14. A Poção do Oblívio (p.1)
Arthur olhou em volta, observando o quarto amplo de paredes claras, tudo minuciosamente arrumado.
— Onde estamos?
— Não muito longe — Narcisa respondeu, tirando uma mala preta do chão apoiando-a sobre a cama. Ela correu o zíper ao seu redor para abri-la. — É um hotel a menos de quinhentos metros da casa de Jack. Achei melhor poupar minha energia, vou precisar mais tarde.
Arthur se esgueirou até a janela para espiar. Estavam em um andar alto. Muito alto.
Ele aproximou-se de Narcisa para ver o que ela fazia e descobriu que a mala estava equipada com uma sequência de tubos e recipientes com os mais variados tipos de substâncias: de várias cores e aspectos, sólidos, líquidos e até vapores.
— O que eu preciso fazer? — Miguel perguntou. Ainda estava com ambas as mãos nos bolsos do casaco, e agora que Arthur reparava, um deles até parecia um pouco mais cheio do que o outro.
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— Tire a mochila e os sapatos — ela disse e ele acatou rapidamente — Agora suba aqui. — Narcisa apontou para uma balança digital no chão que Arthur podia jurar que não estava ali a um segundo atrás.
Miguel pôs os dois pés sobre ela e permaneceu parado enquanto a feiticeira fazia anotações em um pequeno bloco de notas.
— Certo, agora apenas se deite por enquanto — Narcisa pediu, começando a fazer o que parecia uma série de cálculos no papel. — Preciso saber quanto tempo vocês querem apagar.
Miguel, que já havia retirado seus sapatos, subiu sobre a cama e apoiou os cotovelos nas pernas, permanecendo sentado.
— Conheci Marina entre o final de janeiro e o começo de fevereiro, não me lembro exatamente.
— Essa tal poção pode oferecer algum risco pra ele? — Arthur se intrometeu.
— Acho que está um pouco tarde pra voltar atrás — comentou Miguel.
— Se chama Poção do Oblívio — respondeu Narcisa, concentrada em seus cálculos, que já haviam passado para a segunda página no bloco de notas. — Normalmente ela causa confusão mental e, no máximo, alguma alergia. E existe também uma quantidade máxima que pode ser bebida sem se causar uma intoxicação, isso, é claro, de acordo com algumas variáveis, como o peso de quem bebe e a concentração da poção, mas garanto que ele não vai beber nem um terço do que seria necessário pra fazer mal. Dois meses é pouco tempo.
Parecendo chegar a alguma conclusão matemática sobre a poção, Narcisa abandonou o bloco de notas e ocupou-se em derramar a quantidade exata dos fluidos de dois tubos, girando dentro de um recipiente transparente para mistura-los. Tinha uma cor rosa-claro, assemelhando-se com iogurte.
— Por que a poção dele parece menos nojenta que a que eu tive que tomar? — Arthur perguntou. — Ainda acho que você fez aquilo com agua do vaso.
— Você calado é um poeta — Narcisa respondeu irritada. Ela apoiou a poção cuidadosamente sobre o lençol da cama e tirou um conta gotas e um tubo de vidro de dentro da mala, cujo conteúdo era de uma cor roxa translúcida. — Preciso que tome isso primeiro — ela falou, usando o conta gotas para pescar um pouco do líquido no vidrinho e chegando perto de Miguel. — Abra a boca.
Miguel obedeceu, e Arthur contou três gotas.
— O que foi essa poção? — ele perguntou.
— Seu amiguinho tem uma tendência a ser muito rebelde — explicou ela. — Isso vai deixar ele mais suscetível a obedecer ordens.
— E não parece errado dar isso a alguém? — Arthur indignou-se. — Aparentemente, tira a liberdade de escolha dela.
Narcisa bufou e revirou os olhos, enquanto rearrumava as coisas na mala, mas foi Miguel quem respondeu:
— Cara, apenas pare de problematizar. Sou eu que estou bebendo e você não está me vendo fazer nenhuma reclamação.
Arthur ficou calado e voltou sua atenção para Narcisa. A feiticeira moveu uma mão sobre o recipiente da poção, e a palma de sua mão brilhou em um tom azul vívido. O fluído borbulhou e se agitou, mas parou em seguida, e ela pareceu satisfeita.
— Está pronta — anunciou ela, então apenas contornou a cama, até chegar perto de Miguel, e ofereceu-lhe a poção para que ele a segurasse em suas mãos.
Miguel olhou para o conteúdo no recipiente que segurava. Em seguida levantou os olhos, fixando os em Arthur por um breve momento.
A culpa pesou em seu peito. Ele não podia fazer isso. Ele não deveria ser o único a pagar um alto preço por ter Dean de volta.
— Para, não faz isso! — ele falou, chegando perto para agarrar a poção das mãos dele. — A gente tem que arrumar outro jeito de resgatar Dean.
— Não seja idiota! — Miguel falou, afastando a poção do alcance dele antes que ele conseguisse pega-la. — Não surta, Arthur.
Arthur assentiu e se afastou, cerrando os punhos e tentando não sufocar com o nó que havia se formado em sua garganta. Já estava suando frio.
Miguel voltou a olhar para a poção em suas mãos, respirou fundo duas vezes e, sem mais delongas, ele bebeu até a última gota enquanto Arthur apenas observava, impotente, o subir e descer de seu pomo-de-Adão a cada gole
***
Zac pousou o copo vazio sobre o balcão. Estava sentindo uma leve vertigem, mas não estava bêbado, e nem podia ficar, só precisava clarear um pouco a mente.
— Onde está seu pai? — ele perguntou a Bernardo casualmente. — Não vi ele o dia inteiro.
— Ocupado com burocracia de uma reunião entre ele e os híbridos hoje — Bernardo respondeu.
— É mesmo? — Zac tentou parecer desinteressado. — Onde vai ser?
— Aqui mesmo — respondeu Bernardo, indo apoiar os cotovelos no balcão próximo a Zac. — Papai tem uma sala de reunião que nunca usa em casa.
Zac riu e brincou com o copo vazio em sua mão.
— Vai usar agora.
Bernardo pareceu pensativo por um momento, então usou uma das mãos pra escorar o rosto quando falou:
— Papai quer que eu aprenda como funcionam as coisas porque acha que eu um dia vou substituí-lo.
— E você não quer isso? — Zac franziu o cenho.
— Eu quero deixar ele orgulhoso — ele respondeu. — Mas não sei isso é pra mim, eu não sou um líder por natureza. É muita responsabilidade.
Zac quis se estapear. Cada vez se tornava mais difícil sua missão de revelar a verdade sobre os filhos de Jack, pois a todo momento tomava mais consciência da catástrofe que poderia fazer com a vida deles, sem que eles tivessem culpa de nada.
Enquanto Zac ainda tentava reprimir a culpa em seu peito, Jack colocou só a cabeça para dentro do bar.
— Já pode ir se preparar para a reunião, Ben — ele falou para o filho. — Se levar mais que 10 minutos tomando banho, vou arrancar a porta do banheiro.
Olhando entediado para o pai, Bernardo apenas revirou os olhos e saiu, se esquivando de Jack ao passar pela porta.
— Zac — dessa vez, a fala do líder dos híbridos era direcionada a ele. — Daqui a alguns minutos, por favor, apresse ele. Eu vou estar ocupado pra chama-lo, mas não quero que ele se atrase.
Zac assentiu e foi deixado sozinho no bar, agora totalmente sem saber onde arrumar mais informações.
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