5. Delacroix (p.1)

No caminho de volta à casa de Diana, Arthur explicou a Lívia sobre seu nome ser na verdade ser Raphael.

— Acho isso bonito — disse ela afinal.

Arthur sorriu para ela.

— Raphael significa “Deus Cura”, já Arthur significa “O Nobre”. Provavelmente recebeu essa definição por conta do próprio Rei Arthur.

— O que Marina e Lívia significam?

Arthur refletiu por um momento.

— Não sei — ele respondeu e deu de ombros —, mas posso procurar saber.

— Eu ficaria feliz se você descobrisse — disse Lívia com um sorriso. — E por falar em Rei Arthur, eu não terminei seu livro.

Arthur arqueou as sobrancelhas.

— Diana tem um igual — disse ele e agradeceu por estar escuro e Lívia não poder ver quando ele enrubescer com a lembrança de quando Diana leu para ele — Você... er, poderia pedir emprestado pra ela.

— Ah, não sei... — disse Lívia parecendo meio embaraçada. — Ela me faz sentir estranha.

Arthur não conseguiu conter o riso.

— Bem vinda ao clube.

Lívia o encarou no escuro, mas era possível ver sua expressão séria.

— Bom, eu acabei de conhece-la, já você parece apaixonado por ela.

— Você também.

— Eu também o que?

— Chloé vive dizendo que estou apaixonado por Diana!

Lívia riu.

— Talvez tenhamos razão.

Arthur balançou a cabeça.

— Eu acho que não.

— Eu ouvi o que o centauro falou, Arthur, sobre a feiticeira. Vocês dois tem algum tipo de relacionamento, não tem?

— Suas perguntas nunca terminam? — irritou-se Arthur. — Vamos lá! Qual a próxima? Gostaria de saber a cor da minha cueca também? É verde.

Lívia suspirou.

— Entendo.

— O que?

— Eu entendo — disse ela. — O jeito como você fica nervoso quando fala dela. Até eu percebo.

Arthur a encarou.

— Não temos nenhum tipo de relacionamento.

— Mas você gostaria, não é? E ela também.

— Meu Deus, Lívia! Já chega! — exclamou Arthur e ao ver que isso pareceu magoar Lívia, acrescentou em seguida: — Olha, eu não quero conversar sobre isso, tudo bem? Amanhã busco o livro pra você, quando for em casa. E por favor, não comenta sobre o que o centauro falou sobre Diana.

Lívia assentiu.

— Desde que você não comente sobre o que ele falou de amor sobre mim.

— Tudo bem — concordou Arthur.

Não conversaram mais no caminho para casa e ao chegar,  Lívia também não quis conversar. Pediu licença, deu boa noite e foi dormir, deixando Arthur encarregado de contar a Diana sobre o que o centauro falou.

Diana era uma ouvinte atenciosa, mas mesmo sem fazer nada, ela distraia Arthur. Especialmente por que usava a mesma camisola vermelha do dia em que Arthur viera trazer Excalibur, e também tinha os cabelos trançados da mesma maneira.

Quando Arthur enfim terminou de contar, a feiticeira suspirou e massageou as têmporas com os dedos. Devia estar com dor de cabeça.

— Temos alguns quebra cabeça pra decifrar, mas amanhã. Está muito tarde.

— Sim, é melhor amanhã.

Ela assentiu e suspirou.

— Estou cansada.

— E com dor de cabeça também, posso notar.

Ela sorriu.

— Atencioso como sempre.

— Eu posso...?

— Pode.

Arthur foi até Diana e ajoelhou-se na frente dela. Passou os dedos então por suas têmporas, sua testa, sua nuca. O tempo todo concentrado em relaxar, tirar a tensão, fazer o sangue circular. Quando sentiu sua própria energia passar de si para a feiticeira, sabia que era hora de parar. Baixou as mãos e sentou-se sobre os próprios calcanhares.

— Melhor? — ele perguntou.

Ela sorriu. Um raro sorriso meigo que de alguma forma aqueceu o coração de Arthur.

— Sim, obrigada.

Arthur apoiou a própria cabeça no joelho da feiticeira e começou a remexer na ponta de sua trança. Seus cabelos eram macios, suaves ao toque, e tinham cor de chocolate.

— Diana — ele chamou, suavemente.

— Sim.

Ele a olhou nos olhos.

— Você tem algum sentimento por mim ou sou só uma diversão?

Arthur viu surpresa passar por sua face. Mas ele não esperou que ela respondesse. Ficou novamente de joelhos, erguendo o rosto ate a altura do queixo de Diana. O que só era possível devido a baixa estatura da feiticeira.

— Eu me sinto estranho com você — ele disse. — E eu nem sei definir se isso é bom ou ruim.

