoje, você sabe, na praia.
Arthur não respondeu, não queria responder, e mesmo se quisesse, não saberia o que dizer. Ele olhou para a mão dela e reparou que usava um anel, com uma pedra verde de jade.
— Que anel é esse? — perguntou ele, nunca tendo visto a irmã usar nada do tipo antes.
— Encontrei perdido aqui na casa — disse ela, tentando disfarçar um certo nervosismo. — Achei ele legal e resolvi usar.
— Parece do tipo que vale bastante — comentou Arthur. — Muito descuido deixar um desses por aí.
— Pra você ver — ela disse, e se afastou para voltar a mexer no rádio.
***
Estela conseguiu o endereço exato de Jack White e ajudou Zac a comprar uma passagem de avião para o Brasil, no Rio de Janeiro, onde teria que pegar um ônibus para Campos dos Goytacazes. Pelas suas contas, sobraria uma quantia preocupantemente pequena do dinheiro que Tainá lhe emprestara, ou seja, precisava encontrar Arthur de qualquer jeito.
A contragosto, Estela o convidou para dormir em sua casa pelos próximos dois dias, que era quando haviam conseguido um voo por um preço que ele conseguiria pagar. Apresentou o quarto onde ele dormiria, e Delwen instalou-se lá também, sem se incomodar em pedir licença.
— Então você quer encontrar Arthur Paeon... — comentou Delwen, trancando a porta durante a noite.
— Sim — respondeu Zac indiferente, enquanto descalçava os tênis.
— E qual seu real interesse em Arthur Paeon? — especulou ele.
— Encontrar meu melhor amigo? — sugeriu Zac.
— É bom que seja — disse Delwen. — Te tirei do País das Fadas para que nenhuma outra fada tocasse em você, e muito menos Arthur Paeon.
Zac havia franzido o cenho enquanto ele falava.
— Isso é algum tipo de ciúme maluco? — perguntou. — Eu nem sabia que tínhamos algum tipo de relacionamento.
Delwen riu enquanto chegava mais para perto. Ele segurou Zac pelos cabelos e levantou seu rosto.
— Você se sente da mesma forma — apontou ele, e tocou sua bochecha com o polegar. — Pensa que não vi ciúme estampado no seu rosto quando me viu aqui com Estela?
Zac não respondeu.
— Tem coisas que a gente não escolhe sentir, Isac Miller.
— E sobre sua irmã? — perguntou Zac, se desviando dele para se encostar na parede.
Delwen percebeu seu constrangimento com a proximidade e se limitou a sentar na beira da cama.
— Meia irmã — corrigiu ele. — Estela é filha da meu pai e de uma ondina.
— Parece muita coincidência que ela more justamente em Nova York, onde eu estava.
— Eu também poderia dizer que parece muita coincidência que você estivesse justamente na cidade da minha meia irmã, se não fosse pelo fato de que eu tenho muitos meio irmãos.
— Então seu pai traiu sua mãe muitas vezes? — perguntou Zac e Delwen riu, parecendo achar a pergunta muito engraçada. — O que foi?
— Minha mãe e meu pai nunca foram casados. Não costumamos ter esse tipo de relacionamento, nem grande apego emocional a uma única pessoa.
— Então qual o motivo de toda a sua implicância com eu querer encontrar Arthur?
Delwen deu de ombros.
— Eu devo ser mais humano do que eu imaginava.
— Como assim? — perguntou Zac, confuso.
— Esqueça que eu disse isso.
— Mas...
— Esqueça — repetiu Delwen, encerrando o assunto.
— Mais cedo você disse que eu era apenas um conhecido seu.
— E eu nem sabia que tínhamos algum tipo de relacionamento — ele devolveu na mesma moeda.
— O que você fala contradiz o que você faz — apontou Zac. — Você está me deixando mais confuso do que eu já estava.
— E por que estava se sentindo assim? — Delwen o olhava com sincera preocupação.
— Isso é... — Zac não sabia o que dizer. — Por que é tão... Argh — Ele grunhiu. — É confuso. Eu estou me sentindo estranho. Eu... Nunca estive com outros homens antes do País das Fadas... e isso é tão... —Ele não sabia com o que comparar. — Você me entende?
Delwen não expressou reação, nem pareceu disposto a dar qualquer resposta.
— Claro que não — deduziu Zac. — Você é uma fada. As coisas no seu mundo não são iguais aqui no meu.
— Mas deveriam ser.
— Sim, deveriam — concordou ele.
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