1. Noite Eterna (p.2)

Eram muitas as histórias sinistras que contavam sobre a Cornualha. Tinha a da menina que teria se envenenado simplesmente por tocar um uma planta venenosa nativa, outra sobre um homem que teria enlouquecido tentando encontrar o barulho de música que surgia todas as noites, e muitas sobre guardiões das fauna, como ele, que teriam desaparecido, supostamente ao entrarem no País das Fadas.

Todas essas lendas eram originadas a partir dos relatos que diziam que a Cornualha abrigava uma das principais entradas para o País das Fadas. E não eram fadas como as historinhas infantis, e sim criaturas selvagens, que comeriam uma pessoa viva. Pelo menos, era isso o que Zac sempre ouvira falar.

Assim que seus olhos se fecharam, ele visualizou um grupo de fadas, elas estavam ao redor dele e discutiam como iriam come-lo, e quem ficaria com qual das partes de seu corpo. Uma delas agarrou seu pescoço, e ele perdeu o ar, começando a se debater para conseguir se soltar. Felizmente, acabou acordando e descobrindo que havia coberto a cabeça e por isso estava sufocado.

Levantou e foi até o banheiro para lavar o rosto. A torneira cuspiu um bocado de sujeira antes da água limpa, estava secando o rosto na própria camisa quando um galho quebrou lá fora.

Zac tomou um susto tão grande que precisou se apoiar na parede. Olhou pelo basculante, e já era de noite. Tinha dormido tanto assim? Respirou fundo, o coração estava acelerado no peito, e ele se sentia um tolo por ter tanto medo. Devia ser apenas algum animal lá fora, não lhe faria mal.

Voltou para a cama xingando mentalmente as pessoas que haviam lhe contado histórias macabras sobre a Cornualha. Deitou-se na cama e fechou os olhos com força, puxando o cobertor sobre si, porém não conseguia mais dormir, não teria mais sono.

Irritado, Zac se levantou e despejou o conteúdo da mochila sobre o colchão. Encontrou um casaco grosso e o vestiu, calçando os sapatos e as luvas em seguida para sair para o lado de fora. Ia provar pro próprio subconsciente que não tinha nada lá com que devesse se preocupar.

Acendeu a lanterna assim que trancou a  porta, e nenhum sinal de nada ali por perto, apenas o vento frio assoprava as folhas das árvores, tornando audível o som que elas faziam. Apontou a luz para todos os lados, mas definitivamente, estava sozinho.

Esse era o pior de ser um Guardião da Fauna, pensou enquanto se afastava da casa, você sempre tinha certeza de estar sozinho, e a solidão as vezes era aterradora. Sentia falta de companhia em suas viagens, sempre acreditou que os líderes deveriam começar a enviar os guardiões em duplas, até mesmo para a segurança deles, mas aparentemente, o número dos de sua espécie era reduzido demais, sozinhos eles cobriam áreas maiores, apesar das perdas de vidas.

A baixa umidade do ar logo começou a cobrar seus efeitos. Zac estava com a garganta seca, e quando tentou respirar pelo nariz, chegou a doer pelo frio, mas no ar gelado, ele sentiu algo mais do que o cheiro natural do floresta: um fedor cúprico distante. Cheiro de sangue.

Tentou encontrar a fonte, indo cada vez mais floresta a dentro. Estava muito frio, e a roupa já não estava sendo totalmente suficiente para aquece-lo, um galho baixo estava em seu caminho e ele se abaixou para passar.

Zac cheirou o ar novamente, afastando algumas folhagens do seu rosto. Estava mais perto agora, notava pelo odor no ar. Deu mais alguns passos e sentiu um arrepio percorrer seu corpo, instantes antes da lanterna se apagar.

Ele ficou momentaneamente cego pela escuridão. Onde estava a luz da lua cheia? Ao olhar para o céu, ela não estava mais lá, nem as estrelas, era tudo um puro negror sem fim. Notou, ainda atordoado, que a temperatura também havia subido, e que seus dedos gelados estavam rapidamente se aquecendo, como se estivesse de frente para uma fogueira.

Quando seus olhos se acostumaram com a ausência de luz, notou que as árvores não eram do mesmo tipo que a floresta em que tinha estado há instantes atrás, e ao dar meia volta, percebeu também que o caminho pelo qual viera também não estava mais alí.

— Droga! — ele praguejou, temendo o que viria dali para a frente.

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