14. A Poção do Oblívio (p.2)
— E então? — Arthur perguntou preocupado. Pelo canto do olho podia ver Narcisa arrumando as coisas de volta em sua mala.
— Não sinto nada de diferente — Miguel respondeu.
Arthur olhou para Narcisa confuso. Teria alguma coisa dado errado? Ela ainda estava terminando de arrumar suas coisas, a cabeça baixa fazendo os cabelos se espalharem por cima dos ombros.
Narcisa ela apenas sorriu e ergueu a cabeça para Miguel.
— É mesmo? — ela falou. — E qual é meu nome?
Arthur voltou o olhar novamente para Miguel, que havia franzido o cenho e olhava para Narcisa confuso. Seu rosto se virou para Arthur em seguida, e quando seus olhos de fixaram nele, pareceram ainda mais confuso.
— Arthur? O que está fazendo aqui? — ele pareceu se dar conta de mais alguma coisa e olhou em volta. — Onde eu estou?
Arthur cerrou os punhos. A culpa o atingiu em cheio, como uma onda avassaladora quebrando sobre seu peito. Deu alguns passos para trás, e ao encontrar uma parede, acabou se escorando nela para se manter de pé. O olhar confuso de Miguel seguiu cada movimento seu, e isso só fazia doer ainda mais.
— Durma, Miguel — disse Narcisa.
O garoto deslizou o corpo para deitar-se e fechou os olhos. A cabeça relaxada afundava sobre o travesseiro, com os cachos de seu cabelo escuro apontando em todas as direções. Ele dormiu tranquilamente.
— Foi aquela poção que você deu? — Arthur perguntou.
— A Poção da Obediência — ela respondeu. — Ele vai fazer tudo o que mandarem por algumas horas.
— Não deveria ser proibido dar esse tipo de poção pra alguém?
— De fato, é proibido, mas feiticeiros não são os melhores em cumprir regras — ela respondeu. — Desde que você não esteja matando ninguém, ninguém vai tentar te prender só porque deu uma poçãozinha pra alguém.
Arthur quis protestar, entretanto sabia que seria inútil, então apenas se calou e contentou-se em observar a forma como o peito do garoto na cama subia e descia no ritmo tranquilo de sua respiração.
— Eu preciso sair, mas não demoro pra voltar. Se ele acordar, é só mandar ele dormir de novo.
Arthur apenas assentiu e foi deixado sozinho com Miguel.
***
Ainda estava claro quando Marina decidira procurar um lugar para poder respirar e pensar por alguns minutos, entretanto, mais de meia hora já havia se passado desde que ela subira na mangueira no quintal de Jack e se recusava a voltar para dentro de casa.
No entanto, a quantidade de mosquitos que a perturbavam naquele momento faziam-na repensar sua permanência naquele galho. Estava prestes a sair quando notou uma movimentação lá em baixo, então ficou parada, se esticando sutilmente para espiar por entre as folhas.
Alguém havia saído pela portas dos fundos e se dirigia para a parte mais escondida da casa. Os cachos loiros volumosos eram facilmente reconhecidos como sendo de Chloé.
Marina estava prestes a descer e dar um “oi” quando notou uma segunda movimentação. Ela havia contornado a casa e agora se dirigia até Chloé. Não teve muito trabalho para identifica-la: era a feiticeira que havia cuidado de Arthur. Como ela se chamava mesmo?
Narcisa.
Ela inclinou-se um pouco mais para ver melhor. O que ela estava fazendo ali? Viu a feiticeira se aproximar de Chloé, que naquele instante havia apoiado o corpo contra a parede. Ela pressionou o corpo contra o da garota e a beijou.
Marina arregalou os olhos. Não podia acreditar no que estava vendo, ainda que estivesse bem ali, na sua frente. Engoliu em seco e se segurou firme no galho em que estava sentada quando um vento um pouco mais forte fez a árvore agitar-se.
Ainda estava tentando convencer seu cérebro do que estava vendo. Espiou outra vez para ter certeza e sim, elas estavam se beijando.
Sentiu um rubor aquecer-lhe a face. Não devia ver aquilo, estava invadindo a privacidade de Chloé.
Pensou em como poderia voltar para a casa sem chamar atenção. Narcisa e Chloé pareciam muito ocupadas e estavam a uma distância razoável da árvore de Marina. Talvez ela pudesse sair dali sorrateiramente, sem que elas percebessem sua presença. Só teria que discreta.
Marina empurrou o próprio corpo para trás, procurando apoiar o pé no galho que havia usado anteriormente para se içar até o lugar onde estava. Estava prestes a procurar um galho mais abaixo para colocar o outro pé quando uma segunda rajada de vento veio, dessa vez mais forte do que a primeira.
Marina escorregou e agarrou o galho mais próximo de sua mão para se segurar, mas ele era fino demais e se partiu sob seu peso. Ela desabou em direção ao chão e sentiu todo o ar abandonar seus pulmões.
***
Zac vestiu a camisa que Bernardo havia emprestado para ele ir à festa no País das Fadas, e que ele ainda não havia devolvido. Delwen o observava com atenção enquanto prendia os botões da roupa em suas respectivas casas.
— Prefiro quando você tira — disse ele, e Zac corou um pouco.
— Vamos repassar o que você tem que fazer — Zac disse. — Eu vou tentar invadir a reunião, e você...
— Fico lá fora esperando até você sair e vamos embora.
— Isso. — Zac engoliu em seco. — Você não pode entrar. Se eu não aparecer, você volta pro País das Fadas e depois dou um jeito de te encontrar.
— Eu não vou embora sem você — Delwen falou com convicção.
— Delwen, por favor...
— Isso não está em discussão. — Delwen se levantou da cama e foi andando até ele. — Eu não vou embora e deixar você aqui.
— Eu ficaria mais tranquilo em saber que você está em segurança — disse Zac, ainda tentando convencê-lo.
Delwen chegou próximo o suficiente para puxa-lo para perto, e falou a um palmo de seu rosto:
— Eu só vou embora se você estiver indo junto comigo.
Zac sabia que não adiantaria discutir. Tocou ambos os lados da face morena do garoto fada com as mãos e o beijou. Só restava torcer para que tudo desse certo.
— Me deseje boa sorte.
— Boa sorte — ele disse, e com mais um rápido beijo, Zac saiu pela porta, enquanto Delwen partia pela janela, levando os poucos pertences de seu noivo consigo.
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