14. A Poção do Oblívio (p.3)
Marina ainda não havia recuperado a capacidade de respirar quando Chloé chegou até ela, se jogando ao seu lado no chão.
— Mas que...! — Chloé xingou. — O que estava fazendo lá em cima?
A garota se ocupava em tentar achar todos os lugares machucados e curar rapidamente. Por muita sorte, não tinha fraturado nenhum osso.
As mãos de Chloé deslizaram delicadamente sobre suas costas quando ela percebeu a falta de ar da garota, fazendo com que ela recuperasse a capacidade de inspirar e expirar.
— Me desculpa — foi a primeira coisa que Marina tentou balbuciar, enquanto as mãos habilidosas de Chloé ainda ocupavam-se em sua função de rastrear e curar ferimentos. — Eu não queria atrapalhar.
Foi nesse momento que Chloé pareceu se dar conta do que Marina havia visto, e seus olhos castanhos se fixaram nela, arregalados. Um intenso rubor coloria todo seu rosto.
— Eu sinto muito — Marina continuou a dizer. — Eu não queria espionar vocês nem nada assim.
Chloé olhou para trás, procurando por Narcisa, mas ela não estava mais lá, então voltou-se novamente para Marina.
— Vamos lá pra dentro, assim posso ver se ainda está machucada. E posso explicar... — ela disse. — Consegue andar?
Marina assentiu.
Chloé a ajudou a se levantar. Não estava mais doendo tanto assim, mas aceitou o apoio no caminho até o quarto.
Quando chegaram lá, Marina se sentou sobre a cama e Chloé ajoelhou no chão, em frente a ela, e voltou a examinar cada centímetro.
— Tem algum lugar doendo? — ela perguntou.
— Meu quadril — respondeu Marina, puxando a blusa para mostrar a lateral do corpo que recebeu mais impacto.
Chloé tocou sua pele. Os dedos quentes massagearam primeiro delicadamente, depois com um pouco mais de força. Marina sentiu um leve formigamento no local antes que a dor desaparecesse completamente.
— Obrigada — ela disse quando a outra se afastou. — Acho que não tenho mais nada machucado.
Chloé se apoiou nos joelhos e levantou com um suspiro, sentando-se em seguida ao lado de Marina. Ela tirou um elástico do braço e o usou para amarrar o cabelo em um coque no topo da cabeça.
— Narcisa e eu estamos namorando.
Marina assentiu.
— Eu sinto muito por ter visto vocês juntas — disse Marina. — Eu juro que não estava espionando você.
— Eu não estou dizendo nada — ela respondeu na defensiva. — E também não tô chateada. Você precisava saber, e eu devia ter dito há muito tempo. Eu atrapalhei você e Miguel com essa nossa história de namoro falso. — Chloé tocou seu ombro. — Nós nunca namoramos de verdade.
Marina baixou a cabeça. De repente, a estampa do lençol da cama parecia muito mais interessante do que era de fato.
— Ele deve estar bravo comigo agora — disse ela. — Tratei ele muito mal quando veio aqui. Eu não sabia qual era o problema, mas sabia que ele estava escondendo alguma coisa. Eu não aguento mais tanta gente ao meu redor mentindo e escondendo as coisas de mim.
— Inclusive eu — disse Chloé, e deslizou a mão para longe de seu ombro. Ela estava envergonhada. — Sinto muito por mentir por todo esse tempo.
— Seu irmão sabe?
— Não. — Ela balançou a cabeça negativamente. — Só Miguel, Narcisa e você agora.
— Ele deveria saber — disse Marina. — Arthur se importa muito com você.
Chloé se encolheu um pouco ao ouvir isso.
— Eu vou dizer — disse ela. — E você deveria procurar Miguel. Tenho certeza de que ele não está tão bravo quanto está imaginando.
— Você tem razão — disse Marina, então se levantou da cama. — Eu vou agora, antes da reunião.
— Acho uma boa — Chloé concordou. Marina já estava com a mão na maçaneta. — Não sabemos o que vai acontecer depois da reunião.
— Claro — ela respondeu.
Estava quase atravessando a porta quando deu de cara com Diana. A feiticeira estava prestes a bater na porta e parou no meio do ato.
— Hora de se arrumar — ela disse.
— Eu só preciso fazer uma coisa antes... — disse Marina, tentando se esquivar. — Não vou demorar.
— Nem pensar. — Ela segurou Marina pelo braço, as unhas compridas e vermelhas pinicando sua pele. A garota foi guiada de volta para o quarto e a feiticeira trancou a porta. — Quero você impecável e pontual.
***
Zac entrou no quarto de Bernardo quando ele deu-lhe autorização para fazer isso.
— Seu pai me pediu pra te apressar — disse assim que entrou.
Bernardo, que arrumava o próprio cabelo no espelho, riu do comentário. Os fios claros como pérolas estavam arrumados para cima — não simplesmente arrepiados ou bagunçados, e sim perfeitamente ordenados e apontando para o alto. A pele clara contrastava com o azul-marinho de sua jaqueta, parecendo ainda mais pálida do que de costume.
Bernardo era bonito, mas naquele momento, estava além de qualquer adjetivo.
— Eu costumo me atrasar — admitiu ele —, mas não pra coisas importantes. Ficar bonito assim dá trabalho.
Zac, que há tempos já era acostumado a ouvir comentários egocêntricos, apenas achou graça.
Bernardo olhou para ele de cima abaixo e ergueu uma das sobrancelhas.
— Está com minha camisa.
Zac deu de ombros e Bernardo não pareceu tão preocupado com isso. Calçou um par de tênis pretos enquanto Zac ainda se escorava na porta.
Dentro dele a consciência parecia cada vez mais pesada. Como poderia fazer isso? Bernardo, Bárbara e Bianca não tinham qualquer culpa, mas iam acabar sofrendo as consequências.
— Eu estou indo — disse ele, dando uma última espiada no espelho. — Não precisa se preocupar, meu pai não vai brigar com você pelo meu atraso, porque eu vou chegar perfeitamente à tempo.
Zac riu de nervoso, esse era com certeza o último motivo pelo qual Jack iria querer brigar com ele naquela noite.
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