Pôs a mão no pescoço dela, afim de traze-la para um beijo, mas ela se manteve firme e usou a própria mão para tirar a de Arthur de sua nuca.

— Está tarde — ela disse. — Pode dormir no quarto ao lado do de Lívia, o mesmo onde sua irmã dormiu ontem.

Arthur entendeu o recado.

Ergueu as próprias mãos em sinal de rendimento e afastou-se.

— Tudo bem, não vou te tocar — disse pegando sua mochila, que mais cedo havia deixado ali sobre o sofá. — Estou indo pra casa, amanhã volto pra ver Lívia.

— Pode dormir aqui, Arthur — ela repetiu. Havia algo de estranho em sua voz que ele não conseguiu decifrar. — Não vá sozinho pra casa, está muito tarde e você deve estar cansado.

— Não se preocupe comigo — disse ele friamente ao alcançar a porta, com sua mochila e Excalibur presas as costas. — Boa Noite.

* * *

Arthur bateu à porta do quarto de Chloé. Talvez não devesse estar incomodando a irmã tão tarde, mas ele estava se sentindo estranho e queria vê-la.

Havia sido as palavras de Fausto que o fizeram perguntar a Diana o que ela sentia. E na volta pra casa, aquela frase não saia de sua cabeça.

"Cuidado com sua relação com a feiticeira. Ela tem gelo no coração, e não é você quem está destinado a aquece-lo."

Não devia ter sido tão direto com ela. Foi estúpido. Não era como se ele próprio estivesse apaixonado por Diana. Forçava-se acreditar que o interesse que tinha nela era pelo fato dela ser uma mulher diferente de todas as outras que conheceu.

Bateu novamente a porta por não ter recebido resposta. Em menos de um minuto, dessa vez, ela se abriu. Mas não era Chloé dentro do quarto.

Mais baixo do que Arthur, de pele morena, cabelos escuros cacheados e olhos castanhos, estatelado ali, com sua habitual arrogância.

Miguel Bellator.

— Vejam só quem está aqui, nosso cavaleiro favorito! — disse ele. — Cara, você andou sumido. Graças ao Senhor! Deus sabe que eu detestaria ter que olhar pra sua cara com frequência. Aliás, deveria passar mais tempo na casa daquela sua feiticeira, assim você se mantém fora do meu caminho.

Miguel tentou fechar a porta na cara de Arthur, mas usou a  própria mão firmemente para impedir.

— Vim falar com minha irmã, imbecil — disse Arthur passando pelo garoto e entrando no quarto. — Se não se lembra, esse é o quarto dela. Olha, eu não tô com paciência pra você...

— Quem está aí? — a voz de Chloé flutuou do banheiro.

— Sou eu — respondeu Arthur com a voz alta. — Eu só... passei pra avisar que já estou em casa.

Arthur não esperou resposta. Saiu do quarto e parou um momento só para olhar Miguel novamente, ainda parado na entrada.

Ele balançou a cabeça, movimentando seus cachos escuros.

— Retardado — disse Miguel e bateu a porta ao fecha-la.

Não fora pra isso que havia vindo bater à porta de sua irmã, mas não iria conversar com Chloé na frente de Miguel. Arthur suspirou e foi para seu quarto.

Tomou um banho quente, a fim de relaxar o próprio corpo e se largou sobre a cama, enfiando-se debaixo do cobertor. Estava quase adormecendo quando a porta se abriu e alguém entrou no quarto, fechando a porta novamente. Arthur havia se esquecido de trancar.

— Quem é? — perguntou Arthur debilmente, já que estava quase dormido.

Houve um clique quando a luz se acendeu. Seus olhos arderam enquanto se acostumava com a luminosidade. Ali, ao pé de sua cama, estava Chloé com um shorts e uma camiseta larga.

Arthur se sentou para dar espaço para sua irmã na cama.

— Eu poderia estar pelado.

Ela ignorou.

— O que aconteceu, Arthur? — Perguntou enquanto se sentava na beirada do colchão.

— Fomos falar com os centauros.

— Acho que está tarde pra tentar desvendar enigmas. Não seria melhor conversarmos amanhã?

Arthur assentiu e Chloé ergueu as sobrancelhas.

— Aconteceu mais alguma coisa? — ela perguntou.

— Não. Só estou... — ele pensou por um instante — preocupado com Lívia.

— Eu também — disse Chloé é se aproximou para dar um beijo no irmão. — Mas ficar perdendo horas de sono não vai ajudar.

— É. Vamos dormir — disse Arthur e Chloé se levantou para sair. — Espera... Vai comigo amanhã de manhã pra casa de Diana?

— Vou. Boa noite.

— Boa noite.

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