13. O Futuro Iminente (p.2)
Após três batidas na porta, Miguel fez sinais veementes, ainda que em silêncio, para que Delwen se escondesse no banheiro antes que ele abrisse a porta.
O que ele não esperava ver do outro lado era Diana, de pé com os braços cruzados sobre o tórax.
— Sim?
— Tem mais alguém no quarto com você? — ela perguntou. — Precisamos conversar.
Precisou pensar rápido em uma resposta. Diana não era fácil de enganar, e Delwen corria o risco de ser descoberto, mas que desculpa usar para não deixa-la entrar?
— Tem uma barata aqui dentro, e eu ainda estou tentando me livrar dela.
Diana torceu o rosto em uma feição de asco.
— Eu posso me livrar de uma barata — disse ela.
— Não! Você sabe como Arthur e Zac são com essas coisas, todo aquele discurso de que qualquer vida vale a pena. — ele disse, já sabendo que não estava a enganando quando viu o ceticismo estampar o rosto da feiticeira. Decidiu então ser direto: — Ok, você não pode entrar.
Dizer isso não adiantou muita coisa. Ela o empurrou para o lado e abriu a porta, caminhando até o centro do quarto com o salto de seu sapato estalando contra o piso. Estava usando um vestido vinho de mangas longas, que marcava sua cintura fina. Olhou ao redor, e com um estalar de dedos, os lençóis e cobertas sobre a cama flutuaram, enquanto ela se inclinava para olhar debaixo de ambas.
Ao não encontrar nada, Diana ajeitou sua postura, encarando-o com os olhos semicerrados.
— O que está escondendo, Miguel Bellator? — ela perguntou, dando alguns passos para trás. Estava se aproximando do banheiro.
— Nada — disse ele, tentando soar natural. Talvez isso a fizesse parar de desconfiar, mas ele duvidava.
— Como conseguiu esse hematoma no rosto? — Diana perguntou. Sua mão tocou a porta do banheiro, e ela se destrancou quase espontaneamente.
— Um pequeno acidente hoje de manhã, mas duvido que tenha vindo aqui para falar comigo sobre isso.
— Um acidente que tem haver com o elfo no seu banheiro?
— Fada — corrigiu Delwen, saindo de lá.
— Pior.
— O que você quer afinal, Diana? — Miguel perguntou. — E qual o problema em eu ter uma fada no meu banheiro?
— Sinceramente, eu não me importo com o que você tem no seu banheiro — disse ela, indo se sentar na cama de Zac, que havia magicamente se arrumado novamente. — Arthur me falou sobre o plano de vocês para resgatar Dean hoje a noite.
— Arthur tem uma boca muito grande — reclamou Miguel, enquanto via Delwen escorar o ombro na parede, olhando para Diana desconfiado.
— Eu sei quando ele está mentindo, é só pressionar um pouco e ele fala a verdade.
— E o que você quer saber?
— Meios de trazer você de volta — disse ela.
Miguel arregalou os olhos surpreso.
— Não sabia que você se importava.
— Somos um time agora... E além do mais, Arthur vai ficar se lamentando nos meus ouvidos. — Diana respondeu, jogando uma mecha de seu cabelo escuro sobre os ombros.
— Está bem. — Ele foi se sentar na própria cama, entrelaçando os dedos das mãos. — Mas pode ser arriscado. Meu pai não vai deixar me tirarem de lá tão fácil.
— Tenho séculos de idade. Eu sei me cuidar. Anda, comece a falar.
***
Arthur disse um palavrão, e em seguida riu.
— Aquele...! — Arthur estava incrédulo. — César liderando Anjos, com todo aquele discurso anti-hibridos e namorando uma elfa. Que hipócrita!
— Não só uma elfa — lembrou Zac. — É a Rainha dos Elfos.
— Eu namorei uma elfa no ano passado — comentou Arthur e estremeceu. — Péssima experiência, mas não vem ao caso. Essa história seria um escândalo.
— Seria não, vai ser. É essa minha missão — Disse Zac. — A ordem da Rainha das Fadas foi que a notícia se espalhasse.
— Como vai fazer isso?
— Hoje a noite...
— Na reunião — completou Arthur. — Jack vai querer te matar.
— Eu vou fugir. Pelo menos, esse é o plano — Zac coçou a nuca. — Se tudo der certo, não vou estar aqui amanhã.
Esse era o momento de se despedir, ainda que nenhum deles quisesse.
— Acha que ainda vamos nos encontrar novamente algum dia? — perguntou Arthur.
— Eu não sei — disse Zac. — Espero que sim.
Arthur ficou de pé, e andou até Zac, que também não hesitou em levantar se.
— Eu acho que é um adeus então — disse Arthur, e o abraçou firmemente.
— Não — disse Zac, apertando o abraço. — Prefiro acreditar que seja um até breve.
***
Miguel tomara um banho frio na tentativa de expulsar a sensação estranha que havia se apossado de seu corpo. Não funcionou, mas pelo menos estava limpo.
Ele inclinou-se sobre a pia do banheiro enquanto escovava os dentes. O creme dental tinha sabor tão forte de hortelã que chegava a arder toda sua boca e fazer os olhos lacrimejarem.
Miguel já havia juntado suas coisas, que não eram tantas assim, em uma mochila. Não demoraria até que chegasse a hora de encontrar-se com Narcisa.
Sua memória seria apagada, e o vazio que se estendia sobre essa possibilidade causava-lhe um imenso frio na barriga. Nunca passara por nada nem remotamente parecido em sua vida e, ainda que jamais fosse admitir, estava com medo.
Terminando de escovar os dentes, lavou a boca e a escova, então encarou-se por um segundo no espelho, prestando atenção especificamente no seu mais novo hematoma.
— Aquele filho da... — Miguel xingou e riu, balançando a cabeça enquanto destrancava a porta do banheiro.
Bastou por o pé para fora e ouviu Zac falar levemente exaltado:
— O que aconteceu com seu olho?
Delwen, que estava sentado ao lado dele, respondeu simplesmente:
— Eu bati nele.
— Não exagere — disse Miguel, tentando proteger a própria dignidade. — Você só acertou um soco.
— Mas que...! — Zac olhou irritado para o noivo, levantando-se da cama e indo até Miguel.
Ele não recusou ser curado por Zac, então relaxou enquanto sentia os dedos habilidosos tocarem a pele machucada em seu rosto.
— Vocês agora brigam feito selvagens? — perguntou ele. — O que foi que aconteceu?
Delwen estava prestes a falar, mas Miguel interrompeu. Não era necessário.
— Nada com o que precise se preocupar.
— Quem era aquela mulher aqui no quarto? — perguntou Delwen.
— Que mulher?! — Zac parecia alarmado. — Quem entrou aqui?
— Diana — respondeu Miguel. — E antes que pergunte: sim, ela descobriu o fadinha aqui.
— Mas que...! — Zac grunhiu.
— Não precisa ficar estressado — disse Miguel em um tom de voz entediado. Ele jogou-se sobre a cama, colocando as mãos detrás da cabeça ao deitar-se — Diana não pareceu nem se importar com a existência dele.
— É ela o caso tórrido do Arthur? — perguntou Delwen, repetindo a mesma definição que Miguel havia dado para o casal em questão.
E Miguel gargalhou.
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