6. A Biblioteca de Alexandria (p.3)

— Não tem nada que nos seja útil, Chloé — disse Arthur desanimado, mordiscando uma das batatas do seu jantar. — Procuramos o dia inteiro, e nenhuma pista.

Realmente, desde que chegaram, não saíram da biblioteca em nenhum momento. Repassaram diversos livros sobre Delacroix e nada. Depois de muito tempo, Arthur anunciou que estava com fome e foram para o refeitório da biblioteca onde compraram o jantar e se sentaram em uma mesa afastada.

Não havia muita gente, era sábado, dia em que a maioria dos estudantes iam para casa depois do almoço. O que significava que o lugar estava anormalmente calmo e silencioso.

Chloé encolheu os ombros e tomou um gole do próprio suco.

— Isso significa que você está desistindo?

— Não, mas acho que não vamos encontrar nada.

— O que sugere então?

Arthur refletiu por um momento e por fim suspirou.

— Vamos procurar amanhã. Se não conseguirmos posso ir pra Nova York. Lá eu tenho acesso a internet, pode ser que eu encontre alguma coisa no Google.

Chloé arqueou as sobrancelhas.

— Achar algo no Google que você não encontra — ela gesticulou amplamente com os braços — na biblioteca de Alexandria? Acho meio difícil.

Ele sorriu com o copo na boca.

— Quem sabe?

— Acho que não Arthur, mas não custa tentar. Se não encontrarmos nada amanhã, a gente vai pra Nova York.

— A gente? — ele repetiu erguendo uma sobrancelha. — Você vai comigo? Você nunca quer ir comigo!

— Lógico! Você sempre quer que eu vá com você pra me enfiar em um bar e assistir enquanto você vai atrás de mulher, seu retardado! Eu tenho mais o que fazer.

— Tipo ficar com Miguel Bellator.

— Não necessariamente, porque qualquer coisa é melhor do que sair a noite com você.

— Sério? Miguel é mais divertido do que eu? Com ele a zoeira nunca tem fim? Ele é a pessoa mais mal humorada que eu conheço!

Chloé riu.

— Você faz parecer que ele é um senhor de oitenta anos que só sabe reclamar da vida.

— Sempre achei que fosse. Me enganei?

— Vocês falam um do outro do mesmo jeito — comentou ela. — Só que Miguel é o oposto, ele diz que você age como se tivesse treze anos, ao invés de vinte e três.

Arthur fez uma careta.

— Não me lembre disso.

— Tá com medo de ficar velho? — perguntou ela rindo.

— As vezes eu tenho a impressão de estar começando a sentir dores nas costas e a perder a memória.

— Tá bom, vovô.

— As vezes eu queria ser como Diana — disse Arthur —, ter a eternidade pra viver.

— Você acha que ela é feliz? — perguntou Chloé, mexendo na comida com o garfo.

— Por que não seria?

— Não sei. — Ela deu de ombros. — Ela geralmente parece meio solitária. Vivendo sozinha naquela casa enorme. Parece tão monótono. Não trabalha e não faz nada por toda a eternidade. Sinceramente, acho que no lugar dela eu não seria feliz.

— Ela me disse isso uma vez — contou Arthur sem olhar para a irmã, enquanto brincava com a comida. Havia perdido a fome. — Ela me disse que sabia que eu detestava ir até a casa dela, mas ela gostava da minha companhia. E que eu sou uma das únicas pessoas que ela gosta.

— Eu acredito nisso, eu vejo que ela gosta de você, só não acho que ela seja uma pessoa confiável.

— Também não sei se tenho plena confiança nela — confessou Arthur. — Antes da gente vir, ela me ligou, disse pra não vir mais, que não queria que eu e você não nos envolvêssemos mais com Lívia.

— Ela o que? — perguntou Chloé espantada. — Ela não vai nos deixar fora disso!

Arthur assentiu.

— Foi exatamente o que eu disse pra ela.

— Agora eu entendi por que você parece tão chateado. Mas aconteceu mais alguma coisa além disso, não aconteceu?

Arthur balançou a cabeça.

— É complicado. Não sei se quero falar sobre isso.

— Por que?

— Eu estou confuso, Chloé... — Ele hesitou. — O centauro me disse uma coisa...

— O centauro?

Ele assentiu e tirou o celular do bolso. Selecionou a gravação de Fausto. Reproduziu a partir do ponto em que o centauro falava com ele.

“E as estrelas pediram-me também para fazer-lhe um apelo, Raphael Paeon: Cuidado com sua relação com a feiticeira. Ela tem gelo no coração, e não é você quem está destinado a aquece-lo.”

— Entendeu? — perguntou Arthur interrompendo a reprodução e guardando o celular de volta.

Chloé assentiu.

— O que Lívia falou sobre isso? — perguntou ela.

Arthur riu um pouco nervoso.

— Pode se dizer que concluiu que eu e Diana estamos apaixonados um pelo outro.

— Acha que ela gosta de você?

— Diana?

Chloé balançou a cabeça.

— Lívia.

— Eu espero que não — respondeu Arthur e suspirou.

— Eu também. Ela é uma boa menina, e você é um péssimo namorado.

— Sinceridade. — Arthur riu. — Por isso te amo.

— E quanto a Diana? — perguntou Chloé.

Arthur encolheu os ombros desanimado.

— Ela tá se mantendo afastada de mim.

— Sério? — perguntou Chloé. — Por que ela faria... Ahh... Certo, acho que eu eu sei...

— O que?

— Pensa Arthur. Da pra ver o quanto ela gosta da afilhada... Se Lívia gostasse de você... Entende?

— Ela se afastaria de mim pra dar espaço pra Lívia... Meu Deus! — Arthur bateu com a mão na testa. — Isso faz sentido! Quando fomos o centauro, ela disse pra eu e Lívia irmos sozinhos. Depois do que voltamos. Eu... — Arthur hesitou e corou um pouco. — Eu ia beijar ela, mas ela não quis. — Ele balançou a cabeça. — Eu fiquei com raiva, por isso ontem a noite fui até o seu quarto. Mas... Não quis falar com o cachinhos dourados por lá.

— O cachinhos dourados é meu namorado, e depois eu fui pro seu quarto e você não quis conversar.

— Ainda assim...

— O que vai fazer agora? — perguntou Chloé com a cabeça levemente inclinada para o lado. Assim como Arthur, ela havia abandonado seu jantar.

Ele deu de ombros.

— Eu não sei.

Chloé bebeu o resto do seu suco antes de falar.

— Você gosta da Diana, Arthur. Isso não é de hoje, mas você só está sentindo a falta dela agora que ela não quer ficar com você.

Ele abaixou a cabeça sobre a mesa.

— Não quero falar sobre isso.

— Se você está pensando no que o centauro disse, eu gostaria de lembrar que eles nunca querem dizer o que realmente parece.

— E o que isso poderia significar? — perguntou ele, levantando um pouco a cabeça.

Chloé jogou as mãos pra cima.

— Eu sei lá!

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