11. Barganha (p.1)

Arthur sentiu quando todo o sangue pareceu gelar em seu corpo. Ainda que com as mãos trêmulas, apertou o celular contra a orelha, como se tal ato fosse impedir que Bárbara ouvisse a conversa entre Morselk e ele.

— Acho que podemos negociar a situação do meu filho e do seu irmãozinho — disse ele, confirmando aquilo que Arthur já sabia. Não havia sido um sonho, Dean estava preso na casa de Morselk. O Anjo de Terra aguardou alguns instantes antes  de perguntar: — Existe alguma pessoa perto de você?

— Sim — respondeu Arthur, ainda parado de pé, estático. Apoiava-se com a mão esquerda no encosto de uma das cadeiras próximas a ele, sem nem ao menos se dar conta disso.

— Esteja sozinho em cinco minutos — disse Morselk antes de encerrar a ligação.

Arthur baixou o celular e perdeu alguns segundos de seu tempo encarando a tela, boquiaberto.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Bárbara, e ele ergueu o rosto lentamente.

— Nada... não... — Ele engoliu em seco, tentando organizar as palavras. — Nada, eu só preciso resolver uma coisa.

Tendo dito isso, ele adiantou-se em direção à porta do Café com Tequila, saindo para a rua sem dar explicações.

Chovia pouco naquele momento, mas se não procurasse abrigo, em instantes estaria completamente encharcado. Caminhou com passos largos por dois quarteirões e virou para a direita na esquina.

Refugiou-se na marquise de um prédio próximo, que não o protegeria caso o vento resolvesse soprar com um pouco mais de força. Esfregou os próprios braços para dissipar as pequenas gotículas de água que se acumulavam em seus pêlos.

O céu cinzento não mostrava sinais de que a chuva daria trégua, e as primeiras pessoas que passaram por ali, tinham guarda-chuvas e grossos casacos. Arthur, que não dispunha de um agasalho, tremia e batia os dentes, tanto pelo frio, como pelo nervosismo.

Ele tirou seu celular do bolso e encarou a tela. Seu plano de fundo ainda era uma foto que havia tirado de Chloé e Marina na casa de Diana, ainda em Alexandria. Um verdadeiro milagre, considerando que sua irmã detestava ser fotografada.

— Vamos lá! — ele falou com o celular. — Liga de novo!

E como se atendendo suas preces, a música do Bruno Mars, que era o toque do celular de Arthur, soou indicando a chamada recebida.

Com as mãos trêmulas, Arthur aceitou a ligação, e encostou o celular em seu ouvido.

— E então — disse Morselk. — Já podemos marcar quando e onde será nossa troca?

— Eu ainda não consegui falar com Miguel — respondeu Arthur, engolindo em seco.

Ele ouviu Morselk suspirar do outro lado da linha.

— Minha paciência já chegou ao limite. — disse ele. — Nos encontraremos amanhã em Londres, na Ponte Blackfriars, a meia-noite do fuso horário local. Acho que é um ponto de encontro suficientemente neutro para ambas as partes. Esteja lá com meu filho, ou seu irmãozinho terá uma morte trágica.

O bipe que ouviu, indicava que a ligação havia sido encerrada. Mas ele mal tinha coragem de se mexer. Ele estava pálido, e sentia vontade de vomitar.

Ele respirou fundo.

Ficar parado vendo o tempo passar não ia adiantar. Precisava falar com Miguel o mais rápido possível. Não havia alternativa.

Livrando-se de seu torpor, Arthur começou a caminhar na chuva de volta a casa de Jack. Passos largos não pareciam suficientes, então ele começou a correr. Passou feito um furacão pela porta do Café com Tequila, enquanto Bárbara, atendendo um cliente, somente o acompanhou com os olhos, virando a cabeça enquanto ele desaparecia pela porta que dava acesso a casa.

Subiu os degraus de dois em dois até estar em frente ao quarto que Bárbara havia indicado como sendo de Miguel, e girou a maçaneta sem nem mesmo bater na porta. E ela estava destrancada.

Do lado de dentro, Miguel tinha uma adaga na mão esquerda, pronta para ser atirada no invasor. Arthur podia ver o brilho da lâmina mesmo pela tênue luz que entrava pela porta.

— Você está louco? — perguntou Miguel, relaxando sua tensão. Irritado, ele jogou a arma sobre o criado mudo. — Como entra no meu quarto desse jeito?

— Bom dia, não esperava essa recepção. — Ele fechou a porta atrás de si, mergulhando o quarto novamente na escuridão. — Eu preciso conversar com você. Agora. É muito importante.

Arthur notou uma movimentação do outro lado do quarto e assustou-se tanto que deu um passo para trás.

— O que está acontecendo? — perguntou uma voz completamente desconhecida que vinha do que deveria ser a cama de Zac.

— Ah, pronto, tinha esquecido de você, fadinha — disse Miguel, mal humorado.

— Quem é ele? — perguntou Arthur, alarmado, tentando enxergar no escuro.

— Eu sou Delwen, noivo de Isac Miller — apresentou-se ele solenemente, mas isso não pareceu fazer o menor sentido aos ouvidos de Arthur.

— Idiotas — reclamou Miguel, se livrando das cobertas a pontapés para sair da cama. — Estou cercado de idiotas.

A luz do quarto foi acesa, exibindo um Miguel carrancudo, vestido apenas uma camisa e uma cueca.

Arthur desviou o olhar para ver o garoto que havia se apresentado como Delwen. Sua pele era morena, e sua cabeça coberta por algo que se assemelhava com cabelo, mas não era. As orelhas pontudas se erguiam na diagonal em direção à parte de trás da cabeça. Um elfo? Uma fada? Arthur não sabia dizer apenas olhando. Ele sentara-se na cama, e ao lado dele, Zac permanecia dormindo, indiferente a situação.

— Acorda ele — Miguel disse para Delwen, em tom impaciente. Seus braços estavam cruzados  sobre o peito, e os cachos de seu cabelo escuro apontavam em todas as direções. Havia também uma sutil marca feita pelo tecido do travesseiro em sua bochecha morena. — Eu não vou me meter na história de vocês, Zac que explique.

Arthur girou sua cabeça de volta para os dois garotos na cama. Viu quando Delwen tocou suavemente o ombro nu de Zac, balançando-o e chamando por seu nome com delicadeza.

— Isac, acorda.

Mas Zac tinha um sono pesado, Arthur se lembrava disso. Ele se aproximou da cama e o agarrou em ambos os braços, sacudindo-o.

— Zac! — Arthur chamou, e sacudiu o amigo outra vez. — Que droga está acontecendo aqui?

— Hein? — disse ele, abrindo os olhos de maneira relutante. Estava deitado de bruços, então apoiou suas mãos para se virar para cima. Perdeu um segundo analisando o as expressões das pessoas ao seu redor antes de fazer uma careta e dizer: — Eita.

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