2. Saudades de Casa (p.4)
Diana puxava Arthur pela mão em direção à casa abandonada que ficava ao lado de uma grande árvore. Há muito não passava por uma reforma, e tinha tantas rachaduras que chegava a ser alarmante, como se a qualquer momento, toda a construção fosse vir ao chão. Onde deveriam ter duas janelas, eram apenas dois grandes buracos na parede, e as portas já eram inexistentes.
Diana o levou até a escada, e ambos saltaram o terceiro degrau, que estava destruído. Não se arriscavam a se apoiar no corrimão, considerando que era visivelmente sujo, e muito provavelmente, menos seguro do que a escada em si.
— Por que estamos aqui? — Arthur perguntou.
— Não quer estar aqui? — ela disse sem olhá-lo.
Ele engoliu em seco, sem saber o que dizer, e continuou avançando até chegar ao andar de cima da casa. Saíram em um quarto vazio e empoeirado, repleto de folhas secas que se desprenderam da árvore ao lado, cujos galhos ameaçavam a entrar pelos amplos buracos onde as janelas deveriam estar.
No centro, debaixo do buraco da janela, estava o que deveria ser uma cama, inteira feita de cimento e tijolos, que Arthur imaginou que deveria ser a única coisa que invasores não devem ter conseguido furtar, e provavelmente também não viram utilidade.
Diana se esticou sobre essa cama, sem se importar se estava suja ou não, e muito menos para o fato que deveria ser extremamente dura e desconfortável.
— Não é errado entrar aqui? — Arthur perguntou, se sentindo consideravelmente nervoso.
— E daí? — Ela começou a engatinhar sobre a cama em sua direção. — Coisas erradas são as mais excitantes.
— É melhor a gente ir embora...
— Pra que a pressa? — ela perguntou, agarrando a frente de sua camisa e o levando até ela.
— Diana... — Arthur começou a falar, mas ela o beijou. Ele se afastou alarmado. — Diana!
Seu coração estava muito acelerado, e sentia-se tremer. Ela continuava o puxando para perto, mas ele não queria se deixar ir.
— Você não me quer mais — ela disse, e o soltou, como se estivesse desistindo. Arthur estava paralisado, não conseguia ir para longe nem para perto, e assistiu enquanto Diana pegava uma adaga em sua mão. — Você não me quer mais — ela repetiu, e começou a usar a lâmina para se ferir, criando cortes profundos na própria carne. — Você não me quer mais — disse mais uma vez, e o sangue parecia fluir para fora dela, como um rio carmesim...
Arthur acordou assustado, virando o corpo para cima e respirando muito rápido. A luz dos postes na rua entrava entre as frestas na telha, fornecendo uma luz pálida que permitia que ele visualizasse o quarto.
"Foi um pesadelo" disse para si mesmo "só um pesadelo."
Esfregou o rosto com as mãos e sentiu o suor frio que umedecia sua testa, fazendo com que os cabelos ficassem grudados ali. Sentiu o impulso de verificar se estava tudo bem com Diana, mas não iria fazer isso, então continuou tentando se convencer de que foi apenas um pesadelo.
Em busca de algum conforto, se sentou para ver Marina dormindo na cama ao lado, mas seu sangue gelou ao não encontrá-la ali. Praguejou mentalmente e se levantou, indo até o banheiro para ver se ela estava lá, porém descobriu que não havia nem sobra dela.
Foi até a cozinha e puxou a porta, descobrindo que estava apenas encostada. Pelo visto, ela havia saído. Arthur se apressou para fora, mantendo a porta destrancada. Saiu pelo portão de madeira, sabendo que se Marina saiu escondida durante a madrugada, provavelmente teria ido até a praia.
O vento gelado arrepiou os pelos de seus braços e ele os cruzou sobre o peito. Um gato passou sobre os muros da casa vizinha, com os olhos verdes brilhando no escuro. Apertou o passo em direção ao mar, e logo seus pés se afundavam na areia fofa a cada passo.
Mas Marina não estava ali, não havia nem sinal dela.
Sua preocupação duplicou, e sua mente vagou tentando imaginar o que poderia ter acontecido. Teriam os Anjos encontrado ela ali? Parecia improvável, porém não impossível.
Sentou-se e colocou a cabeça entre os joelhos. Precisava pensar no que fazer para encontra-la, mas não tinha nem uma remota ideia de onde ela estaria.
Não soube quanto tempo ficou ali pensando e enfiando os dedos na areia, no entanto, ele a ouviu chamá-lo:
— Arthur?
Levantou os olhos para vê-la, mas Marina não estava sozinha, Miguel estava com ela, o observando com o cenho franzido. Arthur ergueu-se do chão em um ímpeto de raiva, pensou que deveria estar aliviado, mas não estava.
— Que droga vocês estão fazendo aqui? — perguntou, dando batidas na própria roupa para soltar a areia presa em seu corpo. — Eu acordei de madrugada e você não estava lá. Pensei que tivesse acontecido alguma coisa, só que ao invés disso, você está passeando com ele — Arthur disse, acusadoramente, dando ênfase em suas palavras.
Marina indignou-se.
— Eu não te devo satisfação!
— E o que me diz se Diana souber disso? — ele ameaçou.
Ela riu com deboche.
— Vocês nem se falam — disse Marina. — Ninguém sabe o motivo, mas vocês estão brigados por alguma coisa. E mesmo assim, em nenhum momento, meti meu nariz na sua vida, então não se preocupe, posso muito bem cuidar da minha própria.
E depois disso, ela agarrou Miguel pelo braço o puxando de volta para casa, o deixando na companhia apenas do oceano, e foi a ele a quem Arthur recorreu.
Arthur se deitou na beira do mar, onde a areia era dura pela umidade, e a terra inclinada em direção ao horizonte. Ficou ali por muito tempo, sentindo as ondas o lavarem, e torcendo para que levassem embora tudo o que estava sentindo, ou, em seus pensamentos mais desesperados, que levassem a ele mesmo para longe, pra simplesmente não sentir mais nada.
Quando o sol nasceu, começou rapidamente a lhe queimar a pele, porém, novamente, as ondas vinham e o refrescavam com a água salgada, e por fim, dormiu, apenas por um tempo, até que uma Chloé claramente alterada o acordou, e o fez levantar dali e voltar para casa. Mas uma casa que, infelizmente, não era seu lar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top