1. Noite Eterna (p.3)

Zac tentou acender a lanterna outra vez, mas frustrado, acabou arremessando-a alguns metros de distância.

— Não deveria sujar a mata com uma dessas coisas — repreendeu uma voz feminina as suas costas, fazendo com que Zac se virasse abruptamente para descobrir quem era. — A natureza é sagrada.

Ele a observou dos pés a cabeça, seus cabelos eram tão negros quanto o céu vazio acima de suas cabeças, tão longos que cobriam seu colo, chegando até a cintura, coroados com flores. A pele era amarronzada, e estava muito descoberta, de forma a fazer com que Zac corasse com tal observação.

— Quem é você? — ele perguntou e ela sorriu radiante, com dentes muito brancos.

— Estamos em festa, não gostaria de participar? — ela perguntou, se adiantando para puxa-lo pela mão. Ela arrancou sua luva, como se desejasse o contato com sua pele, as mãos dela eram quentes e macias como pétalas em contato com a dele. — Vamos — ela chamou, puxando-o suavemente.

Zac deixou-se conduzir, ainda incomodado com a ausência da lua, mas com seus olhos já se acostumando ao escuro. Observou a moça a sua frente, tinha algo errado na forma como seu cabelo balançava às suas costas. Um arrepio percorreu seu corpo, um mal pressentimento.

— Qual o seu nome? — ele perguntou, mas não obteve resposta, pois ela apenas seguia a frente, puxando-o pela mão, o guiando por dentro da mata, parecendo não ter realmente um rumo. — Onde estamos indo?

— A uma festa! — ela disse novamente, sorrindo para ele por cima do ombro. Seu cabelo balançou e exibiu suas orelhas pontiagudas.

— Você é uma elfa? — perguntou, e ela outra vez guardou silêncio.

Irritado, Zac puxou o próprio braço com força, liberando-se das garras da mulher. Garras. Ela tinha garras, longas e afiadas, que deixaram cortes em sua pele quando ele se afastou. Ele piscou os olhos repetidas vezes, pois não se lembrava de vê-las quando ela retirou sua luva.

E realmente, não havia visto nada, era apenas um truque de sua imaginação. As unhas da mulher eram curtas e rosadas, incapazes de lhe fazer qualquer mal. Provavelmente, ainda estava sonhando acordado.

— Vamos para a festa, minha folha de outono — ela disse, se aproximando vagarosamente dele. Cheirava a flores apodrecidas. Não, engano seu, era muito perfumada, como jasmim. — Nossa rainha vai ficar contente em conhecê-lo.

A esse ponto, ela já estava muito próxima de Zac, que até sentia o ardente calor de seu corpo, e seu embriagante hálito.

Ele cedeu, e foi guiado até a tal festa. Uma confusão de corpos se movendo, muito próximos uns aos outros. Giravam e giravam ao redor de uma fogueira, cantando saltitantes, em uma explosão de alegria insana. O ritmo forte era contagiante, e fazia com que ele quisesse dançar para sempre, até que estivesse morto.

Zac deve ter dado alguns passos em direção a multidão, considerando que a mulher o puxava com força na direção contrária, repreendendo-o:

— Primeiro a rainha, depois a festa!

Afastando-se do grupo feliz, foram parar ao pé de uma montanha. Aproximaram-se de um carvalho, e a mulher indicou para ele um buraco entre as raízes onde ele deveria entrar. Mesmo sem saber porque estava obedecendo, Zac deslizou para baixo da terra, escorregando até seus pés baterem contra o chão firme.

Ali dentro era bem iluminado, com a luz proveniente de tochas de fogo. Seguiram por um longo túnel, repleto de cristais das mais diversas cores, e que aparentavam ser extremamente valiosos. E quanto mais andavam, mais deles apareciam, enfeitando as paredes, refletindo a luz das chamas bruxuleantes.

O túnel terminava em uma grande câmara, essa inteira feita de cristais, com uma alta cúpula que brilhava em todas as cores que se pode imaginar. Zac estava tão absorto em observar o lugar, que levou cerca de um minuto para ver a mulher sentada no chão, sobre uma toalha, como se estivesse em um piquenique. Era loira, e seus longos cabelos eram trançados com muitas fitas, seu corpo era pequeno de pele clara, coberto apenas por um fino manto dourado.

A mulher que havia o trazido até ali fez uma reverência exagerada, e ele, adivinhando que a moça no centro deveria ser a rainha, imitou o gesto, apesar de nutrir um certo deboche. Quando endireitou o corpo, notou que a rainha lhe sorria enquanto enfiava uma pequena amora entre os lábios carnudos.

Ela fez um sinal com a mão, pedindo que ele se aproximasse. Os olhos dela eram claros e cinzentos, brilhavam tanto quanto as pedras nas paredes.

— Sente-se — ela indicou o espaço ao seu lado. — Coma comigo.

Ele obedeceu, e dobrou as pernas ao se acomodar, sob os olhos atentos da rainha, que não parou de olha-lo nem mesmo quando ordenou a mulher que havia trazido até ali:

— Sirva uma bebida ao meu convidado — disse e umedeceu os lábios antes de sorrir. Ele recebeu um copo feito de cerâmica, e ao provar o conteúdo, sentiu seu sabor adocicado, que permanecia na boca mesmo quando não se estava bebendo. Pensou que deveria ser a melhor coisa que já havia bebido na vida, mas claramente, não era alcoólico. A rainha entortou a cabeça, examinando o fundo de seus olhos. — Como se chama? — ela perguntou.

— Isac Miller — respondeu ele, sentindo-se hipnotizado por ela.

— Eu sou Aine, a rainha das fadas.

— É um prazer conhecê-la, majestade — ele disse, e pensou que deveria estar com medo, mas não estava, se sentia como em um sonho, a sensação de que acordaria a qualquer momento.

Eles comeram até se fartar, e mais tarde, Zac foi levado até a festa. Dançou até que suas pernas se tornassem bambas, e depois foi levado para um lugar onde poderia dormir por um garoto fada, que lhe fez companhia durante toda a noite.

No dia seguinte, quando acordou, ele ainda estava lá, e Zac corou ao perceber que ambos estavam despidos. Não se lembrava do que tinha acontecido, mas tinha uma grande desconfiança. Vestiu-se e saiu para fora, caminhando pela floresta, tentando encontrar uma saída.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top